Os Domingos da Quaresma Ano C

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Juan Jáuregui

Os domingos da Quaresma Ano C

Edições Salesianas


© Juan Jáuregui. 2012 © Editorial CCS. 2012 © Edições Salesianas 2012 Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 4022-001 Porto www.edisal.salesianos.pt edisal@edisal.salesianos.pt Tel. 225 365 750 Fax. 225 365 800 Tradução: Luís Leal Paginação: João Cerqueira Capa: Paulo Santos Impressão: Edições Salesianas ISBN: 978-972-690-718-3 D.L.: 352761/12


Introdução QUARESMA: TEMPO DE AGRADAR A DEUS? «Bajular os Deuses»: era assim que os pagãos se comportavam com o divino. Tinham que «ter boas relações», «adular», ”agradar” aos deuses, fazendo-lhes oferendas e sacrifícios. Mas Jesus anuncia-nos algo diferente, uma outra maneira de Deus ser Deus, o nosso Deus, o Seu Pai. Deus ama-nos porque sim; faz brilhar o sol sobre maus e bons; Ele demonstra que nos ama antes mesmo que nós Lhe possamos mostrar que O amamos a Ele. Nós não temos a primeira palavra. É Ele quem nos ama em primeiro lugar! E por isso estamos chamados a amá-l’O, a responder ao seu amor! Já não se trata de “ter boas relações” com Deus, nem de «adular» a Deus. E isto é fácil de entender: tu amas um teu filho muito antes de seres amado por ele. Tu o desejaste antes mesmo de que ele pudesse sequer dizer que gosta de ti, ou não? E tu continuas a amar o teu filho mesmo quando não recebes as respostas de amor que esperas dele. Este “adular” a Deus levou-nos a falar e a ter uma religiosidade que é puro comércio. «Deus, faço-Te isto para que Tu me faças aquilo…»; «Acendo-Te uma vela para que Tu me concedas isto…»; etc. Aplicamos a Deus os mesmos esquemas que temos hoje no nosso ­relacionamento em sociedade, e é assim que rebaixamos Deus ao ­nosso “trato social”. Por isso o tema da oração é tão importante. Ao rezarmos, devemos pedir ou agradecer? O que é mais ­importante? Para mim, o mais importante hoje na oração é sentirmo-nos filhos. Amar é o específico da vida cristã. O ­específico 5


de Jesus de Nazaré é que Ele era, se sentia e «vivia» como filho do seu Pai, o Seu e nosso Deus. E isto é que é o mais importante. Isto é o que lhe dava a liberdade para calar, para falar e para acabar sempre por dizer: «Faça-se a tua vontade e não a minha…». O mais importante não é se Deus me ouve ou não; o mais importante é se eu me sinto filho/filha de Deus. O mais importante é «que se faça a tua vontade e não a minha». Se não perdermos isto de vista, o resto pouco importa, aconteça o que acontecer. Na minha opinião, existem formas de orar no seio do povo cristão que são «puro palavreado», um mero «desafogo» ou mesmo um «comércio» com Deus. E tudo isto se explica graças a uma má catequese e a uma deficiente formação religiosa. Pessoalmente, creio que Deus tem mais coisas a dizer-nos do que nós a dizer-Lhe. É preciso fazer silêncio interior (que é uma disciplina que se aprende) para chegarmos a ser “ouvidores” de Deus. Provavelmente, Ele nunca te dirá o que tu dizes aos teus filhos ou ao teu marido ou a alguma das tuas amigas: «Cala-te! És tão chata! Já percebi o que me queres dizer… não precisas de estar sempre a repetir as coisas!». O mais belo disto tudo é que cada um de nós tem uma palavra própria e específica para cada pessoa, uma palavra que é a que melhor nos sabe ouvir e que mais nos alimenta a alma. Não notas diferença quando te dizem palavras cheias de verdade ou palavras sem alento e sem calor? Deus também gosta de «ouvir» a nossa palavra mais íntima e pessoal: a que sai da alma.

