Os Domingos do Advento e Natal Ano C

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Juan Jáuregui

Os domingos do Advento e do Natal

Ano C

Edições Salesianas


© Juan Jáuregui. 2012 © Editorial CCS. 2012 © Edições Salesianas 2012 Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 4022-001 Porto www.edisal.salesianos.pt edisal@edisal.salesianos.pt Tel. 225 365 750 Fax. 225 365 800 Tradução: Rui Alberto Paginação: João Cerqueira Capa: Paulo Santos Impressão: Edições Salesianas ISBN: 978-972-690-704-6 D.L.: 349461/12


Introdução Os cristãos andam, hoje, preocupados com muitas coisas: abandona-se a prática religiosa; Deus interessa cada vez ­menos; as comunidades cristãs envelhecem. Tudo são pro­ blemas e ­dificuldades. Que futuro está reservado à Igreja? Que ­acontecerá à fé na sociedade de amanhã? As reacções são diversas. Há quem vive com saudades dos tempos passados. Alguns vivem ­submersos no pessimismo. Outros procuram soluções drásticas… Porém, onde está a verdadeira força dos crentes? Donde pode a Igreja receber vigor e alento? Somente de Jesus. É Ele quem nos pode libertar da inércia e do imobilismo. Ele pode reavivar a nossa fé e acender os nossos corações. Sem Ele tudo se apaga: o Evangelho torna-se letra morta, a Igreja reduz-se a uma pura organização, a prática religiosa resfria-se. O nosso maior pecado é a mediocridade. O nosso maior problema pastoral, o esquecimento de Jesus e do seu Espírito. É um erro grave pretender substituir pela organização o trabalho, a autoridade ou as diferentes estratégias pastorais que só podem nascer do Evangelho. É preciso voltar às raízes, recuperar o Evangelho em toda a sua frescura, voltar a nascer do Espírito de Jesus. Sem ­Cristo, não há Igreja. Sem Evangelho, não há fé cristã. Não nos ­deixemos enganar. Se não nos deixamos reavivar e recriar pelo ­Espírito de Jesus, nós, crentes, não traremos nada de ­importante à ­sociedade moderna tão vazia de interioridade e tão necessi­ tada de esperança. Foi este o principal objectivo destes materiais que, ­domingo após domingo, elaborámos nestas comunidades rurais da Can5


tábria: ajudar a regressar ao Evangelho. Nem sempre é ­fácil ­encontrar tempo e calma para transmitir com vigor cada ­semana a mensagem evangélica. Não importa. O Espírito de Jesus continua vivo, agindo no coração das pessoas por diferentes caminhos, inclusive através destes pobres materiais.

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Advento


Advento, hoje Deus interessa hoje? Não é fácil celebrar hoje o Advento. Como desejar, pedir ou esperar a vinda de Deus a uma sociedade à qual, segundo parece, Deus já não interessa? Mais do que falar dum Deus que vem (adveniens), não deveríamos reflectir sobre um Deus que Se afasta, Se oculta e Se torna cada vez mais estranho? Observamos como, em muitos ambientes, Deus se foi r­ eduzindo a uma recordação do passado. Já não se fala de Deus nas famílias. Em muitas consciências, Deus não é mais do que uma sombra pouco agradável, incluindo muitos que se dizem crentes, mas que apenas invocam e rezam a Deus. Ao que parece, Deus, hoje, já não atrai nem preocupa. Deus não suscita inquietação nem alegria. Deus simplesmente deixa indiferentes as pessoas. Até parece que a vida humana pode discorrer tranquilamente, sem qualquer referência a Deus. Porém, é verdade que o homem não necessita de Deus? Deus já não é uma Boa Notícia esperada e indispensável ao homem? Neste momento, é preciso recordar que, desde o século XVIII, foi crescendo a ideia de que a ciência e a técnica iam libertar o ser humano de tudo aquilo que a religião não o tinha podido libertar: a fome, as guerras, a pobreza ou a tirania. Nesta perspectiva, a fé em Deus parecia destinada a desaparecer como algo próprio duma fase de ignorância e ­obscurantismo na história da humanidade. Hoje, entrados já no terceiro milénio, um facto parece i­nquestionável: os grandes problemas da humanidade, longe de desaparecerem, cresceram ameaçadoramente. E a culpa não é da ciência nem da técnica, que tornaram possíveis conquistas 8


