Álvaro Ginel - Mari Patxi Ayerra
A palavra do Domingo Comentário e oração Ano B
Edições Salesianas 3
Ficha técnica
© 2005 Mari Patxi Ayerra / Álvaro Ginel © 2005 EDITORIAL CCS, Alcalá 166 / 28028 MADRID © 2005 EDIÇÕES SALESIANAS Rua Dr. Alves da Veiga, 124 4022-071 PORTO Tel. 225365750 Fax. 225365800 www.edisal.salesianos.pt edisal@edisal.salesianos.pt Tradução: Alcinda Marinho Paginação: rAP Capa: Paulo Santos Impressão: Edições Salesianas Encadernação e acabamentos: Humbertipo ISBN: 972-690 DL:
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APRESENTAÇÃO
Há quem procure o comentário. Outros preferem a oração. A Palavra dos Domingos e dos Dias Santos não é um livro de homilias corrente, nem um manual de oração. É um sopro de fôlego no universo dos livros e materiais existentes para preparação da homilia. Qual é a sua contribuição? Onde a sua originalidade? O objectivo desta obra é ajudar a entrar na Palavra de Deus das homilias de domingo e dos dias santos, de duas maneiras: através do comentário centrado num tema evangélico e que reflecte sobre ela à luz da vida; e através da oração. O nosso objectivo, ao meditar sobre a Palavra, não é apresentar reflexões ou elaborar bonitas teorias sobre ela, mas orar. Deixamos de lado outros caminhos, como sejam o comentário exegético e a dimensão litúrgica. Apesar de reconhecermos a sua utilidade, pensamos que os fiéis têm ao seu alcance instrumentos que os podem ajudar nestas duas dimensões que não pretendemos tratar aqui. Este livro dirige-se primeiramente aos pregadores da Palavra, mas não são estes os seus únicos destinatários. Pensamos, ao escrevê-lo, em todas as pessoas que, cada vez mais, fazem da Palavra proposta na liturgia de domingo o centro da sua vida cristã, o cerne da reflexão, da análise pessoal e da oração que fazem ao longo da semana. Foi este o processo seguido na elaboração desta obra: •
Leitura e meditação do texto evangélico e da primeira leitura.
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Elaboração do comentário.
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Leitura dos textos bíblicos e do comentário escrito.
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Redacção da oração. 5
Em certas ocasiões, o leitor verificará que certos temas se repetem de duas maneiras: como proposta de reflexão e proposta de oração. Noutras alturas, mais que repetição, o leitor verá complementaridade: aspectos não tratados no comentário são visíveis na oração e vice-versa. Este livro foi concebido para ajudar e mostrar o caminho. Nada está acabado. De tudo apresentamos o começo, para que o leitor possa fazer o seu próprio percurso. As pistas que os dois crentes Mari Patxi e Álvaro aqui deixaram, após a leitura do Evangelho, não são mais que orientações para que cada um percorra o caminho que o Espírito lhe inspire. Na fé, como em tantas coisas na vida, ninguém pode fazer o caminho de outra pessoa, mas o caminho percorrido pelos outros pode ajudar-nos a fazer o nosso ou a tomar a decisão de o iniciar... Tudo o que o Espírito Santo inspirar a uma pessoa é para o bem de todos. Este livro não deseja “poupar” esforços a ninguém, mas ajudar todos a trabalharem para se aproximarem da Palavra de Deus, que chama por nós e nos pede, semana após semana, que sejamos “ouvintes” do Senhor. Se não ouvirmos a Deus, se não O escutarmos, não nos poderemos dizer “crentes”. Viveremos apenas das nossas teorias, sem nos abrirmos ao plano que Deus tem para nós e para a Humanidade. Temos que confessar um receio: que alguns, lendo e rezando o que está escrito, pensem que já está tudo feito. Ninguém reza por ninguém. Ninguém pode escutar a Palavra por ninguém. É unicamente possível partilhar a Palavra: “Eu li a Palavra antes de ti e olha até onde me levou. Eu li a Palavra antes de ti para te dar ânimo, para que tu a leias e, também a ti, ela conduza a um lugar que nem consegues imaginar. Tu não és eu. Tu és tu: tens a tua própria história, a tua própria situação e condicionamentos, a tua própria trajectória de obediência a Deus... Tu és único aos olhos de Deus. Nessa corrente de escuta e relacionamento com Deus que já vem de trás, a Palavra vem até ti para te levar mais perto do coração de Deus. Ao teu lado estão outros crentes como tu, empenhados em escutar este Deus que não se cala na Sua vontade de se tornar nosso interlocutor”. 6
Desejamos-te um encontro com a Palavra, e através dela com Deus, que guarda umas palavras especiais para te dizer só a ti.
