Sobre o autor: Pietro Braido (1919-2014), salesiano de Dom Bosco, é um reconhecido especialista no sistema educativo de D.Bosco. Autor de diversos títulos que aprofundam a pedagogia salesiana, foi professor de Filosofia da Educação da Universidade Salesiana de Roma, da qual também foi Reitor (1974-1977). Foi um dos fundadores da revista internacional de ciências da educação “Orientamenti Pedagogici”. Na Congregação Salesiana o nome Pietro Braido ficará para sempre associado a “D.Bosco educador” pela dedicação que teve em vida ao estudo da pedagogia e espiritualidade salesianas.
PIETRO BRAIDO
PREVENIR, NÃO REPRIMIR
O título sintetiza o método educativo de D.Bosco: “Prevenir, não reprimir”. Ao longo das suas 400 páginas, o livro oferece uma excecional síntese e atualização do sistema preventivo salesiano. A pedagogia do coração que D.Bosco desenvolveu junto da juventude fica agora acessível a todos aqueles que se interessam pela educação. Educadores, salesianos, professores, estudantes universitários, pais, coordenadores pastorais, encontrarão nestas páginas as “raízes” das intuições educativas salesianas.
PIETRO BRAIDO
PREVENIR, NÃO REPRIMIR Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 | 4022-001 Porto Tel.: 22 53 657 50 Fax: 22 53 658 00 edisal@edicoes.salesianos.pt www.edisal.salesianos.pt
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O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO
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Ficha técnica: © Pietro Braido 1999 © LAS 2006 © Edições Salesianas, 2017 Rua Dr. Alves da Veiga 124 4022-001 Porto Tel. 225 365 750 Fax. 225 365 800 edisal@edicoes.salesianos.pt www.edisal.salesianos.pt Tradução: Basílio Gonçalves Revisão: Antero Ferreira Paginação: Rui Madeira, Edisal Capa: Paulo Santos ISBN: 978-989-8850-39-3 Depósito Legal: 426824/17 Impressão: Print Group
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PIETRO BRAIDO
Prevenir, não reprimir O Sistema Preventivo de Dom Bosco
Edições Salesianas
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APRESENTAÇÃO
O “sistema educativo”, ou mais explicitamente, a experiência preventiva de Dom Bosco, é um projeto que cresceu e progrediu nas numerosas e variadas instituições e obras realizadas pelos seus colaboradores e discípulos. É óbvio que a sua vitalidade operativa só pode ser garantida no tempo, se for fiel à lei de qualquer crescimento autêntico: a renovação, a adaptação, a continuidade. A renovação é confiada ao persistente e repetido compromisso teórico de cada um e das comunidades. É uma tarefa sempre em aberto. A continuidade só pode ser garantida pelo árduo confronto com as origens. A finalidade desta rápida síntese é provocar um vivificante contacto com as raízes da experiência preventiva de Dom Bosco e com os seus traços fundamentais. Este trabalho não pretende oferecer programas de ação imediatamente aplicáveis. Quer somente descrever os elementos essenciais das origens, ainda que historicamente condicionados e limitados. Qualquer projeto, presente ou futuro, só terá valor, se tiver em conta estes elementos. Tempo e espaço culturais variam constantemente. É uma condição iniludível para que possa verificar-se, sem paragens nem rupturas de continuidade, a legítima aspiração de atuar «com Dom Bosco e com os tempos». Nesta terceira edição, bastante retocada e ampliada, os dados históricos são mais bem cuidados, certas idealizações são atenuadas e são explicitados elementos úteis a uma inevitável revisão e revitalização, prefigurada também por alguma bibliografia recente.
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SIGLAS
BS
Bollettino Salesiano. Torino 1877 ss.
Cost.SDB Costituzioni della Società di S. Francesco di Sales [1858]-1875. Testi critici a cura di F. Motto, Roma LAS 1982. E
Epistolario di San Giovanni Bosco, 4 vol. (1835-1888), a cura di E. Ceria. Torino, SEI 1955-1959.
Em G. Bosco, Epistolario, 2 vol. (1835-1868), edizione critica a cura di E Motto. Roma, LAS 1991 e 1996. FdB
ASC - Fondo don Bosco. Microschedatura e descrizione.
MB
Memorie biografiche di Don (del Venerabile... del Beato... di San) Giovanni Bosco, 20 vol.: 1-9, G. B. Lemoyne; 10, A. Amadei; 11-19, E. Cena; 20 (Indici), E. Foglio. San Benigno Canavese - Torino 18981948, edizione extra-commerciale.
MO (1991) G. Bosco, Memorie dell’Oratorio di S. Francesco di Sales, edizione critica a cura di A. Ferreira da Silva. Roma, LAS 1991. OE G. Bosco, Opere edite, riproduzione anastatica, 38 vol. Roma, LAS 1977-1987. RSS
Ricerche Storiche Salesiane. Rivista semestrale di storia religiosa e civile. Roma, LAS 1982 ss.
Il sistema preventivo (1877) = Testo pubblicato in prima edizione bilingue: Inaugurazione del patronato di S. Pietro in Nizza a Mare. Scopo del medesimo esposto dal Sacerdote Giovanni Bosco con appendice sul sistema preventivo nella educazione della gioventù. Torino, tip. e libr. salesiana 1877, 68 p., OE XXVIII 380-446. Il sistema preventivo (1878) = Promemoria a Francesco Crispi, in G. (s.) Bosco, Il sistema preventivo nella educazione della gioventù. Introduzione e testi critici a cura di Pietro Braido, RSS 4 (1985) 171-321 [300-304]. NB. As «crónicas» usads por G. Bonetti, D. Ruffino, G. B. Lemoyne, G. Berto, M. Rua, G. Barberis, G. Reano, C. Viglietti são retiradas de cadernos manuscritos, conservados no Arquico Central Salesiano Centrale (ASC), em Roma, e elencadas na bibliografia.
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INTRODUÇÃO
Parece já pacífico que a fórmula «sistema preventivo», interpretada com base nos documentos deixados por Dom Bosco e, sobretudo, à luz da sua experiência educativa e dos seus colaboradores, é adequada para expressar tudo aquilo que ele disse e fez como educador. O mesmo já não se diz em relação aos seus contemporâneos. É de notar que os termos preventivo e repressivo não são talvez os mais apropriados para expressar uma realidade educativa, que comporta intervenções ativas para promover e ajudar a crescer a personalidade do educando. Daí resulta que, por vezes, «preventivo» foi interpretado, e continua ainda a ser em alguns lugares, como momento pré-educativo. Como veremos mais adiante, Antonio Rosmini e Félix Dupanloup entendem o «prevenir», a «prevenção» como um dos momentos do processo educativo global, como se fosse uma pré-condição. Pior aconteceu ainda com o termo «repressivo». Houve quem o entendesse como nãoeducativo. No decorrer do trabalho ver-se-á que sistema preventivo e sistema repressivo são dois verdadeiros sistemas de educação, relativamente distintos. Foram, nas suas mais variadas versões, praticados na história, tanto das famílias quanto das instituições. Ambos se fundam em razões plausíveis e podem orgulhar-se de metodologia e êxito positivos. Um preocupa-se mais com o rapaz1 e com os limites da sua idade, portanto com uma «assistência» assídua e amorosa do educador, que «paternal» ou «maternalmente» está presente, aconselha, guia, ampara. Daí nascem regimes educativos de origem «familiar». O outro preocupa-se com a meta a atingir e por isso vê o jovem como um futuro adulto que como tal deve ser tratado desde os primeiros anos. Nascem então regimes educativos mais austeros e exigentes, escolas rigidamente regidas por leis, relações e atitudes fortemente responsabilizantes, colégios de estilo militar e semelhantes. Na realidade, na plurimilenar experiência histórica, os dois sistemas foram vividos em versões abundantemente compósitas. 1
Não, certamente, no sentido mais evoluído da pedagogia contemporânea, pedocêntrica e ativista, das novas escolas, do montessorismo e semelhantes.
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Introdução
Entre os dois coloca-se, por exemplo, com plena legitimidade histórica, teórica e prática, com vasta gama de aplicações, a chamada «educação correcional», bem conhecida quer no mundo penal, quer no educativo e reeducativo. Sobre isto escrevia, com veemente paixão, quando Dom Bosco estava a chegar a Turim, o Conselheiro de Estado do Reino da Sardenha, conde Ilarione Petitti di Roretto (1790-1850), no segundo capítulo da sua obra Della condizione attuale delle carceri e dei mezzi di migliorarla (1840) com o título Dell’ istoria dell’ educazione correttiva e dello stato attuale della scienza2. Ele desempenhou um papel de protagonista, como mais adiante veremos, ocupando-se de jovens prestes a deixar a «Generala», após um período de «educação correcional»3. O próprio Dom Bosco escreverá no início das suas páginas de 1877 sobre o sistema preventivo: «dois são os sistemas usados na educação da juventude em todos os tempos: Preventivo e Repressivo»4. Fazia a mesma distinção na promemória a Francisco Crispi, alguns meses depois: «Dois são os sistemas usados na educação moral e cívica da juventude: Repressivo e Preventivo, ambos aplicáveis na sociedade civil e nas casas de educação»5. Dom Bosco optou pela primeira hipótese e por uma tradição que, provavelmente menos seguida do que a outra, ele julgava mais apropriada aos tempos e à juventude de que se ocupava. Nesta perspetiva, certamente não elaborou um sistema pedagógico preventivo em termos teóricos, mas muito conscientemente experienciou e refletidamente adotou princípios, métodos e instituições que lhe permitiram dar aos jovens uma formação humana e cristã bastante completa e indicar aos seus colaboradores uma proposta educativa orgânica e unitária. “Preventivo” para ele nunca foi entendido como puro momento propedêutico, preventivo, preparativo da educação propriamente dita, nem simplesmente limitado simplesmente ao setor da «disciplina» ou ao «governo», Regierung, que para Herbart era um dos três pilares da pedagogia científica. Nas páginas sobre o Sistema preventivo na educação da juventude de 1877, os elementos educativos positivos superam de muito, em qualidade e em quantidade, as medidas disciplinares e protetoras. Fala-se de educadores que são «pais amorosos»,
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Della condizione attuale delle carceri e dei mezzi di migliorarla. Trattato del conte D. Carlo Ilarione Petitti di Roreto Consigliere di Stato ordinario e Socio della Reale Accademia delle Scienze. Torino, G. Pomba e comp. 1840, in C. I. Petitti di Roreto, Opere scelte, a cura di G. M. Bravo. Torino, Fondazione Luigi Einaudi 1969, pp. 319-587, cap. II, pp. 361-447. Cfr. mais adiante, cap. 2, §§ 2 e 3. 3 Cfr. mais adiante, cap. 10, § 1. 4 Il sistema preventivo (1877), p. 44, OE XXVIII 422. 5 Il sistema preventivo (1878), RSS 4 (1985) 300.
