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5ª edição
Maria Emmir O. Nogueira
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Coordenação Geral Filipe Cabral Coordenação Editorial Carolina Fernandes Revisão Amanda dos Reis Cividini Maria Lidijane Pinheiro do Nascimento Monique Linhares Theresa Emígdio de Castro Diagramação Everton Sousa de Paula Pessoa William Alves dos Santos Capa Leonardo Biondo Imagem da Capa Femme en marche, de Père Teilhard de Chardin
Edições Shalom
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ISBN: 978-85-7784-044-1
© EDIÇÕES SHALOM, Aquiraz, Brasil, 2012. (5ª edição)
Amor Esponsal: chama viva que inflama e purifica o coração, capacitando-o a aderir, incondicionalmente e com vigor, à bem-aventurada vontade do Pai. Moysés Azevedo Filho Carta à Comunidade 2005
À Mari, que, por amor à vocação, insistiu, rezou e acreditou.
Introdução
Escrever sobre o Escrito Amor Esponsal foi um desafio adiado muitas vezes, por anos seguidos. Em primeiro lugar, pela óbvia incapacidade de tocar no mais precioso núcleo de nossa vocação, no seu cerne. Em segundo lugar, porque era preciso encontrar o tempo certo, o tempo de Deus, e nós aguardávamos o seu sinal. Ele veio de modo inesperado: através de uma aguda visão de minha infidelidade e incapacidade de vivê-lo, uma verdadeira e dolorosa crise provocada pelo Espírito da Verdade, que nos faz enxergar o quanto não vivemos nossa vocação, nosso chamado, o quanto não correspondemos ao amor do Esposo por nós. Segundo o próprio Escrito, o reconhecimento de nossas faltas é o primeiro passo em direção ao amor esponsal. Resolvi, então, mergulhar de cabeça nesta aventura, na certeza de que outros virão e estudarão o texto com maior base de estudo e pesquisa. O objetivo, aqui, aliás, não é fazer estudos teológicos ou de espiritualidade sobre o texto, mas ajudar cada um de nós a compreendê-lo melhor, saber do que o fundador está falando para poder segui-lo como discípulo neste que é o ponto mais importante de nossa vocação. 9
Concluí o estudo “oracional” com algumas certezas: A Encíclica Deus Caritas Est é um sinal de Deus de que é tempo de estudarmos melhor o Escrito Amor Esponsal e fornece-nos chaves preciosas para este estudo. Se fosse escrito em outra época, este Escrito poderia muito bem entitular-se “de como amar a Deus e ao irmão segundo o carisma Shalom”. Ainda nos falta um longo caminho de oração e estudo para apreendermos o que nos quis dizer o fundador. É realmente, unicamente através do Espírito Santo, que este amor pode ser vivido por nós. É importante ressaltar que esta é a minha forma pessoal e oracional de ler e entender o Escrito, como alguém que esteve próximo ao fundador na época em que foi escrito e nos anos seguintes. Se Deus quiser, muitos outros ainda escreverão sobre este assunto a partir de vários outros ângulos e visões, o que será grande enriquecimento para todos. Assim, mais que como mestra (o que, certamente, seria presunção), é como uma mãe sentada no chão arrodeada por seus filhos, que quero escrever: partilhando vivências, contando histórias, dando exemplos, desencavando lembranças.
