Rui Alberto :: Valerio Bocci
Professar a Fé Geração 2.0 à descoberta do Credo
Guia do catequista
Edições Salesianas
Outros materiais para a catequese: Os mistérios da fé. Evangelização familiar. Teresa Power Na força do Espírito. Curso de preparação para o Crisma. Rui Alberto
Manual do candidato
Guia do catequista
CD de apoio
DVD de apoio
Projecto GPS. Catequese para jovens. Equipa GPS
Ficha técnica © 2012. Rui Alberto, Valerio Bocci © 2012. Edições Salesianas Rua Dr. Alves da Veiga, 124 Apartado 5218 | 4022-001 Porto Tel. 225 365 750 | Fax: 225 365 800 edisal@edisal.salesianos.pt www.edisal.salesianos.pt Paginação: rAP Capa: Paulo Santos ISBN: 978-972-690-700-8 D.L.: 348265/12 Impressão: Edições Salesianas
Para o catequista
Apresentação Bem vind@ a este projecto de catequese 2.0. Interessas-te por comunicar a fé que Jesus nos deixou às novas gerações? Sentes-te disponível para tentar novas maneiras de fazer catequese? Que permitam aos mais novos descobrir a beleza de acreditar e amar no Deus de Jesus Cristo? Então este livro é para ti. Este livro é o guia do catequista para o projecto “Professar a Fé 2.0”. A partir da experiência internacional que os salesianos têm, oferecemos um material catequético inovador. Ao longo das últimas décadas, os salesianos de todos os continentes têm feito um grande esforço para encontrar novos caminhos para evangelizar as novas gerações. A nossa esperança e o nosso desejo é que possa ajudar os catequistas que preparam os pré-adolescentes que querem fazer a sua profissão de fé. Estamos convencidos que só uma fé interiorizada e sincera pode dar às pessoas uma vida de alta qualidade. Estamos convencidos que só um respeito profundo pelos modos de ser, de sentir e de aprender das novas gerações permite fazer uma catequese eficaz, capaz de resultados. Apostados em respeitar essa dupla fidelidade (à mensagem evangélica e à condição dos nossos pré-adolescentes) metemo-nos à aventura de pensar, testar e partilhar este material catequético para os pré-adolescentes deste início do século XXI. Este guia está dividido em duas partes. Na primeira parte temos um conjunto de textos para perceber melhor o mundo dos pré-adolescentes e as exigências que ele põe a uma catequese de qualidade. Explicamos o nosso projecto e damos pistas para o implementar facilmente. Na segunda parte damos aos catequistas as indicações sobre a forma de preparar e conduzir cada uma das catequeses. Que o Senhor da vida abundante e da luz verdadeira te possa abençoar e acompanhar ao longo do teu serviço como catequista. Rui Alberto
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Para o catequista
1. Um novo “catecismo”? Porquê e para quê? Tempos novos pedem novas formas de evangelizar. Vivemos num mundo onde as mudanças, especialmente no modo como comunicamos, têm sido imensas. Passámos do homo sapiens (todo papel e caneta) ao homo zapiens (homem que faz zapping, sempre com o telecomando na mão). E agora chegámos ao homo 2.0 (todo Web e touch screen).
1.1 Admirável mundo novo A sigla “2.0” designa os actuais fenómenos da comunicação onde é muito fácil a comunicação entre todos os utentes da Web. Antes líamos notícias num jornal ou num livro. No início da internet, líamos os mesmos conteúdos numa página Web. Hoje podemos comentar esses conteúdos, ligá-los à nossa conta de Facebook, enviá-los aos amigos. Antes o mundo dos livros era diferente da rádio e da televisão; hoje, tudo se mistura. Antes sentávamo-nos numa biblioteca ou num lugar recatado da casa para ler concentradamente um livro. Hoje lemos um livro num leitor móvel, enquanto estamos no autocarro; e, ao mesmo tempo, actualizamos a nossa conta de Facebook, vemos o correio no telemóvel e escutamos as nossas músicas favoritas em MP3. Claro que é estranho estar a jantar à mesa com a família e não nos podermos olhar olhos nos olhos: cada um está com os olhos no seu telemóvel. Em tempos que já lá vão, as famílias juntavam-se à mesa com solenidade. As refeições eram mais do que comida: eram uma ocasião de comunicarmos uns com os outros, de criar laços. Depois veio a televisão para a sala de estar e depois para a cozinha. Mas nessa altura olhávamos todos para a mesma imagem: olhávamos juntos. Emocionámo-nos juntos com a vitória do Carlos Lopes na maratona de 1984, com a queda do muro de Berlim, com o chinês que desafiou sozinho os tanques em Tianamen. Mas esse tempo já passou. Para o melhor e para o pior. E a Igreja está consciente destes desafios. Diz Bento XVI: “As novas tecnologias não mudam só o modo de comunicar mas estão a produzir uma vasta transformação cultural”. E foi sem surpresa que ele inaugurou o site news.va lançando ele mesmo o primeiro tweet. Crescem, um pouco por todo o lado, os sites, os blogues, os vídeos no youtube, de paróquias, de dioceses, de catequistas e de grupos.
1.2 Catequistas à espera do pronto-socorro Diante deste mundo novo, nós sentimo-nos como um carro avariado, à beira da estrada, à espera que o reboque do pronto-socorro apareça e nos ajude a sair daqui. No campo da catequese a adesão aos novos meios ainda é muito débil. Há preconceitos, falta de preparação, falta de recursos. É verdade que há muitos catequistas que se movem muito bem neste mundo novo digital. Mas os processos de catequese ainda funcionam na lógica do papel e caneta. No século XX falava-se da difícil passagem da galáxia Gutenberg (a imprensa, o catecismo tradicional…) para a galáxia Marconi (das telecomunicações, da televisão, da imagem…). E este século XXI trouxe a galáxia 2.0, este mundo novo de tecnologia, comunicação, interacção. E a geração que hoje está nos nossos grupos de catequese é “nativa digital”. Nasceu e cresceu rodeada de todos estes aparelhos. O seu modo de pensar, de sentir, de existir é todo digital, interactivo. É uma geração que já não sabe ler um livro do início ao fim; prefere consultar um site e ir clicando nos links, saltando de página em página. É uma geração hipertextual. É uma geração multimédia, que gosta de misturar texto, som, música, vídeo. É uma geração sem paciência para powerpoints que são apenas textos projectados num ecrã. É uma geração que se sente bem na rede do Facebook. Pelo menos, por enquanto, até chegar um novo produto, mais capaz de dar resposta aos seus desejos de comunicação viva. Neste mundo… que podem fazer os pobres catequistas, quando tentam motivar a seguir uns catecismos pensados antes da queda do muro de Berlim? A boa vontade e o entusiasmo apostólico não chegam para fazer passar a mensagem. Um catequista não pode limitar‑se a comunicar o Evangelho só com palavras escritas, lidas, ditas. As crianças e os jovens 2.0 “vídeo-pc-telemóvel-dependentes” precisam de imagens e de sons para serem “acordados”. Se não falarmos a linguagem deles, o Evangelho torna-se como a água que passa sobre a pedra: molha a superfície mas não entra no seu interior, não os muda realmente. Os diagnósticos sobre o relativo fracasso da catequese que temos tido estão feitos: 4
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YY Deficiente integração entre vida e fé num contexto comunitário, quase sempre pobre de experiências significativas; YY Incapacidade de acolher o novo modelo de pessoa criado pela sociedade 2.0; YY Dificuldade em falarmos uma língua comum. Mas está na hora de largar as fórmulas velhas e procurar caminhos novos que funcionem. Há algumas pistas que nos entusiasmam: YY Comunicar a mensagem de fé com uma linguagem mais à medida das crianças e jovens de hoje; YY Uma abertura inteligente às “novas linguagens”; YY Uma melhor valorização da palavra escrita para uma melhor verbalização e transmissão; YY A criação de ambientes ricos de propostas e de testemunhos pessoais.
