Os Domingos da Quaresma Ano A

Page 1


Álvaro Ginel

Os domingos da Quaresma Ano A

Edições Salesianas


© Alvaro Ginel. 2011 © Editorial CCS. 2011 © Edições Salesianas 2011 Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5281 4022-001 Porto www.edisal.salesianos.pt edisal@edisal.salesianos.pt Tel. 225 365 750 Fax. 225 365 800 Tradução: Delfim Santos Paginação: Dg.Almeida Capa: Paulo Santos Impressão: Edições Salesianas ISBN: 978-972-690-631-5 D.L.: 321753/11


Introdução

O livro que tens entre mãos é a recompilação de uma a­ ctividade pastoral realizada ao longo de alguns anos com g­rupos de a­dultos e em celebrações eucarísticas com f­amílias. R­eflecte, na sua estrutura e realização, um estilo, uma ­co­munidade c­oncreta, uma forma de escutar e meditar a ­Palavra de Deus no decorrer da semana apoiando-se na Palavra proclamada no Domingo, dia da reunião. A estrutura do material que apresentamos é simples: a) A celebração da Eucaristia do Domingo, com algumas sugestões mais criativas sem perder de vista que é o missal que orienta, mas, ao mesmo tempo, tendo em conta a realidade dos membros mais jovens da comunidade e aquilo que, seja pela idade, seja pela participação litúrgica, está permitido no ­documento do Directório para missas com crianças. b) Textos e sugestões. Neste apartado poderá encontrar-se uma espécie de gaveta de alfaiate: uma acção de graças, uma oração para durante a semana, cultura religiosa, vocabulário, sugestões de gestos para que o Domingo, primeiro dia da ­semana, tenha prolongação ao longo dos outros dias. É impossível fazer tudo o que é proposto. O leitor deve p­erceber que aqui é recolhido tudo aquilo que a comunidade de origem realizou durante uns dez anos. Em cada ­Quaresma ­procurava-se um “qualquer coisa” de diferente. Daí a n­ecessidade de escolher. 5


Queremos destacar que a originalidade que estes materiais poderão aportar é precisamente porque tudo foi pensado à­ ­volta do eixo das leituras bíblicas dominicais. Reconhecemos as suas limitações: perde-se a intensidade da leitura c­ontínua dos ­outros dias, mas as leituras do Domingo ganham em ­profundidade. Como quem vai de viagem e na pousada põe em comum o que leva na mochila para que todos possam servir-se do que lhes apetecer, assim nós colocamos nas mãos da ­comunidade que achar por bem fazer uso destes nossos materiais. ­S­­­erviram-nos para celebrar e para acolher a Palavra de Deus e para que ela estivesse mais presente nas nossas vidas. Será uma alegria ­poder ajudar aqueles a quem falta tempo ou não têm membros ­criativos capazes de ajudar os outros.

6


1. Sentido da Quaresma


I. Sentido da Quaresma 1. Chamados à conversão Uma das palavras-chave da Quaresma é a conversão. O­ ­Dicionário define conversão: Acção ou efeito de converter ou de se converter. Na palavra converter lemos: Fazer com que algo ou alguém se transforme em algo distinto do que era. Como segunda acepção: Conquistar alguém para professar uma ­determinada religião. Fico-me com a primeira acepção, mas não me inspiro no Dicionário, mas no Evangelho. A palavra conversão é o que os Evangelhos colocam em primeiro lugar na boca de Jesus no início da sua pregação: ­Jesus foi para a Galileia a proclamar o Evangelho de Deus. Dizia: “Convertei-vos e acreditai na Boa Nova” (Mc 1, 14-16). Se foi dito em primeiro lugar, quer dizer que é importante. åå Primeiro sentido de conversão. Passar do não acreditar no Evangelho a acreditar nele; ou o que dá o mesmo, p­assar do não acreditar em Deus a crer e a aceitar Deus na própria vida e fazer com que Deus “mande” nela; fazer com que na minha vida a última referência de actuação seja aq­uilo que agrada a Deus a quem aceito como “Senhor” d­essa minha vida. O fruto desta conversão seria aceitar o ­Baptismo. Os b­aptizados eram aqueles que se convertiam do p­aganismo à fé em Jesus. Baptizar-se e crer em Jesus tem as suas ­consequências: viver de uma maneira nova, de ­acordo com a vida de Jesus. Aquilo que mais se parece com isto é a experiência de duas pessoas que se amam. O amar-se 8