Mari Patxi Ayerra, autora das orações ÁLVARO Ginel, autor dos comentários
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ADVENTO
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Primeiro domingo do Advento Isaías 63, 16-17.19; 64, 2-7 1 Coríntios 1, 3-9 Marcos 13, 33-37
Estai alerta; vigiai. Não sabeis a hora nem o momento...
Ler e entender Tu e eu conhecemos aqueles momentos mais negros da vida em que nos vemos sem horizontes, nos falta o ar e nos sentimos impotentes perante as coisas... Já gritamos ou ouvimos os gritos dos que bradam: “Não posso mais”, “Não é possível”. É verdade, há momentos em que perdemos todo o ânimo. Normalmente, acontecem quando as coisas não se passam como esperávamos ou tínhamos imaginado: por exemplo, quando não recuperamos de uma operação ao ritmo previsto. Algo de semelhante aconteceu aos cristãos de Roma face ao cumular de perseguições de que eram alvo... Marcos dá-lhes ânimo e levanta-lhes a moral; pede-lhes que estejam atentos, que se mantenham alerta, pois o facto das coisas que esperamos não chegarem ao ritmo que tínhamos previsto não significa que não vão acontecer. Entrar no Advento é penetrar numa história em que o “programa” é Deus. A hora de Deus, o Seu momento não dependem de nós, mas d’Ele. No entanto, caímos na tentação de programar Deus, de “mandar” n’Ele, de dizer a Deus o que tem que fazer e quando o tem que fazer. Marcos apresenta-nos Deus como alguém que “Se retira” e nos deixa a sós. Cada um tem o seu trabalho, os seus talentos, certas tarefas a realizar. A ausência de Deus é apenas momentânea, mas a nossa “pressa” faz-nos acreditar que é eterna; esperar torna-se para nós “interminável”. Precisamos de aprender que Deus não tem pressa. Deus tem sempre a Sua hora. Este Advento pode ser a hora de Deus para quem se mantenha vigilante. 10
Mas que é “vigiar”?, perguntarão alguns. Vigiar é escutar o que o coração nos dita, os movimentos que descobrimos nele, a sensibilidade que experimentamos a cada momento, a atracção que sentes por coisas que antes te eram indiferentes. Vigiar é passar pela vida e escutar as batidas do seu coração, dos homens e mulheres que estão ao teu lado, dos acontecimentos de todos os dias. Vigiar é descobrir que há coisas que te fazem pensar, te mobilizam, te fazem aproximar-te delas, como Moisés se aproximou da sarça a arder (Ex 3, 3). Vigiar é admitir que algo de novo te pode acontecer e que o futuro não está fechado para ti. Vigiar é acreditar que em qualquer altura, qualquer que seja a tua idade, Deus te pode sussurrar a Sua presença e a Sua proximidade. Vigiar é confiar que nas provações e na dor Deus não se ausentou. Vigiar é aprender que, quando perguntamos a nós mesmos “onde está Deus?”, é só porque os nossos olhos não são capazes de descobrir que Deus está ali mesmo, no próprio local onde nos interrogamos sobre o Seu paradeiro. Se perguntamos por Ele é porque os nossos olhos não estão suficientemente atentos para O conseguirmos ver. Para ter Deus connosco e ser companheiro de Deus é preciso desejar a Deus, esperá-Lo e abrir os olhos para tudo o que nos rodeia. Deus vem ter connosco através da realidade que nos envolve; a única certeza é que não chegará sob a forma que imaginamos... Se queres ser uma sentinela na vida, começa por assinalar as realidades que te levantam questões. Quando uma coisa suscitar a tua curiosidade e te levar a agir é possível que uma pista da presença de Deus esteja a tentar revelar-se.