1.3 Para uma catequese comunic-activa Para criarmos na catequese um ambiente rico de relações e de comunicação, que favoreça o salto da informação à experiência, precisamos de encontrar as linguagens adequadas e acessíveis aos destinatários. Os pré-adolescentes, a quem se destina este material, são frios em relação aos discursos doutrinais, moralistas e excessivamente palavrosos que os catecismos habituais propõem. Por isso avançamos com uma proposta que apresenta a mensagem de ontem (e de sempre) com a sensibilidade educativa e comunicativa de hoje. Para a actual geração 2.0, o “ontem” representa um tabu. Eles estão fortemente enraizados no “aqui e no agora”; qualquer conversa sobre o “ontem” soa-lhes estranho, sem sentido. Mas nós, catequistas, sabemos que a experiência e as propostas de Jesus de Nazaré são as únicas que podem dar esperança e beleza à nossa vida. Como comunicar essa mensagem hoje? Um modo para comunicar essa mensagem que vem de Jesus é usarmos uma linguagem que os jovens de hoje entendam. O “como” é essencial para transmitir o “quê” (os conteúdos da fé). O modelo tradicional de catequese tinha: YY uma mensagem – a Verdade da experiência cristã; YY um emissor – A Igreja que comunicava através dos catequistas; YY um código – Eram as palavras da catequese e a vida testemunhada pelos catequistas; YY um contexto – A cultura social, eclesial e familiar tradicionais; YY um destinatário – os catequizandos, normalmente as crianças. Um pouco por todo o lado vão aparecendo algumas boas práticas que permitem pensar um modelo novo de catequese: YY A Igreja (os catequistas como emissores), YY à escuta da cultura 2.0 (contexto), YY em interacção com os pré-adolescentes (ao mesmo tempo, receptores e emissores), YY reformula o processo comunicativo do anúncio evangélico (mensagem), YY através do código mais adaptado à capacidade de recepção dos destinatários, YY recriando um contexto rico de propostas dentro da comunidade e em ligação com as outras agências educativas (família, escola, grupo, mass media…). Esta linguagem parece complicada. Mas não nos assustemos. Há algumas mudanças a fazer. Antes nós comunicávamos para os catequizandos; agora propomo-nos comunicar com eles. É a isso que chamamos uma catequese comunic-activa. Este neologismo é a mistura de comunicação+activa. Procuramos uma comunicação que não seja só racionalidade e conhecimento mas que envolva toda a pessoa do catequizando. E essa pessoa vive num mundo de interacção multimédia. Por isso, propomos, neste projecto, o hipertexto em papel. 5
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Hoje, o livro em papel é o meio normal de fazer catequese. Amanhã, quando os tablets entrarem nos bancos da escola e na catequese, teremos o hipertexto online ao alcance de um dedo… mas enquanto não chegamos lá, podemos trazer para o papel a lógica do digital. Porquê o hipertexto em papel? Porque acreditamos que é possível trazer para o papel o melhor do mundo digital: o seu dinamismo.
2. Fazer catequese, aqui e agora Antes de apresentarmos em mais detalhe a nossa proposta, convém olharmos à nossa volta e percebermos o mundo que nos rodeia e que molda os nossos catequizandos. É um olhar rigoroso, científico sem ser demasiado especializado. Mas é um olhar que nasce da fé: tentamos olhar para este mundo de hoje com a benevolência que vem de Deus. Em que ambiente vivem os pré-adolescentes que nos chegam à catequese? Qualquer tentativa de renovação da catequese tem que começar por um acto de humildade: pormo-nos à escuta do mundo onde vivem aqueles a quem fomos chamados a anunciar o Evangelho. Conhecer e compreender é sempre o primeiro passo.
2.1 O ar que se respira 2.1.1 Um mundo pós-moderno Quer queiramos, quer não, as ideias dominantes nas nossas sociedades nos últimos quinhentos anos estão em crise. Andámos durante séculos a acreditar que: YY A ciência e a racionalidade iriam consertar tudo; YY A história segue o caminho do progresso. Hoje vivemos melhor do que ontem e amanhã será ainda melhor; YY A democracia liberal é a solução para todos os problemas. Na realidade, a ciência e a tecnologia estão desenvolvidas como nunca. Mas nem por isso as pessoas são mais “inteligentes”, têm mais sentido crítico, tomam as suas decisões com racionalidade. Hoje, mais do que no passado, as pessoas, os grupos e as sociedades funcionam a partir das emoções e dos preconceitos. A razão influencia a vida muito menos do que deveria. E um bom sintoma disso é que seja um intelectual como o Papa Bento XVI um dos poucos, no Ocidente, a defender a dignidade da razão. A história não segue um caminho de progresso. Os erros repetem-se. E para muita gente (principalmente entre os mais novos) desaparece a esperança num futuro melhor.
2.1.2 Uma estranha religião É um lugar comum dizer que a religião está em crise. De facto, em muitos países europeus, pouco se nota na vida das pessoas a presença da Igreja e da fé. Em Portugal, os níveis de adesão à Igreja católica foram caindo desde os anos 60 mas estão bastante estáveis desde meados dos anos 90. Mas entre as novas gerações e entre as mulheres eles tendem a baixar muito. Alguns explicam isto dizendo que com a modernidade, a religião fica em crise e tende a acabar. Os factos são bem dife rentes. A Igreja e a adesão à fé continuam fortes. E vão aparecendo novas formas de religiosidade: a astrologia, as bruxas, o culto do corpo, o mito da auto-ajuda. Muitas pessoas não aderem à fé cristã mas também não acham que a ciência e a tecnologia resolva os seus problemas; vão inventando a sua própria religião.