admiráveis. O que está mal é o ser humano que utiliza, com um objectivo pouco claro, esse poder científico e tecnológico. O certo é que nem a ciência nem a técnica tornam o homem mais sábio, melhor e mais justo. Chegou o momento de fazer uma pergunta simples, mas profunda e radical. O que é que pode tornar mais humanos os homens e as mulheres de hoje? Não podemos ser ingénuos. Vinte séculos de cristianismo colocam-nos perante um facto que não podemos iludir. Nem sequer a religião torna automaticamente os cristãos mais humanos do que os outros. Somente um Deus acolhido no coração do homem de forma responsável, pessoal, coerente e livre pode transformar o ser humano. Por isso, nós, cristãos, celebramos o Advento. Por isso, preparamos, com esperança, a vinda de Jesus, de Deus feito homem. Com uma esperança que deixou de ser uma utopia e uma reacção desesperada perante a crise e ­incertezas do presente. A nossa esperança assenta em Cristo ­feito homem, morto e ressuscitado. Em Cristo, descobrimos, como crentes, o futuro último que espera a humanidade; em Cristo, descobrimos o caminho que pode e deve percorrer o ­homem até à sua plena humanização e, em Cristo, descobrimos a garantia última de que os fracassos, a injustiça e a morte não têm a última palavra. Esta a Deus pertence e é uma palavra de esperança. Iniciamos, hoje, o Advento escutando mais uma vez o grito de Jesus: «Vigiai». É um apelo a despertar a esperança em Deus que vem fazer-Se homem precisamente para nos tornar mais humanos. Esperas a vinda de Deus que Se faz homem para nos tornar mais humanos? Que plano tens para te preparares a recebê-Lo? 9


1º Domingo do Advento I. Ritos

iniciais

oo Monição inicial A A forma mais apropriada de começar esta celebração seria felicitar-nos pelo novo ano cristão que iniciamos precisamente hoje e agora. Novas leituras bíblicas, as do ciclo C, vão permitir-nos conhecer um pouco mais as Escrituras e vão trazer-nos a mensagem de Deus com um único objectivo: a nossa salvação. Assim, começa a falar-nos, neste primeiro Domingo de ­Advento, do tempo de esperar o Senhor: «Levantai a cabeça; a vossa ­libertação está próxima». Uma boa notícia, na verdade, para abrir o calendário cristão! Com a alegria e a esperança no coração, começamos, cantando…

oo Monição inicial B Neste tempo em que nos coube viver, em que todos instalamos alarmes para defender os nossos bens…, a Palavra de Deus diz-nos: «Estai sempre atentos!». Mas o que acontece é que, enquanto defendemos as coisas materiais, descuidamos as riquezas importantes da nossa vida e, em vez de nos libertarmos, sentimo-nos escravizados. Dependemos do bom funcionamento de tudo, da boa imagem, da opinião dos outros… e deixamos de cultivar o amor, a esperança, a generosidade… Temos que prestar atenção às leituras de hoje que nos convidam a não adormecermos. 10


Mas, se achas que está adormecido, não tenhas medo de despertar.

oo Canto: Quando terminar o canto, acende-se a primeira vela e o ­sacerdote prossegue:

oo Saudação Sacerdote: O Senhor, que vem para salvar-nos, esteja convosco.

oo Rito da coroa do Advento Guia: Com esta primeira vela, queremos significar a necessi­ dade de viver em oração. Pedimos que esta luz nos ilumine para que, neste mundo em que se perdeu o poder de discernimento, Deus nos ajude a distinguir o autêntico do falso, o verdadeiro do enganador, o justo do injusto e o que está bem do que está mal… Assim poderemos levar este resplendor a todos os que encontrarmos no nosso caminho.

oo Rito penitencial A Sacerdote: Na presença de Deus, pequenos e grandes, confessemos a nossa fraqueza, confessemos que temos necessidade de Deus. Leitor: Faz-nos pequenos e simples para compreender os segredos do teu reino. Senhor, tem piedade de nós. Leitor: Afasta de nós a sabedoria que nos impede de Te reconhecer, que se compraz nas suas forças. Cristo, tem piedade de nós. 11