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Introdução
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constantemente «presentes» na vida dos alunos, que falam, guiam, aconselham, «amorosamente corrigem». A Missa quotidiana e os sacramentos da Penitência e da Eucaristia são considerados as «colunas» que sustentam todo o edifício educativo. As suas bases de conteúdo e de método são «a razão, a religião e o carinho» [amorevolezza]. A prática global é inspirada na caridade, à qual São Paulo eleva um hino (1Cor 13). A propósito, cumpre lembrar a feliz intuição do pedagogo austríaco Hubert Henz, que, referindo-se explicitamente ao sistema preventivo de Dom Bosco, assim escreve: «O método preventivo é um modo de educar que previne a corrupção moral do aluno e a necessidade de punições e exige do educador estar constantemente com o aluno, numa total dedicação à tarefa educativa, numa vida juvenil rica, dinâmica, realizada». Algo mais que ele deseja do sistema preventivo é, justamente, aquilo que Dom Bosco entende com o seu «preventivo»: tornar os jovens «honestos cidadãos e bons cristãos», maduros e responsáveis. Com efeito, o seu sistema preventivo «visa este objetivo e não se esgota no simples proteger ou guardar»6. Por outro lado, as páginas de 1877 não são as únicas que falam do «sistema preventivo», ainda que seja a primeira vez que a fórmula é adotada. Dom Bosco voltará a ela, na palavra e nos escritos, na década seguinte. Mas a mentalidade claramente preventiva tinha-o inspirado desde os primeiros anos de dedicação à obra assistencial em favor dos «rapazes pobres e abandonados», que haveria que «premunir», «proteger», «salvar», a começar pelos meios e pelos recursos aptos a introduzi-los e a fazê-los crescer no mundo da graça, além de realizar uma obra construtiva a nível de subsistência, instrução, profissão, crescimento moral e social7. Nos últimos anos, sob a sua pena, o «sistema preventivo» torna-se o «nosso sistema educativo», verdadeiramente espírito salesiano8. Nesta ótica foi realizada a presente exposição sistemática da experiência pedagógica de Dom Bosco: uma experiência educativa prática, constantemente integrada pela reflexão e por uma verdadeira experimentação9. A reconstrução está contida nos dez capítulos da segunda parte da obra.
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H. Henz, Lehrbuch der systematischen Pädagogik. Freiburg, Herder 1964, p. 232. Sobre os primeiros vinte anos de trabalho com os jovens e do «sistema preventivo» constantemente seguido, cfr. P. Braido, Il sistema preventivo di don Bosco alle origini (18411862). Il cammino del «preventivo» nella realtà e nei documenti, RSS 14 (1995) 255-320. 8 Cfr. P. Braido, L´esperienza pedagogica di don Bosco nel suo «divenire», in «Orientamenti Pedagogici» 36 (1989) 27-36. 9 Cfr. P. Braido, Pedagogia perseverante tra sfide e scommesse, in «Orientamenti Pedagogici» 38 (1991) 906-911. 7
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Introdução
Mas, visto que se trata de uma experiência e não de uma teoria abstrata, não pode ser entendida sem uma referência explícita à personalidade de Dom Bosco. Por sua vez, esta experiência e a própria ideia preventiva tornam-se compreensíveis à luz do contexto no qual o protagonista age e da «longa duração» na qual a «ideia» vai, aos poucos, amadurecendo. É esta a razão dos oito capítulos da primeira parte do livro. Para maior clareza, o primeiro capítulo destina-se a descrever o tempo e o espaço mais amplo em que Dom Bosco inicia a sua obra e gradualmente elabora a sua experiência educativa e pedagógica. Tal modo de encarar o problema de situar Dom Bosco educador na história de curta e de longa duração nasce da convicção de que o «sistema preventivo», mesmo o que é vivido e entendido pela tradição cristã, não esgota todos os possíveis sistemas de educação, nem «o sistema preventivo de Dom Bosco» esgota todas as possíveis versões do «sistema preventivo». Este não é riqueza exclusiva sua. Tem origens longínquas: primeiramente, no Evangelho. E não são menos ricos, de promessas e de perspetivas, os desenvolvimentos no futuro, se fiéis aos princípios e à história.
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Capítulo 6 A SINGULARIDADE PEDAGÓGICA DE DOM BOSCO
Com alguma ênfase, não totalmente gratuita, um sacerdote da diocese de Fermo escrevia em 1886: «Há já 50 anos que Dom Bosco sacrifica a vida pela educação e instrução da juventude com tão grande e extenso êxito, que se tornou o mais famoso educador dos nossos tempos, tanto no velho como no novo mundo. O que o tornou assim famoso foi o seu Sistema Preventivo»1. Não teria muito sentido dar lugar à retórica; mas é bastante pacífico que Dom Bosco pareceu a muitos contemporâneos e, também posteriormente, excecional educador e representante emergente do sistema preventivo na educação da juventude, sem com isso diminuir em nada o rico e original contributo de outros educadores passados e contemporâneos2. Da singularidade da sua experiência alguém teve 1 D. Giordani, La gioventù e Don Bosco di Torino. S. Benigno Canavese, Tip. e Libreria Salesiana, 1886, p. 63. Quase contemporaneamente, do mesmo autor, saía o volume: La carità nell educare ed il sistema preventivo del più grande educatore vivente il venerando D. Giovanni Bosco, coli aggiunta delle Idee di D. Bosco sull’educazione e sull’insegnamento, di F. Cerruti. S. Benigno Canavese, Tip. e Libr. Salesiana 1886. 2 Uma breve, mas boa pontualização do mérito de Dom Bosco quanto ao «sistema preventivo» é feita por E. Valentini, Don Bosco restauratore del sistema preventivo, em «Rivista di Pedagogia e Scienze Religiose» 7 (1969) 285-301. Evidentemente exuberante é, ao invés, a exaltação unilateral de A. Caviglia, de resto arguto estudioso de Dom Bosco, que numa lição proferida em agosto de 1934, entre outras coisas afirmava: «Dom Bosco e a eduação cristã formam uma equação que se resolve na unidade. Nisto consiste a grandeza histórica e concetual de Dom Bosco na vida da Igreja: que ele deu a formulação definitiva da pedagogia cristã, da pedagogia querida pela Igreja […]. Os Santos educadores e os Educadores santos partiram todos do princípio da caridade, e quase todos da caridade do pobre. Mas nenhum teve uma potencialidade difusiva e verdadeiramente dominante como Dom Bosco: e então Santos que tenham entendido formular num sistema tudo aquilo que religião, caridade e sabedoria prodigalizaram nuns lugares mais e noutros menos na educação: Santos criadores ou descobridores do sistema educativo cristão, só há um, e é Dom Bosco» (A. Caviglia, La pedagogia di Don Bosco, nel volume: Il soprannaturale nell’educazione. Roma, An. Tip. Editrice Laziale 1934, pp. 105 e 108). O tom explica-se em parte, pela intenção declarada de «falar de Dom Bosco […] como o vejo e o sinto, não como estu-
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Capítulo 6
logo uma aguda intuição: C. Danna, professor de Instituições de Belas Letras na Universidade de Turim, que já em 1849, sobre o Oratório, «a escola dominical de Dom Bosco», escrevia duas páginas apaixonadas, acentuando o caráter ao mesmo tempo religioso e civil, integralmente educativo e alegre do oratório de Dom Bosco. «Ele recolhe nos dias festivos, lá naquele recinto solitário, de 400 a 500 rapazinhos acima de 8 anos, para afastá-los de perigos e maus divertimentos e instruí-los nas normas da moral cristã. E isto entretendo-os em agradáveis e honestas recreações, depois de terem assistido aos ritos e exercícios de religiosa piedade. Ensina-lhes além disso a História sagrada e a eclesiástica, o Catecismo, os princípios de aritmética: ensina-lhes o sistema métrico decimal e, àqueles que não sabem, também a ler e a escrever. Tudo isto para a educação moral e cívica. Mas não descuida a educação física deixando que, no pátio que está ao lado do oratório e bem cercado, nos exercícios de ginástica, ou divertindo-se com as pernas de pau ou com baloiços, com as malhas e com as bolas de pau cresçam, reforcem o vigor do corpo. A isca com a qual atrai esta numerosíssima multidão, além de prémios de alguns santinhos, além de rifas, e às vezes algum lanchinho, é o aspeto sempre sereno e sempre vigilante em propagar naquelas jovens almas a luz da verdade e do amor recíproco. Pensando no mal que evita, nos vícios que previne, nas virtudes que semeia, no bem que frutifica, parece incrível que a sua obra pudesse ter impedimentos e contrariedades (...). Mas o que dá a Dom Bosco maior direito à gratidão da cidade é o internato que, lá na mesma casa do oratório, recolhe pequenos mais indigentes e necessitados. Quando ele encontra algum mais necessitado e mais carente não o perde mais de vista, leva-o para sua casa, dá-lhe de comer, troca por roupas novas os seus trapos, fornece-lhe alimento de manhã e de tarde, a fim de que, uma vez encontrado um patrão e trabalho, tenha a certeza de conseguir para ele um honrado sustento para o futuro, e pode cuidar com maior segurança da educação de sua mente e do seu coração»3.
Largo espaço ao sistema educativo de Dom Bosco é dado também pelo discurso pronunciado na missa de trigésimo dia, em 1 de março de 1888, pelo arcebispo de Turim, cardeal Caetano Alimonda. A educação, segundo o orador, é o primeiro setor no qual Dom Bosco se mostra divinizador do século XIX, ao lado da «cultura dos operários» e «da obra do trabalho», do espírito associativo e da civilização dos povos menos desenvolvidos. «João Bosco, que não despreza nada do que é útil para a pedagogia, vai mais adiante: não tem o problema do método, tem a resolução dos princípios. Na afeição natural introduz como guia o elemento religioso, na dioso, mas como cristão e como padre, e como Salesiano formado ainda por ele mesmo» (p. 102). 3 Na Cronichetta del «Giornale della Società d’istruzione e d’educazione», Anno I, vol. I (1849), pp. 459-460. Sublinharam-se as expressões que evidenciam os pontos qualificantes da experiência educativa e pedagógica de Dom Bosco.