2.1.3 Um mundo de comunicação Vivemos num mundo dominado pela imagem. Há canais de televisão para todos os gostos: para as crianças, para os bebés, para as mulheres, para os adeptos de ficção científica, para os que gostam de romances… Os ecrãs tornaram-se cada vez maiores e mais sofisticados. Há poucos anos, um telemóvel servia só para fazer chamadas telefónicas; hoje, boa parte dos modelos funciona como uma câmara de vídeo de alta definição. E todos estes conteúdos podem ser consumidos em qualquer lado. Antes, era preciso chegar a casa, sentar-se no sofá e ligar o televisor. Hoje acede-se aos filmes, aos telejornais, aos programas de fofoca… no computador do emprego, no telemóvel.... E as estações do Metro e os autocarros já têm televisão em directo. 6
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2.1.3.1 Um mundo 2.0 Todo o século XX foi dominado pela força da informação e da comunicação. O que é novo neste início de século XXI é a “rede”. Toda a gente (não apenas os jornalistas e as grandes estações de televisão) produz mensagens. Os SMS, os vídeos, as fotos, que cada um produz podem dar a volta ao mundo. Através dos telemóveis, dos tablets, dos computadores… as pessoas e as organizações estão (ou podem estar) ligadas em rede, umas com as outras. 2.1.3.2 Um mundo de sons Os anos 80 trouxeram-nos o walkman, o leitor da cassete portátil. E desde aí habituamo-nos a ver jovens e menos jovens a andar pela rua com os auscultadores na cabeça. A divulgação do formato MP3 aumentou essa tendência. Há música e som em todo o lado. E há também, uma certa alergia ao silêncio. 2.1.3.3 O salto para o multimédia O multimédia é uma das maiores revoluções tecnológicas que o mundo já viu. Mas num certo sentido, não é novi dade nenhuma. O nosso ADN é multimédia: nós comunicamos por gestos, por mímica facial, pela entoação da voz… Cada encontro entre duas pessoas é sempre multimédia. A pastoral da Igreja sempre procurou comunicar conteúdos e emoções recorrendo a várias formas expressivas combinadas. A liturgia sempre combinou ouvido e vista. No final dos anos 80, os computadores pessoais começaram a ser capazes de gerir em simultâneo vários códigos: texto, música, imagem, vídeo… Mas até ao início deste século toda essa informação multimédia estava fisicamente num suporte: um disco duro, um CD-ROM. Com o advento da internet, todo esse potencial multimédia tornou-se “imaterial”, virtual. Já não é preciso carregar às costas uma tonelada de dvds: basta ligarmo-nos à rede e temos acesso quase instantâneo a todos os nossos arquivos. 2.1.3.4 A interactividade A segunda característica dos novos meios de comunicação é a interactividade. Significa que agora é possível um diálogo bilateral entre a pessoa e a máquina e entre pessoa e pessoa. Podemos ver um filme, de forma passiva, como temos feito nos últimos 100 anos. Mas agora podemos comentar o filme, dialogar com quem viu o filme, copiar uma parte desse filme. Podemos estar a jogar um jogo lado a lado com um parceiro que está em Hong-Kong. O nosso amigo pode estar na praia e colocar uma fotografia sua, que nós, no mesmo instante podemos reenviar ao resto do grupo. 2.1.3.5 Da comunicação ao isolamento Apesar de todos estes progressos tecnológicos, há nas famílias e na sociedade uma grave crise de incomunicabilidade. As pessoas sentem-se isoladas, não conseguem uma comunicação satisfatória com os outros. Dizemos que estamos na sociedade da comunicação e da informação; mas a nossa sociedade parece uma Babel onde se falam milhares de línguas e onde ninguém se entende. Claro que nas nossas famílias se fala português e todos entendem o vocabulário usado. Mas trocamos palavras sem nos encontrarmos. Não entendemos o que está realmente por detrás das palavras que o outro me diz.
2.2 Pré-adolescência: a terra do meio Depois de termos visto o mundo que nos rodeia, chega a hora de nos perguntarmos: quem são mesmo estes pré‑adolescentes com quem fazemos catequese?
2.2.1 Uma ponte entre a infância e a adolescência Há muita gente que não reconhece a pré-adolescência como um tempo próprio. É assim como uma terra de ninguém, entre a infância e a adolescência. Umas vezes eles são vistos como umas crianças grandes e outras como uns adolescentes infantis.
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Tradicionalmente considerava-se que a adolescência começava com a puberdade. A puberdade é o processo de transformação física, com a maturação sexual e o aparecimento dos caracteres sexuais secundários. Estas mudanças não são apenas sexuais; afectam toda a estrutura óssea e muscular. Daí para a frente era-se adolescente e antes era-se criança. Isso esquece que a puberdade não é um acontecimento isolado; é um processo que leva o seu tempo. Mas além disso, os investigadores mais atentos descobriram que, independentemente da puberdade (e antes até da puberdade), há uma série de processos e experiências que afectam as pessoas entre os 10-11 e os 13-14 anos que os tornam diferentes das crianças e dos adolescentes. A esse tempo começou-se a chamar pré-adolescência. É inegável que a puberdade é um grande acontecimento na vida das pessoas. Mas a vida é muito mais do que alterações físicas. Mesmo antes da puberdade, acontecem alterações na vida dos catequizandos que os tornam muito diferentes das crianças. Há cada vez mais evidência que a pré-adolescência é uma idade onde aparecem interesses, recursos e dinamismos próprios, novos em relação ao mundo da infância e distintos em relação à adolescência. 2.2.1.1 Novos interesses Ao longo da pré-adolescência mudam os interesses: alguns aumentam, outros diminuem. E à medida que a idade cresce, eles mesmos se vão dando conta da sua própria mudança. Para os mais novos (10-11 anos) “jogar” e “divertir-se” capta boa parte da atenção; mais dos rapazes do que das raparigas. Aos 14 anos é muito mais interessante “estar com os amigos”. O início da pré-adolescência é dominado pela necessidade de jogo e de movimento; a sabedoria popular diz que os “miúdos” destas idades têm “bicho-carpinteiro”. Não é uma questão de mau comportamento: é apenas a vida que cresce e que se manifesta, no início da pré-adolescência, como um prazer intenso pelo movimento e pelo jogo. Com o passar dos anos, o foco desta vida em crescimento explosivo deixa de se centrar no movimento e no jogo e passa a ser mais “social”. Quer eles quer elas (mas mais elas) começam a cultivar relações com os colegas da mesma idade. Os amigos, ao contrário dos adultos, permitem contrariar a ansiedade e a incerteza. Com o amigo é possível exprimir-se; ele é um companheiro que experimenta as mesmas realidades. O tempo livre é o tempo principal da vida. Porque é o tempo em que estes novos interesses podem ser explorados com mais liberdade e intensidade. 2.2.1.2 As novas vivências A criança viveu uma vida quase exterior a si mesma, com um “eu” virado para os outros, em processos de identificação constantes e inconscientes. Agora, começa a virar-se para si mesmo. Começa a prestar mais atenção ao que acontece consigo. Não estamos ainda na adolescência, com a sua capacidade de reflexão e com a sua autonomia. Mas a pré-adolescência é o tempo em que se lançam os alicerces da autonomia e da identidade. 2.2.1.3 O corpo entre novidade e mal-estar O pré-adolescente percebe as transformações que acontecem no seu corpo e está atento (às vezes, ansioso) ao que se passa consigo. O crescimento em altura, o aumento de peso, a maior consistência da força muscular, modificam a imagem de si e o modo com que percebe os outros. A puberdade, com as suas modificações físicas, não é o específico da pré-adolescência mas é um fenómeno importante que determina muitas escolhas e muitos comportamentos. Apesar de ter acesso a muitas informações sobre o que se passa, ele sente a puberdade como algo misterioso. Diante dos adultos retrai-se e evita falar sobre o que se passa; sente-se mais à vontade com os colegas. A percepção e a atenção ao próprio corpo são vividas de modo diferente pelos dois sexos. Elas estão mais atentas e mais cedo do que eles. O que é normal, já que elas têm um desenvolvimento mais precoce (em média de 1 a 2 anos).
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2.2.1.4 O fascínio pelo outro sexo Os pré-adolescentes valorizam positivamente que rapazes e raparigas andem juntos. De algum modo, eles e elas sentem que a integração com o outro sexo é um clima favorável para o seu crescimento completo. Este fascínio é mais emotivo do que funcional. É “bom” rapazes e raparigas estarem juntos não tanto para fazer coisas ou para desenvolver actividades (mesmo quando os adultos o desejam) mas para “estar” juntos, em companhia, a passar juntos o tempo. 2.2.1.5 À procura de alguma autonomia Os pré-adolescentes são cada vez mais exigentes na busca de “espaços de autonomia”, sobretudo em relação aos pais, na gestão do tempo, na escolha dos amigos, no exprimir as opiniões (mesmo quando sabem que não são capazes de as justificar). De uma integração quase perfeita no início da pré-adolescência, vai-se passando a um progressivo afastamento da família. Aparecem pequenos conflitos com os pais. Querem acima de tudo conquistar o seu espaço. 2.2.1.6 Uma porta para o futuro O pré-adolescente sente que começa a ter possibilidade de projectar o seu futuro. O que o deixa entusiasmado. E começa a elaborar sonhos irrealistas. Tem a vontade de pensar o futuro mas não sabe ainda articular os desejos, as possibilidades, lidar com as dificuldades.
