RICCARDO TONELLI
Para uma pastoral juvenil ao serviço da vida e da esperança Educação à fé e animação
EDIÇÕES SALESIANAS
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FICHA TÉCNICA_ Autor: Riccardo Tonelli Título: Para uma pastoral juvenil ao serviço da vida e da esperança Sub-título: Educação à fé e animação Editor original: LDC Data de concessão de direitos: Tradutor: Rui Alberto Capa e Paginação: Paulo Santos Revisor: José Ferreira Dimensões: 195-145 mm ISBN: Depósito Legal: Impressão e acabamentos: Edições Salesianas Indicações de imposição:
1 cap.
Porquê a pastoral juvenil? Um facto está fora de discussão. Tornou-se um lugar comum, como lamentar-se do calor no Verão ou do frio no Inverno. Não há dúvidas: os jovens de hoje são muito diferentes dos de outrora. E por isso colocam uma quantidade notável de problemas novos. Bem o sabem os educadores. E todos os adultos reconhecem, uns mais, outros menos, ter uma grande responsabilidade educativa. Por vezes, os problemas são bastante preocupantes... até ao ponto de justificar o (péssimo) hábito de considerar os jovens, no seu conjunto, um “problema”. Diante dos problemas, temos todos a vontade de procurar soluções adequadas. Neste livro, eu procuro-as em redor da pastoral juvenil. Algum leitor já está a torcer o nariz... Com tantas coisas sérias e urgentes... não será tempo perdido pôr-se a pensar sobre pastoral juvenil? No fundo, tem medo que o interesse pela pastoral juvenil possa servir para fazer esquecer os problemas inquietantes que atravessam o mundo juvenil. Estas dúvidas não nascem só de quem se interessa pouco por pastoral juvenil por ter pouca simpatia pela experiência cristã. Aparecem também entre cristãos empenhados. Muitos deles pensam que o interesse pela pastoral juvenil era uma coisa de moda há uns quinze anos.
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Uns e outros estão de acordo que, hoje, o problema sério é outro: dar trabalho aos desempregados, sentido a quem tacteia no escuro e se agarra a tudo o que vem à rede, esperança a quem vive na tristeza e precisa de remédios fortes para olhar em frente. Alguém acrescentará, colocando-se numa posição oposta, que as coisas vão mal porque já não há ninguém que diga claramente o que se deve fazer e o que se deve evitar. Até os cristãos mais empenhados se tornaram resignados e têm dificuldades em anunciar fortemente o Evangelho de Jesus. Resumindo: menos projectos... e mais evangelização e catequese! Estou de acordo. Como se poderia discordar destes factos? E, contudo, repito com força a minha convicção: um bom projecto de pastoral juvenil coloca-se, precisamente, na convergência de todas estas preocupações e procura perspectivas e intervenções capazes de lhes responder... Ao menos, habilitando quem nele acredita a procurar soluções, desde que estejam ao alcance das suas competências e responsabilidades. O que é “pastoral juvenil”?
Num tempo como este, não posso começar com as propostas se antes não procuro um mínimo de acordo sobre o sentido do tema que quero estudar. O que é essa estranha realidade que se chama “pastoral juvenil”? Muitas vezes perguntam-me o que faço na minha vida profissional. Quando respondo que me interesso por pastoral juvenil, sou olhado com olhos espantados... “O que é pastoral juvenil?” É fácil dar uma bela definição de pastoral juvenil e dizer ao nosso interlocutor: “É pegar ou largar. Se gostas, muito bem... se não, até à vista!” No final do capítulo direi qual é a minha convicção e quais as
razões pelas quais defendo que diante dos jovens, da sua educação e da sua educação à fé, não se pode ficar a olhar. Lá chegarei, com calma, passo após passo. Educação + evangelização
Todos estão convencidos da importância da educação e quase todos reconhecem a sua força transformadora e, em consequência, a sua capacidade de incidir eficazmente na raiz de muitos dos problemas denunciados. A pastoral juvenil parece-se muito com a educação e dela assume tarefas e perspectivas. Mas não é só educação. Ela quer anunciar que Jesus é o Senhor e que só n’Ele podemos estar plenamente na vida e fundados na esperança. Por isso, nunca se pode contentar em fazer um mero serviço educativo. Mas interroga-se continuamente sobre o significado, a urgência e as razões da evangelização. Se a pastoral juvenil fosse só um bom método educativo não haveria tantas dúvidas sobre a sua importância. Mas se aparece a evangelização ao barulho, logo surge uma pergunta: porquê meter-se a anunciar que Jesus é o Senhor... com todos os problemas sérios que temos? Uma história que dá que pensar
Antes de responder, quero avançar com segurança. É uma pergunta demasiado inquietante para me permitir responder com uma piada ou com citações de documentos. Prefiro um outro caminho. Devolvo a pergunta aos discípulos de Jesus, os da primeira hora. Aquele grupo de gente que encheu o mundo com o Evangelho de Jesus, terminando os seus dias com morte violenta para dar testemunho das suas convicções.