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Quaresma


QUARESMA Começamos este tempo da QUARESMA. Um tempo sério. Mas sério não pela cara de amargurados que pomos. Antes sério pelo projecto que nos cabe viver. Ou seja: a saída do nosso Egipto das escravidões. O nosso caminho até à liberdade pascal. É muito frequente confundirmos amargura com espiritualidade. Confundirmos o jejuar com pôr uma cara de poucos amigos. Confundimos o privarmo-nos de um pouco de comida com o sermos santos. Mas a santidade não está no estômago. Tal como a santidade também não está nessa cara de enjoo que afasta os outros. Sair das nossas escravidões não pode ser uma expressão de gente amargurada ou enjoada. Sair das nossas escravidões não pode ser uma expressão de dor de estômago. Pelo contrário, sair das nossas escravidões deve significar: A alegria da liberdade. A alegria de nos vermos livre. A alegria de nos vermos a caminhar para as alegrias da Páscoa. A alegria de nos vermos felizes pelo nosso baptismo. A alegria de nos vermos a sair dos invernos das nossas almas. A alegria de vermos florescer uma nova primavera para o nosso espírito. A Quaresma é um tempo de seriedade e responsabilidade. 8


Mas seriedade não é amargura. Responsabilidade não é tornar amargas as nossas vidas, como se as escravidões fossem o jardim onde gostamos de florescer. A Quaresma, é sinónimo de seriedade e compromisso, sim, mas também de alegria, de um caminho a percorrer. Não dêmos a impressão de estar sempre com dor de estômago. Não dêmos a impressão de estar sempre stressados e de ­ânimo abatido. Eu cá prefiro, para viver a Quaresma: Responsabilidade com alegria. Seriedade com alegria. Renovação com alegria. A alegria deveria ser o sinal que identifica a nossa Quaresma. A alegria que identifica as nossas lutas pela conversão. A alegria das nossas renúncias voluntárias. Nada de “caras desfiguradas”. Mas antes “cabeças perfumadas”. Vidas que têm o perfume da alegria e da esperança e não o cheiro pútrido da morte. Para dizer a verdade, prefiro cristãos ao estilo de Cantinflas que esses cristãos que, para serem bons, enclausuraram o seu sorriso e a sua alegria até à Páscoa, mesmo que, na Páscoa, não encontrem nada com que se alegrar. Se jejuas, que não seja para que te vejam. Se jejuas, que não seja para poupar como os avarentos. Se jejuas, que não seja para ter mais que comer no dia de Páscoa.

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“O mundo deveria rir-se mais, dizia Cantinflas, mas, isso sim, depois de ter comido”. “Eu não quero que acabem os ricos”. “O que quero é que se acabem os pobres”. Não jejuemos para ser ricos. Jejuemos para que haja menos pobres. Sei que os perfumes não estão nada baratos. Mas, ao ­menos durante a Quaresma, perfumemos a nossa cara, a nossa ­cabeça e o nosso corpo com o perfume da generosidade, com o ­perfume da liberdade, com o perfume da alegria de uma nova primavera pascal nas nossas vidas. Pensamento: Jejuar é fazer os outros mais felizes, ainda que tenhamos que nos privar de alguma coisa.

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Quarta-Feira de Cinzas I. Ritos

iniciais

oo Preparação do ambiente A Quarta-feira de Cinzas é o átrio da Quaresma. Ela quer abrir as nossas consciências ao sentido e ao espírito deste ­tempo através de orações, palavras e ritos. 33 Destaca a imposição da cinza, que parece querer falar-nos da fugacidade da vida, da nossa fragilidade e inconsistência existencial. Seria, portanto, uma loucura que nos agarrássemos “com unhas e dentes” às coisas temporais. 33 O Evangelho, esplêndido, fala-nos da oração e da penitência que agradam a Deus. É um chamamento à ­verdade, à autenticidade, à limpeza interior. Não basta fazer as coisas, há que saber fazê-las. 33 As demais orações e leituras advertem-nos que entramos num tempo precioso, um tempo cheio de Graça: “Agora é o tempo da graça”. Por isso é preciso preparar-se, mas por dentro; porque precisamos de conversão, mas por dentro, a do coração; não é preciso que jejue o estômago, mas sim o coração; que jejue de soberbas e ambições e se torne compassivo e misericordioso. Porque isto é muito difícil, pedimos ao Senhor a sua Graça: “fortalece-nos com o teu auxílio, para nos mantermos em espírito de conversão”. Sabemos que o Senhor nos escutará, porque, ao ser compassivo e misericordioso, Ele “Se inclina diante daquele que se 11