2.3 As estações de serviço Os pré-adolescentes não vivem isolados no mundo. Quem está com eles? Quem os educa a crescer? Tão importantes como as mudanças físicas provocadas pela puberdade são as mudanças “sociais” que a relação com os outros traz. Que outros são esses? Para muitos “miúdos”, a entrada na pré-adolescência coincide com a passagem, na escola, do 1º para o 2º ciclo. Saem de uma escola pequena, com um/a professor/a só, que funcionava quase como um pai ou uma mãe, e entram numa escola maior, de “gente grande” com muitos professores.
2.3.1 Socializar Como é que cada um de nós aprende a viver em grupo, em sociedade, com os outros? Através da socialização, o conjunto dos processos que molda a nossa identidade de acordo com os valores, as regras da sociedade. Se não houvesse socialização, a sociedade desaparecia: cada um seguia as suas regras, cada um falava a sua linguagem. Deixava de haver um “nós” e ficávamos reduzidos a uma soma de indivíduos isolados, incapazes de comunicar, de se porem de acordo para fazer as coisas mais simples. Nos primeiros anos de vida, a socialização (dita “primária”) acontece dentro da família. Mais tarde, acontece uma socialização “secundária” que permite a interiorização das regras de situações sociais específicas, como o mundo da escola, do trabalho, das relações sociais. 2.3.1.1 Na fronteira A pré-adolescência distingue-se por ser a idade da transição entre a socialização primária (feita em “casa”) e a socialização secundária (feita em espaços mais “públicos”). Esta fase vai enfrentar desafios, motivações e interesses novos, mais alargados do que aqueles que marcaram a infância. Esta transição entre o mundo da “casa” e o mundo da “cidade” sempre foi difícil. O mundo “exterior” é muito menos acolhedor do que o lar. Mas hoje há uma dificuldade acrescida. A sociedade em que o pré-adolescente deve entrar está cada vez mais confusa, mais cheia de contradições. O pré-adolescente, além de ter de entrar num mundo com novas regras, tem de o fazer numa sociedade onde essas regras não são claras. Cada instituição da sociedade funciona segundo as suas próprias regras, a sua lógica. Além disso, muitas dessas instituições sociais não estão atentas, preparadas ou motivadas para acolher os pré-adolescentes que, com dificuldade, tentam entrar.
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2.3.1.2 A insegurança das famílias Tradicionalmente, a família assegurava a socialização primária. Mas também acompanhava o pré-adolescente no seu esforço de entrar na sociedade. Transmitia-lhe valores, regras de conduta; recomendava um estilo a adoptar em sociedade. Com as mudanças das últimas décadas, a família “esqueceu-se” desse papel, virou-se mais para dentro de si mesma. E deixou os pré-adolescentes muito vulneráveis, à hora de entrar na sociedade mais ampla. Os pais têm muita dificuldade em perceber os pedidos e necessidades dos filhos. Os pais acabam por ser apenas fornecedores de afectos e financiadores dos consumos dos filhos. Muitas famílias já não sabem dialogar sobre as questões importantes da vida e tornam-se incapazes de apoiar o desejo de maior autonomia dos filhos pré-adolescentes. 2.3.1.3 Uma escola sem rumo Nos últimos anos, uma boa parte das “guerras” que tem havido em Portugal, aconteceram na escola. Porque, como sociedade, não estamos de acordo sobre o que deve ser a escola. E os pré-adolescentes sentem esse desnorte. Eles aceitam sem grande problema que a escola serve para conviver e para aprender. Mas vivem a escola de forma cada vez mais individualista. Diminui, na escola, a interacção entre os colegas da mesma idade. Os “amigos” são procurados fora do contexto escola. As actividades interessantes de fazer são oferecidas fora da escola. A este individualismo soma-se uma certa passividade: aceita-se a escola, assim como é. Está-se na escola numa atitude de espera passiva, sem querer gerir na primeira pessoa as tensões da mudança. 2.3.1.4 O grupo dos pares Os especialistas chamam “grupo de pares” àqueles grupos, muito informais, que se criam entre “miúdos” da mesma idade. É nestes grupos, de gente da mesma idade, que se faz a verdadeira aprendizagem social dos pré-adolescentes. Os comportamentos, as regras, os padrões de consumo, são estabelecidos nas interacções que acontecem dentro destes grupos. É dentro destes grupos que eles aprendem a estar socialmente, encontram confirmação (ou recusa) para os seus modelos de comportamento e encontram segurança. Estes grupos espontâneos orientam-se mais para o “fazer juntos” do que para o “estar juntos” (o que mudará na adolescência). Estas actividades podem ser desportivas, de formação (e aqui aparece a catequese), expressivas, culturais. Mas, apesar do peso do grupo, cada um continua muito autocentrado: o grupo e as actividades valem na medida em que suportam os interesses pessoais de crescimento, de reconhecimento e de segurança. Não se pode esperar destes grupos grandes inovações nem contestação. Pelo contrário, estes grupos servem mais para a adaptação passiva e a legitimação dos comportamentos consumísticos de moda, impostos do exterior. 2.3.1.5 Os mass media Os grandes meios de comunicação, especialmente a televisão, são a verdadeira “escolaridade obrigatória”. Quando, ao longo do século XX, os governos foram decretando a escolaridade obrigatória queriam construir uma sociedade mais preparada, mais coesa. Essa função de coesão é hoje mais assegurada pelos media do que pela escola clássica. A TV oferece aos pré-adolescentes modelos de identificação e regras de conduta. Principalmente tirados do mundo do desporto e da música. Mas a aprendizagem que se consegue é, essencialmente, passiva. A resposta pedida aos pré-adolescentes é a imitação e o consumo. 2.3.1.6 A paróquia A maior parte das nossas paróquias tem uma catequese razoavelmente organizada. Muitas têm um agrupamento de escuteiro, um grupo de acólitos mais novos. Quase sempre há uma missa da catequese, onde a linguagem, o “modo de fazer” está mais adaptado às novas gerações. Mas estas ofertas não são de agora. E a qualidade da oferta deixa muito a desejar em relação à sensibilidade, aos gostos, da actual geração. A Igreja é sentida como uma instituição algo distante da vida dos pré-adolescentes.