Leitor: Apresenta-nos ao Pai. Senhor, tem piedade de nós.

oo Rito penitencial B Leitor: Por aqueles que vivem entre lamentações, mas que não mexem um dedo para mudar aquilo de que se lamentam. Senhor, tem piedade de nós. Leitor: Por aqueles que nada mais fazem do que repetir ­“Senhor, Senhor”, mas que não se preocupam em fazer a vontade de Deus. Cristo, tem piedade de nós. Leitor: Por aqueles que ouvem, mas esquecem aquilo que ouvem. Senhor, tem piedade de nós.

oo Oração «Vem, Senhor Jesus e não demores!» Tu és o nosso Advento. Tu és a nossa esperança. ­ Fizeste-nos esperar. Mas, finalmente, estás para chegar. Já estás a caminho. Dentro de algumas semanas, o mundo terá um motivo para abrir-se a novas esperanças. Tu, o esperado, serás, desde agora, a razão de todas as nossas esperas. Tu, o anunciado, serás, desde agora, a esperança das nossas esperanças. No Natal, serás «uma esperança pequenina, depositada num presépio». Serás a esperança dos que não têm esperança. Serás a esperança dos que já não têm esperança nos homens. Porque serás a esperança “feita criança”. Serás o pobre de Belém, esperança para todos os pobres. 12


II. Liturgia da Palavra oo Monição às leituras As leituras de hoje são um ensinamento para a nossa vida. Deus está sempre à nossa espera. Em cada momento, diz-nos o que temos que fazer para vivermos em plenitude; porém, nós não nos apercebemos, temos outras ocupações. Daí o grito da liturgia: Estai atentos! Mantende-vos atentos!

oo Primeira Leitura Profeta Jeremias 33, 14-16

oo Salmo Responsorial Salmo 24, 4bc-5ab.8-9.10 e 14 “A ti, Senhor, elevo a minha alma”.

oo Segunda Leitura Primeira carta de S. Paulo aos Tessalonicenses 3, 12–4, 2

oo Leitura do Evangelho S. Lucas 21, 25-28.34-36

oo Homilia A O ADVENTO COMO ATITUDE VITAL O Advento, antes de ser tempo litúrgico, é uma atitude t­ eologal que nós, cristãos, temos de ter ao longo da existência. O tempo litúrgico não é mais do que uma mediação para despertar a esperança, como o Dia da Família não é mais do que uma oportunidade para avivar o afecto e a união que têm que durar todo o ano. Advento é reavivar a atitude de abertura a um 13


futuro melhor que Deus nos oferece sempre. É uma atitude fundamental para o discípulo de Jesus. Viver em advento é ­pôr-se em atitude de êxodo, de superação, de querer alcançar novas etapas no caminho para a meta; é tomar consciência de que a pessoa, o cristão, a família, a comunidade, como o avião ou a bicicleta, só se mantêm de pé avançando; é tomar consciência de que parar, em sentido psicológico e espiritual, é retroceder; é tomar consciência de que “isto não pode continuar assim”. Viver em advento é empreender o êxodo até uma terra prometida cada vez melhor. O bispo Helder Câmara definia-o como partir, ao jeito de Abraão, deixando casa e pátria cheias de seguranças rotineiras, para caminhar para uma vida pessoal e comunitária novas: «É, antes de mais, sair de si mesmo, quebrar a couraça do egoísmo que tenta aprisionar-nos no próprio “eu”. É deixar de andar à roda de si mesmo… A humanidade é maior, e é a ela que devemos servir. Partir é, antes de mais, abrir-se aos outros, ir ao seu encontro; abrir-se a outras ideias, inclusive às que se opõem às nossas. É ter o aspecto dum bom caminhante». Isto tem que mudar. E quando dizemos “isto” dizemos tudo o que se refere ao nosso espaço vital e social, por muito bem que esteja, pela simples razão de que tanto a vida pessoal como a vida social, se é vida, tem de ser evolutiva. Estamos a ter isto em conta ao fazer o “percurso” da vida? Numa tertúlia em que intervinha Ortega y Gasset veio à conversa o tema do “que tinha mudado na vida dos sócios da tertúlia nos últimos tempos”. Cada um punha em ­realce as ­mudanças mais significativas. Um deles comentou: «Eu passei ­praticamente trinta anos sem mudar nada. Alcancei a tranquilidade na vida e assim continuo». «Que idade tens?», ­pergunta-lhe 14