e aceitar-se leva-as a “modelar” os gostos, a unir-se uma à outra. Caso contrário, a vida seria uma contínua anarquia. åå Segundo sentido de conversão. Ir progressivamente c­rescendo no conhecimento do Evangelho, na intimidade com Deus, na prática da vida cristã. åå Nós somos dinâmicos, mudamos, não temos os mesmos ­gostos de há quinze anos atrás, nem vemos as coisas da ­mesma ­maneira. Ora melhoramos, ora deterioramos as relações ­mútuas ou esquecemo-las, ou tomamos, durante a caminhada, opções e decisões diferentes das que um dia nos propusemos como o­bjectivo. “A vida dá muitas voltas, está cheia de s­urpresas”, dizemos. Acontecem tantas coisas na vida... Amigos que d­eixam de o ser ou nos decepcionam... ou ­decepcionamo-los porque surgem outros ­interesses e ­mudamos... ­Acontece o mesmo com os ­baptizados: um dia disseram sim a Deus e ao Evangelho de Jesus, mas depois... tudo fica e­squecido! É por isso que o ­baptizado é c­onvidado por Deus, a quem aceitou no ­Baptismo, a uma c­ontínua c­onversão. Que é isto? ­Simplesmente, ­reconhecer que na ­estrada da vida nos podemos esquecer do ­significado do Baptismo e viver quase de maneira pagã, como se nunca nos tivéssemos ­baptizado... Sucede isto quando Deus começa a significar pouco, a ­estar posto na prateleira, a ser um grande esquecido, a não ser tido em conta. Deus passa para s­egundo plano, Deus começa a ser “manipulado” por nós g­raças a essa tentação, que data de tempos antigos, de “amanhar Deus” a nosso bel-prazer, de fazer de Deus o que nos dá na real gana até o converter num deus à nossa imagem e semelhança. É a mesma experiência dos que, como nos fala a Bíblia, fizeram para si um deus à sua medida e construíram um bezerro de ouro a quem adoravam (Êx. 32). 9


O regresso a Deus desta situação de desleixo, de ­afastamento, de uma vida assente em gostos pessoais em d­etrimento de uma vida centrada em Deus, é aquilo a que também ­chamamos c­onversão. Para a distinguir da primeira conversão ao ­Baptismo, aqui falamos de conversão contínua, porque é como uma c­ontinuação das exigências do Baptismo. Neste tipo de c­onversão contínua todos estamos incluídos, não há ­ninguém que não precise de conversão. Cada um a seu modo tem i­nclinação para não ser completamente fiel a Deus. A Quaresma está centrada em chamar a atenção dos que se vão baptizar para que se convertam de coração a Deus. Para os que já são baptizados, a Quaresma é um apelo à revisão de vida cristã, a actualizar a conversão contínua. A ­Qua­rta-feira de Cinzas, ao impor-nos a cinza, símbolo penitencial, ­diz-nos: “Arrepende-te e acredita no Evangelho”. Isto é dito aos c­ristãos, não aos pagãos! åå Terceiro sentido da conversão. A conversão contínua ou conversão dos já baptizados não conduz ao sacramento do Baptismo, mas ao sacramento da Penitência. O mais ­bonito relato que temos desta conversão encontramo-lo no Filho Pródigo ou parábola do Pai misericordioso (Lc 15, 11-32). Um filho que, sendo de casa e sendo filho, evade-se ao sabor do seu “capricho” da casa do Pai. Passa a vida, ­acontecem-lhe peripécias, reflecte profundamente no que fez e decide r­egressar à casa donde saíra... Este relato é como um espelho em que homens e mulheres de todos os tempos se viram reflectidos para voltar para Deus e converter-se. ­Abandonaram a proximidade de Deus e da sua Igreja... mas um dia, por uma qualquer razão, com a alma em convulsão, decidem regressar, converter-se, reencaminhando-se para 10