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2.3.2 Numa sociedade complexa e fragmentada Na prática, os pré-adolescentes estão a ser formatados da mesma forma que o resto da sociedade. Os sistemas de significado (as regras com que se joga a vida) aumentam de número, tornam-se relativos e fragmentam-se. Aparecem identidades débeis porque essa é a única forma viável de lidar com a complexidade. Vive-se no e para o presente. O consumismo (de bens e de tempo livre) é quase um dogma. Diminui a vontade de crescer e de melhorar. Todas estas tendências (que afectam também os adultos) tornam a vida do pré-adolescente vazia, abandonada, marcada pela solidão. E isto é dramático pois acontece numa fase da vida onde os pré-adolescentes “pedem” pistas para onde canalizar a sua vontade de vida e de crescimento. Isto leva a identidades imperfeitas (no sentido de “inacabadas” como as do mosteiro da Batalha). Só se consegue construir uma identidade saudável na interacção com os outros significativos. Quando essa interacção não acontece, a tarefa de construir a identidade fica incompleta. Esta “im-perfeição”, esta identidade inacabada, afecta toda a vida do pré-adolescente: as suas emoções, a sua postura na escola, na família, a forma como usa os seus tempos livres, os seus valores, a forma como pratica desporto… e também a maneira como acolhe as propostas de fé. 2.3.2.1 Por hipossocialização Pode-se chegar a esta identidade sempre adiada tendo uma socialização muito frágil. “Hipossocialização” significa “baixa socialização”. O pré-adolescente faz uma interiorização da cultura social muito carente. Não tem com quem interagir para aprender a “ser gente”. Isso deixa-o indefeso diante das realidades que o rodeiam. O pré-adolescente hipossocializado não tem os instrumentos adequados para o seu crescimento pessoal e social. A relação com os outros é vivida com grande ansiedade. Não sabe como comportar-se, não sabe como ganhar a aprovação dos outros, não sabe o que fazer ou a quem se dirigir para realizar os seus desejos mais profundos de crescimento. Só encontra abrigo no gregarismo, no juntar-se à manada e imitá-la (Maria vai com as outras). Ele não sabe como expri mir os seus desejos de forma socialmente aceitável. As suas atitudes estão marcadas pela incoerência: ele bem se esforça por não destoar mas apesar de todos os seus esforços, acaba por ter comportamentos que nós, de fora, percebemos como incoerentes entre si. Isto leva a uma grande frustração. Que pode crescer ao ponto de optar pelo cinismo. Esta baixa socialização leva, quase sempre, ao isolamento, à recusa dos outros, à fuga (tenha ela a forma que tiver). 2.3.2.2 Por hipersocialização A experiência oposta é a hipersocialização, ou socialização excessiva. É a tendência a aderir de corpo e alma a todas as propostas que lhes são feitas e que lhes dão uma sensação de segurança. Claro que, associado a isto, está a incapacidade de aceitar o pluralismo e um grau elevado de conformismo e ausência de sentido crítico. O pré-adolescente hipersocializado está sempre à procura de consenso, de alguém que confirme a sua opinião. A sua identidade está sempre na dependência das reacções dos outros. O que limita a sua capacidade de autonomia. A sua personalidade é como um espelho que mais não faz do que reflectir, imitar, o que os outros fazem. Este pré‑adolescente procura os outros como conforto, como apoio contra os medos. Normalmente, isto leva-o a procurar grupos “fortes”, com líderes fortes cujas opiniões não se discutem. A diferença provoca reacções de agressividade e medo. 2.3.2.3 Uma escolha difícil A experiência social da pré-adolescência aparece como experiência de ausência e desenraizamento. Tentemos colocar‑nos no lugar de um pré-adolescente: enfrentamos o vazio produzido pela falência das agências de socialização e educação (ver o artigo anterior), não sabemos comunicar com a sociedade e com o mundo dos adultos, somos pressionados a olhar apenas para o presente… que podemos fazer? Parece que a única alternativa seja virarmo-nos para dentro, consumindo o que nos é oferecido. Consumindo o que a indústria nos impõe para substituir aquilo que realmente desejamos.
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2.4 A vida religiosa dos pré-adolescentes Entre os especialistas não há grande consenso sobre qual é a vivência de fé dos pré-adolescentes. E, muito menos, sobre o que se deve fazer para a melhorar. Sabemos que todos os processos que vimos antes afectam a vida deles. E também a sua vivência da fé.
2.4.1 Mudanças discretas Eles comportam-se como se ainda aderissem à religião. Mas são mais praticantes dos que crentes. São ainda capazes de gestos formalmente religiosos mesmo quando não há no seu interior uma fé real por detrás dos gestos religiosos que fazem. A pouco e pouco, com o passar dos anos vai-se esboroando a religiosidade adquirida durante a infância. Isto manifesta-se como um progressivo “tomar as distâncias” da prática religiosa. Eles sentem que há algo a mudar dentro de si. Não mudam de comportamento (religioso) de um dia para o outro. Mas as razões que os levaram na infância a uma fé intensa e sincera (imitação dos adultos e forte afectividade diante do mistério de Deus) parecem já não ser válidas. Se a pressão social, as expectativas que os adultos têm sobre eles, for forte, eles continuarão (durante algum tempo, pelo menos) a “manter as aparências”. Se a pressão social (vinda dos pais, da família, alargada, dos colegas) for no sentido de abandonar a fé, o abandono das práticas será mais rápido.
2.4.2 Uma religião mais pessoal Ao mesmo tempo (mas com muitas hesitações) vai-se dando um lento processo de subjectivização. O pré-adolescente começa a “exigir” que as suas vivências (também as da fé) sejam dele, correspondam aos seus interesses (e não aos interesses dos adultos). Nesta atitude mais subjectiva têm um certo peso as componentes afectivas e relacionais. Começa a haver uma apropriação da religiosidade. Mas as razões para isso são bastante “egoístas”: porque me faz sentir bem, porque preciso… Tentar convencer um pré-adolescente com argumentos do género “porque sim”, ou por raciocínios lógicos não vai produzir muitos resultados. Ao mesmo tempo, muitos pré-adolescentes que a experiência religiosa é algo de muito marginal para as tarefas de crescimento que eles têm em mãos. Se a religiosidade for apresentada como algo pouco significativo, pouco capaz de lhes dar resposta às perguntas de vida que os inquietam, a resposta natural é o afastamento.
2.4.3 As mudanças: na vida e na fé Quais as direcções em que vai a mudança religiosa dos pré-adolescentes? Deus passa de um Deus-Pai a um Deus-amigo. Da relação de dependência e submissão (ainda que confiada) da infância evolui-se para a procura de “companhia”. Pelo menos numa fase inicial, os pré-adolescentes manifestam uma grande disponibilidade para procurar um Deus diferente em relação àquele que aceitaram pacificamente durante a infância. Principalmente se esse Deus puder ser um aliado com o qual contar para realizar as suas novas exigências de vida. Interessa-lhes (e estão disponíveis para aceitar) um Deus que não seja “confeccionado” pelos adultos e pelos seus interesses mas que seja resposta às suas próprias necessidades.
3. Professar a fé que salva, em tempos 2.0 Nunca foi fácil falar de Deus. O nosso Deus tem uma mensagem tão bela, tão “melhor” do que esta vidinha que vamos vivendo, que não é fácil falar d’Ele a quem ainda não O encontrou. Por isso, alguns desistem. Outros, falam d’Ele adaptando tanto a mensagem aos destinatários que a força transformadora do Evangelho se perde. Jesus mostrou-nos como é possível, ao mesmo tempo, falar do Deus verdadeiro de modo que as pessoas entendam e respeitando a verdade da mensagem que Deus nos transmitiu.