Sugestão: Os versículos finais da primeira leitura de Isaías podem ser uma fonte de inspiração para elaborar um acto de penitência neste primeiro domingo do Advento.
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Orar a Palavra DESPERTA-ME, SENHOR Desperta-me, Senhor, não me deixes dormir pela vida. Tira-me deste sono que me arrasta, que me faz viver sempre na mesma rotina, me faz correr sem freio e sem sentido, me torna cega para quem está ao meu lado e me faz chegar insatisfeito ao fim de cada dia. Acorda-me, Senhor, da mediocridade soporífera, que transformamos na nossa roupa mais usual e mais cómoda. Não permitas que continue a acumular os dias sem os povoar de encontros, não me deixes “estar” com as pessoas sem as amar, não consintas que faça coisas sem as encher de amor e de sentido, não aceites que me acomode ao anestésico conforto geral. Acorda-me, Senhor, mantém-me alerta, pois a Tua gente tem que ser gente desperta, e Tu trazes salvação à minha vida, vens anunciar-Te à minha família, revolucionar a minha forma de trabalhar, e encorajar em mim uma forma mais justa e solidária de estar no mundo. Acorda-me, Senhor, ainda que os outros não me creiam adormecida. Dá-me garra para encontrar a salvação que se aproxima, abre os meus olhos e os meus ouvidos para as necessidades dos meus irmãos, para saber pôr as minhas mãos e as minhas pernas ao seu serviço, para aligeirar-lhes o caminho na vida, para caminhar, crescer, avançar, e assim nos salvarmos juntos.
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Acorda-me, Senhor, cala em mim todo o desespero, que o meu coração não vacile com lamentos ou desencantos, que não me adormeçam as pressas, os medos ou as dificuldades, que não me deixe arrastar pelas trevas e procure sempre a luz, e ponha em sintonia a minha vida e a Tua, e assim Tu e eu, em harmonia, poderemos gozar a abundância e a plenitude. E quando me deixar dormir... acorda-me, Senhor.
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Segundo domingo do Advento Isaías 40, 1-5.9-11 2 Pedro 3, 8-14 Marcos 1, 1-8
No deserto, João pregava o arrependimento dos pecados.
Ler e entender Iniciamos hoje o Evangelho de Marcos: “Princípio da Boa-Nova de Jesus Cristo, o Filho de Deus”. O Evangelho é a “boa notícia”. Aquilo que ouvimos ler não é uma leitura mais, um texto entre tantos outros que vemos nos jornais todos os dias. Este é o único texto a que os cristãos chamam “boa notícia e anúncio novo de salvação”. Não serve dizer que “já sabemos”, que “é sempre o mesmo”, que “já ouvimos isto muitas vezes”. Não. Hoje a notícia é boa e é nova. Hoje, a notícia salvadora é que temos que preparar o caminho do Senhor e o que temos que fazer hoje não é igual ao que fizemos há muitos anos. Não somos hoje como éramos então. “O que eu mudei!”, costumamos dizer. Hoje, recebes o chamamento para a conversão à luz das mudanças ocorridas na tua vida. Neste processo de mudança, ainda há muito caminho a desbastar para que Deus penetre cada vez mais na tua alma, mas hoje és chamado à “boa-nova”, à “salvação”, a não deixares que a tua vida seja ditada pelos teus caprichos. O caminho por onde Deus chega é o caminho aberto pelas alterações que vais realizando. Se prestares atenção, verás que as mudanças que mais nos afectam são aquelas que nos deixam vazios. Esvaziamos a nossa alma quando deixamos que outra pessoa more dentro de nós. As pessoas de quem gostamos mudam-nos e mudamos por causa do amor que lhes temos. Muda-nos o Deus que está a chegar e mudamos porque queremos que Ele venha... João reconhece que não é digno de Lhe desatar as correias das sandálias. Deus deseja mudar-nos para fazer de nós pessoas novas. Mudar e converter-se é aceitar ter Deus como pastor, guia e mestre, como “meu Deus e meu tudo”. É possível conseguir descobrir Deus através de um trabalho pessoal. Porém, o mais comum é que alguém te alerte, te desperte e te mostre a necessidade de te converteres. Uma pessoa, um acontecimento, uma 14