­ umilha”. Ou seja, o Senhor vê com bons olhos que ­celebremos h uma Quaresma pobre e humilde.

oo Pregão da Quaresma Tu, quem quer se sejas, Deixa-me que te interrogue, que me meta contigo, Com a tua tranquilidade, com a tua rotina. Tu, que fizeste da tua sinceridade? Que fizeste da tua verdade? Tu, quem quer se sejas, Ouve a minha pergunta neste encontro Quando te digo: O que é que fizeste da tua vida? O que é que estás a fazer com a tua vida? Não te escondas, Não te desculpes, Não olhes para o chão, – já sei que estás habituado a olhar muito para o chão –, Não atires a culpa para os outros, Não. Toma as tuas responsabilidades nas tuas mãos E decide. Tu, quem quer que sejas, Escuta hoje esta voz que te chega pela minha boca: Agora é o tempo de recomeçar. Agora é o tempo oportuno. Agora é o dia para o que é novo. Agora é o momento de mudar. Tu, quem quer que sejas, Aonde queres ir, apenas com o peso do teu vazio? Tu, quem quer que sejas, Porque insistes em caminhar de costas voltadas para o teu Deus? 12


Tu, quem quer que sejas, Não chegou a hora de tomares as coisas mais a sério? Escuta hoje esta voz que te chega pela minha boca: Agora é o tempo de recomeçar. Agora é o tempo oportuno. Agora é o dia para o que é novo. Agora é o momento de mudar. Tu, quem quer que sejas, Se queres, Se me ouves, Se ainda tens um fio de força, Sim, ainda existe algo de bom dentro de ti. ...Vem! Iremos juntos, caminhando para a VIDA. Nada está perdido. Pelo contrário: hoje te é concedido um tempo de Graça Para regressares para junto do Senhor. Vem! Vem!

oo Símbolos Leitor 1: Desde a origem da humanidade até aos dias de hoje, o homem foi inventando muitas coisas boas e úteis para ele e para o mundo inteiro. Desde o começo que também inventou coisas muito más e prejudiciais, como a guerra e as armas, com a intenção de ser maior e mais forte que os outros. Em pleno séc. XXI acontece o mesmo: invenções que poderiam ser boas são usadas abusivamente, causando danos à humanidade e à ecologia. Tecnologias que poderiam melhorar o mundo e acabar com a fome, acabam por aumentá-la ainda mais e por estragar o planeta…

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Leitor 2: Desde os primeiros homens até à actualidade que o bem e o mal, a paz e a violência estão presentes e em constante confronto no mundo. Hoje damos início à Quaresma: um tempo para descobrir de que lado estamos. Para reflectir sobre o que está bem e o que está mal nas nossas vidas … e para tentar reparar o que nelas se estragou. Leitor 1: O caminho é longo. Quarenta dias de caminhada. Portanto, teremos que carregar a nossa mochila quaresmal com tudo o que vamos precisar. Leva-se a mochila para a presidência (no caso de não ter sido já lá colocada desde o início). Leitor 2: Vamos representar o nosso equipamento quaresmal através de cinco objectos. Cada um deles tem um significado mais profundo, que tentaremos recordar ao longo das cinco semanas da Quaresma. Os jovens transportam os símbolos, colocando-os junto à ­mochila. åå Botas Em primeiro lugar, vamos precisar de ESFORÇO, aqui simbolizado pelas botas. Às vezes, o caminho é duro e pedregoso, e o clima é instável. Teremos que o percorrer com as nossas próprias botas para suportarmos o frio, a lama, as pedras soltas do nosso caminho. Por isso carregamos as nossas botas na mochila. åå Bússola Vamos também precisar de definir uma META, para sabermos aonde queremos chegar com o nosso esforço. Esta meta a alcançar está aqui simbolizada por uma bússola, que nos ­servirá para orientar correctamente os nossos passos até à meta. 14