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Que preocupação entregou Jesus aos seus discípulos, quando lhes pediu que percorressem o mundo conhecido para anunciar a boa notícia do Evangelho e da proximidade do reino de Deus? Para responder, gosto de pensar na história de Pedro que cura o coxo na porta Formosa do Templo. Está narrada em Actos 3 e 4. Considero esta história uma referência obrigatória para projectar a evangelização. «Um dia Pedro e João subiram ao Templo para a oração das três da tarde. Como de costume lá estava um homem, coxo desde a nascença. Colocavam-no todos os dias junto da “Porta Formosa” do Templo a pedir esmola. Ele, ao ver Pedro e João que entravam no Templo, pediulhes esmola. Então, Pedro olhou-o e disse: “Olha para nós”. E ele virou para eles o olhara, esperando receber qualquer coisa. Mas Pedro disse: “Não tenho prata nem ouro, mas dou-te aquilo que tenho: em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, levantate e anda!” E, tomando-o pela mão direita, pô-lo de pé. Imediatamente os seus pés e tornozelos se fortaleceram e erguido em cima dos pés caminhava. E entrou com eles no Templo caminhando, saltando e louvando a Deus. Todo o povo o viu caminhar e louvar a Deus e reconheciam que ele era aquele que se sentava a pedir esmola junto à porta Formosa do Templo. E estavam maravilhados com o que tinha sucedido» (Act 3, 1-10). Lido assim, parece o relato de um gesto prodigioso que termina ali mesmo. E, contudo, é importante continuar a leitura do texto. O coxo, curado pelo relato da história de Jesus, grita com tanta alegria que o detêm por desacatos no recinto sagrado do Templo. Quando os sumos sacerdotes vêm a saber que Pedro esteve metido no assunto, interrogam-no para irem à raiz do pro-
blema. E aqui é que vem o bom e o bonito. Pedro diz: “Sabeis porque é que este coxo caminha direito e são? Para que todos saibam que não podemos estar vivos se não naquele Jesus que vós crucificastes e matastes e que o Pai ressuscitou da morte”. Há uma ligação estreita entre a história de Jesus, a cura física do coxo e a vida plena (mesmo contra a morte). Relativamente ao que sabemos da acção de Jesus em favor da vida, Pedro acrescenta qualquer coisa de novo e de inédito. Não só cura, como fez Jesus tantas vezes, mas relata também a história de Jesus. Ao gesto, Pedro acrescenta o relato da sua fé apaixonada no Crucificado ressuscitado. Diz, com força, que só nesta fé (fé que confessa que Jesus vive) é possível ter, plena e definitivamente, a vida. O relato da história de Jesus na confissão de fé dos seus discípulos, o entusiasmo e a fé que suscita naqueles a quem se dirige, dão a plenitude da vida. Há uma ligação estreita entre cura e confissão que Jesus é o Senhor. A cura resolve os problemas físicos. A confissão de fé no Ressuscitado supera as barreiras da morte física e assegura uma plenitude impensável de vida, apesar da morte. Os dois momentos nunca estão desligados. Pelo contrário, chamam um pelo outro. O gesto que devolveu vida às pernas atrofiadas do coxo, dá força e seriedade à proposta de Jesus. A decisão que dá plenamente a vida, oferecida como dom misterioso e acolhida na fé, vai para lá da cura: diz respeito a um jogo de liberdade e de amor. É um sim a um mistério de proximidade. Sem esta decisão de fé no Senhor Jesus não há vida plena; apesar da eventual cura da doença ou da libertação da opressão ficaremos prisioneiros da morte, mais cedo ou mais tarde. Por isso, os discípulos de Jesus vão pelo mundo falando de Jesus e da sua ressurreição. Não o fazem apenas com belas palavras. Falam com os factos mas depois multiplicam as palavras que
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repetem o relato da história de Jesus. A cura do coxo e todos os outros gestos milagrosos que os discípulos realizam, exprimem, simbolicamente, que a história de Jesus, relatada na sua fé apaixonada, é verdadeira e autêntica. Não se limita a falar de vida. Antecipa-a em sinais do dia a dia. O que vale verdadeiramente, aquilo que o relato da história produz mais intensa e misteriosamente (a realidade relativamente ao seu sinal) é, precisamente, a vitória da vida sobre a morte. Evangelizamos para a vida e para a esperança