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3.1 A maneira de Jesus O sucesso da evangelização feita por Jesus começa na profunda, terna, transformadora experiência que Jesus faz da bondade de Deus. E ao longo destes dois milénios de história da Igreja aconteceu o mesmo: só quem faz uma experiência pessoal, intensa, da beleza de Deus, a pode partilhar com os outros. Depois Jesus encontrava as pessoas onde elas estavam. E aproveitava as coisas mais banais do quotidiano para lhes falar desse Deus que tanto nos ama. Para dizer Deus e a sua mensagem, as árvores, uma ovelha perdida, uma pérola num campo, um administrador aldrabão… tudo serve. Jesus comunicava o Evangelho a partir das realidades e vivências das pessoas que Ele tinha à frente. E ao longo da história da Igreja, os grandes evangelizadores sempre souberam fazer o mesmo: conheciam e respeitavam a vida de quem tinham pela frente e encontravam as palavras significativas para essas pessoas em concreto. Mas o anúncio de Jesus não eram só palavras. Eram palavras que explicavam gestos concretos que realizavam a presença de Deus entre nós. Eram gestos que “provavam” a verdade das palavras que Jesus dizia. O mesmo aconteceu com todos os homens e mulheres que anunciaram Jesus: fizeram hospitais, escolas, perdoaram. Produziram gestos concretos que acompanhavam as palavras do Evangelho. Jesus anunciava o Evangelho em diálogo. Não se limitava a falar para que as pessoas ouvissem. Com Ele a comunicação tinha dois sentidos. Às vezes com alegria, outras com paciência, Jesus sempre procurou escutar a voz do outro. Com Jesus, o diálogo é sempre… a dois. É um dar e receber. Jesus sabe que só envolvendo totalmente o outro é que ele poderá acolher a fé no Deus verdadeiro.
3.2 Às vezes, esquecemo-nos Esquecemo-nos de passar tempo de qualidade com esse Deus que nos ama. E depois a fé cristã fica reduzida a uns hábitos tradicionais, a Igreja fica transformada num grupo de beneméritos que ajuda os pobrezinhos, a oração fica reduzida a um falar consigo mesmo. Uma experiência pessoal forte, autêntica do Pai que nos ama, do Filho que deu a vida por nós, do Espírito que nos fortalece é essencial para fazer catequese. Aliás, uma boa parte de nós até já descobriu que essa expe riência é necessária para viver e ser feliz. Quanto mais para fazer catequese! Se Jesus na cruz não te faz chorar, se Cristo que ressuscita não te dá vontade de dançar, se o sim de Maria não te arrepia… ainda não estás preparado para dar catequese. Às vezes esquecemo-nos de conhecer o mundo daqueles a quem queremos levar o Evangelho. E a versão do Evangelho que lhes propomos é recusada. Porque lhes soa a língua estrangeira. O mundo em que nós, os catequistas, fomos criados não é o mesmo mundo onde nasceram e cresceram os nossos catequizandos. As palavras, os gestos, os hábitos não são os mesmos. É claro que cada um de nós tem direito às suas memórias, ao seu modo de pensar. Mas se queremos fazer catequese ao estilo de Jesus, temos de nos tornar missionários. Temos de ser capazes de “traduzir” o único evangelho de Jesus na língua 2.0 que os mais novos hoje “falam”. E, no caso concreto de quem os prepara para a profissão de fé, temos que ser missionários nessa terra de ninguém que é a pré-adolescência. Às vezes esquecemo-nos de fazer os gestos que mostram o Reino de Deus já aqui presente. Esquecemo-nos de criar um ambiente de grupo estimulante, seguro, dialogante. Esquecemo-nos de ter a paciência necessária para com as contradições dos pré-adolescentes. Esquecemo-nos de fazer uma catequese envolvente. Esquecemo-nos de traduzir em gestos concretos, que eles entendam, o amor que temos a cada um dos nossos catequizandos. Às vezes esquecemo-nos de criar um saudável clima de diálogo nos nossos grupos de catequese. Esquecemo-nos de respeitar a voz própria dos nossos pré-adolescentes. Continuamos agarrados à imagem do catequista-professor, que sabe tudo e que com a força ou com a sedução quer enfiar a verdade na cabeça passiva dos destinatários. Esquecemos a humildade necessária para ouvir os seus gritos e pedidos de ajuda.
3.3 A catequese que se faz Muita da catequese que se vai fazendo ainda é “tradicional”: há um catequista que manda, que tem “voz”, que decide quem fala, do que se fala, quando se fala. Que simula um diálogo com falsas perguntas (a pedir respostas de sim ou não). Claro que alguns catecismos e catequistas promovem um diálogo e uma participação mais honestos. Mas não se dão conta que só os mais motivados, só os mais equipados (os que têm o vocabulário ou a coragem de falar em público) é que podem realmente participar.
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Uma parte dos catequistas procura usar alguns apoios: cartazes, canções, algum DVD… Não serão a maioria mas é melhor do que nada! Mas não chega para entrarmos na estrada do multimédia (áudio, texto, vídeo, interacção…). Uma das qualidades (ou defeito, dirão alguns) dos pré-adolescentes 2.0 é a “distratenção”. Não é um erro: é uma palavra inventada que junta “distracção” e “atenção”. É a atitude de quem costuma andar pela Web, de forma rápida e não linear, num ritmo sincopado e que gera longas pausas de “distracção” e repentinas acelerações de “atenção” concentrada. Na escola, os professores já perceberam a dificuldade que os alunos têm em sair do mundo 2.0 da “distratenção” para regime normal de aulas. Ler uma palavra atrás de outra, da primeira à última linha é uma operação fácil para os “filhos de Gutenberg” mas não para os “nativos digitais”. Os primeiros estão habituados a agir linearmente, progressivamente. Os segundos, não: o uso do computador e do telemóvel habituou-os a saltar daqui para ali, de um texto para um vídeo, com a técnica do zapping. E é claro que lhes custa mergulhar num rio só de palavras que corre num único sentido.
3.4 Hipertexto Estando assim as coisas, não deveríamos procurar transformar os catecismos que temos em belos vídeos? Não. Isso seria prestar um mau serviço aos nossos jovens, porque a leitura tem um papel insubstituível para alimentar o nosso cérebro, para treinar o raciocínio. Mas é verdade que algo tem que mudar na catequese. Só a palavra não chega para captar a atenção destes nossos vídeo-apaixonados. Existirá um caminho intermédio que junte imagens e palavras, sons e pensamentos, jogo e reflexão, de modo a conseguirmos uma catequese eficaz hoje? Parece que sim. Há pesquisas que mostram que os pré-adolescentes são muito sensíveis ao hipertexto. Esses estudos mostram que é possível construir “produtos”, ricos de hiperligações, que efectivamente ajudam os pré-adolescentes a melhorar as aprendizagens. Mesmo os mais anti-tecnologia de nós já não nos damos conta de como funciona o hipertexto. Para todos nós tornou‑se natural, intuitivo, clicar numa palavra, num ícone e esperar que algo aconteça: um vídeo que começa, uma canção que se ouve, uma mensagem que enviamos, uma outra página de texto que vamos ler. Quando abrimos um livro, sabemos como o ler: do início ao fim. Às vezes fazemos batota: saltamos para o fim, para saber se Romeu e Julieta conseguem ser felizes (parece que não), se Harry Potter vai vencer o Voldemort, se Frodo vai conseguir destruir o anel. Mas mesmo fazendo estas “batotas” a lógica linear (do início para o fim) permanece de pé. Quando abres o Google e escreves “catequese” vão-te surgir uma série de páginas (cerca de 2 380 000, em Julho de 2012). Ninguém sabe em qual das páginas vais clicar em primeiro lugar. Podes clicar na primeira que te aparece ou na terceira. És tu que escolhes; não há um caminho predefinido. E chegado a esta nova página vais encontrar novas ligações a imagens, textos, vídeos, sons.. que por sua vez levam a ainda novas ligações… e por aí fora. A quem foi educado a escolher o seu caminho, a ideia de fazer apenas um caminho possível (de trás para a frente), a ideia de “ler” apenas texto (sem imagens, sons ou vídeos) parece muito pobre e enfadonha. Claro que é possível navegar na internet sem rumo, clicando ao acaso, só para passar o tempo. Mas para quem está motivado ou bem acompanhado, uma viagem na internet é bem mais enriquecedora. Até porque a internet nos leva aos textos que estão nos livros. E em mais do que um livro. Por enquanto, não é possível pensar um percurso catequético todo baseado na rede. Mas será possível aplicar esta lógica de hipertexto, de uma comunicação rica de conteúdos à nossa catequese? Será possível superar os seus riscos? Estamos convencidos que sim. Vamos tentar trazer o melhor do mundo 2.0 para YY um grupo com fortes interacções, YY com actividades empenhativas, YY animado por um catequista que se sente profundamente amado por Deus e que ama sinceramente os seus catequizandos… YY e vamos colocar as propostas em… papel. 14
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O hipertexto online, como mecanismo educativo, tem algumas limitações: YY Está sujeito ao zapping, ao saltitar de página em página sem objectivo; YY O excesso de ligações possíveis que impedem uma escolha fundamentada; YY O acesso a sítios e conteúdos negativos. Uma boa parte destes limites são positivamente resolvidos com o hipertexto em papel. Por duas razões. Quanto aos conteúdos, os catequizandos têm um raio de acção limitado. Os conteúdos são os que estão no livro e não outros. Em segundo lugar, temos a presença de um catequista-acompanhante que os guia, orienta, explica, envolve. O que, nestes tempos de emergência educativa, não é pouco!