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ciência, a caridade. Por isso diviniza a pedagogia»4. Intensamente religiosa, a sua pedagogia não é constrangedora: «Tudo se faz livre e alegremente»5. Ao mesmo tempo, trabalha-se com empenho e genialidade de iniciativas, numa atmosfera de paz, de dignidade e de confiança6. O estilo geral na direção das várias obras é o sistema preventivo, que para Dom Bosco «é lei absoluta», bem caraterizado em relação ao «método repressivo» muitas vezes inevitável na vida civil: «a força suprema e predileta, a força miraculosa à qual Dom Bosco se entrega ao governar, é a força moral. Sabe e vê que, se não conquista o afeto do aluno, é o mesmo que construir sobre a areia, o mesmo que educar os corpos e não os espíritos»7. 1. Síntese biográfica A biografia de Dom Bosco pode dividir-se em três períodos: a «preparação» (1815-1844); a definição dos traços fundamentais de sua ação educativa (18441869); a consolidação organizativa e «teórica» das suas instituições (l870-l888). Indicam-se aqui os momentos mais notáveis do seu itinerário de vida e de ação educativa. 1815 (16 de agosto) Nasce na localidade dos Becchi, no município de Castelnuovo de Asti. 1817 Morre seu pai. 1824 Começa a aprender a ler e a escrever com o P. Giuseppe Lacqua. 1827 Pela festa da Páscoa, é admitido à primeira comunhão. 1828 (fevereiro) É recebido como criado na fazenda dos Moglia (até ao outono de 1829). 1829 Retoma os estudos de língua italiana e latina com o padre João Calosso (+21 nov.). 1830 A partir de dezembro frequenta a escola municipal de Castelnuovo (Natal de 1830-verão de 1831). 4
Giovanni Bosco e il suo secolo. Ai funerali di trigesima nella Chiesa di Maria Ausiliatrice in Torino il 1 marzo 1888. Discorso del Cardinale Arcivescovo Gaetano Alimonda, Torino, Tipografia Salesiana, 1888, p. 11. 5 Cfr. G. Alimonda, Giovanni Bosco..., pp. 13-15. 6 Cfr. G. Alimonda, Giovanni Bosco..., pp. 21-24. 7 Cfr. G. Alimonda, Giovanni Bosco..., pp. 39-40.
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Capítulo 6
1831 A partir de novembro torna-se aluno da escola pública de gramática, humanidades e retórica de Chieri. 1835 Entra no seminário de Chieri, onde estuda filosofia e teologia. 1841 5 de junho, vigília da festa da Santíssima Trindade, em Turim, é ordenado sacerdote. 1841 Em novembro, entra no Colégio Eclesiástico, em Turim, para o estudo prático da moral e da pregação; reúne e catequiza rapazes e adultos. 1844 (outubro) É capelão numa das obras da marquesa Giulia di Barolo. 1845 (maio) - 1846 (março) Têm lugar as peregrinações do oratório, de São Pedro in Vincoli aos Moinhos Dora, à casa Moretta, ao prado Filippi. 1846 (12 abril) O oratório encontra sede definitiva no alpendre/casa Pinardi, na periferia de Valdocco, onde em novembro Dom Bosco vem habitar com a mãe; durante o inverno 1846/1847 têm início as aulas noturnas. 1847 Tem início o internato; em Porta Nuova é aberto o oratório de S. Luís; surge a Companhia de S. Luís 1848 (21 de outubro) Inicia a publicação de L’Amico della gioventù, jornal religioso, moral e político (vai durar 8 meses, fundindo-se com L’Istruttore del popolo). 1849 Assume, depois do padre Cocchi, a direção do oratório do Anjo da Guarda, no bairo de Vanchiglia; funda a Sociedade dos operários ou de mútuo socorro, cujos estatutos formula em 1850. 1852 (31 de março) O arcebispo, monsenhor Fransoni, exilado em Lion, nomeia Dom Bosco «diretor e chefe espiritual» do oratório de S. Francisco de Sales, ao qual estão «unidos e dependentes» os oratórios de S. Luís e do Anjo da Guarda. 1853 Inicia a publicação das Leituras Católicase abre uma modesta oficina interna de sapataria. 1854 Abre a oficina de encadernação; a dois clérigos (entre os quais Miguel Rua, que será o seu sucessor) e a dois jovens (entre os quais o futuro cardeal João Cagliero) Dom Bosco propõe a experiência de uma forma associativa apostólica, germe da futura sociedade salesiana; primeiros contactos com o ministro Urbano Rattazzi; Domingos Sávio entra para o oratório de Valdocco (1842-1857).
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1855 É instituída a terceira classe ginasial interna (até então os jovens estudantes frequentavam escolas particulares). 1856 Começa a oficina de carpintaria e é instituída a primeira e a segunda ginasial; é fundada a companhia da Imaculada. 1857 Tem início a companhia do Santíssimo Sacramento e o pequeno clero; é criada também uma conferência juvenil de S. Vicente de Paulo. 1858 Dom Bosco faz a sua primeira viagem a Roma, para apresentar a Pio IX o seu projeto de sociedade religiosa, consagrada aos jovens, e o primeiro esboço de Constituições. 1859 É completado o ginásio (5 classes); é criada a companhia de S. José; a Sociedade salesiana surge como associação religiosa, particular e de facto. 1860 Estão presentes na sociedade religiosa, particularmente constituída, os primeiros leigos (“coadjutores”). 1861 (31 de dezembro) É autorizada a abertura da oficina de tipografia. 1862 Surge a oficina dos ferreiros; primeira profissão dos votos religiosos (14 de maio). 1863 Inaugurado a primeira casa fora de Turim, em Mirabello Monferrato, sob a direção do padre Rua, a quem, na ocasião, Dom Bosco dirige uma carta, que constitui o núcleo originário das futuras Lembranças Confidenciais (o instituto será transferido para Borgo S. Martino em 1870); tem início a construção da igreja de Maria Auxiliadora. 1864 Inicia a sua atividade o colégio de Lanzo Torinese; Decretum Laudis em favor da Sociedade Salesiana. 1865 Dom Bosco projeta a Biblioteca dos escritores latinos, que tem início em 1866 com o título Selecta ex latinis scriptoribus in usum scholarum. 1868 Consagração da igreja de Maria Auxiliadora. 1869 (19 de fevereiro) A Santa Sé aprova a Sociedade Salesiana; é inaugurado o colégio de Cherasco; sai o primeiro volume da Biblioteca da juventude italiana (em 1885 chegará ao 204º e último volume). 1870 É fundado o colégio-interno municipal de Alassio.
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Capítulo 6
1871 Iniciam-se o colégio-interno municipal de Varazze e a escola de artesãos em Narassi (Génova), transferida no ano seguinte para Sampierdarena (Génova). 1872 Os salesianos assumem o colégio dos nobres de Valsalice (Turim); é fundada a Congregação religiosa feminina com o título de Instituto das Filhas de Maria Auxiliadora. 1874 As Constituições da sociedade salesiana são definitivamente aprovadas pela Santa Sé. 1875-87 A obra salesiana estende-se pela Europa (França, Espanha, Inglaterra) e pelo continente Sul Americano (Argentina, Brasil, Uruguai, etc.) com obras para emigrantes, instituições escolares e educativas, atividades missionárias. 1876 Pio IX aprova a associação dos cooperadores e cooperadoras salesianos. 1877 Realiza-se o primeiro capítulo geral da Sociedade de S. Francisco de Sales, seguido, ainda em vida de Dom Bosco, de outros três: 1880, 1883, 1886. Em 1877 dá-se também a publicação das páginas sobre o sistema preventivo e dos Regulamentos. Em agosto tem início o Bibliofilo catolico ou Bolletino Salesiano. 1880 Dom Bosco aceita construir a igreja do Sagrado Coração em Roma: será consagrada em 14 de maio 1887. 1881 (fevereiro) É aberto o colégio de Utrera na Espanha. 1883 Viagem triunfal de Dom Bosco a Paris. 1884 Penúltima viagem a Roma (a 19ª); em junho consegue os chamados “privilégios”. 1886 (8 de abril - 6 de maio) Extraordinário acolhimento e permanência na Espanha, em Sarriá-Barcelona. 1887 (maio) Última viagem a Roma por ocasião da consagração da igreja do Sagrado Coração. 1888 (terça feira, 31 de janeiro, às 4.45h) Dom Bosco morre.
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2. Fontes para a reconstrução do “sistema preventivo” de Dom Bosco Para uma correta reconstrução da práxis e da conceção educativa de Dom Bosco, parece necessário adotar alguns critérios metodológicos que tenham presentes: 1º a complexidade da sua ação e visão dos jovens; 2º a constante interação de ação, escritos e experiência de vida, pessoal e institucional; 3º a atenção ao cambiante contexto histórico dentro do qual a complexa realidade se coloca, entre rigidez de esquemas e tentativas de adaptação.
2.1 Dom Bosco apóstolo cristão da juventude Dom Bosco não é somente «educador» no sentido estrito e formal; a sua atividade propriamente educativa8 insere-se num conjunto mais amplo de interesses pela juventude e pelas classes populares a todos os níveis. Concretamente, deve ser identificada no contexto de uma tríplice preocupação, com ela entrelaçada, mas formalmente distinta: 1) A atividade assistencial e benéfica voltada para as necessidades elementares da alimentação, do vestuário, do alojamento e do trabalho. 2) O cuidado pastoral da «salvação da alma», do «viver e morrer em graça», com as intervenções específicas que este exige; 3) A animação espiritual das comunidades educativas e religiosas por ele fundadas, para dar suporte às várias obras em favor dos jovens. O conjunto de tais atividades encontra expressão adequada em duas afirmações complementares que põem em evidência a sua dupla dimensão: a ação e a consagração religiosa. «Exerço o ministério sacerdotal, há vinte anos, nas prisões, nos hospitais, nas ruas e praças desta cidade, recolhendo rapazes abandonados a fim de os encaminhar para a moralidade, para o trabalho, segundo a sua inteligência, capacidade e inclinação, sem nunca ter recebido nem pedido qualquer paga. Antes, apliquei e continuarei a fazê-lo ainda hoje todos os meus haveres na construção da casa e no sustento de meus pobres rapazes»9. «A santificação de si mesmo, a salvação das almas com o exercício da caridade, é a finalidade da nossa Sociedade. Nisto há que ter o máximo cuidado a fim de que sejam propostos para ministérios
8 «Educativo» em sentido próprio é o que incide positivamente no desenvolvimento e na formação das faculdades humanas, de forma a tornar cada um capaz de habituais decisões livres, em generoso compromisso de vida, individual e social, moral e religioso. 9 Carta ao ministro do Interior Carlo Farini de 12 junho 1860, Em I 407.