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O contacto com a experiência de Pedro, relatada nos Actos, levou muitas comunidades eclesiais a reconstruir a razão da evangelização e das outras actividades pastorais que a acompanham em torno da “vida” e da “esperança”, para realizar, nas situações e instituições concretas em que vivemos, aquela plenitude de vida e aquele consolidamento seguro da esperança que é a grande e definitiva razão da existência de Jesus. Tal como Ele o tinha declarado tantas vezes e sem meias tintas (Jo 10, 1-18). Estamos bombardeados por milhares de propostas. Elas dizem sempre respeito ao sentido da vida. Até as coisas e os produtos mais instrumentais (um lenço para assoar o nariz, um shampoo para lavar o cabelo, um automóvel para encurtar distâncias...) são oferecidos na perspectiva do sentido e da qualidade de vida. Chega-se ao ponto de dizer que sem “estas” coisas perdemos o direito à existência e ao reconhecimento dos outros. Mas, ao mesmo tempo, um acordo tácito modera a força de propostas tão pretensiosas. Podemos defender-nos... “mudando de canal”, como fazemos sentados no sofá diante da TV. Cada um tem o direito de dizer o que quiser. A última palavra cabe sempre ao ouvinte.
Estas duas observações põem em crise quem quer anunciar Jesus, o Senhor. Por um lado, só quando a proposta oferecida pela evangelização toca o mundo da subjectividade do ouvinte é que lhe é dada atenção. Estamos hoje numa lógica que só presta atenção ao que for significativo; depois se verá da sua verdade. Este estilo põe em crise as pessoas, como tantos de nós, que estão habituadas a fazer ao contrário: da verdade à sua significatividade. Por outro lado, o poder de decisão está todo na subjectividade do interlocutor. Podemos dizer o que quisermos; mas a escolha de nos levar a sério ou de mudar de canal está toda nas mãos de quem nos escuta. Numa situação assim, temos de reagir. A resignação é esvaziamento da força da evangelização. A resposta, contudo, não pode senão percorrer as mesmas lógicas que fazem nascer o problema. Se não o fizermos, a crise não desaparece nem as suas causas. Daí a exigência de recolocar a evangelização no plano do sentido e de lhe restituir toda a sua força provocatória. Sentido é a razão e o fundamento da nossa existência concreta. É o que nos torna capazes de interpretar os acontecimentos isolados e reconduzi-los à unidade. Procurar o sentido é uma experiência pessoal, ligada à alegria e ao esforço de existir. Em liberdade e responsabilidade. É tensão rumo a alguém ou algo que ofereça boas razões para todas as decisões importantes. Na busca de sentido, a pessoa está disposta a entregar as razões mais profundas da sua fome de vida e de felicidade a alguém fora de si. Pode ainda não o ter encontrado face a face mas reconhece, implicitamente ao menos, que esse alguém é capaz de responder validamente à sua exigência de fundar uma vida de qualidade autêntica. Na aventura do sentido, procurado, esperado,
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experimentado, confiamos no imprevisível, ao ponto de nos confiarmos a um amor absoluto que nos vem do silêncio e do futuro. Uma pastoral juvenil para a vida e para a esperança
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Chegámos a uma primeira conclusão. Diz respeito à evangelização e, claro está, interessa à pastoral juvenil que faz da evangelização uma sua componente fundamental. A conclusão é esta: a evangelização tem que ver com a busca de sentido, de vida e de esperança que atravessa a existência de todas as pessoas. Quando não consegue dialogar com estas expectativas, faz uma triste figura. Parece-se com aqueles programas televisivos que só dão sono e contra os quais reagimos mudando de canal ou começando a ler o jornal. Esta primeira consideração abre as portas a uma segunda, de grande importância. A evangelização e, por consequência, a pastoral juvenil interessam-se decididamente por um problema que é comum a todas as pessoas porque o sentido da vida e da esperança são um tema inquietante para todas as pessoas. A “preocupação” da comunidade eclesial é, pois, a mesma que inquieta qualquer pessoa. Sobre este dramático problema estamos mesmo ao lado de todos. A pastoral juvenil só recusa e contesta quem faz do abuso, da violência, da injustiça... da morte, a razão e o sentido da sua presença (Mc 9, 38-48). Mas tem um dom original e todo especial para oferecer: o “nome” de Jesus, único e definitivo fundamento de salvação, como declara Pedro aos sumos sacerdotes (Actos 4).