3.5 Descrever este projecto A nossa procura de um modelo comunic-activo que não se limite a falar aos catequizados mas que fale com eles, está quase a chegar ao fim.
3.5.1 O sonho Vamos imaginar que entramos numa sala de catequese. Estamos à espera de um “enviado especial” da paróquia (o catequista) que tem um belo programa a apresentar e um “Amigo” que quer dar a conhecer. Um momento de incerteza. Olho em redor: se calhar enganei-me na sala. Estou habituado a salas de catequese cinzentas, sem vida, paredes nuas ou com fotos velhas e amarelecidas (vá lá, reconheço que foram novas em 1957!)… esfrego os olhos e torno a olhar. Paredes coloridas, posters gigantes com cores fortes e imagens apelativas, letreiros com frases curtas e fortes, fotos dos catequizandos sorridentes. No centro da sala, está uma mesa redonda. Bem arrumados há marcadores coloridos, post-it, cola, bíblias, catecismos… E… começa a emissão! O catequista em vez do habitual “Pegamos nos livros e abrimos na página…” faz ouvir uma canção bem conhecida. Ao início, os catequizandos ainda estão a bichanar uns com os outros, mas depois começam a cantar (uns mais afinados do que outros) o refrão, enquanto o catequista distribui uma folha com a letra da canção. No final da canção começam os catequizandos a comentar: o que gostaram, o que lhes chamou a atenção. Sempre há algum que manda uma “boca” que não tem nada a ver com a catequese nem com a canção. Mas o interessante é que o catequista não parece estar preocupado com essa distracção! O catequista sabe que “Roma e Pavia não se fizeram num dia”; tem paciência. A pouco e pouco vai-os educando a estar em grupo. Não gasta o precioso tempo do grupo a censurar comportamentos destes; prefere encorajar as atitudes positivas. Mas no final da catequese irá ter com o “brincalhão”, e dizer-lhe discretamente ao ouvido que acredita que ele poderá fazer muito melhor. Olho para os catecismos: há cores fortes, banda desenhada, actividades… parece uma revista “normal”, não um catecismo! Enquanto me distraio a olhar para o catecismo, o diálogo no grupo avançou e estão a aprofundar o tema da canção. Mas o catequista não abre a boca e parece que não faz nada. Vai passando pelos pequenos grupos de três ou quatro. Uns estão às voltas com uma cartolina e umas tintas; parece que estão a fazer um cartaz. Um outro grupo diz-me que saia da frente porque estão com pressa e vão para outra sala ensaiar uma coreografia da canção que ouviram (o rapaz que vai com as raparigas não parece muito entusiasmado com a ideia de dançar, mas…). Num canto, há mais três ou quatro agarrados ao telemóvel; faço sinal ao catequista mas ele parece não ver qual é o problema. Tentando não perder a paciência vou ter com eles e pergunto o que estão a fazer. ( Já preparei um pequeno sermão sobre as boas maneiras, sobre a importância de participar nas actividades da catequese, sobre ter os telemóveis desligados, sobre…) Com paciência, eles lá me explicam que estão a fazer um “inquérito”; estão a mandar mensagens a todos os amigos e colegas das turmas pedindo as suas opiniões sobre umas questões que estão no catecismo. “E depois vamos resumir tudo e mostrar ao resto do grupo!” Para evitar fazer mais figuras tristes, voltei a olhar com atenção para o catecismo, enquanto os grupos trabalhavam.
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3.5.2 A arquitectura Este material catequético é como uma estação de rádio. Cada catequese é uma emissão. Cada programa é uma acti vidade a fazer no grupo ou individualmente em casa. As páginas iniciais parecem uma home page, as diferentes emissões estão construídas à moda de hipertexto… É verdade que não são interactivas e multimédia, como aquelas de um hipertexto online… mas parecem-se bastante. E podem sê-lo quando temos um catequista inteligente e criativo. E se somarmos a energia dos catequizandos, mais ainda! Um subsídio como este não se lê como um livro normal: lê-se como um hiper… texto. Ou seja: não linearmente, da primeira à última página. Lê-se navegando dentro deste site de papel como se estivéssemos na internet. 3.5.2.1 Como numa rádio Entramos na “emissão” olhando para uma banda desenhada ou para uma reportagem em directo de Jerusalém que, em linguagem corrente, nos traz um facto do Evangelho. Ou a partir de uma canção que está no Top ou de um filme que venceu uns tantos Óscares… Viajamos de um ponto a outro porque há um “produtor” (o catequista) que “regula a navegação” em função: YY do que acontece dentro do grupo; YY dos objectivos e conteúdos de cada catequese; YY das respostas e reacções dos catequizandos; YY das sugestões dadas neste guia. 3.5.2.2 Com um bom catequista: contigo Estas catequeses são como uma emissão de rádio. O apresentador (o catequista) tem um tema, uns tantos discos que pode passar. Mas os ouvintes telefonam-lhe e ele dialoga com eles. E conforme o que eles lhe dizem, ele, sem perder o rumo da emissão, vai passando este ou aquele disco, metendo esta ou aquela rubrica, ligando a este ou àquele jornalista… No fundo, o catequista tem um esboço de programação mas ao longo do caminho vai haver muitas surpresas. Isto é um esforço extra para o catequista. Seria mais cómodo ter tudo esquematizado e, em cada catequese, seguir as instruções. Mas o catequista opta por este caminho difícil. É que ele não quer mais na catequese aquele clima de enfado, de falsidade, que aparece quando os pré-adolescentes participam como meros espectadores e não como protagonistas. Alguém já estará assustado: “Mas toda esta liberdade de acção, a falta de um guião sólido para seguir, o zapping provocado pela técnica do hipertexto, vai criar de certeza um caos na cabeça dos rapazes… vão ficar sem saber que conteúdos aprender, em que coisa acreditar…” É uma objecção séria. Se tudo acabasse por aqui, se o catequista se esquecesse de ser o realizador que, depois das filmagens, monta as cenas e salva as imagens mais belas e eficazes. Ao longo de uma emissão e especialmente no final, o catequista é quem ajuda os catequizandos a arrumar as memórias e as ideias. É ele quem os ajuda a tirar as conclusões para a vida. É ele quem ajuda a dar sentido às experiências feitas em grupo. Neste modelo de catequese acontece o mesmo que ao navegar na internet. Os mais novos devem viajar pelo ciberespaço sempre acompanhados por um adulto que sugere pistas e que os ajuda a fazer síntese. Muitas crianças e jovens não têm quem os acompanhe nessa viagem online. Felizmente, os teus catequizandos têm-te a ti. 3.5.2.3 Os bónus do hipertexto em papel Em relação ao hipertexto online, este catecismo em papel faz figura de… parente pobre. Mas a verdade é que tem algumas vantagens escondidas. Oferece a possibilidade de concentrar a atenção sobre aquelas ideias ou actividades que o catequista julga importantes naquele momento… sem a tentação de ir clicando no rato ao calhas e sendo distraído por infinitas janelas que se abrem. Assim recuperamos as vantagens do livro tradicional e a “força da leitura”. Claro que tivemos muito cuidado em optar por textos curtos, escritos numa linguagem escolhida para esta geração 2.0.