Para que não nos desviemos nem nos percamos. E será ao chegar a Páscoa que esperamos poder descobrir a meta. åå Telemóvel Precisamos de caminhar em GRUPO, como na vida. Um grupo de amigos que sabe comunicar entre si. E connosco está também Jesus. É esta relação de amizade com Deus e com os outros que significaremos com o telemóvel. åå Óculos É preciso VER BEM as coisas, com claridade e olhar penetrante. Temos que ser bons observadores para não nos perdermos e podermos aprender a descobrir as coisas importantes. Porque não queremos ser caminhantes cegos nem superficiais. E isto o dizemos com estes óculos, que ajudam a ver melhor os nossos passos. åå Alimentos Precisamos de caminhar com SAÚDE. Símbolo disto são os alimentos que nos mantêm fortes e sãos, como as sanduíches e a água da nossa mochila. E o mesmo se diga dos medicamentos que, quando necessários, curam as nossas doenças. Porque sem saúde de alma e de corpo não poderemos suportar o caminho.

oo Monição inicial 1 Hoje é Quarta-feira de Cinzas. Por mais celebrado que seja, este não é, contudo, um dia mais importante que o Domingo. Mas hoje é o dia em que damos início à Quaresma e muitos cristãos se reúnem para a cerimónia da «imposição das cinzas». Provavelmente, fazemo-lo como mais um acto de superstição, ou como uma rotina anual, ou, talvez, como um gesto 15


“especial”, “diferente” dentro da monotonia das missas dos domingos. Contudo, o verdadeiro sentido deste gesto não é outro que fazer um auto-reconhecimento daquilo que é verdadeiramente a nossa vida, e da quantidade de coisas que não valem a pena mas às quais damos demasiada importância. O gesto que hoje vamos fazer com a cinza indica que é preciso recomeçar e aceitar que entramos num tempo novo e num processo de redescoberta da verdade e do que é ­verdadeiro: é o tempo da Quaresma, um tempo de «regresso ao mais ­importante da vida cristã». Um tempo de preparação para o grande dia da Páscoa da Ressurreição que dá sentido à nossa fé.

oo Monição inicial 2 Antigamente, entrar na Quaresma era algo triste; ­sentia-se mais intensamente um convite à Penitência. Actualmente, a Quaresma corre o perigo de perder o seu significado. Não obstante, a liturgia continua a pedir-nos com tenacidade que acolhamos correctamente esta palavra áspera com tudo o que ela exige: uma ruptura com o nosso comodismo. A Quaresma é sobretudo um dom fabuloso da Palavra. Abre o missal na página de Quarta-feira de Cinzas; depois folheia-o até ao Domingo de Ramos… surpreender-te-ás com a riqueza destas cinco semanas. A Quaresma é um convite vigoroso à santidade e isto ­exige, pelo menos, um “balanço anual” da nossa saúde espiritual, uma “revisão” de vida que, levando-nos até ao mais profundo do nosso ser, nos leve até Deus.

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Senhor Jesus, Eu não me afastei só de Ti, Mas também de mim. Traz-me de novo a mim mesmo, Para que possa chegar a Ti. Faz-me conhecer as minhas trevas Para que procure a tua luz.

oo Monição inicial 3 Hoje começam os nossos quarenta dias de Quaresma, quarenta dias de preparação para a Páscoa. Para quê estes ­quarenta dias de penitência e conversão? Para voltarmos às nossas ­raízes – a Deus, ao melhor de nós mesmos – e, em consequência, também às raízes que nos ligam ao nosso próximo. ­Muitas ­vezes, nós tentamos ser os nossos próprios deuses, decidir por nós mesmos o que é bom e o que é mau, mas acabamos por ­fazer de nós mesmos o centro do mundo, à custa de nós mesmos, de Deus e do nosso próximo. Agora é o tempo propício para ­regressar a Deus e voltarmo-nos para os irmãos que nos ­rodeiam. Hoje ­expressaremos a nossa desilusão interior e o nosso desejo ­sincero de mudar, quando, depois do Evangelho, recebamos a cinza. (Nota: omite-se o rito penitencial, já que o rito da cinza tem carácter penitencial e de conversão).