Que serviço à vida?
Alguém se pergunta: os jovens serão assim tão especiais para exigir uma pastoral na sua situação concreta? Se pensarmos só nas tradições ou nos recursos de que a comunidade eclesial dispõe, talvez possamos dizer que não são assim tão diferentes dos outros. Mas se entrarmos, com amor lúcido e disponível, no seu mundo, podemos facilmente descobrir o que marca a sua existência e como isto é de tal modo original e inédito que exige projectos e intervenções realmente especiais. Não é difícil enumerar os desafios que o nosso tempo lança àqueles que amam a vida e a desejam plena e abundante para todos. Vivemos, de facto, numa situação em que esta vida está em estado de emergência. Para muitos, torna-se tarefa impossível viver uma vida de acordo com o que o Deus da história projectou para os homens e as mulheres a que Ele chama seus filhos. Muitos superaram a emergência sobre a possibilidade da vida. Mas estão à procura, desesperada ou resignada, de uma qualidade que a torne “vivível”. Sobre todos cai a sombra da morte. A do dia a dia, que nos acompanha como um inimigo invisível, que se infiltra em todo o lado. E também aquela, violenta e conclusiva, que parece queimar qualquer projecto. Não sabemos bem onde radicar a nossa esperança. A fé cristã tem de se confrontar com o problema da vida, com o seu sentido e com a insuperável ameaça à vida que é a morte. Continuar a experiência de Jesus e dos seus discípulos significa, no concreto, anunciar o Evangelho dentro destes problemas. E sempre com a preocupação que este anúncio ressoe verdadeiramente como “bela notícia”. Por isso, são duas as tarefas de um projecto de pastoral juvenil, empenhado pela vida e pela esperança.
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Por um lado, ele preocupa-se em que cresça em cada jovem a busca de razões para viver e para esperar. Aprendemos a viver de braços levantados, na ansiosa busca de dois braços fortes, capazes de agarrar a nossa fome de vida e de felicidade. A comunidade eclesial encoraja esta atitude. Sustenta-a naqueles jovens que espontaneamente a experimentam; desencadeia-a naqueles que vivem encolhendo os ombros (como bons filhos da nossa cultura) e não se colocam o problema do sentido. Por outro lado a comunidade eclesial repensa o Evangelho para lhe devolver a força de salvação “dentro” da vida quotidiana e “para” a vida quotidiana. A primeira tarefa é bastante fácil. Vivemos uma época cultural em que é forte a consciência dos muitos problemas que atravessam a existência. Embora sejam muitos os modos em que se exprime esta dramática emergência. A segunda tarefa é muito mais exigente. Uma longa tradição teológica e pastoral parece, estranhamente, apontar na direcção oposta. Torna-se urgente, para realizar correctamente as tarefas da pastoral juvenil, redescobrir a experiência de Jesus e dos seus discípulos. O anúncio nunca é um jogo vazio de palavras, verificado apenas pela congruência formal entre sujeito e predicado. Os factos são a primeira e mais eloquente palavra. As palavras da verdade interpretam os factos. A comunidade eclesial anuncia Jesus de Nazaré com força e com coragem, fazendo caminhar os coxos e devolvendo vista aos cegos. A comunidade faz um anúncio que é de sentido e de esperança contra a morte. As palavras que diz são a vida que retorna às pernas atrofiadas do paralítico e aos olhos apagados do cego de nascença. Ela recorda que Jesus é o Senhor e que não há nenhum outro nome em que possamos encontrar vida plena. Como? Devolvendo a possibilidade de vida a todos aqueles que dela foram privados.