a casa do Pai. Não se regressa como se partiu. Agora, ao voltar, cada pessoa transporta consigo uma experiência de afastamento e o regresso é mais consciente. Há momentos em que temos o coração endurecido e não vemos nada nem queremos ­saber nada de nada. Mas na vida “­acontece-nos tanta coisa” e “o coração amolece” e “voltamos” a ver as coisas ­pensando não apenas de acordo com os nossos ­gostos ­pequenos e apoucados, mas na verdade que no fundo ­desejamos. Na vida, a todos esperam momentos em que a verdade nos grita no coração... Dando um pequeno passo, podemos dar-lhe atenção e começar a arrepiar caminhos e voltar ao “calor da verdade”... São caminhos que ­ninguém pode fazer por outro. Mas é bom ter ao lado pessoas que nos ajudem a pôr-nos em marcha. À força, ninguém se ­converte, ­ninguém muda. As coisas importantes, onde se joga a ­liberdade, n­ascem de dentro, do imperscrutável ­íntimo. No teu interior e no teu secreto recôndito é onde, talvez um dia, sintas a voz do amor de Deus que te “atinge” a alma e... tu decides!

2. Acentuações próprias da Quaresma Outro dia, uma mãe amiga dizia-me: Sabes em que é que este ano fazemos consistir a abstinência? Em jogar o “jogo da glória” uma ou duas vezes por semana, pelo menos! Sim, desligamos a televisão, jogamos, ficamos os quatro juntos durante uma hora... É a maneira de podermos falar e de nos rirmos... Porque com a televisão não há diálogo nem vida familiar. Ouvimos coisas mas não dizemos coisas uns aos outros olhando-nos nos olhos.

11


Pareceu-me tão simples e tão genial esta “tradução” da ­abstinência que me tocou a alma e apercebi-me de que há gente que imagina coisas bonitas e ao alcance da mão. O Espírito continua a animar os crentes. Os cristãos têm liberdade para “reinventar” a abstinência e o jejum segundo a Tradição da Igreja a quem queremos manter-nos fiéis. Sem abstinência e sem jejum, não se compreende bem a vida cristã. Jesus começa a sua missão com um longo jejum (Mt 4, 1-13) e depois ­s­ente-se com liberdade para mudar o jejum (Mt 6, 1-5). É certo que há umas formas que a Tradição da Igreja consagrou e propôs... mas o mais importante é que tenhamos gestos exteriores que traduzam os movimentos internos do coração. Por vezes há que fazer gestos que despertem o coração. Outras vezes, os ­gestos são o fruto de um coração já “em marcha”. Não se t­rata de ­fazer coisas simplesmente por fazer; no cristianismo não ­estamos obrigados a exterioridades. O grito da Quarta-feira de Cinzas é este: “Rasgai o coração, não as roupas”. Ao nosso Deus não interessa tanto que sejamos vistos a fazer coisas, mas que “mudemos o coração” para tudo o que é mais humano e mais divino... Deus está preocupado com a nossa felicidade e há coisas que nos dão uma felicidade fugaz; isso não vale a pena. A felicidade plena vem do pôr o nosso coração em Deus. Chamou-me a atenção a proposta que li na folha da paróquia da Madalena (em Paris). Convidava-se os fiéis a entregarem no quinto Domingo da Quaresma o equivalente aos maços de cigarro não fumados, de garrafas de vinho e licor não bebidas, do custo de bilhetes de cinema e de teatro não comprados... E o melhor de tudo isto é que dando não ficas sem nada. Ficas com menos para criar um espaço vazio em ti, para abrir os ­olhos a outras necessidades. Tornamo-nos ricos em 12


