Abrahão Sanovicz desenhos e gravuras \ y \ Em
Maria Cecília Loschiavo dos Santos Doutora em filosofia pela FFLCH-USP e professora de design na FAU-USP, tem diversos livros publicados. \ y \ Abrahão
(que para mim permanecerá sempre “China”) é, sem dúvida, uma figura excepcional no panorama da arquitetura brasileira. [...] Coloca-se na primeira linha dos arquitetos paulistas da geração que absorve o ensinamento de Artigas. [...] Não posso deixar de assinalar um benévolo fundo de humor e ironia tipicamente judaicos, em todo o seu posicionamento frente ao ser humano, que estava na base de sua ação como arquiteto e artista. Vittorio Corinaldi Arquiteto italiano formado na FAU-USP, atualmente radicado em Israel, onde trabalhou no principal escritório de arquitetura e planejamento dos kibutzim. \ y \ Era
uma delícia fazer reunião com o Abrahão. Enquanto ele conversava, desenhava. Era bárbaro isso, ele produzia muito. Depois ficava todo mundo disputando o desenho... Às vezes ele desenhava a mesa, às vezes desenhava as pessoas ali presentes, de uma forma meio caricata, e às vezes ele ficava desenhando outra coisa completamente diferente.
organização Fernanda Sanovicz Esta obra apresenta a face menos conhecida do arquiteto Abrahão Sanovicz (1933-99): a de desenhista e gravurista. Professor que influenciou muitos e autor de projetos icônicos da escola paulista de arquitetura – teatros, centros de lazer, escolas, conjuntos habitacionais e edifícios residenciais –, ele também desenhava em qualquer circunstância, como nas inúmeras reuniões de que participou. Não à toa, dizia que todo mundo deveria fazer pelo menos um desenho por dia. Pela primeira vez publicados, os desenhos e gravuras de Sanovicz estão organizados por temas neste livro. Há autorretratos, imagens produzidas em reunião, figuras do imaginário judaico, remissões a outros artistas, desenhos de objetos, paisagens e nus. A coletânea tem ainda desenhos feitos a pastel e gravuras. Completam a obra textos que dimensionam a complexidade criativa de Sanovicz. A arquiteta e professora Helena Ayoub Silva escreve sobre sua trajetória profissional, do estágio no escritório de arquitetura em Santos à realização de grandes projetos e à livre-docência na FAU-USP. E o jornalista especializado José Wolf analisa o traço “enxuto e plural”, “racional e democrático” de Sanovicz, bem como sua extensa produção como arquiteto e designer.
Abrahão Sanovicz desenhos e gravuras
seus traços leves e fluidos sobre o papel, Abrahão Sanovicz criou uma sensação mágica e misteriosa, revelando uma de suas grandes paixões: o desenho. Com movimentos límpidos e lépidos, sobre o papel ou o quadro negro, Abrahão exerceu em todos nós o fascínio pelo seu traço poderosamente criador.
\y\A
obra de Abrahão Sanovicz fala de todos nós, colegas da FAU e arquitetos formados nos anos 1950 em São Paulo, embora talvez nenhum outro arquiteto daquela geração tenha manifestado com seus projetos um compromisso tão forte com a cultura brasileira (presença de Mario de Andrade...) e uma disciplina tão rigorosa no exercício do ato de projetar. Trabalhando e pensando como um arquiteto de nosso tempo, ele questiona seu papel na história, povoando seu universo de referências essenciais: Breuer, Mies, Wright, Terragni, Lucio (Costa, é lógico), Oscar (mais ainda Reidy e outros “cariocas”), Artigas (respeitosamente) e muito, mas muito Le Corbusier. E ainda Picasso, as gravuras de Segall, os stabile de Calder. Completam o quadro, suas preocupações com as questões do design, (que ele aprofundou com Nizzolli em Milão), e da comunicação visual (com Buffoni em São Paulo). Alimentando esse universo com sua sensibilidade e seu conhecimento teórico e técnico, Abrahão Sanovicz realiza uma arquitetura forte, coerente, precisa e admirável, não apenas pela sua obstinação em evitar os efeitos especiais, a grandiloquência, o discurso vazio mas, principalmente pelo rigoroso cuidado em trabalhar com o desenho da construção do espaço, elevando-o a nível da verdadeira obra de arte. Eduardo de Almeida Arquiteto e designer industrial, foi docente da FAU-USP de 1967 a 1998.