Fá-lo com competência e seriedade porque é “servidora” da vida. E por isso, torna concreto e diferenciado o seu serviço. Chama pelo nome as diversas situações de morte contra as quais quer lutar e procura um estilo de presença diversificado em relação a estas situações concretas. Por isso “evangeliza”. Diz alto e bom som, com factos e com palavras, que só podemos permanecer na vida e na esperança se aceitarmos entregar a nossa existência ao mistério de Deus no projecto de Jesus. E se nos empenharmos em viver a nossa existência construindo estruturas de serviço na lógica deste mesmo projecto. É certo que o poder de Deus em Jesus vai muito mais longe que a nossa boa vontade e não está limitado pelas fronteiras eclesiais. O amor à vida empurra a comunidade eclesial a alargar progressivamente estas fronteiras, porque quem reconhece o mistério em que está envolvido pode operar mais autenticamente em favor da vida dos outros. Evangeliza não para fazer prosélitos mas para oferecer a razão e a experiência mais forte do dom da vida de que ela é apenas sinal e início. Uma espécie de definição
Para mim, pastoral juvenil é o conjunto das acções que a comunidade eclesial faz, sob a orientação potente do Espírito de Jesus, para dar plenitude de vida e de esperança a todos os jovens. A sua busca de vida e o seu desejo de esperança são a “carne concreta e quotidiana” (quase continuando a experiência de Jesus, Deus connosco na graça da sua humanidade) em que a comunidade eclesial pensa, age, anuncia, celebra e constrói e faz experimentar o amor de Deus por todos e a Sua paixão pela vida de todos. A Igreja põe continuamente uma questão, sobre a qual concentra recursos e esforços: quais são os problemas com os quais
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confrontar hoje o anúncio do Evangelho, para gritar, com a mesma força de Pedro “Jesus Cristo e nenhum outro, pode dar-nos a salvação: de facto não existe outro homem no mundo ao qual Deus tenha dado o poder de nos salvar” (Act 4, 12)? A pastoral é uma só: o serviço à vida em Jesus, o Senhor da vida, o único nome no qual podemos ter vida. Ela diversifica-se nas diferentes realizações pastorais, porque se incarna em situações diversas e concretas. Torna-se pastoral juvenil quando o serviço à vida em Jesus se realiza no mundo dos jovens.
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Termos e expressões a fixar
Educação Esperança Evangelização História de Jesus Morte Pastoral Pastoral juvenil Sentido Significatividade Vida A aprofundar
Como caracterizar a “evangelização” nos dias de hoje? Quais as duas tarefas prioritárias da pastoral juvenil? Na prática da Igreja primitiva, qual a relação entre “gestos” e “palavra”? Porquê uma pastoral especificamente juvenil?
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2 cap.
Para pôr ordem entre tantas propostas Basta olhar à volta com um mínimo de sentido crítico e descobrimos que a concordância entre os que acreditam na pastoral juvenil e se empenham por fazer qualquer coisa nesse campo... não é propriamente idílico. Muitas pessoas na Igreja fazem coisas excelentes pela educação dos jovens à fé e para lhes devolver vida e esperança. Mas os estilos, as escolhas, as perspectivas são muito diversificadas. Com uma palavra complicada pode dizer-se que hoje há pluralismo de modelos. E não se trata de um pluralismo apenas formal (aquele que consiste em usar palavras diferentes para falar da mesma coisa). Na raiz do pluralismo estão escolhas teológicas e antropológicas muito diferentes. Há modos de entender o mistério de Deus e do homem nada homogéneos. Alguém poderia contestar esta afirmação. É fácil olhar apenas para o círculo de amigos e dizer que estão todos mais ou menos de acordo. Mas se alargarmos o olhar, vemos que o acordo depressa desaparece. Outros reconhecem a verdade da afirmação. E propõem explicações fáceis: há pluralismo porque cada um faz o que lhe apetece. Bastaria obedecer a quem tem a tarefa de guiar a Igreja e o pluralismo desapareceria logo. Não me interessa saber quem tem razão. É muito mais sábio
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aprofundar o tema, para perceber as razões profundas da diversidade. E a partir daí, pensar, confrontar, escutar outros pareceres, fazer as escolhas. Neste livro proponho um projecto de pastoral juvenil. Preciso, orgânico e articulado. A minha é uma proposta entre tantas. Não é a melhor nem a pior. Certamente não é a única. Peço ao leitor atento que descubra o que está na sua raiz. Será sobre este fundamento, forte e empenhativo, que poderemos dialogar e justificar, eventualmente, a decisão de partilhar o projecto. É mesmo verdade que há pluralismo?