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Capítulo 6
em favor dos outros somente aqueles que brilham na virtude ou na ciência e que se esforçam por ensinar os outros. É melhor a falta de mestres do que a sua inépcia»10. Relativamente à reconstrução do «sistema preventivo», surgem daí algumas consequências. Antes de tudo, a exposição do seu aspeto propriamente pedagógico não esgota toda a sua abrangência: este, de facto, comporta também uma clara dimensão pastoral e espiritual, tanto para educadores como para educandos. Em segundo lugar, a adequada utilização dos escritos de Dom Bosco, expressão e dimensão da sua experiência vital completa, deve ser efetuada, quando for oportuno, mediante a interpretação dos conteúdos explicitamente pedagógicos, na sua articulação com outros elementos pertinentes: teológicos, jurídicos, hagiográficos, «espirituais», ascéticos, organizativos11.
2.2 A integração da vida Mais, a rica messe de escritos, ainda que em definitiva originada da radical intenção da promoção juvenil e popular, poderia resultar incompreensível e até falsa do ponto de vista teórico, se não fosse relacionada com a personalidade de Dom Bosco e com a vida concreta das instituições por ele criadas e governadas. Isto não significa que o «sistema» de Dom Bosco se identifique sem mais com ele. Sem sombra de dúvida, a sua eminente personalidade de educador, genial e santo, confere ao sistema uma tonalidade toda especial. Mas, em definitiva, este assume estrutura e validade autónoma, tornando-se mesmo «doutrina» transmissível e de facto transmitida, primeiramente aos seus colaboradores imediatos e depois a círculos mais vastos de agentes no campo da assistência juvenil. Ele e os seus acabavam por contrapô-lo nitidamente, com estrutura e eficácia próprias, a outra «doutrina» e prática educativa, o «sistema repressivo». Isto não exclui, antes implica, que o melhor exegeta de Dom Bosco, que teoriza e escreve, é o próprio Dom Bosco, que cria e plasma a sua experiência educativa e a encarna nas suas instituições, junto com seus colaboradores e jovens, que são os seus principais agentes e beneficiários. Escreve Bartolomeo Fascie: «Não seguiria um bom caminho quem quisesse fazer uma abordagerm do método educativo de Dom Bosco com intenção de o submeter a uma análise exasperante, fragmentando-o, reduzindo-o a partes, divisões, rígidos esquemas, quando, pelo contrário, ele deve 10 É a primeira de uma série de apostilhas, em latim, às Constituições, recentemente aprovadas (1874), MB X 994-996. 11 Critérios válidos de leitura sobre a produção literária de Dom Bosco são oferecidos por R. Farina, Leggere don Bosco oggi. Note e suggestioni metodologiche, nel vol. La formazione permanente interpella gli Istituti religiosi, a cura di P. Brocardo. Leumann (Torino), Elle Di Ci 1976, pp. 349-404.
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ser visto como uma forma viva no seu todo, e estudado nos princípios dos quais ele recebe a vida, os órgãos de sua vitalidade e as funções que a partir deles se desenvolvem12.
2.3 Entre estabilidade e inovação Para evitar uma reconstrução demasiado sistemática, rígida e uniforme, deveria ajudar também a atenção ao caráter histórico, contextual e vital do sistema. Com efeito, a experiência educativa de Dom Bosco e as reflexões teóricas e normativas que a acompanham fixaram-se em momentos cronológicos e dentro de contextos socioambientais e institucionais notavelmente diversos. Os anos que precederam 1848, os que antecederam a unificação nacional (1860), o período «piemontês» da difusão da obra (até 1870) não são simplesmente identificáveis entre si nem com os que se seguem. São radicalmente diversos o perfil psicológico, os impulsos culturais, as condições sociais, os contextos políticos e religiosos. Além do mais, no interior dos mesmos segmentos cronológicos, não são totalmente equiparáveis as experiências realizadas no oratório festivo, no internato para aprendizes e para estudantes seminaristas, no internato para artesãos, no colégio interno para rapazes da classe média ou média superior (Alassio, TurimValsalice, Este), nos «patronatos» do sul da França, em semelhantes instituições reproduzidas na Argentina e no Uruguai. É natural que, em torno dos elementos essenciais comuns e inspirações de base, presentes em todos os lugares, se juntem, de vez em quando, traços e tons bastante diversificados. E é óbvio que análogas diferenças se encontrem nos documentos escritos, diversos pela realidade à qual se referem, pelas ocasiões em que surgem e pelo respetivo género literário. Já se acenou à hipótese de «um» sistema preventivo, praticado com uma «pluralidade» de «métodos preventivos», com referência, antes de tudo, à diferenciação de instituições «abertas», como o oratório, e «totais» como o colégio interno13. 12 B. Fascie, Del metodo educativo di don Bosco. Fonti e commenti. Torino, SEI 1927, p. 32. Sobre a relação entre escritos e experiência pessoal e institucional como critério de compreensão do sistema educativo de Dom Bosco, cfr. P. Braido, Il sistema preventivo di don Bosco. Zurich, PAS-Verlag 1964, pp. 59-73: L’arte educativa di don Bosco; Id., Los escritos en la experiencia pedagógica de don Bosco, no volume: San Juan Bosco, Obras fundamentales, edición dirigida por Juan Canals Pujol y Antonio Martínez Azcona, Madrid, BAC 1978, pp. XIV-XXXII. 13 Cfr. P. Braido, L’ esperienza pedagogica di don Bosco nel suo divenire, in «Orientamenti Pedagogici» 36 (1989) 11-39; L. Pazzaglia, La scelta dei giovani e la proposta educativa di don Bosco, nel vol. Don Bosco nella storia. Atti del Iº Congresso Internazionale di Studi su don Bosco (Università Pontifìcia Salesiana - Roma, 16-20 gennaio 1989), a cura di M. Midali. Roma, LAS 1990, pp. 259-288; em particular, pp. 273-282.
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Capítulo 6
3. Dom Bosco educador e autor pedagógico Dom Bosco, ainda que tenha publicado muito, não confiou a nenhum escrito seu em particular a exposição sistemática da sua reflexão pedagógica ou as linhas fundamentais da sua prática educativa. Não existe, todavia, escrito seu que deixe de ter alguma relação com a educação da juventude popular, seja qual for o assunto: histórico, apologético, didático, catequético, hagiográfico, biográfico, normativo14. Por isso, a reconstrução fiel das suas ideias não deveria deixar de lado nenhum dos seus escritos, publicados ou inéditos, ainda que privilegiando os escritos mais claramente «pedagógicos». A estes devem acrescentar-se os abundantes testemunhos de colaboradores contemporâneos: livros, crónicas, memórias, perfis biográficos e história de instituições; atas de conferências gerais e particulares, de conselhos, de capítulos gerais e do capítulo superior. O seu rico epistolário é de suma importância15. Aqui limitamo-nos a indicar escritos e testemunhos de clara intenção pedagógica, teórica e prática. «Um método de vida cristã que seja ao mesmo tempo alegre e feliz», é o que Dom Bosco pretende ensinar aos jovens com O jovem instruído para a prática dos seus deveres dos exercícios de piedade cristã de 184716. Primeiras breves amostras de «pedagogia narrada» do Oratório são a Introduzione a un Piano di regolamento, um Cenno storico dell’Oratorio di S. Francesco di Sales de 1852/54 e Cenni storici intorno all’Oratorio de S. Francesco di Sales de 186217. Ligadas às estruturas do colégio-seminário, há algumas conhecidas biografias, que assumem, em medida crescente, o tom de narração ao mesmo tempo hagiográfica e pedagógica, publicadas na década de 1859-1868: Vita del giovanetto
14
Uma resenha completa da vasta produção literária de Dom Bosco, que inclui também escritos de outro tipo (hagiográfico, histórico, jurídico-estatutário…) é oferecida por P. Stella, Gli scritti a stampa di S. Giovanni Bosco. Roma, LAS 1977. Um reagrupamento por género literário está contido no trabalho de P. Stella, Don Bosco nella storia della religiosità cattolica, vol. I, pp. 230-237. 15 Dele temos a edição em quatro volumes ao cuidado de Eugenio Ceria (Torino, SEI 19551959). Está em curso uma mais rica edição crítica: G. Bosco, Epistolario. Introduzione, testi critici e note a cura di F. Motto, 2 vol. Roma, LAS 1991/1996: vol. I (1835-1863); II (1864-1868). 16 Cfr. P. Stella, Valori spirituali nel «Giovane provveduto» di san Giovanni Bosco. Roma, PAS 1960, 131 p. 17 Cfr. P. Braido, Don Bosco per la gioventù povera e abbandonata in due inediti del 1854 e del 1862, in P. Braido (Ed.), Don Bosco nella Chiesa al servizio dell’umanità. Roma, LAS 1987, pp. 13-81.
