Especialmente para si - Vitaminas de paz e esperança

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JOÃO ANTÓNIO PINHEIRO TEIXEIRA

Pequenas vitaminas de paz e esperança



Joรฃo Antรณnio Pinheiro Teixeira

Pequenas vitaminas de paz e esperanรงa


Ficha Técnica: © 2018 João António Pinheiro Teixeira © 2018 Edições Salesianas Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel. 225 365 750 www.edisal.salesianos.pt edisal@edicoes.salesianos.pt Capa: Paulo Santos Paginação: João Cerqueira Publicado em Outubro de 2018 Impressão: PrintGroup ISBN: 978-989-8850-80-5 DL: 447241/18


No início, o tempo parece que não anda. Depois, notamos que o tempo passa. De seguida, verificamos que o tempo corre. Finalmente, vamos percebendo que o tempo voa. Mas não é só o tempo. Afinal, tudo anda, tudo passa, tudo corre, tudo voa. Só Deus permanece. E é d’Ele que — permanentemente — vem a paz e a esperança. Para todos. Especialmente para si!



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Se lhe perguntarem qual é o dia mais importante da sua vida, não hesite na resposta: é hoje! Hoje é mesmo o dia mais importante da sua vida! Se lhe fizerem a mesma pergunta daqui a cinco, dez ou vinte anos, não tenha medo de repetir: é hoje! É hoje que o futuro nasce. Não basta, pois, sonhar com ele. É fundamental construí-lo. E é em cada hoje que se constrói o amanhã! Ontem é o dia mais cheio de lições. Amanhã é o dia mais carregado de esperança. Mas o dia mais importante é hoje. É hoje que podemos pôr em prática as lições apreendidas e pôr em marcha a esperança acalentada. O ontem ensina. O amanhã seduz. Mas é hoje que tudo se decide. Em cada hoje. No hoje deste dia também! Amanhã é um dia muito belo para sonhar e uma morada muito apetecível para habitar. Mas hoje é o que nos resta para viver. Cada hoje! Não desperdice esta oportunidade. Não desperdice este dia. Aposte o máximo. Hoje! Estar perto é ser próximo. Mas ser próximo é mais do que estar perto. Nem todos os que estão perto se fazem próximos. Há quem seja próximo estando longe. E há quem seja distante estando perto. Etimologicamente, próximo («proximus») é o superlativo de perto («prope»). Próximo é, portanto, «o mais perto», o «muito perto», o «pertíssimo». Não basta estar perto. É preciso ser próximo, que é estar pertíssimo. De todos! Na hora que passa, precisamos de tudo, não só de dinheiro. Precisamos de determinação. Precisamos de alento. Precisamos de esperança. Precisamos de inteligência. Precisamos de diálogo. E precisamos também de muito bom senso. Já na Antiguidade, Eurípedes notava que «o homem poderoso, que junta a eloquência à a­ udácia, torna-se perigoso quando lhe falta bom senso». A falta de bom senso é capaz de estragar num instante o que a persistência edifica ao longo de uma vida! Por muito que tentemos, nem tudo conseguimos esconder. Jesus sentenciou: «Não há nada oculto que não venha a descobrir-se» (Lc 12, 2). E, séculos antes, o Buda também já tinha reparado: «Três coisas não podem ser escondidas por muito tempo: o sol, a lua e a verdade». A verdade é que decide. Podemos não querer vê-la. Mas ela acaba sempre por se mostrar! 5


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Ninguém tem o monopólio da verdade. Todos nós estamos expostos ao erro. Mas, neste caso, antes errar por inocentar um culpado do que por condenar um inocente. Voltaire afirmou: «Mais vale arriscarmo-nos a salvar um culpado do que a condenar um inocente». Na dúvida, sempre o recato, nunca a precipitação! Vivemos dominados pela pressa. A pressa gera pressão. A velocidade oferece rapidez, mas retira serenidade. E sem serenidade pouco (ou nada) se consegue. Razão tinha, pois, James Allen: «O homem sereno descobre em si mesmo a fonte da felicidade e do conhecimento, fonte que nunca seca»! A serenidade é um repouso que nos permite recuperar a alegria (tantas vezes) perdida. E desperdiçada! O pior que se pode fazer a uma pessoa não é só desrespei­tá-la. É sobretudo não reparar nela. Há pessoas em quem nem sequer reparamos. Como notava John Adams, «são pessoas que caminham e vagueiam, ignoradas. No meio da multidão, ninguém as critica. Não as censuram, nem as recriminam. Simplesmente não as vêem». Grave. Muito grave. Tente reparar nas pessoas em quem ninguém repara. Procure ir ao encontro daqueles que vão sós. No meio de nós. No meio de tantos! Muita gente pergunta: como é possível haver quem aguente a hostilidade, a animosidade, a insinuação e a calúnia sem dizer uma palavra em sua defesa? N­ ietzsche (quem diria!) responde: «Quem tem uma razão para viver pode suportar quase tudo»! Essa razão para viver é mais forte do que tudo o resto. É por isso que Viktor Frankl, que passou pelo campo de extermínio de Auschwitz, confessa que se «morre menos por falta de comida e medicamentos do que por falta de esperança, do que por falta de alguma coisa pela qual viver»! «Nada é tão fácil que, feito de má vontade, não se torne difícil». Terêncio foi muito perspicaz. A má vontade dificulta o que é fácil. A boa vontade facilita o que é difícil.