oo Oração Oremos para que nesta Quaresma regressemos a Deus e aos irmãos. (Silêncio). Deus, nosso Pai: Tu sabes quantas vezes tentámos seguir apenas os nossos caminhos egoístas. 17


Não nos permitas viver nem morrer só para nós mesmos ou fechar os nossos corações aos outros. Ajuda-nos a olhar para nós mesmos e para a vida como teus dons. Torna-nos receptivos à tua palavra e à tua vida e faz-nos imitadores da mentalidade e das atitudes de Jesus Cristo, nosso Senhor.

II. Liturgia da Palavra oo Monição às leituras O verdadeiro jejum e a verdadeira penitência significam uma sincera mudança do coração: são a rejeição do mal e do pecado e o regresso ao Deus de amor.

oo Primeira Leitura Profeta Joel 2, 12-18

oo Monição ao salmo “Pecámos, Senhor! Tende compaixão de nós!”. Deus deu o primeiro passo e chamou-nos à conversão. Agora é a nossa vez de responder; mas, tal como acontece nas palavras de resposta a este salmo 50 (que vai ser uma constante durante todo este tempo da Quaresma), pedimos misericórdia porque somos ­pecadores; pedimos um coração novo para sermos criaturas ­novas, renovadas.

oo Salmo Responsorial Salmo 50, 3-4.5-6a.12-13.14.17 “Pecámos, Senhor! Tende compaixão de nós!” 18


oo Monição à segunda leitura Jesus restaurou a nossa amizade com Deus. Mas hoje ­exige-nos que continuemos a procurar a reconciliação com Ele. E agora é o tempo propício para o fazer.

oo Segunda Leitura Segunda Carta do apóstolo S. Paulo aos Coríntios 5, 20–6, 2.

oo Monição ao Evangelho Já temos o equipamento para a Quaresma. Mas ainda ­falta outro símbolo, o que costumamos usar hoje, na celebração: trata-se da... CINZA, porque hoje é a Quarta-feira de Cinzas. Já há muitos séculos que o antigo povo de Israel a usava como sinal de arrependimento e de conversão, cobrindo com ela a sua cabeça. A cinza é de cor cinzenta, triste, e significa a nossa vontade de nos esforçarmos para sermos melhores, para nos convertermos... Mas conversão não significa que temos que caminhar tristes, como se a nossa religião fosse algo triste. Nem sequer é hora de ter semblante carregado: seremos tolos se o fizermos; e, além disso, Deus não gosta de caras tristes. Isto mesmo Ele no-lo diz neste texto. Nele veremos como é que Jesus quer que a nossa Quaresma e a nossa cinza sejam.

oo Leitura do Evangelho S. Mateus 6, 1-6.16-18

oo Homilia 1 O Carnaval já lá vai, mas o carnaval dos homens ainda não acabou, porque andamos sempre com máscaras postas, quer no nosso rosto quer no nosso coração. 19