situação que pareciam desprovidos de transcendência podem transformar-se subitamente numa “profecia” de mudança pessoal. A partir daí, começas a aplanar o caminho para Deus. Este “preparar o caminho” não é senão deixar entrar em ti, como importantes, a palavra e os valores de outrem; é pôr de lado a tua perspectiva e aceitar um ponto de vista diferente que te é dado, uma companhia que te é oferecida. Chamam-me a atenção aquelas pessoas que vêem a conversão como algo de aborrecido, quase tenebroso. A conversão é uma “boa notícia”, tal como é boa notícia o dia em que “olhas para uma pessoa e a assinalas como a pessoa que mudará toda a tua vida”. Deus faz-se anunciar de mil maneiras. Deus não ficou mudo. Profetas como João Baptista e épocas como a sua vão aparecendo ao longo do nosso caminho. Ouvimos as suas palavras e, se calhar, não lhes damos muita importância na altura, mas depois aquilo que nos disseram verruma o nosso interior e prepara-o para a mudança. Se para ti a conversão não é esta “boa-nova”, é porque ainda estás longe de ter o coração preparado. Qualquer cirurgia é incómoda, mas se te operam é para que possas continuar a viver. Não te é pedido que prepares o caminho para “viveres entediado”, mas simplesmente para viveres – viveres mais feliz e viveres tudo o que de novo e bom podes conhecer.
Sugestão: Antes do canto de entrada, uma voz pode proclamar a seguinte admonição: “Preparai o caminho do Senhor. Deixai que Deus entre nas vossas vidas. Abri os corações a Deus”.
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Orar a Palavra SENHOR, OBRIGADA PELOS TEUS PROFETAS Obrigada por nos ires enviando profetas ao longo da nossa vida. Era gente que falava de Ti com sabedoria e amor, que nos foi dando pistas para Te seguirmos, que se apaixonou por Ti profundamente e viveu a sua vida em comunhão contigo. Obrigada, porque cada um deles tinha um estilo, um carisma, um dom, mas todos partilhavam o compromisso da sua vida com a Tua. Uns escutavam-Te na Natureza e em toda a sua beleza, outros na dor dos seus irmãos doentes e abandonados, outros, pelo contrário, foi na mulher prostituída que Te foram descobrir, e outros em quem passava fome e em quem fora espoliado. Obrigada, porque alguns Te encontraram entre os doentes da alma, enquanto outros Te acharam na solidão da multidão. Outros ainda, foi na criança explorada que ouviram a Tua voz, e alguns escutaram o Teu lamento na opulência dos seus palácios. Todos eles, porém, nos falaram de Ti e dos nossos irmãos e convidaram-nos a viver contigo uma história de amor pela Humanidade. Obrigada pelos Franciscos, Joões, Teresas, Damiões, Marias... e por tantos outros que não são reconhecidos senão no seu meio, mas que são profetas do Teu amor e da Tua solidariedade, e contagiam quem está à sua volta com o Teu perdão, a Tua paz e o Teu descanso, e nos encorajam a tentarmos melhorar a História e a comprometermo-nos com a alegria de construir o Teu Reino. Continua a enviar-nos profetas que nos dêem força. E obrigada hoje, Senhor, por todos eles. (Podemos acrescentar à oração os nomes dos profetas que cada um de nós vai encontrando ao longo do seu percurso.)