­ umanidade quando cortamos com os nossos gostos ou h e­goísmos... E ­quando fazemos isto, estamos a fazer qualquer coisa de importante: Quando visitaste, quando deste de beber, quando escutaste, quando atendeste o outro, era a Mim que o fazias (Lê S. Mateus: 25, 31-46). Uma prova de que Deus entra na nossa vida é que “­precisamos menos de coisas”, até não precisar de coisas... “O essencial tira importância ao não-essencial. Se o essencial é ter uma marca de carro ou comer não sei que produtos ou vestir não sei que moda ou estar ou viver como deuses” (frase que quer dizer ­viver como Deus não vive nem quer que vivamos) fizemos do sem importância o essencial. åå Escutar a Palavra de Deus. Que não haja ninguém que não tenha um livrinho com as leituras da missa, e que t­odos ­diariamente leiam a Palavra de Deus. Não são tanto as ­nossas palavras que nos fazem mudar, é, isso sim, a Palavra de Deus. åå Pôr em prática a Palavra de Deus. Não chega lê-la. Há que torná-la vida prática... Pouco a pouco... Alguma Palavra de Deus custa a digerir... É preciso tempo para a assimilar. Até nos pode custar porque nos sentimos “bem” como estamos. Mas é preciso deixar mais espaço em nós para Deus. Isto pelo menos para os que sentem a ânsia de Deus. A ânsia pelo que é de Deus é uma graça ou dom de Deus... Se tens em ti ânsia de Deus, curiosidade pelo que é de Deus, ­alegra-te! Deus começa a estar à vontade no teu coração e pede-te um pouco mais de atenção às coisas d’Ele. O espaço que damos a Deus não é um vazio. É plenitude.

13


3. Levá-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração (Os 2, 16) Recorda o caminho que o Senhor teu Deus te fez andar ­ urante quarenta anos pelo deserto para te tornar mais ­pobre; d punha-te à prova para descobrir melhor aquilo que havia em teu coração. Empobreceu-te, fez-te passar fome... para te ­aperceberes de que nem só de pão vive o homem, mas de tudo o que sai da boca do Senhor (Deuteronómio 8, 2-3). 3A 3 Quaresma não é um ­deambular na tristeza e na melancolia.

3Os 3 caminhos novos não nos chegam do pensar. Não. Os caminhos novos ­chegam-nos com o escutar a Palavra 3É 3 um tempo de falar ao­ de Deus, com o ­vivê-la no ­coração. Que coisa bonita! dia-a-dia, com o penetrar na 3A 3 Quaresma é tempo de vida, profundidade de cada jorde nos abrirmos a t­odas as nada, e pela voz dos que estão possibilidades da vida, para lá ao nosso lado. O novo não do já andado, do de sempre... está longe de nós, está à nossa Que a­borrecimento quando o beira. Naquilo que vivemos de sempre é r­ otina! A rotina está o que é novo, constantefaz do mais s­ agrado e do mais mente a cair no velho. íntimo um ­entorpecimento. 3Escutar 3 a Palavra de Deus é 3A 3 Palavra de Deus a­limentaviver verdadeiramente. -nos e oferece-nos novas 3Não 3 há outro caminho. forças.

14


3A 3 Palavra de Deus faz-nos viver com verdade. 3A 3 Quaresma convida-nos a recompor-nos, a ­tornar-nos novos. Podemos ser mais. Podemos ser novos. Podemos renascer. Somos convidados por Deus a renascer de novo.

3­3O jejum que eu ­quero é:­ ­desatar os nós que nos ­amarram ao engano, à ­falsidade... repartir o pão com os que têm fome, atender os pobres, os que têm­­ ­necessidades... (Lê Isaías 58, 6-7).

3Para 3 quê viver no já velho? 3Graças 3 sejam dadas a Deus que nos chama.