Temos medo de nós mesmos; de nos vermos sozinhos, cara a cara; temos medo de nos deixarmos olhar tal como somos... Mesmo pelos nossos mais próximos e amigos. Somos como os falsos que desfiguram a sua cara... Ou como os que tocam trombetas com músicas falsas, que não brotam do coração. Preocupamo-nos com sermos vistos pelos outros, não como somos de verdade, mas como gostaríamos de ser, cobertos por máscaras falsas que representam o que queremos que os outros vejam em nós. Os disfarces de Carnaval não duram só uns dias; uma ­grande parte da vida (ou mesmo toda a vida) de um homem ou mulher é um carnaval... Pois bem: o Carnaval deve dar lugar à Quaresma, que é ­muito mais que um tempo nebuloso, ou um tempo de jejuns e abstinências rotineiras e feitas a contragosto. Quaresma é Deus que Se aproxima de ti e te diz: Sê tu próprio! Tira as máscaras, principalmente as mais íntimas e inconfessadas, as que parece que se transformaram na carne do teu rosto... Limpa essa maquilhagem postiça que desfigura o teu verdadeiro rosto! Pára de tocar trombetas com músicas vazias, que ocultam o teu silêncio e o teu vazio interior!... Manda calar essas falsas vozes diante do teu Deus que vê mesmo o que está escondido, que olha para ti com amor, face a face, no lugar mais recôndito e secreto do teu ser. Deixa que ressoe em teus ouvidos a voz de Deus que te diz: “Agora é um tempo de graça e este é um dia de salvação”. Não deixes cair em saco roto a graça de Deus que vem até ti, não com as cores cinzentas da tristeza, mas com o anúncio alegre e esperançoso da Páscoa. 20


“Lembra-te que és pó e ao pó hás-de voltar…” Este pó são as máscaras e as maquilhagens, as trombetas e as músicas estridentes mas vazias... Mas por debaixo de todo esse pó, estás tu, essa mistura de criança e adulto a quem Deus ama incondicionalmente. Deixa as tuas máscaras, rasga os teus vestidos, deixa nascer em ti um coração simples e coloca-o diante do teu Deus e ­Senhor. Assim há-de começar o nosso caminho de conversão, será assim que as nossas cinzas começarão a gerar vida. Coloquemo-nos assim, diante do nosso Deus que vê em ­segredo. E deixemos que ressoem em nós, suavemente, as suas ­palavras: agora que acaba esse grande carnaval, ­começa um ­tempo de graça e salvação. “Converte-te e acredita no ­Evangelho”.

oo Homilia 2 Ao recebermos a cinza, escutámos umas palavras muito ­belas: “Convertei-vos e acreditai no Evangelho”. Convertei-vos: Significa dar uma volta à nossa vida, é uma mudança de mente e de coração, uma mudança de critérios, de sentimentos e atitudes. É começar a olhar noutra direcção, começar a sonhar com outros ideais, começar a sentir de ­outra forma. É mudar totalmente de ritmo e de rumo: se antes ias para Norte, dirige-te agora para Sul; se antes te afanavas por valores consumistas, afana-te agora pelos valores da solidariedade; se antes caminhavas de costas viradas ao Evangelho, ­caminha agora virado para o Evangelho da vida de Jesus. Acreditai no Evangelho: É um convite à fé viva e comprometida, a aceitar os valores do Reino, a seguir de ­perto os passos de Jesus. Nesta Quaresma, vamos caminhar de olhos postos em 21


Cristo. Seguiremos os seus passos, aproximar-nos-emos bem perto d’Ele para ouvirmos as suas palavras, para adoptarmos o seu estilo, para nos configurarmos todos e em tudo com Ele. Vamos ler mais e melhor o Evangelho. O retrato que ele nos faz de Jesus é muito diferente daquele que nós temos. Questionar-nos-emos quem eram os predilectos de Jesus e o que é que mais O magoava; o que é que Ele ensinava ao povo e do que é que Ele falava com os seus discípulos; o que é que Ele fazia quando estava sozinho. E perguntar-nos-emos sobre o sentido da sua entrega e da sua morte. São três os exercícios com grande tradição que o Evangelho nos propõe neste início da Quaresma: 33 Jejum: Não significa jejuar por pura mortificação, nem tão-pouco para perdermos peso ou “massa gorda”; mas sim pela nossa maior liberdade e mais puro amor. ­Jejuamos para sermos mais livres, vencendo os instintos e as leis do consumo. Jejuamos por amor, para estarmos mais próximos dos que padecem fome, para nos compadecermos e partilharmos do que temos com eles. Como sinal de que queremos uma vida mais austera... A austeridade não é apenas um valor de conveniência económica; é antes uma questão de justiça e uma necessidade moral... 33 Esmola: É um símbolo de partilha. É uma palavra que se desvalorizou tanto que quase temos vergonha de a usar e defender. Se nos conformamos com dar uma parte do que nos sobra, e ficamos tranquilos, é porque somos uns hipócritas, como os fariseus. A caridade cristã exige-nos muito mais que “umas moedinhas”. Ela exige-nos uma partilha que seja mais generosa e permanente. 22