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Terceiro domingo do Advento Isaías 61, 1-2.10-11 1 Tessalonicenses 5, 16-24 João 1, 6-8.19-28
Ler e entender As palavras de João são categóricas: Aquele que vem, Aquele que esperais está no meio de vós. A maior dificuldade de acolher a Deus não reside em termos que ir a um qualquer lugar físico, mas em “descobri-Lo no meio de nós”. A expressão “está no meio de vós” deve ser entendida de duas formas: no centro de nós, no nosso próprio coração está Deus; e no cerne da nossa vida quotidiana está Deus. A maior distância a percorrer, o caminho que para nós é sempre mais comprido, é o que vai da superfície ao nosso coração e ao coração da nossa vida comum.
“Quem és tu?”, perguntam a João. E ele vai respondendo que “não é isto, e que não é aquilo”. A viagem ao interior de nós mesmos e do mistério da vida quotidiana faz-se questionando o que é essencial, a nós mesmos e ao sentido da nossa vida. Cada etapa da vida tem as mesmas perguntas com ressonâncias diferentes: “Quem és tu?”. E seremos forçados a reconhecer que “eu não sou os meus problemas”, “eu não sou as coisas que faço acontecer e levo por diante”, “não sou aquilo que faço”, “não sou quem penso que sou ou aquele que os outros fazem de mim”, “não sou um objecto”, “eu não sou...”. 17
Deus está no meio de vós e não dais conta
Descobrir que Deus está dentro de nós e quer saltar de alegria e fazer-nos vibrar de exultação é uma lição difícil de aprender. Estamos na periferia de Deus e é preciso fazer o caminho até Ele. “Fazer o caminho” sugere uma deslocação: ir a algum sítio onde Deus habita fora de nós. Contudo, João proclama: “Ele está no meio de ti, no meio de vós, no meio das vossas coisas”. João convida-nos a mudar de perspectiva: o movimento não é para fora, mas em direcção ao nosso interior.
E depois do “eu não sou...” é possível chegarmos a entrever o “eu sou...”. “Sou uma voz que dentro de mim grita porque tem fome de vida, de felicidade e amor verdadeiro”. “Sou essa ânsia de ser, e de ser de outra maneira, e de ser tudo aquilo que posso ser”. “Sou esse grito que tem sede de infinito, da água fresca que salta para lá desta vida. Sou mãos e olhos e um grito que procura e clama: ‘Onde estás, meu Deus e Senhor?’” “Sou aquele feixe de sentimentos, projectos, sonhos, esperas, de entrega e de futuro, de medo e de mistério que se abriga no mais fundo de mim e que vou descobrindo pouco a pouco”. Somos tão pagãos que colocamos Deus fora de nós, em templos e locais santos, mas não reconhecemos que o lugar mais sagrado de Deus é o coração de cada pessoa e o coração da vida de todas as pessoas... É mais fácil ir a um lugar qualquer que ao essencial de nós e da nossa vida. E é frequente irmos a esses lugares e não encontrarmos aquilo que procuramos... porque procuramos Deus onde não está. O Deus cristão está sempre ao alcance da mão, onde ninguém no-Lo pode roubar: no nosso coração, no nosso próximo, na vida diária vivida como espaço sagrado que Deus habita. É este o motivo da nossa alegria: anunciaram-nos que o Deus que há-de chegar está dentro de nós, esperando-nos – e ainda não percebemos. Está acampado ao nosso lado e nem O vemos.
Sugestão: Proclamar o Evangelho de hoje como um diálogo, bem cuidado. Este domingo é denominado “domingo de Gaudete” ou domingo da alegria. A alegria não brota de fora, vem de dentro... Incendiar de luz o coração. É este o centro da alegria.