3Precisamos 3 de Ti, Senhor, para escutar.

3Graças 3 sejam dadas aos que nos dizem para prestarmos um pouco mais de atenção a Deus.

3Precisamos 3 de Ti, Senhor, para Te seguir.

3Graças 3 sejam dadas à voz que no nosso íntimo nos sugere coisas novas.

3Precisamos 3 de Ti, Senhor, para caminhar.

3Graças 3 sejam dadas ao ­Espírito que não nos deixa cair na monotonia.

3Precisamos 3 de Ti, Senhor, para mudar.

3Precisamos 3 de Ti, Senhor, para fazer a nossa Quaresma... 3Precisamos 3 de Ti, Senhor, porque o que é teu, sem Ti, é-nos impossível...

4. Propostas concretas oo Prioridade à Palavra de Deus Colocar em casa a Bíblia ou o Novo Testamento em lugar de destaque e ler diariamente, ou pelo menos ­semanalmente, ­alguma passagem. 15


oo Desligar a televisão Deixar de ver televisão cinco (ou mais) minutos por dia, para dar lugar ao silêncio, ao diálogo familiar ou à oração ­familiar.

oo Reservar um espaço, diariamente, à oração Sem oração não há vida cristã nem profundidade­­evangélica, da mesma forma que não há profundidade na ­amizade sem ­comunicação, sem escuta, sem palavras do ­coração.

oo Ajudar os necessitados Com o dinheiro “economizado” na privação de ­alimentos, de roupas, de caprichos, de espectáculos, de luxos... ajudar quem precisa. É uma maneira de valorizar os outros e de dar valor, sobretudo, a Deus. Quem tem Deus, nada lhe falta.

oo Participar em alguma proposta comunitária da paróquia Na que mais nos agradar. Para nos sentirmos em ­comunhão com os outros. Por exemplo: conferências q­uaresmais, oração comunitária especial, visita aos doentes com a equipa da pastoral de saúde, celebração penitencial...

oo Dar sentido ao jejum e à abstinência Estar mais abertos às coisas do Espírito, à voz de Deus e aos irmãos. O mais importante é que cada um descubra com liberdade e responsabilidade “do que se deve abster e jejuar durante este tempo de penitência e de conversão, para agradar a Deus e amar mais os irmãos.

16


II. Textos e Sugestões 1. Se fôssemos... a Quaresma seria... Se fôssemos automóveis,

... a Quaresma seria o t­empo de mudar o óleo e de afinar o motor.

Se fôssemos jardins,

... a Quaresma seria o t­empo de adubar a nossa terra e arrancar as ervas daninhas.

Se fôssemos tapetes,

... a Quaresma seria o tempo de os aspirarmos e de lhes darmos uma boa ­sacudidela.

Se fôssemos baterias (acu- ... a Quaresma seria o t­empo de as r­ecarregarmos. muladores) Se fôssemos...

...

oo Mas não somos nenhuma destas quatro coisas 33 Somos pessoas que, talvez por mais que uma vez, ­deixámos de fazer o bem e/ou fizemos coisas erradas... e p­recisamos de nos arrependermos disso. Daí a n­ecessidade de c­onversão e de uma boa celebração do sacramento da Reconciliação. 33 Somos pessoas que por vezes nos deixámos levar pelo nosso egoísmo e afã de açambarcar... por isso, p­recisamos de compartilhar, de dar e de nos darmos, pensando mais nos outros. Daí a necessidade da esmola. 17


33 Somos pessoas que frequentemente perdemos de vista o fim para que fomos criados por Deus. N­ecessitamos, por isso, de recobrar a vista e corrigir a direcção. Daí a ­necessidade da oração. Esta é a razão pela qual c­elebramos a Quaresma. Por isso pedimos a Deus “que as práticas anuais próprias da Quaresma nos ajudem a progredir no conhecimento de Cristo e a levar uma vida mais cristã”. (Oração do primeiro Domingo da Quaresma).