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Há quem pense que consegue ser feliz fazendo infelizes os outros. Mas é uma pura ilusão, um colossal embuste. A infelicidade dos outros não sustenta a felicidade de ninguém. Daí o aviso de Séneca: «Não se pode acreditar que é possível ser feliz procurando a infelicidade alheia»! Pelo contrário, só se pode ser feliz fazendo felizes os outros. Só se consegue ser feliz felicitando, semeando felicidade! O que faz a diferença, hoje em dia, não é só o conhecimento. É, acima de tudo, o comportamento. O conhecimento está ao alcance de um clique. Tudo está acessível a todos. Ainda bem. O que faz, cada vez mais, a diferença é o comportamento, a conduta. Goethe percebeu que «o comportamento é um espelho em que cada um vê a sua própria imagem». Será que gostamos do que vemos? É bom continuar. Mas urgente é mudar. É urgente que todos mudemos. É urgente que mudemos em tudo! Aquilo que mais fazemos é viver. E, não obstante, aquilo que menos conhecemos é a vida. São muitas as ­respostas para a pergunta: o que é a vida? Mas é muito maior a i­nsatisfação de quem (se) pergunta. A vida, para muitos, é busca de prazer. Para outros, é busca de poder. E, de facto, a vida da generalidade das pessoas e das instituições oscila entre estes dois pólos. Mas nem o poder nem o prazer preenchem a ânsia ínsita na alma. Viktor Frankl achava que a vida é, acima de tudo, procura de sentido. Para ele, há três possíveis fontes de sentido: o trabalho, a dedicação pelos outros e a coragem em tempos difíceis. Este é um momento em que a nossa persistência na busca do sentido está mais à prova. Não desistamos. Como dizia N­ ietzsche, «o que não nos mata torna-nos mais fortes». Os momentos difíceis não são para nos abater. Os momentos mais difíceis são para nos fortalecer! Os anos passam. O tempo corre. Ninguém é sempre novo. Mas todos ­podemos ser rejuvenescidos. O que nos chega da vida instala-se na alma. O espírito nunca envelhece mesmo que a velhice se aproxime. Basta que os sonhos se mantenham. E que a vontade de continuar não desfaleça!.

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Continuamos torpedeados pelo peso do dinheiro. Ou, para ser mais exacto, pela sua falta. O dinheiro tudo ­condiciona. A falta de dinheiro tudo complica. Carlos Drummond de Andrade notou que «o cofre do banco contém apenas dinheiro. Frustrar-se-á quem pensar que nele encontrará riqueza». Com o dinheiro muito se faz. Mas é também com o dinheiro que muito se desfaz. A maior riqueza está na mente, no coração, no espírito, na vida. É essa riqueza que nos ajudará a sair do abismo para onde os donos do dinheiro nos atiraram! Voltemo-nos para Hermann Hesse: «Para que resulte o possível deve ser tentado o impossível». Creio que o habitualmente possível já está esgotado. É preciso que o geralmente impossível seja mobilizado. Tudo isto requer uma aliança entre a lucidez, a coragem e a determinação! Séneca preveniu: «Quando se navega sem destino, nenhum vento é favorável». É por isso que nunca podemos perder de vista os referenciais decisivos da nossa existência: donde nascemos e para onde vamos. Nas horas de tormenta, saber para onde se vai é decisivo. Quando espreita o desnorte, nunca podemos perder o norte! A vida é feita de realidade e tecida de ilusões. Ninguém foge à realidade. E será que alguém escapa às ilusões? Não se pense que as ilusões são um exclusivo da juventude. Os mais idosos também alimentam as suas, quiçá de modo inconsciente. Hebbel Christian observou: «Muitas vezes a juventude é repreendida por acreditar que o mundo começa com ela. Mas a velhice acredita ainda mais frequentemente que o mundo termina com ela. O que é pior?» Nem tudo começa connosco. Nem tudo termina em nós. Bom seria que, quando nós deixarmos o mundo, o mundo fique um pouco melhor. Já não é pouco! O que nós somos não está só em nós. Em nós não está sequer metade de nós. Em nós estará, quando muito, uma infinitésima parte de nós. O que nós somos está também nos outros, no que os outros dizem, no que os outros fazem, no que os outros nos fazem sofrer e ajudar a aliviar o sofrimento. Somos nós em todos os outros. Somos nós em Deus. Somos nós no tempo. Somos nós na eternidade. Enfim, temos de sair de nós para chegarmos a entrar em nós. O êxodo é o caminho do ser!