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Domenico (1859)18; Cenno biografico sul giovanetto Magone Michele (1861)19; Il pastorello delle Alpi ovvero vita del Besucco Francesco d’Argentera (1864)20. Podem citar-se ainda algumas narrações didascálicas de fundo biográfico: La forza della buona educazione (1855)21; Valentino o la vocazione impedita (1866)22; Severino o sia avventure di un giovane alpigiano (1868 )23. Um denso significado pedagógico apresentam as Lembranças confidenciais aos diretores que, como foi dito, têm a sua origem numa carta que Dom Bosco, em fins de outubro de 1863, enviou ao padre Miguel Rua, recém-nomeado diretor do colégio de Mirabello Monferrato24. Excecional documento de pedagogia experiencial, relativa aos anos de 18151854 e particularmente às primeiras iniciativas turinesas do oratório festivo e do incipiente internato, são as Memorie dell’ Oratorio di S. Fancesco di Sales, redigidas por Dom Bosco entre 1873 e 1879, editadas pela primeira vez em 194625. Clássico e conhecidíssimo é o escrito Il sistema preventivo nella educazione della gioventù (1877)26. Idêntico título, mas de conteúdo diverso, tem o memorando enviado ao ministro do Interior da Itália, Francesco Crispi, em fevereiro de 187827. Para as suas instituições educativas, Dom Bosco escreveu vários «regulamentos». Particulamente extensos e importantes são o Regolamento dell’ Oratorio di S. Francesco di Sales per gli esterni (1877) e o Regolamento per le case della Società di S.
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Cfr. La vita di Savio Domenico e «Savio Domenico e don Bosco». Studio di A. Caviglia. Torino, SEI 1942-1943, XLIII-92 + 609 p. 19 Cfr. A. Caviglia, Il «Magone Michele». Una classica esperienza educativa, in Il primo libro di don Bosco. - Il «Magone Michele». Torino, SEI 1965, pp. 129-202. 20 Cfr. A. Caviglia, La «Vita di Besucco Francesco» scritta da don Bosco e il suo contenuto spirituale, in La vita di Besucco Francesco. Torino, SEI 1965, pp. 107-262. 21 Cfr. J. Schepens, «La forza della buona educazione». Étude d’un écrit de don Bosco, in L’impegno dell’ educare, a cura di J. M. Prellezo. Roma, LAS 1991, pp. 417-433. 22 Cfr. G. Bosco, Valentino o la vocazione impedita. Introduzione e testo critico a cura di M. Pulingathil. Roma, LAS 1987, 111 p. 23 B. Decancq, «Severino». Studio dell’ opuscolo con particolare attenzione al «primo oratorio», RSS 11 (1992) 221-318. 24 Cfr. F. Motto, I «Ricordi confidenziali ai direttori» di don Bosco, RSS 3 (1984) 125-166. 25 Delas existem agora duas edições, uma com duplo aparato, das variantes e histórico, e outra só com aparato histórico, ao cuidado de António Ferreira da Silva (Roma, LAS 1991). No presente trabalho é utilizada a primeira. Sobre o particular valor «pedagógico das Memórias do Oratório, cfr. P. Braido, Memorie» del futuro, RSS 11 (1992) 97-127. 26 Cfr. G. Bosco, Il sistema preventivo nella educazione della gioventù. Introduzione e testi critici a cura di P. Braido, RSS 4 (1985) 171-321 27 Cfr. G. Bosco, Il sistema preventivo nella educazione della gioventù..., ibid., pp. 300-304.
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Capítulo 6
Francesco di Sales (1877)28; deste último têm especial valor pedagógico os Articoli generali introdutórios29. Embora apareçam em escritos tardios (1881-1882), podem ser consideradas confiáveis duas intervenções de Dom Bosco sobre o seu sistema educativo, em dois colóquios de 1854 e de 1864: a primeira com o ministro do reino sardo Urbano Rattazzi30; a outra, com o professor primário Francesco Bodrato31. Próxima do pensamento de Dom Bosco é uma singular carta sobre os castigos, com referências interessantes sobre o sistema preventivo, ligadas à experiência vivida no centro das obras de Dom Bosco, o Oratório de Turim-Valdocco32. Inspiradas por Dom Bosco e redigidas pelo secretário padre Giovanni Battista Lemoyne são duas significativas cartas datadas de 10 de maio de 1884, a mais curta, enviada à comunidade dos jovens de Valdocco, prepara o material para a segunda, enviada aos salesianos que lá trabalhavam33. Idealmente ligadas às Lembranças confidenciais aos diretores aparecem algumas cartas enviadas por Dom Bosco, em agosto de 1885, a salesianos da Argentina e do Uruguai34. De notável interesse para a formação catequética e religiosa dos jovens são: a Storia ecclesiastica (1845); a Storia sacra (1847); Avvisi ai Cattolici. Fondamenti della Cattolica Religione (1850 e 1853 ); Maniera facile per imparare la Storia Sacra (1855).
28
Cfr. OE XXIX 31-94 e 97-196. Cfr. P. Braido, Il «sistema preventivo» in un «decalogo» per educatori, RSS 4 (1985) 131-
29
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30
Disso fala a primeira vez o BS 6 (1882) n. 10 e 11, ott. e nov., pp. 171-172 e 179-180: cfr. Conversazione con Urbano Rattazzi (1854), a cura di Antonio Ferreira da Silva, in. P. Braido, (Ed.), Don Bosco educatore. Scritti e testimonianze. Roma, LAS 1997, pp. 75-87. 31 A primeira reconstrução encontra-se numa biografia do salesiano Francesco Bodrato, de que temos apenas as provas de imprensa, redigida em1881: cfr. Il dialogo tra don Bosco e il maestro Francesco Bodrato (1864), a cura di Antonio Ferreira da Silva, in. P. Braido (Ed.), Don Bosco educatore..., pp. 187-198. 32 J. M. Prellezo, Dei castighi da infliggersi nelle case salesiane. Una lettera circolare attribuita a don Bosco, RSS 5 (1986) 263-308. 33 Cfr. Due lettere datate da Roma 10 maggio 1884, a cura di P. Braido, in P. Braido (Ed.), Don Bosco educatore..., pp. 344-390. 34 Para algumas das principais, cfr. F. Motto, Tre lettere a salesiani in America, in P. Braido, Don Bosco educatore..., pp. 439-452; e ainda a don G. Fagnano, 10 ag. 1885, E IV 334-335; a don G. B. Allavena, 24 sett. 1885, E IV 339-340; a don L. Lasagna e a don Lorenzo Giordano, 30 sett. 1885, E IV 340-341, 341-342.
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Merecem atenção outros escritos de caráter escolar: Il sistema metrico decimale ridotto a semplicità (1849); La Storia d’Italia raccontata alla gioventù (1855); e recrea tivo: dialoghi scenici sul sistema metrico decimale (1849); Una tra un avvocato e un ministro protestante (1853); La casa della fortuna. Rappresentazione dramatica (1865); Novella amena di un vecchio soldato di Napoleone I (1862); Fatti ameni della vita di Pio IX (1871).
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Capítulo 7 A “FORMAÇÃO PEDAGÓGICA” DE DOM BOSCO
Na síntese pedagógica vital e reflexa de Dom Bosco pode-se facilmente encontrar a confluência de diferentes experiências culturais. Esta, em grande parte, coincide com a sua formação geral, pessoal e cultural: na infância (escola da família e da Igreja), na adolescência (trabalho no campo e estudo), na juventude madura até ao sacerdócio e mais além (escola de latim de Chieri, seminário, Convitto ecclesiastico). Nesta se enraízam os traços fundamentais da futura personalidade de sacerdote amigo dos jovens, pastor e educador. Em poucas palavras: o núcleo da vocação educativa de Dom Bosco constitui-se e desenvolve-se com o crescer e amadurecer da sua formação católica e sacerdotal1. A esta «cultura» de base somar-se-ão e entrelaçar-se-ão contactos com figuras da «catolicidade», santos da caridade, teólogos, agentes sociais, livros e experiências que aperfeiçoarão e enriquecerão os traços de uma personalidade já extraordinariamente dotada de qualidades afetivas, intelectuais, volitivas. 1. Entre casa e igreja A família, «schola gremii materni» (escola do seio materno), é a primeira matriz da personalidade de Dom Bosco. Insere-se numa pequena comunidade rural católica, que garante a presença dos «sinais» religiosos, entre os quais primeiro, fundamental, está o sacramento do Batismo, seguido, a seu tempo, pelas práticas exigidas pela disciplina eclesiástica e por uma secular tradição: orações quotidianas, missa
1
É evidente em Dom Bosco a prioridade cronológica e psicológica da vocação sacerdotal em relação à educativa. Sobre o problema oferecem variados elementos: J. Klein - E. Valentini, Una rettificazione cronologica delle «Memorie di San Giovanni Bosco», in «Salesianum» 17 (1955) 581-610; F. Desramaut, Le Memorie I de Giovanni Battista Lemoyne. Étude d’un ouvrage fondamental sur la jeunesse de saint Jean Bosco, Lyon 1962, p. 186; P. Braido, Il sistema preventivo di San Giovanni Bosco. Torino, PAS 1955, pp. 49-59.
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Capítulo 7
festiva, pregação, catequese, preceitos religiosos2. A primeira vida familiar de João é condicionada pela precoce «ausência» do pai, falecido quando o filho não tinha ainda dois anos, pela presença de um irmão enteado, sete anos mais velho, e pela avó paterna e, sobretudo determinante, por uma mãe de grande solidez humana e espiritual, verdadeira «mãe paterna»3. A mãe, Margarida Occhiena (1788-1856), é a primeira educadora e mestra de «pedagogia». À distância de quase sessenta anos, ele escreve a respeito dela que o «seu máximo cuidado foi instruir os seus filhos na religião, educá-los na obediência e ocupá-los em coisas compatíveis com a idade»4. Em família aprendeu, acima de tudo, o hábito da oração, do dever, do sacrifício; a seu tempo, guiado pela mãe, a prática do sacramento da Confissão na idade da razão. Pouco a pouco, ia aprendendo a ler e a escrever. Para a primeira comunhão devia esperar até aos onze anos (Páscoa de 1827)5. A «religião», a dureza do trabalho do campo em casa e fora de casa, feito com tenacidade e por obediência à mãe, a vontade firme de se aplicar à leitura e ao estudo plasmam fortemente a sua personalidade6. Nas Memórias do Oratório de S. Francisco de Sales atribui particular importância ao encontro com o padre João Calosso, capelão do povoado de Morialdo por menos de dois anos (1829-1830), explicitando, em idade madura, sensações informes dos quinze anos7. Mas são também caraterísticas e significativas, por outro lado, as atividades recreativas, consideradas naturais pela mentalidade realista cristã do rapaz e da mãe, e também do contexto cristão-rural no qual se desenrolam as suas existên2
Sobre a primeira educação e instrução religiosa e, portanto, sobre o catecismo, que marcaram a mentalidade de Dom Bosco educador, cfr. MO (1991) 33-34, 42-44 e P. Braido, L’inedito «Breve catechismo pei fanciulli ad uso della diocesi di Torino» di don Bosco. Roma, LAS 1979, Introduzione, pp. 7-8, 22. 3 Não faltaram, de resto, a Dom Bosco figuras masculinas que influíram na estruturação da sua personalidade, enriquecendo-lhe traços, a ele já comunicados por uma mãe forte clarividente: cfr. G. Stickler, Dalla perdita del padre a un progetto di paternità. Studio sulla evoluzione psicologica della personalità di don Bosco, in «Rivista di Scienze dell’ Educazione» 25 (1987) 337-375. 4 MO (1991) 33-34. 5 MO (1991) 34, 42-44. 6 MO (1991) 48-50. Uma reconstrução substancialmente credível encontra-se na biografia compilada por G. B. Lemoyne, Scene morali di famiglia esposte nella vita di Margherita Bosco. Racconto edificante ed ameno. Torino, tip e libr. Salesiana 1886, VII-188 p. e no ensaio de E. Valentini, Il sistema preventivo nella vita di Mamma Margherita. Torino, LDC 1957 pp. 146. 7 MO (1991) 45-51. «Coloquei-me nas mãos do padre Calosso (…).Todas as palavras, todos os pensamentos, todas ações eram-lhe prontamente manifestados (…) Fiquei então a saber o que significa ter um guia estável, a um fiel amigo da alma, de que até então tinha estado privado» (p. 47).