2. Quaresma e piedade popular A Quaresma é o tempo que precede e prepara a ­celebração da Páscoa. Tempo de escuta da Palavra de Deus e de conversão, de preparação e de memorial do Baptismo, de reconciliação com Deus e com os irmãos, de recurso mais frequente às “­armas da penitência cristã”: a oração, o jejum e a esmola (Cfr. Mt 6, 1-6.16-18). No âmbito da piedade popular não se percebe facilmente o sentido mistérico da Quaresma e não foram assimilados alguns dos grandes valores e temas, como a relação entre o ­“sacramento dos quarenta dias” e os sacramentos da iniciação cristã, ou o mistério do “êxodo”, presente ao longo de todo o itinerário quaresmal. Conforme uma constante da piedade popular, que tende a centrar-se nos mistérios da humanidade de Cristo, na Quaresma os fiéis convergem a atenção para a Paixão e Morte do Senhor. (Directório sobre a piedade popular e a liturgia, n. 124). O início dos quarenta dias de penitência, no Rito romano, caracteriza-se pelo austero símbolo das Cinzas, que distingue a Liturgia da Quarta-feira de Cinzas. Próprio dos antigos ­ritos com que os pecadores convertidos se submetiam à ­penitência 18


canónica, o gesto de se cobrir com cinza tem o sentido de ­reconhecimento da própria fragilidade e mortalidade, que ­precisa de ser redimida pela misericórdia de Deus. Longe de ser um gesto simplesmente exterior, a Igreja conservou-o como sinal da atitude do coração penitente que cada baptizado está chamado a assumir no itinerário quaresmal. Os fiéis que vão em grande número receber as cinzas devem ser ajudados a ­captar o significado interior que este gesto encerra, de abertura à conversão e ao esforço da renovação pascal. Apesar da secularização da sociedade contemporânea, o povo cristão compreende claramente que durante a Q­uaresma se deve orientar o espírito para as realidades que são v­erdadeiramente importantes; que é preciso um esforço e­vangélico e uma ­coerência de vida, traduzida em boas obras, em forma de renúncia ao supérfluo e luxuoso, em expressões de ­solidariedade com os que sofrem e com os necessitados. ­Também os fiéis que frequentam pouco os sacramentos da­ ­Penitência e da Eucaristia sabem, por uma ampla tradição ­eclesial, que o tempo da Quaresma-Páscoa está em relação com o preceito da Igreja de confessar os seus pecados graves, pelo menos uma vez ao ano, preferentemente no tempo da Páscoa. (Directório sobre a piedade popular e a liturgia, n. 125).

19


3. Cinza, jejum, abstinência A Cinza que Deus quer 3Que 3 não te ­vanglories dos teus talentos, mas que com eles edifiques os outros.

O Jejum que Deus quer

3Que 3 não faças gas- 3Que 3 te abstenhas tos desnecessários. de tanta televisão e de tanto DVD. 3Que 3 prefiras ser tu a passar privações, 3Que 3 não sejas esa ver o teu irmão cravo de ninguém em necessidade. nem de nada.

3Que 3 não te ­deprimas nem te 3Que 3 ofereças o teu acobardes, porque tempo a quem o Deus é a tua vitória. pedir. 3Que 3 aprecies o 3Que 3 prefiras servir valor das coisas a ser servido. simples. 3Que 3 tenhas fome e 3Que 3 optes mais sede de justiça. pela qualidade do 3Que 3 vejas no ­pobre que pela quantie no que sofre um dade. ­sacramento de Cris3Que 3 estejas to. sempre aberto à ­esperança. 3Que 3 não tenhas medo da morte, porque é sempre Páscoa.

20

A ­Abstinência que Deus quer

3Que 3 te abstenhas de qualquer violência. 3Que 3 te abstenhas de palavras ociosas e néscias. 3Que 3 te alimentes da Palavra de Deus. 3Que 3 te alimentes com o Pão de Deus na Eucaristia.