Helena Ayoub Silva Arquiteta, mestre e doutora, é professora de arquitetura na FAU-USP desde 1989.
ISBN 978-85-9493-019-4
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SERVIÇO SOCIAL DO COMÉRCIO
Administração Regional no Estado de São Paulo Presidente do Conselho Regional Abram Szajman Diretor Regional Danilo Santos de Miranda Conselho Editorial Ivan Giannini Joel Naimayer Padula Luiz Deoclécio Massaro Galina Sérgio José Battistelli Edições Sesc São Paulo Gerente Marcos Lepiscopo Gerente adjunta Isabel M. M. Alexandre Coordenação editorial Clívia Ramiro, Cristianne Lameirinha, Francis Manzoni Produção editorial Bruno Salerno Rodrigues Coordenação gráfica Katia Verissimo Produção gráfica Fabio Pinotti Coordenação de comunicação Bruna Zarnoviec Daniel
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Abrahão Sanovicz desenhos e gravuras organização Fernanda Sanovicz
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© Fernanda Sanovicz, 2016 © Edições Sesc São Paulo, 2016 Todos os direitos reservados Preparação Bruno Salerno Rodrigues Revisão Vanessa Gonçalves e André Albert Projeto gráfico e diagramação Ana Luisa Escorel • Ouro sobre Azul Assistência de projeto gráfico e diagramação Erica Leal • Ouro sobre Azul Textos sobre desenhos e gravuras Helena Ayoub Silva
Sa588a
Abrahão Sanovicz: desenhos e gravuras / Organização de Fernanda Sanovicz. – São Paulo: Edições Sesc São Paulo, 2016. – 168 p. il.: fotografias, desenhos e gravuras. ISBN 978-85-9493-019-4
1. Artes plásticas. 2. Abrahão Sanovicz. 3. Desenho. 4. Gravura. 5. Biografia. I. Título. II. Sanovicz, Abrahão. III. Sanovicz, Fernanda. CDD 740
Edições Sesc São Paulo Rua Cantagalo, 74 - 13º/14º andar 03319-000 – São Paulo SP Brasil Tel. 55 11 2227-6500 edicoes@edicoes.sescsp.org.br sescsp.org.br/edicoes / edicoessescsp
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apresentação Danilo Santos de Miranda Diretor Regional do Sesc São Paulo
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Nenhum dia sem desenhar, projetar, ensinar \ • \ A proficuidade da produção de Abrahão Sanovicz (1933-99) se traduz de duas formas neste livro: visualmente, em especial por meio dos desenhos e gravuras, mas também nas imagens de edificações e objetos que projetou; e textualmente, por meio das memórias de sua neta, Fernanda, e do ensaio biográfico de Helena Ayoub Silva. Este último nos permite revisitar sua formação em desenho na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) – marcada pela proposta da emoção e da sensibilidade como contrapontos à produção mecânico-industrial – e no curso técnico em edificações da Escola Técnica Federal de São Paulo, passos que o conduziram certeiramente, em 1954, à Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Ali, onde o discípulo de Vilanova Artigas viria a se tornar, além de admirado mestre de muitos, ativista das causas urbanísticas e criador de importantes projetos arquitetônicos. “Arquiteto por vocação, designer, pintor, gravador, professor, militante do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB), cidadão”, como dá fé o artigo de José Wolf ao fim do livro, Sanovicz chama atenção pela multidisciplinaridade e pela extensa produção em mais de quatro décadas de carreira. O equilíbrio geométrico de sua arquitetura modernista, a funcionalidade, o minimalismo, a consciência do papel social de sua arte, a observação fina do entorno, o domínio do traço em qualquer linguagem visual em que se expressasse, todas essas características podem ser entrevistas na liberdade de seu traço ao desenhar em uma cor – muitas vezes o azul improvisado da esferográfica – ou executar gravuras e pastéis coloridos.