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cias: os brinquedos, ir aos ninhos, as acrobacias de pequeno saltimbanco que são o prelúdio da futura «sociedade da alegria» dos estudos em Chieri e do amplo espaço reservado aos tempos livres no conjunto do sistema educativo preventivo8. 2. A primeira formação escolar Seguem-se a primeira formação elementar regular, em Castelnuovo, do Natal de 1830 ao verão de 1831, e a frequência dos cursos de gramática, humanidades e retórica em Chieri, de 1831 a 1835. É um período importante para o futuro. O jovem camponês entra em contacto com o mundo novo e exaltante da cultura «latina», clássico-humanista, que eleva o nível da sua consciência intelectual e das suas aspirações culturais, graças a um tipo de escola que encontrará largo espaço no seu futuro de educador e de suscitador de vocações. Mas é ainda mais determinante, para o jovem maduro, encontrar-se imerso numa estrutura formativa total, ao mesmo tempo cultural, ética e religiosa. Acenou-se, a seu tempo, à sua alma preventivo-repressiva. Ela marcou profundamente a mentalidade de João Bosco, naturalmente reequilibrada por contactos e experiências posteriores, com traços sensíveis na organização das futuras obras educativas para estudantes, sobretudo dentro do colégio9 interno. Isto deduz-se não somente da análise do próprio texto, mas também da nítida lembrança dos aspetos, sobretudo religiosos que ele, como já se viu, fixa nas Memorie dell’ Oratorio10. É evidente a total identidade de conceções sobre o fundamento religioso e moral da vida e do estudo; o valor da instrução e da prática religiosa cristã; a solicitude pela ordem, a disciplina e a moralidade, garantidas particularmente pela presença do Prefeito dos Estudos e pela assistência; a formação interior através da «congregação», a direção espiritual e a prática sacramental. Acrescente-se, para o jovem João Bosco, um intenso interesse «literário» que o leva – como ele mesmo diz – a devorar os escritores clássicos latinos e italianos, até provocar uma espécie de paixão11. Ao mesmo tempo, muitas décadas depois, talvez com certa idealização, voltando à proposta «exemplar», faz emergir a figura de dois sacerdotes. É apresentado, 8
MO (1991) 38-42, 76-82. É um elemento notável, embora não único, de específico influxo da Companhia de Jesus, dado que aos seus membros e à sua pedagogia escolar preside o Regolamento de Carlos Félix de 23 de julho de 1822, como se disse, que modela as escolas do Reino Sardo, incluídas as «congregações» dominicais dos estudantes, a que pode ligar-se em parte o oratório festivo de Dom Bosco. 10 MO (1991) 56-58, 63-64. 11 MO (1991) 82-84. 9
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Capítulo 7
antes de tudo, com especial destaque, o professor Pietro Banaudi, «um verdadeiro modelo de professor», que «sem nunca dar um castigo, conseguira fazer-se amar e temer por todos os seus alunos. Ele amava a todos como filhos, e estes amavam-no como terno pai»12. Além disso, ele considera a sua «mais afortunada aventura» «a escolha de um confessor estável na pessoa do teólogo Maloria», de trinta anos, que o «acolheu sempre com grande bondade» e que o penitente continuou a preferir ao longo de todo o curso de teologia13. 3. No seminário de Chieri Os estudos filosóficos e teológicos, feitos no seminário de Chieri (1835-1841), não parecem ter tido muito impacto na cultura e na mentalidade de João Bosco, alheio, por temperamento, a especulações teóricas. De qualquer forma, estes permitem-lhe uma solidificação básica na estrutura da teologia dogmática e moral daquele tempo, de mais baixo perfil em relação ao neotomismo posterior. Depois de ter falado positivamente da descoberta do De imitatione Christi, escrevia com uma certa frieza dos estudos teológicos institucionais: «nos nossos seminários estuda-se somente a dogmática, a especulativa. De moral, estudam-se somente as questões controversas»14. Dom Bosco não parece ter sofrido uma sensível e duradoura influência dos ensinamentos probabilioristas, de teses anti-infalibilistas, de uma difusa pastoral rigorista, de ideias filogalicanas, que teriam caraterizado a didática teológica dos seminários da diocese de Turim, nas primeiras décadas do século XIX15. Ao contrário, notável influência positiva, ainda que com alguma reserva, deveu exercer a ordem disciplinar e espiritual. Esta permitiu operar uma discreta consolidação da sua estrutura espiritual-moral de base, bom pilar de apoio da pedagogia do dever, do amor e da alegria: a exatidão no cumprimento do dever; a oração da manhã com a missa, a meditação, o rosário; a leitura nas refeições (ele cita em particular a Storia ecclesiastica de Bercastel); a confissão quinzenal 12
MO (1991) 71-72. MO (1991) 64-65, 84. 14 MO (1991) 116. 15 Quanto ao ensino na faculdade de teologia e nos seminários de Turim nas primeiras décadas do século XIX, escreveu-se: «em matéria de moral ensinava-se o probabiliorismo, em matéria de eclesiologia (não obstante a neutralidade oficial) expunham-se teses anti-infalibilistas e mesmo críticas a respeito do primado. Na práxis pastoral aplicava-se o rigorismo; entre o clero, sobretudo o douto, do qual eram escolhidos os bispos, eram comuns ideias moderadamente filogalicanas», isto é, jurisdicionalistas (G. Tuninetti, L. Gastaldi 1815-1883, vol. I Teologo, pubblicista, rosminiano, vescovo di Saluzzo: 1815-1871. Torino, Edizioni Piemme 1983, p. 33). 13
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401 Índice Geral
APRESENTAÇÃO....................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 5 Capítulo 1: OS TEMPOS DE DOM BOSCO............................................................. 9 1. Elementos de transformação no campo político..............................................................11 2. Situações no campo religioso.............................................................................................13
2.1 Na Igreja católica............................................................................................ 13 2.2. Na Igreja em Turim....................................................................................... 15 3. Elementos de transformação no campo socioeconómico...............................................17 4. Transformações no campo cultural, educativo, escolar..................................................18
Capítulo 2: MELHOR PREVENIR QUE REPRIMIR............................................. 21 1. Prevenção Política................................................................................................................23 2. Prevenção social: pauperismo e mendicidade .................................................................27 3. Prevenção no campo penal.................................................................................................31 4. A educação como prevenção...............................................................................................34 5. A Religião meio de prevenção.............................................................................................36
Capítulo 3: A REALIDADE PREVENTIVA ANTES DA FÓRMULA.................. 41 1. Temáticas preventivas de uma educação familiar de estilo pós-tridentino..................41 2. Carlos Borromeu, iniciador da pedagogia oratoriana.....................................................50 3. A alternativa temor-amor no governo de comunidades de «religiosos».......................53 4. Jansenismo pedagógico: Port-Royal (1637-1657)..............................................................55 5. Repressão preventiva na educação escolar........................................................................59
Capítulo 4: NASCIMENTO DE UMA FÓRMULA: «SISTEMA PREVENTIVO» E «SISTEMA REPRESSIVO»...................................... 63 1. «Prevenir» e «reprimir» na política escolar......................................................................63 2. Educação pública repressiva, educação privada preventiva...........................................65
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402 3. O Sistema preventivo de Pierre-Antoine Poullet (1810-1846)........................................67 4. Dois tipos de colégio e de sistemas educativos em confronto........................................70 5. Félix Dupanloup (1802-1878)..............................................................................................71 6. Sugestões preventivas de Henri Lacordaire (1802-1861).................................................73 7. Antoine Monfat educador e pedagogo (1820-1898).........................................................77
Capítulo 5: FIGURAS DO SISTEMA PREVENTIVO PRÓXIMAS DE DOM BOSCO....................................................................................................................... 83 1. Os irmãos Cavanis ..............................................................................................................83 2. Lodovico Pavoni...................................................................................................................85 3. Marcellino Champagnat (1789-1840) e os Irmãos Maristas.......................................... 90 4. Teresa Eustochio Verzeri e as Filhas do Sagrado Coração de Jesus...............................93 5. O sistema preventivo na “escola infantil”.........................................................................96 6. António Rosmini e a pedagogia preventiva positiva.......................................................99 7. Educação correcional entre repressão e prevenção........................................................100 8. Pedagogia preventiva lassalliana......................................................................................103 9. Estilo preventivo barnabita...............................................................................................106
Capítulo 6: A SINGULARIDADE PEDAGÓGICA DE DOM BOSCO................113 1. Síntese biográfica................................................................................................................115 2. Fontes para a reconstrução do “sistema preventivo” de Dom Bosco..........................119
2.1 Dom Bosco apóstolo cristão da juventude.................................................. 119 2.2 A integração da vida.................................................................................... 120 2.3 Entre estabilidade e inovação...................................................................... 121 3. Dom Bosco educador e autor pedagógico.......................................................................122
Capítulo 7: A “FORMAÇÃO PEDAGÓGICA” DE DOM BOSCO....................... 127 1. Entre casa e igreja...............................................................................................................127 2. A primeira formação escolar............................................................................................129 3. No seminário de Chieri.....................................................................................................130 4. No Colégio Eclesiástico de Turim....................................................................................132 5. Santos diferentemente congeniais....................................................................................134 6. A Experiência dos “oratórios”..........................................................................................137 7. Dom Bosco e os pedagogistas de «L’Educatore primário»............................................138 8. Livros de guia espiritual juvenil.......................................................................................140 9. Um mestre em constante aprendizagem.........................................................................142 10. O impacto com a juventude de Turim...........................................................................143
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403 Capítulo 8: AS OBRAS, O CORAÇÃO, O ESTILO...............................................147 1. As obras...............................................................................................................................147 2. A personalidade e o estilo.................................................................................................153
2.1 Tradição e modernidade.............................................................................. 154 2.2 Realismo e sentido de oportunidade........................................................... 158 2.3 Sabedoria e firmeza...................................................................................... 160 2.4 Magnanimidade e praticidade..................................................................... 162 2.5 Inteiramente consagrado aos jovens............................................................ 165 2.6 Homem de coração....................................................................................... 168 3. Todo de Deus......................................................................................................................170
Capítulo 9: A OPÇÃO PELOS JOVENS:TIPOLOGIA SOCIAL E PSICOPEDAGÓGICA............................................................................................. 173 l. Elementos de sociologia da juventude..............................................................................175 2. Elementos de “psicologia juvenil”....................................................................................183
2.1 A idade que cresce......................................................................................... 183 2.2 Traços de psicologia juvenil.......................................................................... 184 3. Teologia da educabilidade juvenil....................................................................................189
Capítulo 10: PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PARA RAPAZES COM DIFICULDADES ESPECIAIS................................................................................ 197 1. Dom Bosco, os jovens encarcerados e os corrigendos da «Generala».........................198 2. Dom Bosco interessa-se por jovens em dificuldade ......................................................201 3. Negociações de Dom Bosco para a gestão de instituições «correcionais»................. 204 4. Um «projeto preventivo» para «jovens em perigo» ...................................................... 209
Capítulo 11: A EDUCAÇÃO DO «BOM CRISTÃO E HONESTO CIDADÃO» «SEGUNDO AS NECESSIDADES DOS TEMPOS»..............................................211 1. Uma visão teórico-prática dos fins da educação ...........................................................211 2. As finalidades educativas numa visão humanista cristã entre «antigo» e «novo»....212 3. A polaridade de base e a hierarquia orgânica dos fins educativos...............................216 4. Um sentido de vida, a «salvação», a reencontrar e consolidar.....................................218 5. Os «graus» na consecução da «salvação»....................................................................... 220 6. Amor e temor de Deus no serviço................................................................................... 222 7. Na Igreja Católica ............................................................................................................. 223 8. «O cristão homem de eternidade» operante no mundo .............................................. 224 9. Socialidade......................................................................................................................... 225