2. Quarta-feira de Cinzas


I. Celebração da Eucaristia A. Ritos Iniciais oo Preparação do ambiente A Quaresma aparece como preparação mais intensa para os que vão ser baptizados na Vigília Pascal. A partir do século IV, a Quaresma começa a ser um tempo penitencial. A Quarta-feira de Cinzas não é o mais importante da ­ uaresma. É apenas a porta de entrada. A verdade é que a Q cerimónia das cinzas reúne muita gente que depois não voltará a lembrar-se da Quaresma. Tem algo de folclore e de “magia” e está arreigada no povo. Nós estamos aqui e sabemos que o Senhor nos convida a iniciar um caminho de conversão. Não é o dia mais importante da Quaresma. Começamos o caminho para a Páscoa. A Páscoa é o importante. A Quarta-feira de Cinzas é, juntamente com a Sexta-feira Santa, um dia penitencial de jejum e abstinência.

oo Procissão de entrada e canto 33 Cruz acompanhada com duas velas. 33 Recipiente com as cinzas. 33 Presidente. Escolher bem o canto de entrada: que expresse o convite à ­conversão. Toda esta primeira parte, (sem o acto penitencial que é substituído pela imposição das cinzas) tem um acentuado ­sentido de acolhimento do tempo de graça que o Senhor nos ­concede. 22


oo Saudação Presidente - Somos convidados à conversão. Deus ­oferece-nos um tempo especial para voltarmos a Ele. Presidente - O Senhor esteja convosco. Todos - Ele está no meio de nós.

oo Acolhimento da Palavra de Deus Para dar importância à Palavra de Deus, leva-se p­rocessionalmente, do fundo da nave, o Leccionário. É ­apresentado ao Presidente, e este apresenta-o a toda a ­assembleia. Presidente - O Senhor quer que sejamos um grupo dos que O seguem. Convida-nos a segui-Lo. Este é o tempo da graça. Este é o tempo da salvação. Escutai a sua voz. Obedecei-Lhe de todo o coração. Todos - Escutaremos o Senhor, nosso Deus. Seremos ­obedientes à sua voz. Coloca-se o Leccionário no ambão com dignidade.

oo Silêncio oo Oração Ver Missal. Em situações especiais também se poderia usar esta proposta: Senhor, fortalece-nos com o teu auxílio ao iniciar estes santos dias da Quaresma. Que a escuta da tua Palavra, as súplicas dos santos, a austeridade das nossas práticas quaresmais, 23


Índice Introdução .........................................................................5

1. Sentido da Quaresma..........................................................7 I. Sentido da Quaresma................................................................8 II. Textos e Sugestões.................................................................17

2. Quarta-feira de Cinzas......................................................21 I. Celebração da Eucaristia.........................................................22 II. Textos e Sugestões.................................................................35

3. Primeiro Domingo da Quaresma.......................................43 I. Celebração da Eucaristia.........................................................44 II. Textos e Sugestões................................................................59

4. Segundo Domingo da Quaresma.......................................69 I. Celebração da Eucaristia.........................................................70 II. Textos e Sugestões.................................................................82

5. Terceiro Domingo da Quaresma.......................................93 I. Celebração da Eucaristia.........................................................94 II. Textos e Sugestões...............................................................108

6. Quarto Domingo da Q ­ uaresma . ....................................115 I. Celebração da Eucaristia.......................................................116 II. Textos e Sugestões...............................................................127

7. Quinto Domingo da Quaresma......................................135 I. Celebração da Eucaristia.......................................................136 II. Textos e Sugestões...............................................................149

8. Domingo de Ramos.........................................................159 I. Celebração da Eucaristia.......................................................160 II. Textos e Sugestões...............................................................168

195


Anexos................................................................................175 1. Quaresma............................................................................176 2. O Sacramento da ­Reconciliação...........................................179 3. Celebração Penitencial Quaresmal.......................................185 4. Textos e Sugestões...............................................................192

196



Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.