­ rtega y Gasset. «Tenho 64 anos». «Não, ­replicou-lhe, tu não O tens 64 anos, tu tens 64 vezes o mesmo ano». Para este homem, a vida era um velódromo em que não fazia mais do que dar voltas ao mesmo circuito, em vez de ser uma escalada. Dar voltas sempre ao mesmo circuito é um pecado grave contra si mesmo, contra o impulso vital de crescer, contra a urgência do Espírito que nos instiga igualmente a crescer, contra a comunidade da qual somos devedores e, definitivamente, contra a história de salvação de que somos devedores. Parar é pecar por preguiça, frustrar o projecto de Deus e as esperanças dos homens; é enterrar os talentos para poupar-se a preocupações (Mt 25,14-30). Na trecho evangélico, Jesus fala da desintegração apocalíptica do universo, porém, não o interpretemos mal; o que Jesus quer dizer é que Ele, antes de mais, vem desintegrar o velho mundo contaminado pela maldade que construímos entre nós, para construir um mundo novo, uma humanidade nova, o seu Reino. Este tem que mudar. Então, não temos nada de bom? Não se trata disso. Ainda que sejam abundantes os aspectos bons e façamos imenso bem, isto tem que mudar pela simples razão de que Deus quer para nós uma vida melhor, um grupo e uma comunidade melhores, uma sociedade e uma Igreja melhores. Isto tem que mudar porque falta muito para realizarmos integralmente o plano de Deus e porque o exige a dinâmica cristã de avanço constante. Viver e celebrar o Advento é colocar-se diante de Deus e perguntar-se: Que ofertas novas nos fazes, Senhor? Que projectos novos apresentas a cada um de nós, à nossa família, à nossa comunidade, ao nosso mundo laboral? Todos temos futilidades e escravidões de que nos devemos libertar e liberdades que temos que conquistar. 15


A REVOLUÇÃO COMEÇA POR CASA Sentimos que muitas coisas deveriam mudar. Porém, na hora de se dar a mudança, é fácil desculpar-se com ­pretextos. É ­preciso que cada um decida para si mesmo, a família para si ­mesma, o grupo para si mesmo: sou eu, somos nós que ­temos que mudar. É educativa e animadora a confissão do sufi ­Bayacid: «Quando era jovem eu era revolucionário e a minha oração consistia em dizer a Deus: “Senhor, dá-me força para mudar o mundo”… Anos depois: “Senhor, dá-me a graça de transformar aqueles que entram em contacto comigo”… ­Agora que tenho os dias contados, a minha única oração é esta: ­“Senhor, dá-me a graça de mudar-me a mim mesmo”». Viver em advento não é esperar que mude o outro ou os ­ utros, nem esperar que sejam os outros que mudem as estruo turas, mas sim comprometer-me a mudar eu, a mudá-las eu. Já imaginámos o que teria mudado à nossa volta se nós próprios tivéssemos mudado, se, em vez de sermos simplesmente bons, tivéssemos sido melhores? Advento é aceitar a oferta do Senhor Jesus de uma vida nova. A conversão não se reduz a pequenos retoques, implica uma mudança profunda. Talvez ande freneticamente em busca das seguranças terrenas e sociais, de acumular bens económicos, de poder gastar com abundância, de posição social… É possível que me esteja a deixar levar por um activismo descontrolado e inconveniente que me impede de saborear a vida, a convivência, a amizade, a calma interior, a oração. Isto faz com que esteja a “não viver”, no pior sentido, ou seja, a maltratar-me no mais íntimo do meu ser. O Senhor oferece-me a sua paz (Jo 14, 27), outro alimento e outra contemplação. 16


DEUS NOS AJUDARÁ A MUDAR Celebrar o Advento é avivar a fé de que Deus está connosco para tornar realidade os projectos que Ele nos inspirou pelo seu Espírito. É crer que «para Deus, não há nada impossível» (Lc 1, 37). É esperar que aqui se vai passar algo porque Deus pode mudar o deserto em vergel. Se vivermos de verdade o ­Advento, haverá um verdadeiro Natal, porque nascerá algo de novo em nós. Faremos uma experiência nova de Deus, da vida, dos nossos próximos. Esta é a promessa que o Senhor nos faz solenemente ao começar o Advento. E Ele (sabemo-lo muito bem) não falha.