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Muito há para começar, mesmo quando parece que tudo está a terminar. Os começos apontam para o fim. Cada fim prenuncia novos começos. Não se trata de um eterno retorno, mas de um permanente recomeço. Neste sentido, é bem oportuna a recomendação de Scott Fitzgerald: «A vitalidade não se revela apenas na capacidade de persistir, mas também na capacidade de começar tudo de novo»! Uma única coisa não se deve começar. Não se deve começar a desistir. Nem se deve desistir de recomeçar. Nem o fim põe em perigo o novo começo. Goethe dizia que «a vida é a infância da imortalidade». Por entre quedas e recuos, temos a certeza de que vamos a caminho do cume, da plenitude, da meta, de algo que os nossos sonhos divisam ainda que as ­nossas palavras não abarquem. O melhor está para vir. O melhor não é dizível. Mas há-de ser vivido! Habitualmente, a lamúria é um disfarce da incapacidade. Ralph Emerson não tinha dúvidas: «Nenhum grande homem se queixa de falta de oportunidades». As oportunidades revelam os homens. Mas são os grandes homens que criam as grandes oportunidades. Não é apenas a vida que vem ao encontro do homem. O homem também é chamado a ir ao encontro da vida! Deus é Pai, mas não é um pai masculino. Também não é feminino. Humanamente, Deus é representado pelo homem e pela mulher. Em Cristo, Deus não Se masculinizou; humanizou-Se. É, por isso, possível dizer que a paternidade divina é também uma paternidade maternal. André M ­ anaranche foi mesmo ao ponto de assegurar: «Deus só é pai quando promete um amor de mãe».Pela eterna geração do Filho, o Pai fez-Se a eterna Mãe. Um Concílio de Toledo, numa linguagem antropomórfica, não hesita em afirmar que o Filho foi gerado «do útero do Pai»! Anselmo de Cantuária fez esta oração: «Jesus, bom Senhor, não és também minha mãe? Ou não será mãe aquele que, como a galinha, reúne os seus pintainhos debaixo das asas? De facto, Senhor, Tu és minha mãe!» Uma sociedade com idosos não é uma sociedade envelhecida. Envelhecida é a sociedade que não sabe respeitar os seus idosos.

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Disse Sto. Agostinho: «Quando um homem descobre as suas faltas, Deus esconde-as. Quando um homem esconde as suas faltas, Deus ­revela-as. Quando as reconhece, Deus esquece-as». Só quando se assume um ­problema, estamos em condições de o superar. A evasão não é o caminho. Só a verdade liberta. Do fundo da terra, onde é pisada, a semente só crescer. Nem sempre as trevas são destituídas de luminosidade. A esperança só emigra dos corações que a expulsam. Um dia, a utopia passará a topia. O que parece irrealizável será realizado. E o mundo será um lugar de fraternidade. Deus não castiga. Deus não condena. Quem castiga e quem condena é o homem. Deus abraça. Deus festeja. Deus não é um polícia a escrutinar os nossos erros. Deus é o Pai que Se alegra com o nosso bem. Deus é miseri­ córdia. A maior festa não é quando se dá o encontro. É quando ocorre o reencontro após o desencontro. Xavier Zubiri dizia que pensar não é conceber; é comover-se. Pensar é, pois, uma actividade não só da mente, mas também (e bastante) do coração. Só um pensamento compassivo é verdadeiramente inteligente. Só ele penetra no interior da realidade. Só um pensamento movido pelo coração vence o egoísmo e promove a solidariedade. Pensar tem de ser comover-se. Sempre. Será que já nos apercebemos de que o primeiro cristão a ir para o céu foi um ladrão? É claro que, desde o princípio, não foi fácil aceitar isto. Segundo um poema siríaco muito antigo, houve um anjo que tentou impedir que o bom ladrão entrasse no céu! Só que Aquele que veio chamar os pecadores (cf. Mc 2, 17) não iria deixar ninguém de lado, muito menos «aqueles cujas vidas são um caos». A virtude não é a ausência de falhas nem a isenção de erros. Ela assenta num esforço de autocrítica. E configura uma permanente tentativa de superação. A virtude não exclui a falha. Inclui, sim, o recomeço após todas as falhas. As crianças sabem ler e sabem ver. São, sem dúvida, mestres do discernimento. William du Bois afiança: «As crianças aprendem mais a partir do que somos do que daquilo que lhes ensinamos». No contacto com elas, a palavra é muito, a competência é bastante, mas o exemplo é tudo!



ESPECIALMENTE PARA Si No início, o tempo parece que não anda. Depois, notamos que o tempo passa. De seguida, verificamos que o tempo corre. Finalmente, vamos percebendo que o tempo voa. Mas não é só o tempo. Afinal, tudo anda, tudo passa, tudo corre, tudo voa. Só Deus permanece. E é d’Ele que – permanentemente – vem a paz e a esperança. Para todos. Especialmente para si! Um pensamento para cada dia do ano. Para que se dê tempo ao tempo. E tempo a si mesmo.

Rua Duque de Palmela, 11 4000-373 Porto Tel.: 22 53 657 50 Fax: 22 53 658 00 edisal@edicoes.salesianos.pt www.edisal.salesianos.pt


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