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Orar a Palavra PROCURA-NOS POR TODOS OS SÍTIOS Muitos não acham tempo para se encontrarem contigo, Senhor, porque pensam que para isso são precisos templos, silêncios, desertos. E como a sua vida é angústia, pressa e rotina, não Te encontram, não conseguem nunca escapar do bulício e vivem na nostalgia de Ti. No seu interior sentem ânsias de profundidade, notam o vazio que deixam as coisas materiais, compreendem que os desejos são como poços sem fundo, e sabem que em Ti encontrariam paz. Mas não sabem, Senhor, que Tu andas aí, sempre ao seu lado, e que para estar contigo não é preciso nada de especial. Que abandonar-se à Tua frente e fazer as coisas na Tua companhia já é rezar... Senhor, liberta-os da saudade da Tua presença, fala-lhes ao coração, fala-lhes alto e que Te sintam. Porque sentir a Tua companhia e viver junto a Ti, levar a vida contigo, sem nada mais de especial, entusiasma a alma e dá um fôlego vital, enche de um optimismo que transborda e dá repouso. Senhor, estás dentro de mim e não tenho que fazer nada para falar contigo, pois Tu és mais eu que eu mesmo. Lembra isto a quem não acredita, para que desfrutem da Tua presença aqui e agora, sem esperarem para ir a algum lugar especial. Viver um dia sem Ti é deixar-nos morrer, é perder energia, é sentir pouco fôlego, não nos podemos privar de desfrutar de Ti, precisamos de precisar de Ti, desejamos desejar-Te, temos que Te ter. Procura-nos por todos os sítios, Senhor.
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Quarto domingo do Advento 2 Samuel 7, 1-5.8-11.16 Romanos 16, 25-27 Lucas 1, 26-38
Ler e entender
Preciso de ti
Falham todas as previsões. Caem por terra todos os esquemas. Deus apresenta-Se precisando, pedindo ajuda, Deus, o Deus do universo, o criador de tudo. “Preciso de ti, da tua pessoa”. “Preciso da tua vida para realizar os Meus planos”. “Preciso de ti e peço-te permissão, não te quero subjugar, quebrar a tua liberdade sagrada, digo-te apenas que tenho necessidade de ti, que pensei em ti para levar a cabo os Meus planos...”. É verdade, eu faço parte dos planos de Deus. Deus contou comigo no Seu plano de salvação. Não sou alguém perdido por aí... Deus precisa de mim! É incrível! Incrível? Mas repara por um momento naquilo que se passa na vida. Há alguém que precisa de ti e to diz. Não achas que és tu quem faz falta a esse ser humano? Tu és a pessoa de que alguém precisa para cumprir o seu plano de ser mais pessoa. Ainda não compreendeste que o nosso Deus é pessoa e precisa das pessoas? Precisa de ti como precisou de Maria. Precisa de ti para Se fazer presente, para encarnar, para Se mostrar a ti e às outras pessoas... Deus transforma-te em alguém importante: és necessário porque Deus te ama. Nós próprios fazemos o mesmo amiúde. Chamamos pessoas concretas e dizemos-lhes que “pensamos que quem melhor poderia levar a cabo este projecto és tu”. Sabemos que há pessoas e empresas que agem assim porque “querem obter rendimento, porque querem ganhar, porque querem tirar algo de nós...”. E desconfiamos. Algumas pessoas, que não pensam muito ou só pensam em subir, alegram-se; outras temem estas “visitas”, pois sabem bem que se disserem “não” ao projecto do chefe pode haver represálias... Deus apresenta-se a Maria com um plano para a vida dela e pede-lhe permissão para o executar, deixa-a falar e dizer o que pensa... Deus não quer nada de ti nem de mim; Deus quer-te a ti e 20