oo Homilia B ADVENTO, PRIMAVERA DE ESPERANÇA «Erguei-vos, levantai a vossa cabeça: aproxima-se a vossa libertação». «Estai sempre vigilantes». Há poucos dias, chegou ao meu correio electrónico uma história muito singela e simples, mas cheia de vida. Falava de um cego que, sentado numa rua, mostrava, ao lado do chapéu, um letreiro que dizia: «Sou cego. Não posso ver». Passou por lá um publicitário. Parou para observar e reparou nas poucas ­moedas depositadas no chapéu. Como bom conhecedor dos efeitos da publicidade, discretamente pegou na placa do letreiro e ­escreveu outro. Quando, mais tarde, voltou a passar no ­mesmo ­lugar, notou que o chapéu estava cheio de notas e moedas. O cego reconheceu-o e perguntou-lhe o que tinha escrito na sua placa. «O mesmo que você lá tinha. Eu apenas lhe dei um pouco mais de cor», respondeu. Na realidade, o publicitário substituiu «Estou cego. Não posso ver» por outro: «Sou cego e não posso ver a primavera». 17


Quem me enviou a história deu-lhe um remate interessante: «Muitas vezes, o êxito depende da mudança de tácticas». Eu preferia fazer outra leitura, sobretudo agora ao iniciarmos o Advento, este tempo de esperança. Frequentemente, os problemas da vida fazem naufragar a nossa esperança. À esperança eu chamaria a “virtude da noite”. Não a esperança “do dia cheio de sol”, mas a esperança “de quando tudo está escuro e é noite”. Sou cego. Não posso ver a primavera. Não posso ver a ­estação mais bela do ano. Sou cego. Não posso ver as flores nem as cores. Sou cego. Não posso ver o despertar dos campos nem o ­florir das árvores. Quanta beleza perdida por não poder contemplá-la! Quanta beleza tão próxima e tão longe! Para quem não vê, quantas coisas passam despercebidas! Para quem não vê, quanta bondade que passa ao nosso lado sem darmos por ela! Para quem não vê, o mundo continua a ser escuro, por mais que brilhe um sol de Verão! Para quem não vê, quantas primaveras perdidas! Para quem não vê, quanto amor que não se descobre! Para quem não vê, quanta luz inútil! Para quem não vê, quantas esperanças perdidas! Quando Jesus pergunta ao cego o que deseja que faça por ele, logicamente o cego gritou: «Que eu veja!».

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Talvez, a grande diferença entre Jesus e o resto dos homens esteja no facto de que Jesus vê o que eles não vêem. Onde os fariseus viram um leproso imundo, Jesus descobriu um irmão seu, também ele filho do Pai. Jesus via a primavera. Onde os fariseus vêem um cego incómodo, Jesus descobriu um irmão com um tremendo desejo de ver a luz. Jesus via a primavera. Onde os fariseus viam o “sábado”, Jesus já contemplava “o domingo”, o dia do Senhor, o dia da Páscoa. Jesus via a primavera. Onde os discípulos viam o fim e o fracasso do Mestre, amaldiçoado na cruz, Jesus pressentia o começo de tudo novo. Jesus via a primavera. Enquanto os fariseus viam em Jesus um pecador, o ­paralítico reconheceu-O como o Messias de Deus. O paralítico via a primavera. Enquanto os fariseus viam em Jesus alguém que profana o sábado, Jesus via a santidade da pessoa humana. Jesus via a primavera. Enquanto nós não vemos senão maldade no mundo, Deus continua, todavia, a acreditar nele. Deus vê a primavera do Filho que está a amadurecer nas entranhas de uma Virgem. Enquanto uns não vêem senão desgraças, outros vêem que, apesar de tudo, há corações generosos. Estes vêem a primavera duma Virgem capaz de acreditar ­naquilo que o Senhor lhe disse. 19