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Abrahão Sanovicz chamava seus desenhos de “nenhum tempo perdido” e dizia a alunos e amigos que todo mundo deveria fazer pelo menos um desenho por dia. Este livro traz a público uma faceta intimista e menos conhecida do renomado arquiteto e professor: a expressividade e fluidez das linhas do desenhista de situações e temas diversos, muitas vezes distantes do universo da arquitetura. Assim, a publicação coloca ao alcance de nosso olhar temáticas recorrentes da produção paralela e pessoal de desenhos e gravuras de Sanovicz, como as reuniões de que participava, as pessoas (anônimas ou conhecidas) que o circundavam, as homenagens a obras ou projetos que o inspiravam, os nus ao mesmo tempo sensuais e lúdicos, as abstrações coloridas a pastel e outras mais. Com a apresentação desta perspectiva inédita de Sanovicz, o Sesc reafirma suas iniciativas de valorização da arte e da cidadania. Mas o arquiteto também está presente nos generosos espaços de convivência e lazer oferecidos ao público do Sesc Araraquara, prédio projetado por ele em 1994 com Edson Jorge Elito. E ainda o encontramos nos ideais compartilhados com o Sesc de promoção da cidadania por meio da educação não formal, em um bate-papo entre criadores e público, numa apresentação artística, num jogo cooperativo e em inúmeras outras atividades cuja concretização se dá em centros de lazer e cultura especialmente pensados para abrigar o ideal maior que inspira sua construção. \•\ \•\ \•\
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sumário 11
• introdução
Fernanda Sanovicz
15 • artista e arquiteto Helena Ayoub Silva 39
•
desenhos
40
•
autorreflexivos
44
• reunião
58
•
judaicos
68 • diálogos visuais 74
•
nus
86
•
objetos
92
•
paisagens
98
•
pessoas
124 • desenhos a pastel 135
•
gravuras
153
•
a epifania de Abrahão: viver pelo desenho José Wolf
165 • bibliografia de “artista e arquiteto”
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introdução Fernanda Sanovicz
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Conversas com meu avô \ • \ Nova York, inverno de 2015. Onze da noite. Lá fora, doze graus abaixo de zero e eu ainda vestindo as muitas camadas de roupas desde cedo. Chego em casa e ligo o computador em busca dos arquivos com os escritos, pensamentos e desenhos usados no meu trabalho de conclusão de curso (TCC) em design gráfico na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM ). A minha cabeça dói e, sem que eu perceba ou possa controlar, lágrimas saem sem parar dos meus olhos. “Que saudade de passar as madrugadas conversando com você” — falo para o meu avô, que enxergo quando olho para seus desenhos na tela à minha frente. Passei aquele ano de 2011 inteiro conversando com o meu avô. Às vezes em sonho, às vezes dentro da minha cabeça, o ano todo pesquisei e escrevi sobre ele. Quanto mais mergulhava nos desenhos dele, mais aprendia a importância do desenho na minha própria história. Quando terminei o TCC , prometi a mim mesma fazer o que estivesse a meu alcance para que mais pessoas apreciassem essas obras que me inspiraram tanto. Em seu livro Reflexos e sombras, Saul Steinberg diz: “Um desenho de observação revela muito de mim. [...] o protagonista já não sou eu, que me torno uma espécie de servo, de personagem secundário. Sou arrastado de tal maneira pela realidade que tenho diante de mim que esqueço de mim mesmo e trabalho como em transe, buscando singularizar a realidade, fazendo o desenho sem me dar conta de que o estou fazendo. E assim tenho medo de que o desenho revele certas partes de mim mesmo” 1. Os desenhos do meu avô dizem muito sobre ele. Encontrei ali referências a Steinberg, artista que tanto admiro. A sua obra, os seus desenhos e pensamentos me encantam profundamente e, de certo modo, me conectam com o legado do meu avô. Fiquei cada vez mais comprometida com a execução deste livro e com a minha vontade de desenhar, de me conhecer pelo desenho. Muitas coisas aconteceram nos últimos quatro anos: trabalhei em editora, revista e escritório de design, voltei a desenhar e a estudar. Mudei para Nova York, comecei a minha segunda graduação, agora em ilustração, e dei aula de desenho num projeto
1. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2011, p. 131.