33 Oração: É um abrirmo-nos a Deus. Pede-se-nos que não vivamos tão virados para o exterior; é antes um convite a entrarmos dentro nós mesmos: “entra no teu quarto”, entra em ti, encontra-te contigo mesmo, escuta a palavra que brota dentro de ti e ouve Deus em ti... Depois estarás mais capacitado para ouvir Deus nas pessoas, nas coisas, nos acontecimentos e no Evangelho...

oo Imposição da Cinza åå Monição O gesto penitencial da imposição da cinza e a nossa aproximação à mesa do Senhor para receber a Eucaristia hão-de ser expressão diante de Deus e da comunidade aqui reunida do nosso firme compromisso de sermos fiéis ao Senhor. Hão-de ser, além disso, reconhecimento da nossa debilidade, da nossa condição pecadora, da nossa vontade de renovar a nossa vida e da necessidade que todos temos da comunhão com Jesus. Peçamos a bênção de Deus sobre esta cinza que vamos receber na nossa cabeça: åå Oração Deus Pai, que não queres a morte do pecador, mas antes o seu arrependimento: Ouve com bondade a nossa súplica e digna-Te bendizer esta cinza que vamos impor sobre a nossa cabeça. Concede-nos, por meio das penitências quaresmais, o perdão dos nossos pecados; para assim podermos alcançar a vida nova do teu Reino. Por Nosso Senhor Jesus Cristo... 23


Índice Introdução.........................................................................5 Quaresma..........................................................................7 QUARESMA.....................................................................8 Quarta-Feira de Cinzas ........................................................11 I. Ritos iniciais................................................................11 II. Liturgia da Palavra......................................................18 III. Liturgia Eucarística....................................................27 IV. Ritos da Comunhão...................................................28 V. Rito de Despedida.......................................................30 1º Domingo da Quaresma.....................................................31 I. Ritos iniciais................................................................31 II. Liturgia da Palavra......................................................36 III. Liturgia Eucarística....................................................49 IV. Ritos da Comunhão...................................................51 V. Rito de Despedida.......................................................53 2º Domingo da Quaresma.....................................................54 I. Ritos iniciais................................................................54 II. Liturgia da Palavra......................................................58 III. Liturgia Eucarística....................................................68 IV. Ritos da Comunhão...................................................70 V. Rito de Despedida.......................................................73 3º Domingo da Quaresma.....................................................74 I. Ritos Iniciais.................................................................74 II. Liturgia da Palavra......................................................78 III. Liturgia Eucarística....................................................93

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IV. Ritos da Comunhão...................................................94 V. Rito de Despedida.......................................................95 4º Domingo da Quaresma.....................................................96 I. Ritos Iniciais.................................................................96 II. Liturgia da Palavra......................................................99 III. Liturgia Eucarística..................................................115 IV. Ritos da Comunhão.................................................116 V. Rito de Despedida.....................................................119 5º Domingo da Quaresma . ................................................120 I. Ritos Iniciais...............................................................120 II. Liturgia da Palavra....................................................124 III. Liturgia Eucarística..................................................135 IV. Ritos da Comunhão.................................................137 VI. Rito de Despedida....................................................139 São José, esposo de Maria . ................................................140 I. Ritos Iniciais...............................................................140 II. Liturgia da Palavra....................................................142 III. Liturgia Eucarística..................................................152 IV. Ritos da Comunhão.................................................155 V. Rito de Despedida.....................................................157 Celebração Penitencial........................................................158 I. Ritos Iniciais...............................................................158 II. Liturgia da Palavra....................................................159 III. Liturgia Penitencial...................................................162 IV. Momento de Acção de Graças e Compromisso........167 Via-Sacra............................................................................170

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