Enquanto uns não vêem senão desesperos, fracassos, outros descobrem oportunidades. Estes vêem a primavera dum mundo que espera o Natal. Todavia, ainda ficam muitas primaveras que não vemos. Todavia, ainda ficam muitas primaveras da Igreja que não adivinhamos. Todavia, ainda ficam muitas primaveras de amor que já ­estão a brotar. Nem tudo está tão mal no mundo. Há muito bem. A dife­ rença está em que, enquanto uns só vêem o mal, outros são capazes de aperceber-se do bem. Todos a viver num mesmo mundo. Todos, uns ao lado dos outros. Porém, uns vêem o amanhecer primaveril, outros continuam imersos no frio invernal. Uns só vêem a desgraça, outros vêem que “se aproxima a nossa libertação”. Entramos neste tempo do Advento. A nossa realidade continua a ser a mesma. Porém, Deus está a acender uma luz de esperança, ­agora e­ scondida e oculta no ventre de Maria; porém, no Natal, ­tornar-se-á luz de libertação e salvação num presépio. Por isso, o Advento começa a convidar-nos a “levantar a cabeça” e ver mais longe do que as duras realidades de cada dia. O Advento é um convite a ver a ”primavera da esperança”.

oo Oração dos fiéis A Sacerdote: Unidos a todos os cristãos do mundo, que ­esperam como nós a vinda do Senhor, oremos com fé e com ­esperança, dizendo: Todos: Vem, Senhor Jesus.

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Leitor: Para que aqueles que sofrem sejam consolados e os ­estrangeiros sejam respeitados. Leitor: Para que os estão que sós sejam acompanhados e os pobres sejam ajudados. Leitor: Para que não caiamos nas malhas do consumismo e ­sejamos cada dia mais solidários. Leitor: Para que sejamos testemunhas de fé, de esperança e de caridade entre os homens. Sacerdote: Vem, Senhor Jesus, e fortalece com a tua graça a nossa fraca condição humana.

oo Oração dos fiéis B Sacerdote: Peçamos que a vinda de Jesus renove o mundo, ­renove a Igreja e nos renove a cada um de nós. Todos: Vem, Senhor Jesus! Leitor: Para que acabem as guerras, as ditaduras, a fome, a ­pobreza e toda a espécie de injustiça. Leitor: Para que nós, cristãos, dêmos testemunho da nossa ­esperança, trabalhando pela paz e pela justiça. Leitor: Para que cesse a violência e o terrorismo, e possamos viver em paz, confiando uns nos outros. Leitor: Para que desapareça do nosso coração o egoísmo, a ­falta de solidariedade e a ânsia de estar acima dos outros. Sacerdote: Tira-nos, Senhor, da rotina e reaviva em nós a ­esperança para continuar a trabalhar na construção do teu Reino.

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III. Liturgia Eucarística oo Apresentação dos dons A 33 Berço vazio: Uma pessoa apresenta uma “berço vazio”, enquanto outra explica. Este berço vazio simboliza a esperança, como pais que esperam com encanto o nascimento de um filho. Nós, cristãos, estamos em estado de boa esperança durante o Advento. Temos que ir preparando este berço para receber o Senhor que vem salvar-nos. Preparemos, sobretudo, o nosso coração e toda a nossa vida. Que Deus nos encontre preparados para nascer em nós. Vem depressa, Senhor, vem salvar-nos. 33 Pão e vinho: Há em muitos de nós um tom de amargura e desconfiança… Como pode Deus amar um ser tão pequeno como eu? São pecados contra o Advento e pecados graves. É um grande pecado não acreditar no amor. Não basta acreditar em Deus. É preciso acreditar que Deus é amor. E esse Deus que é amor dá-se a nós em cada Eucaristia, partilhando o seu amor connosco no pão e no vinho que colocamos agora no altar.

oo Acção de graças Aceita, Pai, Deus de bondade infinita, esta oração em que desejamos expressar-Te a nossa mais sincera acção de graças. Faz-nos conscientes da tua presença na nossa vida. 22


Acorda-nos, Senhor. Não é justo que estejamos acordados para Ti, e que passes despercebido para uma imensa maioria de nós. Não é justo que nós, que cremos conhecer-Te melhor, vivamos de costas voltadas para Ti, deslumbrados por coisas sem importância. É justo e necessário que te descubramos no nosso interior, que respondamos ao teu imenso amor com o nosso humilde carinho. Tu és o nosso centro e essência, o motor do nosso ser. Tu tens de ser contínua referência nos nossos actos. Ajuda-nos a descobrir-Te. Abre os nossos olhos adormecidos, anima o nosso espírito e desperta o nosso encantamento e esperança. Todos juntos, numa aclamação que queremos que seja da humanidade inteira, elevamos esta oração de fé em Ti, nosso Deus.