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As várias secções de cada emissão são blocos breves e simples. São acessíveis mesmo aos catequizandos mais limitados ou desmotivados. E ao envolverem-se activamente, a pouco e pouco, vão prolongando a sua reduzida capacidade de concentração. E isto é um duplo serviço: educativo e catequético. Mesmo assim, temos de reconhecer que a interactividade e a multimedialidade oferecida pelo papel é… fraquinha, se a compararmos com um computador ou com um smartphone. Mas enquanto no mundo online a maior parte da interactividade consiste em clicar nuns botões e fazer “Like” a isto ou àquilo, neste projecto os pré-adolescentes deixam de ser destinatários passivos e começam a ser protagonistas activos. Eles podem fazer cartazes, poemas, danças, jogos. Aqui a interactividade é mesmo real! 3.5.2.4 Os espaços Um dos bloqueios da catequese é pensar que as crianças e jovens são iguais hoje aos de há dez ou vinte anos atrás. E isto nota-se mesmo em termos físicos. Evidentemente, não é preciso deitar as paredes abaixo e construir novas salas de catequese. Mas um pouco de fantasia criativa vai ajudar. As paredes. É urgente superar dois “dogmas”. O primeiro é que a sala deve ser como uma aula de catequese. Na arrumação, na decoração, temos de superar de vez a confusão entre escola e catequese. O segundo dogma é que as paredes são uma obra de arte. Há anos alguém colocou lá um poster ou fez um desenho… e ai de quem lhe mexer! Cada ano há um grupo novo que quer deixar a sua marca. Aquilo que funcionou bem o ano passado, não tem de funcionar este ano. Pela positiva, os especialistas recomendam usar cores pastel mas positivas; brilhantes mas não demasiado intensas. Evitar colocar todos os cartazes à mesma altura. Aliás o melhor é ter um expositor de cortiça ou esferovite para evitar estragar as paredes. Usar cartazes bem coloridos. Não ter medo de ter em cada cartaz o slogan pastoral do ano. Arrumar bem as cadeiras e as mesas. Devem ser cómodas, adaptadas à altura dos catequizandos. O que, na pré-adolescência pode ser um problema, pois alguns deles, de um dia para o outro dão uns “pulos” enormes. Mas os móveis são… móveis. Podem ser mexidos de lugar. Os símbolos. Devem ser claramente cristãos. Uma cruz, uma bíblia, uma imagem. Mas que sejam de boa qualidade e que não cheirem a mofo. 3.5.2.5 Os tempos Este projecto segue a estrutura clássica da catequese: experiência humana, anúncio da Palavra, expressão de fé. Prevemos que cada catequese decorra em (pelo menos) dois encontros. Mas dentro de cada encontro de catequese é importante prever as várias fases. Acolhimento. É um momento demasiadas vezes esquecido pelos catequistas. Todos sabemos que o arranque (de uma corrida de fórmula 1, de um filme, de um livro, de uma história…) serve para atrair a atenção. Dedicar cinco minutos para saudar cada um dos presentes, para trocar duas palavras sobre a semana que passou… não é perda de tempo. É tempo ganho para conseguir mais qualidade no que se segue. Arranque. Deve ser brilhante. Deve ser uma surpresa. Quando a catequese começa, o catequista já está concentrado e motivado; mas os catequizandos ainda não. Eles chegam à catequese vindo de escolas diferentes, de famílias diferentes, têm a cabeça em todo o lado menos na catequese. É importante ter um arranque forte, não banal. As actividades. Neste projecto aprende-se, fazendo. Há quem insista em sentar as crianças à sua frente, dizer‑lhes que estejam atentas e começar a falar, debitando um discurso mais ou menos bem preparado. Os resultados são, quase sempre, trágicos. Recorda-te de Jesus e da maneira como Ele procedia. Para explicar aos discípulos o que era o amor, não escreveu livros nem fez grandes sermões: pegou numa bacia com água e lavou-lhes os pés. Aprendemos, fazendo. Final. Como em todos os filmes, também a catequese tem o seu happy end, o seu final feliz. Uma catequese é como um voo de avião: descola e aterra. É importante aterrar bem. É melhor terminar antes da hora prevista, antes que comecem os pais a bater à porta. Diz-se que o cristão vive a sua fé na horizontal e na vertical. Toda a catequese deve terminar com uma referência vertical (um momento de oração, ainda que breve, é “obrigatório”) e com uma abertura horizontal (uma tarefa a fazer durante a semana, uma conclusão para a vida quotidiana). 17
Índice
Apresentação....................................................................................................................................................................5 1. Um novo “catecismo”? Porquê e para quê?...................................................................................................................... 6 2. Fazer catequese, aqui e agora........................................................................................................................................... 8 3. Professar a fé que salva, em tempos 2.0......................................................................................................................... 14 4. Catequistas 2.0................................................................................................................................................................. 20 5. Um “catecismo” diferente............................................................................................................................................... 21 Crer ou não crer? :: Emissão 1.......................................................................................................................................30 As propostas......................................................................................................................................................................... 34 Eu não sou Deus :: Emissão 2 . ....................................................................................................................................39 As propostas......................................................................................................................................................................... 42 Pai, patrão ou papá? :: Emissão 3...................................................................................................................................46 As propostas......................................................................................................................................................................... 48 «Assinou o mundo» :: Emissão 4....................................................................................................................................52 As propostas......................................................................................................................................................................... 54 Jesus: um nome, uma garantia :: Emissão 5..................................................................................................................58 As propostas......................................................................................................................................................................... 61 Deus não brinca em serviço :: Emissão 6......................................................................................................................64 As propostas......................................................................................................................................................................... 66 Mais vivo do que nunca :: Emissão 7.............................................................................................................................71 As propostas......................................................................................................................................................................... 74 O Espírito que está em vós :: Emissão 8........................................................................................................................77 As propostas......................................................................................................................................................................... 79 A Igreja somos nós :: Emissão 9.....................................................................................................................................82 As propostas......................................................................................................................................................................... 84 Lá em cima, alguém nos ama :: Emissão 10...................................................................................................................87 As propostas......................................................................................................................................................................... 89 Quem acredita em Ti vale por três :: Emissão 11..........................................................................................................92 As propostas......................................................................................................................................................................... 94