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404 10. A vida é vocação e missão ............................................................................................. 226 11. A vocação de todos: a caridade e o apostolado.............................................................227 12. Estilo de vida na esperança e na alegria ...................................................................... 228
Capítulo 12: ITINERÁRIOS EDUCATIVOS (I): OS DEVERES E A GRAÇA... 229 1. Da obediência «pedagógica» à conformidade social adulta ....................................... 230 2. Pedagogia dos «deveres»...................................................................................................232 3. Primazia da educação religiosa........................................................................................233 4. Ensinar o temor, prelúdio do amor .................................................................................235 5. As «práticas» na educação religiosa................................................................................ 236 6. Pedagogia dos sacramentos e da eucaristia....................................................................237 7. O pecado e o sacramento da Reconciliação................................................................... 240 8. Pedagogia mariana e devocional..................................................................................... 242 9. Iniciação ao «sensus Ecclesiae» e à fidelidade ao papa................................................. 244
Capítulo 13: ITINERÁRIOS EDUCATIVOS (II): AS VIRTUDES E O EMPENHO.............................................................................................................. 247 1. O exercício prático das virtudes de caridade, mortificação, «civilidade».................. 247 2. A «virtude rainha»: a castidade e a sua pedagogia........................................................251 3. Pedagogia da escolha vocacional .....................................................................................253 4. A pedagogia dos «novíssimos».........................................................................................255 5. Educação à esperança e à alegria .................................................................................... 258 6. Traços de pedagogia «situacional» e «diferencial» ...................................................... 260 7. Problemas da adolescência não resolvidos ....................................................................261
Capítulo 14: «ESTE SISTEMA BASEIA-SE TODO NA RAZÃO, NA RELIGIÃO E NA AMABILIDADE»............................................................................................. 265 1. O educador, individual e comunidade, protagonista no processo pedagógico......... 266 2. A unidade relacional do tríplice fundamento .............................................................. 268 3. A “amorevolezza” palavra de muitos significados........................................................ 269 4. Religião e caridade, razão e amizade, fundamentos da “amorevolezza”....................271 5. A riqueza educativa da «amorevolezza» (carinho, ternura, bondade)........................274 6. A conversão da “amorevolezza” no "espírito salesiano"................................................276 7. Da assistência vital à assistência educativa.....................................................................277
Capítulo 15: A «FAMÍLIA» EDUCATIVA............................................................. 281 1. O paradigma da família ....................................................................................................281
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405 2. Estilo de família ................................................................................................................ 283 3. Estrutura familiar: o diretor e os colaboradores .......................................................... 287
3.1 O diretor........................................................................................................ 287 3.2 A comunidade dos educadores ................................................................... 291 4. O mundo móvel dos jovens ............................................................................................. 292
4.1 Entre respeito e progressiva autonomia ...................................................... 292 4.2 Comunidade juvenil articulada: as «companhias» ................................... 293 Capítulo 16: A PEDAGOGIA DA ALEGRIA E DA FESTA.................................. 297 1. A alegria ............................................................................................................................. 297 2. As festas ..............................................................................................................................301 3. O teatro............................................................................................................................... 303 4. Música e canto................................................................................................................... 306 5. Excursões ........................................................................................................................... 308
Capítulo 17: AMOR EXIGENTE - «UMA PALAVRA SOBRE OS CASTIGOS».311 1. O fundamento de uma práxis da correção e do castigo ...............................................311 2. Temer por amor..................................................................................................................312 3. «Superioridade», incarnação dos «deveres», iniciação à responsabilidade ................314 4. A correção...........................................................................................................................315 5. Os castigos...........................................................................................................................317 6. Demissões e expulsões ......................................................................................................319 7. Os prémios...........................................................................................................................321
Capítulo 18: AS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS................................................. 323 1. O oratório............................................................................................................................325 2. O internato e o colégio.......................................................................................................330 3. O pequeno seminário ........................................................................................................335 4. A escola................................................................................................................................337
4.1 A escola humanista ...................................................................................... 338 4.2 A formação artesã........................................................................................340 4.3 A aula de religião ......................................................................................... 341 5. Preparação dos educadores ............................................................................................. 343
Capítulo 19: A CAMINHO DO AMANHÃ.......................................................... 347 1. A «revolução» educativa da modernidade..................................................................... 347 2. «Restaurar», reinventar, reconstruir................................................................................359
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406 ORIENTAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 373 1. Repertórios bibliográficos.................................................................................................373 2. Escritos de Dom Bosco......................................................................................................373 3. Escritos de Dom Bosco em edição crítica.......................................................................375 4. Escritos inspirados por ou em Dom Bosco.....................................................................376 5. Fontes secundárias ............................................................................................................377 6. Fontes manuscritas utilizadas..........................................................................................377 7. Literatura.............................................................................................................................378 8. Contributos para a inovação ............................................................................................382
Índice Alfabético de nomes de pessoas.................................................................. 385
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401 Índice Geral
APRESENTAÇÃO....................................................................................................... 3 INTRODUÇÃO........................................................................................................... 5 Capítulo 1: OS TEMPOS DE DOM BOSCO............................................................. 9 1. Elementos de transformação no campo político..............................................................11 2. Situações no campo religioso.............................................................................................13
2.1 Na Igreja católica............................................................................................ 13 2.2. Na Igreja em Turim....................................................................................... 15 3. Elementos de transformação no campo socioeconómico...............................................17 4. Transformações no campo cultural, educativo, escolar..................................................18
Capítulo 2: MELHOR PREVENIR QUE REPRIMIR............................................. 21 1. Prevenção Política................................................................................................................23 2. Prevenção social: pauperismo e mendicidade .................................................................27 3. Prevenção no campo penal.................................................................................................31 4. A educação como prevenção...............................................................................................34 5. A Religião meio de prevenção.............................................................................................36
Capítulo 3: A REALIDADE PREVENTIVA ANTES DA FÓRMULA.................. 41 1. Temáticas preventivas de uma educação familiar de estilo pós-tridentino..................41 2. Carlos Borromeu, iniciador da pedagogia oratoriana.....................................................50 3. A alternativa temor-amor no governo de comunidades de «religiosos».......................53 4. Jansenismo pedagógico: Port-Royal (1637-1657)..............................................................55 5. Repressão preventiva na educação escolar........................................................................59
Capítulo 4: NASCIMENTO DE UMA FÓRMULA: «SISTEMA PREVENTIVO» E «SISTEMA REPRESSIVO»...................................... 63 1. «Prevenir» e «reprimir» na política escolar......................................................................63 2. Educação pública repressiva, educação privada preventiva...........................................65
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402 3. O Sistema preventivo de Pierre-Antoine Poullet (1810-1846)........................................67 4. Dois tipos de colégio e de sistemas educativos em confronto........................................70 5. Félix Dupanloup (1802-1878)..............................................................................................71 6. Sugestões preventivas de Henri Lacordaire (1802-1861).................................................73 7. Antoine Monfat educador e pedagogo (1820-1898).........................................................77
Capítulo 5: FIGURAS DO SISTEMA PREVENTIVO PRÓXIMAS DE DOM BOSCO....................................................................................................................... 83 1. Os irmãos Cavanis ..............................................................................................................83 2. Lodovico Pavoni...................................................................................................................85 3. Marcellino Champagnat (1789-1840) e os Irmãos Maristas.......................................... 90 4. Teresa Eustochio Verzeri e as Filhas do Sagrado Coração de Jesus...............................93 5. O sistema preventivo na “escola infantil”.........................................................................96 6. António Rosmini e a pedagogia preventiva positiva.......................................................99 7. Educação correcional entre repressão e prevenção........................................................100 8. Pedagogia preventiva lassalliana......................................................................................103 9. Estilo preventivo barnabita...............................................................................................106
Capítulo 6: A SINGULARIDADE PEDAGÓGICA DE DOM BOSCO................113 1. Síntese biográfica................................................................................................................115 2. Fontes para a reconstrução do “sistema preventivo” de Dom Bosco..........................119
2.1 Dom Bosco apóstolo cristão da juventude.................................................. 119 2.2 A integração da vida.................................................................................... 120 2.3 Entre estabilidade e inovação...................................................................... 121 3. Dom Bosco educador e autor pedagógico.......................................................................122