IV. Ritos da Comunhão oo Pai nosso Deus, nosso Pai, que bom vires ao nosso encontro e apresentares-Te como mais um vizinho entre nós! Pai, ­bendizemos-Te 23


Índice Advento............................................................................................ 7 Advento, hoje, Deus interessa hoje?........................................ 8 1º Domingo do Advento............................................................ 10 I. Ritos iniciais..................................................................... 10 II. Liturgia da Palavra........................................................... 13 III. Liturgia Eucarística......................................................... 22 IV. Ritos da Comunhão........................................................ 23 V. Rito de Despedida............................................................ 25 2º Domingo do Advento............................................................ 26 I. Ritos iniciais..................................................................... 26 II. Liturgia da Palavra........................................................... 28 III. Liturgia Eucarística......................................................... 36 IV. Ritos da Comunhão........................................................ 38 V. Rito de Despedida............................................................ 39 3º Domingo do Advento............................................................ 40 I. Ritos iniciais..................................................................... 40 II. Liturgia da Palavra........................................................... 42 III. Liturgia Eucarística......................................................... 50 IV. Ritos da Comunhão........................................................ 52 V. Rito de Despedida............................................................ 54 4º Domingo do Advento............................................................ 55 I. Ritos iniciais..................................................................... 55 II. Liturgia da Palavra........................................................... 57 III. Liturgia Eucarística......................................................... 63 IV. Ritos da Comunhão........................................................ 65 V. Rito de Despedida............................................................ 67 Imaculada Conceição de Maria.................................................. 68 I. Ritos iniciais..................................................................... 68 II. Liturgia da Palavra........................................................... 71 III. Liturgia Eucarística......................................................... 78 IV. Ritos da Comunhão........................................................ 80 V. Ritos finais....................................................................... 82 Celebração Penitencial............................................................... 83 I. Ritos iniciais..................................................................... 83 II. Liturgia da Palavra........................................................... 84 III. Liturgia Penitencial......................................................... 90 IV. Momento de acção de graças.......................................... 92

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Celebração Penitencial com Crianças......................................... 94 I. Ritos iniciais..................................................................... 94 II. Liturgia da Palavra........................................................... 95 III. Liturgia Penitencial....................................................... 100 IV. Momento de acção de graças........................................ 101 V. Rito de Despedida.......................................................... 101 Natal............................................................................................. 103 Missa do Galo......................................................................... 104 I. Ritos iniciais................................................................... 104 II. Liturgia da Palavra......................................................... 106 III. Liturgia Eucarística....................................................... 112 IV. Ritos da Comunhão...................................................... 113 V. Rito de Despedida.......................................................... 114 Missa de Natal......................................................................... 115 I. Ritos iniciais................................................................... 115 II. Liturgia da Palavra......................................................... 117 III. Liturgia Eucarística....................................................... 124 IV. Ritos da Comunhão...................................................... 126 V. Rito de Despedida.......................................................... 127 Missa da Sagrada Família........................................................ 129 I. Ritos iniciais................................................................... 129 II. Liturgia da Palavra......................................................... 131 III. Liturgia Eucarística....................................................... 139 IV. Ritos da Comunhão...................................................... 140 V. Rito de Despedida.......................................................... 143 Missa da Epifania.................................................................... 144 I. Ritos iniciais................................................................... 144 II. Liturgia da Palavra......................................................... 146 III. Liturgia Eucarística....................................................... 152 IV. Ritos da Comunhão...................................................... 154 V. Rito de Despedida.......................................................... 155 Missa do Baptismo do Senhor................................................. 156 I. Ritos iniciais................................................................... 156 II. Liturgia da Palavra......................................................... 158 III. Liturgia Eucarística....................................................... 163 IV. Ritos da Comunhão...................................................... 165 V. Rito de Despedida.......................................................... 166

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