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social em escola, no Bronx. Meu cotidiano é desenhar, ensinar e aprender... “Acho que você tem mais em comum com o seu avô do que imagina”, meu pai me disse. Ato contínuo, os meus olhos se encheram de lágrimas. \ • \ Na casa do vovô China havia uma mesa grande cheia de coisas legais: papéis co-
loridos, desenhos, casinhas de papelão, canetas, tudo meio bagunçado. Era uma mesa de brincadeiras para mim. Cresci sabendo que, na verdade, aquelas eram “coisas de arquiteto”. A casa em que ele morava com a vovó Diva era bem interessante: as paredes de concreto aparente eram cobertas por pinturas, gravuras e desenhos, quase não tinha portas e, o mais legal, foi meu avô quem projetou o espaço! Quando o vovô China morreu, em 1999, eu tinha 9 anos e fiquei muito triste. Não sabia que o encontraria dentro do armário, atrás de um tesouro escondido: mais de mil desenhos, que deram origem a minha pesquisa para o TCC e para este livro. O vovô China chamava-se Abrahão Velvu Sanovicz, era arquiteto, artista, designer e educador. Filho de imigrantes poloneses, nasceu em 1933 na cidade de Santos. Mudou-se para a capital com 17 anos; queria estudar artes e em 1952 ganhou uma bolsa na Escola de Artesanato do Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM) para estudar desenho, coisa que ele fazia o tempo todo. Em 1954 entrou na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP) e graduou-se em 1959. Logo depois de formado, conseguiu uma oportunidade para estagiar por seis meses no escritório do artista plástico, arquiteto e designer italiano Marcello Nizzoli, em Milão. Esta experiência influenciou o seu jeito de olhar para a arquitetura. Ao regressar ao Brasil, Sanovicz queria trabalhar também com design e foi contratado para colaborar no escritório do arquiteto Vilanova Artigas. Em 1962 recebeu convite para lecionar desenho industrial e projeto no curso de arquitetura da FAU-USP. Ele era muito dedicado à faculdade e aos alunos, e trabalhou lá até o fim da vida. Também ajudou a montar o curso de desenho industrial da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (Faus) e os cursos de desenho industrial e comunicação visual da Universidade de Brasília (UnB). 13
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Como professor, era rígido, gostava de questionar os alunos sobre a razão de suas escolhas. Como arquiteto, era preciso, minimalista e funcional. Em seus projetos não havia espaços desperdiçados. Como artista, desenhava com um gesto único, fluido e verdadeiro. Como avô, permanece na minha memória e nos milhares de desenhos, muitos deles apresentados neste trabalho. A publicação deste material é o resultado da minha vontade de compartilhar com o mundo a obra inspiradora produzida pelo meu avô. Do mesmo jeito que essa pesquisa me motivou a ir atrás dos meus sonhos, meu desejo é de que inspire muitas outras pessoas a sonhar e a criar. \•\ \•\ \•\
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artista e arquiteto Helena Ayoub Silva
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Abrahão Sanovicz desenhos e gravuras \ y \ Em
Maria Cecília Loschiavo dos Santos Doutora em filosofia pela FFLCH-USP e professora de design na FAU-USP, tem diversos livros publicados. \ y \ Abrahão
(que para mim permanecerá sempre “China”) é, sem dúvida, uma figura excepcional no panorama da arquitetura brasileira. [...] Coloca-se na primeira linha dos arquitetos paulistas da geração que absorve o ensinamento de Artigas. [...] Não posso deixar de assinalar um benévolo fundo de humor e ironia tipicamente judaicos, em todo o seu posicionamento frente ao ser humano, que estava na base de sua ação como arquiteto e artista. Vittorio Corinaldi Arquiteto italiano formado na FAU-USP, atualmente radicado em Israel, onde trabalhou no principal escritório de arquitetura e planejamento dos kibutzim. \ y \ Era
uma delícia fazer reunião com o Abrahão. Enquanto ele conversava, desenhava. Era bárbaro isso, ele produzia muito. Depois ficava todo mundo disputando o desenho... Às vezes ele desenhava a mesa, às vezes desenhava as pessoas ali presentes, de uma forma meio caricata, e às vezes ele ficava desenhando outra coisa completamente diferente.