Para entender o Escrito Creio necessitarmos de alguns dados históricos importantes para entendermos melhor este Escrito: Quando ele foi feito, estávamos em meio a uma crise de identidade. Não havia espiritualidade firmada em nosso meio, exceto a da RCC, e fazia-se necessária uma definição de espiritualidade, uma vez que as pessoas esmoreciam no louvor, na oração, na unidade com o fundador. Nosso fundador tinha, na época, 25 anos, o que me enche de perplexidade e louvor a Deus cada vez que leio o texto. 10
Tamanha sabedoria e profundidade não podem vir da imaginação ou experiência de um jovem de 25 anos, cujas áreas de estudo haviam sido geologia e fisioterapia. Tudo isso, e mais a intensidade e profundidade do texto, e a maneira como ele faz vibrar nosso coração, testemunha: de fato, este é o texto-cerne de nossa vocação, de fato, nele fala a voz de Deus, de fato, nossa vocação vem de Deus. Temos em mãos uma profecia em todos os sentidos. No sentido histórico, na perspectiva da vida espiritual e consagrada, o texto é uma seta que aponta e corre, ligeira, para pelo menos vinte e cinco anos adiante na história da Igreja do mundo inteiro. Hoje constata-se com facilidade que a Nova Evangelização, tão sonhada pelos últimos papas, será posta em prática por uma geração de apaixonados por Jesus. Uma geração de almas esposas que dá a vida para fazer amado seu Esposo! Nosso principal Escrito, entretanto, não é um escrito linear. Não tem propósitos didáticos, mas é uma “explosão” do coração do fundador e, como tinha de ser, no nosso caso, um coração jovem, apaixonado, ousado, cheio de parresia. Isso fará sua leitura menos fácil, mas certamente mais fascinante. Não estaremos seguindo os caminhos de uma cabeça presunçosa e imaginativa, mas as aventuras de um modesto coração perdido de amor. A linguagem deixa entrever um homem de Deus profundamente humilde, mas em tudo intenso. Intenso em sua paixão, em seus adjetivos, em suas explicações, em sua forma de arrumar o texto. Queria ensinar aos seus discípulos, sim, mas queria fazê-lo pela via do amor que deixa transparecer na intensidade de sua expressão. 11
Quando a lembrança ensina Coube a mim o privilégio imenso de “datilografar” este e os outros Escritos e as Regras1. Humildemente, o Moysés dizia: “Você vai datilografando e vai marcando aquilo que achar que poderá ser modificado. Depois, agente conversa sobre cada coisa”. Digamos que em cada dez observações, ele acolhia 1/25. “Que tal dividir este parágrafo? Tem dois assuntos diferentes”, disse eu, por exemplo, sobre o parágrafo 4. “Não... quero isso tudo junto, para entenderem que o nosso chamado é consumir nossas vidas através do amor integral e por Ele”. Eram dois aspectos do parágrafo imenso e, no bom português, ficaria melhor se fosse dividido. No entanto, eu logo entenderia que o português é uma coisa, regido por regras claras, feitas pela lógica humana ao longo de séculos e que o “moysesês” é outra coisa, regido por regras lançadas com a fundação da comunidade, que é melhor respeitar para não se arriscar a mudar o sentido impresso pelo coração de Deus e do fundador. Hoje, ao estudar a hermenêutica dos fundadores, tomo conhecimento de como cada palavra, cada expressão, cada neologismo é precioso para o conhecimento do “espírito do fundador”. Dou, então, graças a Deus por, em todas as vezes exceto uma, ter deixado de lado os purismos da língua em favor das inspirações da linguagem do fundador, que revela seu espírito. Louvo a Deus, também, por estar viva para contar a história.
A transcrição do texto Em vistas de uma nova publicação dos Escritos, e para facilitar nosso trabalho, o Escrito será editado a seguir com uma numeração só sua. Deus nos socorra em nossa fraqueza e nos ajude a tocar com todo respeito e entender melhor o precioso cerne de nossa vocação. 1
As “Regras” da Comunidade. Hoje documento histórico, substituídas pelos Estatutos e Escritos da Comunidade Católica Shalom.
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Amor Esponsal
1. Gostaria, se isto fosse possível, de transpor para este papel o que se passa neste momento em meu interior acerca do Amor Esponsal. Sei que somente o Espírito Santo, o Inflamador das Almas, pode realizar este amor em nós. Por isto, antes de abordarmos o assunto, peçamos que o Espírito aja em cada coração que deseje compreender este chamado. 2. “O Amor não é amado!”. Era este o brado de Francisco de Assis que chegou a nossos corações e os tocou. Ao procurarmos corresponder, encontramos o caminho e a verdade expressos por Santa Teresa D’Ávila quando diz “Só Deus basta”. 3. Inspirados por estas verdades expressas pelos santos baluartes de nossa vocação (Francisco de Assis e Teresa D’Ávila) nossos corações se abriram ao Espírito Santo que começou a trabalhar em nossas almas e levá-las ao cerne de nossa vocação: o Amor Esponsal a Nosso Senhor Jesus Cristo. 4. Não poderá jamais existir a verdadeira Paz nas almas dos homens e no mundo se esta Paz não estiver embasada em um amor incondicional a Jesus Cristo, pois aí nasce o Shalom de Deus. Aí está também aquilo a que fomos chamados: a entregar, consumir nossas vidas neste amor. No amor que busca cada vez mais o esquecimento de si, de 13