quer-me a mim. Deus, o Deus de Maria e o nosso, é um Deus que faz de nós associados do Seu plano e nos distribui responsabilidades e tarefas, a cada um a sua. Maria sabe que não tem à frente um empresário. Está diante de Deus. Está diante d’Aquele em quem depositou a sua confiança cegamente, d’Aquele que é a sua esperança e a sua alegria. Maria ouve Deus onde Deus lhe fala: no santuário do seu segredo mais íntimo, da verdade que o seu coração lhe dita. Maria, visitada por Deus, responde a Deus: “Faça-se em mim segundo a Tua vontade”. Por outras palavras, “Dou-Te permissão para entrares na minha vida e dispores dela”. E assim se conclui o acordo; não se fala em horários de trabalho, nem em pagamentos, gratificações ou subidas de escalão... Maria prefere continuar a ser “escrava”, “escrava do Senhor”. E Deus aceita habitar esta mulher, inundá-la, enchê-la de graça, de novidade, de Vida, de Verbo, do melhor de si mesmo: o Seu Filho. Deus está com ela. Maria é resposta a Deus na sua totalidade. O seu plano é já o plano da vontade de Deus. Ninguém lhe ordena nada. Ninguém dá a Maria uma lista dos acontecimentos que virão. Naquilo que vai suceder sempre terá Maria que descobrir o plano de Deus. “Não tenhas medo de Deus”, ouve Maria dizer. Deus precisa de ti, está contigo e não te abandonará enquanto fores a “escrava do Senhor”. É difícil de acreditar! Como é possível que Deus precise de mim? Hoje, como no passado, o Senhor precisa de mim para levar por diante o Seu plano de salvação. Presta atenção: hoje pode ser o dia em que Deus te visita pedindo-te ajuda para os Seus projectos, porque algo ficaria por fazer sem o teu sim a Deus – esse “algo” que representa a tua parte.
Sugestão: Para criar uma certa ambiência, decorar o espaço com um ícone de Maria ou um quadro da Anunciação. Preparar o acto penitencial de forma particular: abrir o coração a Deus. Dizer “sim” a Deus. Dizer “não” a Deus. 21
Orar a Palavra PRECISAS DE MIM, SENHOR, PRECISAS DE NÓS És fantástico, Senhor, porque precisas de nós. Contas connosco para continuar a vida, incluíste-nos nos Teus projectos, sabes o que cada um de nós tem de precioso. Andamos ocupados a satisfazer as nossas necessidades, que nos angustiam, preocupam, distraem e, sobretudo, não nos deixam ouvir as dos outros ou dar-lhes mais importância que às nossas. Tu empenhas-Te em as lembrar de todas as formas. Falas-nos dos nossos irmãos em todos os lugares. Contas-nos como vivem, como estão, que lhes sucede, e mostras-nos que temos parte do que a eles faz falta. Entretanto, nós fazemos teorias. Analisamos as situações, opinamos sobre tudo, sempre sacudindo as responsabilidades, e tentamos que sejam outros a resolver os problemas, a mudar as coisas para que a riqueza seja melhor repartida. Tu continuas a sussurrar-nos palavras de Amor, Tu recordas-nos que somos irmãos, Tu fazes com que nos doa o que o outro sofre e finalmente acordas-nos e fazes-nos reagir. Senhor, recebe hoje a nossa vida, toma-a nas mãos. Entregamos-Te todas as nossas desculpas, todas as justificações para mudar o mínimo possível, e a nossa mediocridade e falta de empenho no amor. Senhor, precisas de nós, por isso... Toma Tu, ao nosso lado, o leme dos nossos dias, para que passemos de viver na apatia a viver na utopia.