organização Fernanda Sanovicz Esta obra apresenta a face menos conhecida do arquiteto Abrahão Sanovicz (1933-99): a de desenhista e gravurista. Professor que influenciou muitos e autor de projetos icônicos da escola paulista de arquitetura – teatros, centros de lazer, escolas, conjuntos habitacionais e edifícios residenciais –, ele também desenhava em qualquer circunstância, como nas inúmeras reuniões de que participou. Não à toa, dizia que todo mundo deveria fazer pelo menos um desenho por dia. Pela primeira vez publicados, os desenhos e gravuras de Sanovicz estão organizados por temas neste livro. Há autorretratos, imagens produzidas em reunião, figuras do imaginário judaico, remissões a outros artistas, desenhos de objetos, paisagens e nus. A coletânea tem ainda desenhos feitos a pastel e gravuras. Completam a obra textos que dimensionam a complexidade criativa de Sanovicz. A arquiteta e professora Helena Ayoub Silva escreve sobre sua trajetória profissional, do estágio no escritório de arquitetura em Santos à realização de grandes projetos e à livre-docência na FAU-USP. E o jornalista especializado José Wolf analisa o traço “enxuto e plural”, “racional e democrático” de Sanovicz, bem como sua extensa produção como arquiteto e designer.
Abrahão Sanovicz desenhos e gravuras
seus traços leves e fluidos sobre o papel, Abrahão Sanovicz criou uma sensação mágica e misteriosa, revelando uma de suas grandes paixões: o desenho. Com movimentos límpidos e lépidos, sobre o papel ou o quadro negro, Abrahão exerceu em todos nós o fascínio pelo seu traço poderosamente criador.
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obra de Abrahão Sanovicz fala de todos nós, colegas da FAU e arquitetos formados nos anos 1950 em São Paulo, embora talvez nenhum outro arquiteto daquela geração tenha manifestado com seus projetos um compromisso tão forte com a cultura brasileira (presença de Mario de Andrade...) e uma disciplina tão rigorosa no exercício do ato de projetar. Trabalhando e pensando como um arquiteto de nosso tempo, ele questiona seu papel na história, povoando seu universo de referências essenciais: Breuer, Mies, Wright, Terragni, Lucio (Costa, é lógico), Oscar (mais ainda Reidy e outros “cariocas”), Artigas (respeitosamente) e muito, mas muito Le Corbusier. E ainda Picasso, as gravuras de Segall, os stabile de Calder. Completam o quadro, suas preocupações com as questões do design, (que ele aprofundou com Nizzolli em Milão), e da comunicação visual (com Buffoni em São Paulo). Alimentando esse universo com sua sensibilidade e seu conhecimento teórico e técnico, Abrahão Sanovicz realiza uma arquitetura forte, coerente, precisa e admirável, não apenas pela sua obstinação em evitar os efeitos especiais, a grandiloquência, o discurso vazio mas, principalmente pelo rigoroso cuidado em trabalhar com o desenho da construção do espaço, elevando-o a nível da verdadeira obra de arte. Eduardo de Almeida Arquiteto e designer industrial, foi docente da FAU-USP de 1967 a 1998.
Helena Ayoub Silva Arquiteta, mestre e doutora, é professora de arquitetura na FAU-USP desde 1989.
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