sua própria vontade, de seus próprios interesses, de sua própria vida e que, cada vez mais inflamado de amor pelo Amado, busca somente a Ele, a vontade Dele, os interesses Dele, a vida Dele, a obra Dele. 5. Em seu infinito amor o Pai quis escolher almas esposas para Seu Divino Filho e para isto não escolheu as melhores, as mais belas, mas, a fim de manifestar a sua glória e seu poder, resolveu escolher as mais pecadoras, as mais fracas, os vasos de argila, para aí realizar Sua grande obra. Toda a glória pertence, assim, Àquele que nelas tudo realizou. 6. Chamados que fomos a termos nossas almas escolhidas para serem esposas do Senhor, precisamos reconhecer que somos os menores, os mais fracos, os mais pecadores, miseráveis, até, e que nenhum mérito possuímos por nós próprios. Nosso lugar é o da Pecadora e o de Maria de Betânia - aos pés Daquele que tanto nos amou e escolheu, movido unicamente por sua imensa Misericórdia. 7. Não é difícil percebermos esta realidade. Basta olharmos de onde o Senhor nos tirou quando tocou nossas almas e nos chamou para segui-Lo e reconhecermos em nosso dia a dia a nossa total incapacidade de, por nós próprios, sermos fiéis à Sua voz. 8. Como esta realidade contrasta com Seu amor eterno e paciente por cada um de nós, com sua misericórdia estendendo-se ao longo de nossas vidas, com Seu amor e Sua escolha irrevogável pelos nossos corações! Que fazer, ó Senhor, a não ser amar-Te perdidamente! Entregarmo-nos a Ti com toda a nossa fraqueza e, apesar dela, nos consumirmos de amor por Ti e sermos servos de Teu Reino? 9. Nosso coração só pode ter gratidão ao Senhor, gratidão eterna e unir todo o nosso ser para corresponder a este Amor Perfeito com que Ele nos ama! E só há uma maneira de corresponder: amando, consumindose de amor por Aquele que tanto nos amou! 10. Nosso amor, porém, é imperfeito. Como responder a este sublime chamado? Somente clamando ao Espírito de Amor para que inflame nossas almas e nos impulsione a este Amor Infinito. Ao nosso clamor este Espírito virá e impulsionará nossas almas, nossas orações, nossos corações. 14
11. Um coração inflamado por este amor tudo realiza, a tudo se dispõe. Inflamados por este imenso amor os santos caminharam, os mártires entregaram suas vidas e também nós desejamos prosseguir. Nosso alvo é a santidade, não por presunção, mas por vocação, pois todos os homens a isto são chamados. Queremos ser santos não por nossos méritos, mas confiando inteiramente na graça de Deus. Queremos ser santos não para nós próprios, mas para Deus. Queremos ser santos porque sabemos que a santidade é a veste nupcial que nos permitirá entrar para celebrarmos nossas bodas com o Cordeiro. Ansiamos pela santidade e faremos de tudo instrumento para este fim, porque sabemos que Aquele que nos ama e que é amado por nossos corações anseia por isto muito mais que nós! O Amor Esponsal é meio e fim para a santidade. 12. Neste caminho de Amor Esponsal e santidade, o Senhor nos dá um modelo: Francisco de Assis. Como o Senhor deu a Francisco um coração amante e despojado assim também Ele no-lo quer dar. Por outro lado, o Senhor nos dá um caminho a seguir: o de Santa Teresa D’Ávila. O caminho de oração, de intimidade com o seu Senhor, de união íntima com o Amado é caminho também para nossas almas. 13. Por serem modelo e caminho, estes dois santos, de uma maneira particular, se tornam padroeiros de nossa vocação, colunas em nosso caminho, intercessores no céu, modelos a quem nossos corações devem imitar. 14. Na Comunidade, a espiritualidade do Amor Esponsal será fomentada pelo estudo da vida e dos escritos de São Francisco de Assis e Santa Teresa D’Ávila, buscando através deles vivenciar, dentro de nossa vocação, o amor que ardia em seus corações. 15. Junto a eles está a Rainha da Paz, como Maria se intitula nas aparições de Medjugorje, na Iugoslávia. Antes mesmo de conhecer o conteúdo de sua mensagem nestas aparições, Deus já colocava em meu coração que a Rainha da Paz tinha muito a nos falar. Foi grata a surpresa de ver enunciado em sua mensagem o muito que Deus já colocara em nossa vocação. Apeguemo-nos profunda e verdadeiramente 15