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NATAL E EPIFANIA
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Índice Advento .................................................................... 9 Primeiro domingo do Advento.................................. 10 Segundo domingo do Advento.................................. 14 Terceiro domingo do Advento .................................. 17 Quarto domingo do Advento .................................... 20 Natal e Epifania....................................................... 23 Natal do Senhor (Missa do Galo) ............................. 24 Natal do Senhor (Missa do dia) ................................ 27 Sagrada Família ........................................................ 31 Santa Maria, Mãe de Deus ........................................ 35 Segundo domingo após o Natal ................................ 38 A Epifania do Senhor ................................................ 41 Baptismo do Senhor.................................................. 45 Quaresma................................................................. 49 Quarta-feira de Cinzas .............................................. 50 Primeiro domingo da Quaresma ............................... 53 Segundo domingo da Quaresma ............................... 57 Terceiro domingo da Quaresma ................................ 60 Quarto domingo da Quaresma .................................. 63 Quinto domingo da Quaresma .................................. 66 Domingo de Ramos .................................................. 69 Tríduo pascal ........................................................... 73 Quinta-feira Santa ..................................................... 74 Sexta-feira Santa ....................................................... 77 Vigília Pascal ............................................................ 80 285
Páscoa....................................................................... 85 Páscoa de Ressurreição ............................................. 86 Segundo domingo da Páscoa .................................... 89 Terceiro domingo da Páscoa ..................................... 92 Quarto domingo da Páscoa ....................................... 95 Quinto domingo da Páscoa ....................................... 98 Sexto domingo da Páscoa ......................................... 101 A Ascensão do Senhor .............................................. 105 Sétimo domingo da Páscoa ....................................... 109 Pentecostes ................................................................ 112 Tempo Comum ........................................................ 115 Santíssima Trindade: Domingo após o Pentecostes.. 116 Santíssimo Corpo e Sangue de Cristo....................... 119 Segundo domingo ..................................................... 122 Terceiro domingo ...................................................... 125 Quarto domingo ........................................................ 128 Quinto domingo ........................................................ 131 Sexto domingo .......................................................... 134 Sétimo domingo ........................................................ 137 Oitavo domingo ........................................................ 140 Nono domingo .......................................................... 143 Décimo domingo ...................................................... 146 Décimo primeiro domingo ........................................ 149 Décimo segundo domingo ........................................ 152 Décimo terceiro domingo ......................................... 155 Décimo quarto domingo ........................................... 158 Décimo quinto domingo ........................................... 161 286
Décimo sexto domingo ............................................. 164 Décimo sétimo domingo ........................................... 167 Décimo oitavo domingo ........................................... 170 Décimo nono domingo ............................................. 174 Vigésimo domingo .................................................... 177 Vigésimo primeiro domingo ..................................... 180 Vigésimo segundo domingo ..................................... 183 Vigésimo terceiro domingo....................................... 186 Vigésimo quarto domingo......................................... 189 Vigésimo quinto domingo......................................... 193 Vigésimo sexto domingo .......................................... 196 Vigésimo sétimo domingo ........................................ 199 Vigésimo oitavo domingo ......................................... 203 Vigésimo nono domingo ........................................... 207 Trigésimo domingo ................................................... 211 Trigésimo primeiro domingo .................................... 214 Trigésimo segundo domingo .................................... 218 Trigésimo terceiro domingo...................................... 222 Jesus Cristo, Rei do Universo ................................... 225 Principais festas do ano .......................................... 229 25 de Janeiro: Conversão de São Paulo .................... 230 2 de Fevereiro: Apresentação do Senhor .................. 233 19 de Março: São José, esposo da Virgem Maria ..... 236 25 de Março: Anunciação do Senhor ........................ 239 1 de Maio: São José operário .................................... 242 1º Domingo de Maio: Dia da Mãe ............................ 245 Domingo dedicado à Unção dos Enfermos na paróquia. 247 287
30 de Maio: Visitação da Virgem Maria ................... 249 Sagrado Coração de Jesus ......................................... 252 24 de Junho: Nascimento de São João Baptista........ 255 29 de Junho: São Pedro e São Paulo, apóstolos........ 259 25 de Julho: São Tiago, apóstolo .............................. 262 6 de Agosto: Transfiguração do Senhor .................... 265 15 de Agosto: Assunção da Virgem Maria................ 268 8 de Setembro: Nascimento da Virgem Maria .......... 271 14 de Setembro: Exaltação da Santa Cruz ................ 273 15 de Setembro: Nossa Senhora das Dores .............. 276 1 de Novembro: Dia de Todos os Santos .................. 279 8 de Dezembro: Imaculada Conceição .................... 282
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