Capítulo 7: A “FORMAÇÃO PEDAGÓGICA” DE DOM BOSCO....................... 127 1. Entre casa e igreja...............................................................................................................127 2. A primeira formação escolar............................................................................................129 3. No seminário de Chieri.....................................................................................................130 4. No Colégio Eclesiástico de Turim....................................................................................132 5. Santos diferentemente congeniais....................................................................................134 6. A Experiência dos “oratórios”..........................................................................................137 7. Dom Bosco e os pedagogistas de «L’Educatore primário»............................................138 8. Livros de guia espiritual juvenil.......................................................................................140 9. Um mestre em constante aprendizagem.........................................................................142 10. O impacto com a juventude de Turim...........................................................................143
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403 Capítulo 8: AS OBRAS, O CORAÇÃO, O ESTILO...............................................147 1. As obras...............................................................................................................................147 2. A personalidade e o estilo.................................................................................................153
2.1 Tradição e modernidade.............................................................................. 154 2.2 Realismo e sentido de oportunidade........................................................... 158 2.3 Sabedoria e firmeza...................................................................................... 160 2.4 Magnanimidade e praticidade..................................................................... 162 2.5 Inteiramente consagrado aos jovens............................................................ 165 2.6 Homem de coração....................................................................................... 168 3. Todo de Deus......................................................................................................................170
Capítulo 9: A OPÇÃO PELOS JOVENS:TIPOLOGIA SOCIAL E PSICOPEDAGÓGICA............................................................................................. 173 l. Elementos de sociologia da juventude..............................................................................175 2. Elementos de “psicologia juvenil”....................................................................................183
2.1 A idade que cresce......................................................................................... 183 2.2 Traços de psicologia juvenil.......................................................................... 184 3. Teologia da educabilidade juvenil....................................................................................189
Capítulo 10: PROPOSTAS DE INTERVENÇÃO PARA RAPAZES COM DIFICULDADES ESPECIAIS................................................................................ 197 1. Dom Bosco, os jovens encarcerados e os corrigendos da «Generala».........................198 2. Dom Bosco interessa-se por jovens em dificuldade ......................................................201 3. Negociações de Dom Bosco para a gestão de instituições «correcionais»................. 204 4. Um «projeto preventivo» para «jovens em perigo» ...................................................... 209
Capítulo 11: A EDUCAÇÃO DO «BOM CRISTÃO E HONESTO CIDADÃO» «SEGUNDO AS NECESSIDADES DOS TEMPOS»..............................................211 1. Uma visão teórico-prática dos fins da educação ...........................................................211 2. As finalidades educativas numa visão humanista cristã entre «antigo» e «novo»....212 3. A polaridade de base e a hierarquia orgânica dos fins educativos...............................216 4. Um sentido de vida, a «salvação», a reencontrar e consolidar.....................................218 5. Os «graus» na consecução da «salvação»....................................................................... 220 6. Amor e temor de Deus no serviço................................................................................... 222 7. Na Igreja Católica ............................................................................................................. 223 8. «O cristão homem de eternidade» operante no mundo .............................................. 224 9. Socialidade......................................................................................................................... 225
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404 10. A vida é vocação e missão ............................................................................................. 226 11. A vocação de todos: a caridade e o apostolado.............................................................227 12. Estilo de vida na esperança e na alegria ...................................................................... 228
Capítulo 12: ITINERÁRIOS EDUCATIVOS (I): OS DEVERES E A GRAÇA... 229 1. Da obediência «pedagógica» à conformidade social adulta ....................................... 230 2. Pedagogia dos «deveres»...................................................................................................232 3. Primazia da educação religiosa........................................................................................233 4. Ensinar o temor, prelúdio do amor .................................................................................235 5. As «práticas» na educação religiosa................................................................................ 236 6. Pedagogia dos sacramentos e da eucaristia....................................................................237 7. O pecado e o sacramento da Reconciliação................................................................... 240 8. Pedagogia mariana e devocional..................................................................................... 242 9. Iniciação ao «sensus Ecclesiae» e à fidelidade ao papa................................................. 244
Capítulo 13: ITINERÁRIOS EDUCATIVOS (II): AS VIRTUDES E O EMPENHO.............................................................................................................. 247 1. O exercício prático das virtudes de caridade, mortificação, «civilidade».................. 247 2. A «virtude rainha»: a castidade e a sua pedagogia........................................................251 3. Pedagogia da escolha vocacional .....................................................................................253 4. A pedagogia dos «novíssimos».........................................................................................255 5. Educação à esperança e à alegria .................................................................................... 258 6. Traços de pedagogia «situacional» e «diferencial» ...................................................... 260 7. Problemas da adolescência não resolvidos ....................................................................261
Capítulo 14: «ESTE SISTEMA BASEIA-SE TODO NA RAZÃO, NA RELIGIÃO E NA AMABILIDADE»............................................................................................. 265 1. O educador, individual e comunidade, protagonista no processo pedagógico......... 266 2. A unidade relacional do tríplice fundamento .............................................................. 268 3. A “amorevolezza” palavra de muitos significados........................................................ 269 4. Religião e caridade, razão e amizade, fundamentos da “amorevolezza”....................271 5. A riqueza educativa da «amorevolezza» (carinho, ternura, bondade)........................274 6. A conversão da “amorevolezza” no "espírito salesiano"................................................276 7. Da assistência vital à assistência educativa.....................................................................277
Capítulo 15: A «FAMÍLIA» EDUCATIVA............................................................. 281 1. O paradigma da família ....................................................................................................281
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405 2. Estilo de família ................................................................................................................ 283 3. Estrutura familiar: o diretor e os colaboradores .......................................................... 287
3.1 O diretor........................................................................................................ 287 3.2 A comunidade dos educadores ................................................................... 291 4. O mundo móvel dos jovens ............................................................................................. 292
4.1 Entre respeito e progressiva autonomia ...................................................... 292 4.2 Comunidade juvenil articulada: as «companhias» ................................... 293 Capítulo 16: A PEDAGOGIA DA ALEGRIA E DA FESTA.................................. 297 1. A alegria ............................................................................................................................. 297 2. As festas ..............................................................................................................................301 3. O teatro............................................................................................................................... 303 4. Música e canto................................................................................................................... 306 5. Excursões ........................................................................................................................... 308
Capítulo 17: AMOR EXIGENTE - «UMA PALAVRA SOBRE OS CASTIGOS».311 1. O fundamento de uma práxis da correção e do castigo ...............................................311 2. Temer por amor..................................................................................................................312 3. «Superioridade», incarnação dos «deveres», iniciação à responsabilidade ................314 4. A correção...........................................................................................................................315 5. Os castigos...........................................................................................................................317 6. Demissões e expulsões ......................................................................................................319 7. Os prémios...........................................................................................................................321
Capítulo 18: AS INSTITUIÇÕES EDUCATIVAS................................................. 323 1. O oratório............................................................................................................................325 2. O internato e o colégio.......................................................................................................330 3. O pequeno seminário ........................................................................................................335 4. A escola................................................................................................................................337
4.1 A escola humanista ...................................................................................... 338 4.2 A formação artesã........................................................................................340 4.3 A aula de religião ......................................................................................... 341 5. Preparação dos educadores ............................................................................................. 343
Capítulo 19: A CAMINHO DO AMANHÃ.......................................................... 347 1. A «revolução» educativa da modernidade..................................................................... 347 2. «Restaurar», reinventar, reconstruir................................................................................359
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406 ORIENTAÇÕES BIBLIOGRÁFICAS.................................................................... 373 1. Repertórios bibliográficos.................................................................................................373 2. Escritos de Dom Bosco......................................................................................................373 3. Escritos de Dom Bosco em edição crítica.......................................................................375 4. Escritos inspirados por ou em Dom Bosco.....................................................................376 5. Fontes secundárias ............................................................................................................377 6. Fontes manuscritas utilizadas..........................................................................................377 7. Literatura.............................................................................................................................378 8. Contributos para a inovação ............................................................................................382
Índice Alfabético de nomes de pessoas.................................................................. 385
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Sobre o autor: Pietro Braido (1919-2014), salesiano de Dom Bosco, é um reconhecido especialista no sistema educativo de D.Bosco. Autor de diversos títulos que aprofundam a pedagogia salesiana, foi professor de Filosofia da Educação da Universidade Salesiana de Roma, da qual também foi Reitor (1974-1977). Foi um dos fundadores da revista internacional de ciências da educação “Orientamenti Pedagogici”. Na Congregação Salesiana o nome Pietro Braido ficará para sempre associado a “D.Bosco educador” pela dedicação que teve em vida ao estudo da pedagogia e espiritualidade salesianas.
PIETRO BRAIDO
PREVENIR, NÃO REPRIMIR
O título sintetiza o método educativo de D.Bosco: “Prevenir, não reprimir”. Ao longo das suas 400 páginas, o livro oferece uma excecional síntese e atualização do sistema preventivo salesiano. A pedagogia do coração que D.Bosco desenvolveu junto da juventude fica agora acessível a todos aqueles que se interessam pela educação. Educadores, salesianos, professores, estudantes universitários, pais, coordenadores pastorais, encontrarão nestas páginas as “raízes” das intuições educativas salesianas.
PIETRO BRAIDO
PREVENIR, NÃO REPRIMIR Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 | 4022-001 Porto Tel.: 22 53 657 50 Fax: 22 53 658 00 edisal@edicoes.salesianos.pt www.edisal.salesianos.pt
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O SISTEMA PREVENTIVO DE DOM BOSCO
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