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Comecei o capítulo com uma afirmação: estamos num tempo de pluralismo. Antes de decidir como reagir a este dado de facto, devemos descobrir qual é a causa que o desencadeia e verificar as eventuais razões que o podem justificar. Se o pluralismo dependesse da má vontade deste ou daquele, bastaria convencê-los. Mas, e se o pluralismo dependesse de outros motivos? Nos primeiros níveis de análise das razões do pluralismo, alguém poderá ter a impressão que o problema é de escolas teológicas e pastorais. Pode-se dizer: eu estudei numa faculdade diferente da tua... e aprendi a ver as coisas de modo diferente. Ancorados em diferentes escolas de pensamento e de projectação pastoral, o confronto dar-se-ia nos autores de referência a citar ou nos fragmentos de documentos magisteriais que se usam. Continuando a reflectir, muitos de nós descobriram que há razões muito mais profundas e sérias. A acção pastoral exprime-se em muitíssimas escolhas práticas. Estas escolhas correspondem às diferentes sensibilidades, às urgências que o contexto lança, à paixão pela causa de Jesus que não se pode reduzir a fórmulas esquemáti-
cas. Este pluralismo operativo é expressão de riqueza. Exprime também a consciência de como é grande o acontecimen-to que queremos servir e de como são pobres e limitadas as nossas modalidades de serviço. Deus e o homem são um mistério tão grande que nenhuma expressão isolada, nem verbal nem de intervenções, é capaz de os entender, descrever ou servir adequadamente. Para comunicar qualquer coisa de Jesus e da sua proposta de salvação, sentimo-nos obrigados a partilhar aquela “Palavra de vida que ouvimos, que vimos com os nossos olhos, que contemplá-mos, que tocámos com as nossas mãos” (1 Jo 1,1). Em última análise, o pluralismo prático faz-nos tocar com as mãos a pobreza das nossas palavras e dos nossos gestos. E obriga-nos a entregar a confiança plena apenas a Deus, que é o mistério grande e inefável, razão e fundamento do nosso viver, do nosso agir e esperar. Confrontando-se com estas razões profundas do pluralismo, alguém concluirá com um solene “bem-vindo pluralismo”; outro, um pouco mais resignado, ficará convencido que não há nada a fazer... a não ser aceitar a realidade das coisas. Não me agradam estas soluções. Nem a primeira nem a segunda. Devo encontrar uma via de saída, capaz de valorizar o pluralismo, de o elaborar em modo sério, de projectar alternativas, sem a pretensão absurda de encontrar uma ilha paradisíaca onde não haja vestígios de pluralismo. Qual? Não se foge ao pluralismo procurando um espaço protegido, onde tudo está ordenado e seguro. Onde há uma resposta pronta para cada incerteza. A única saída é encontrar critérios que nos ajudem a pôr ordem, a julgar e a avaliar. Daqui o meu convite: procuremos juntos os critérios que nos ajudem a pensar o pluralismo. Nestes anos redescobrimos o grande acontecimento que
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Termos a fixar
Animação Educabilidade da fé Modelos operativos Instrumentos Verificação Quotidiano
A aprofundar
Em que sentido se diz que é possível uma educabilidade indirecta da fé? O que distingue a animação dos outros modelos educativos? O projecto pastoral em que estás inserido está mais atento à “situação” ou ao “dever ser”?
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