Àquela que é a Esposa do Espírito Santo e imploremos sua intercessão para que Ele gere em nossos corações o Amor Esponsal a seu Filho Jesus. 16. Na Obra Shalom, o Amor Esponsal não se acha caracterizado somente pela vocação celibatária. Não! Todos são chamados a possuí-lo, todos são almas esposas de Jesus. Todos devem buscar ser as virgens prudentes que esperam o momento das Núpcias, mantendo acesa a chama do amor em suas lâmpadas. Leigos, sacerdotes, celibatários, jovens, crianças, homens, mulheres, casados, todos são, no Shalom, chamados a assim amarem a nosso Rei e Senhor e, cada vez mais inflamados por este amor, na sede pela oração (união com o Amado) e no serviço (fazendo a vontade do Amado), a deixarem o Espírito impulsionar sua vocação e suas vidas. O sinal do Amor Esponsal é possuir um coração inflamado de amor por Jesus Cristo e sempre desejar mais, pois quando se ama assim, sempre se considera pouco e sempre se anseia amar mais, mais, mais... 17. A vida de união íntima com Jesus através da oração é a fonte para o desabrochar e o amadurecimento deste Amor Esponsal. Não pode haver Amor Esponsal sem que diariamente procuremos nos encontrar com o Amado e ganharmos bom tempo em Sua companhia, em adoração, louvor e escuta. A oração pessoal é a ocasião em que o Senhor vem edificar esta obra de amor em nós. A contemplação do Amado é o jardim que o Espírito Santo encontra para semear e colher estas rosas de amor. Por isto, repito, todos os que possuem a vocação Shalom devem estar conscientes que é uma vocação fundamentada na oração, que este Amor Esponsal deve inflamar as almas e que a fonte deste amor se encontra no caminho da oração, no pleno sentido da palavra: pessoal, diária, contemplativa, parada com Deus, aos moldes de Santa Teresa D’Ávila. 18. O Reconhecimento de nossas faltas e o arrependimento são fontes de alimento deste amor, pois quanto mais percebemos o quanto não merecemos o amor de Deus, mais nosso coração se inflama de gratidão Àquele que misericordiosamente nos ama tanto. 19. Louvor e a adoração são as formas mais plenas de, na oração, transbordar este Amor Esponsal a Jesus, pois a gratidão é a única linguagem que estas almas sabem falar. 16
20. Ser amantes da Santíssima Vontade do Pai e ter toda a diligência para descobri-la e cumpri-la é a forma mais plena de, na vida, transbordar este amor, obedecendo fielmente à voz do Amado. Descobriremos esta Vontade tanto mais claramente quanto mais desenvolvermos nossa escuta ao Senhor. Digo escuta no sentido pleno da palavra: escuta de Deus em nossa oração, em Sua Palavra, nas moções do Espírito, no silêncio interior onde se ouve a voz de Deus. 21. A voz do Amado é reconhecida pela alma que O busca, que tem intimidade com Ele na oração. Sem uma verdadeira, fiel e autêntica vida de oração diária é impossível reconhecermos a voz Daquele que muitas coisas nos quer falar e corremos o risco de, surdos à Sua voz, chamar às nossas paixões, à nossa carne, aos nossos planos pessoais e à nossa vontade própria, de voz de Deus. 22. Esta é uma armadilha sutil que o inimigo das almas usa para afastá-las do caminho da salvação. A única maneira de lutarmos contra tudo isto é não procurando mais ver as coisas como “homem natural” (ICor 2,13-16) mas como o “homem espiritual” as vê, e só poderemos ter esta visão mergulhando na contemplação, em intimidade com o Amado. Através desta intimidade poderemos conhecer, ouvir, discernir e amar esta Santa Vontade. Sermos amantes da vontade de Deus todos os momentos de nosso dia e de nossa vida é descobrir e beber da fonte da Paz e da Felicidade. 23. Outra maneira que o Senhor nos convida a amá-Lo é tudo fazendo por amor a Ele: nossos trabalhos, nossas atitudes, tudo por Ele. 24. É anseio do Coração do Amado que nos dediquemos a dar provas de amor uns para com os outros. O amor ao irmão é uma maneira concreta de mostrarmos o quanto amamos o nosso Amado, amando aquele a quem tanto Ele ama e por quem Ele deu a sua própria vida. Como não dar a vida por aqueles por quem o Amado a deu? É vontade do Senhor que transbordemos este amor sobre aqueles que Ele ama. O Senhor quer de nós para com eles o perdão, mansidão, paciência, generosidade, bondade, alegria, dedicação, amor, serviço. O Senhor deseja que demos aquilo que Ele nos dá e 17
isto não nos empobrecerá, mas, pelo contrário, nos enriquecerá aos olhos Daquele que nos ama. 25. Devemos enxergar nos irmãos excelente oportunidade de darmos provas de amor a nosso Rei. Aceitando as suas ofensas, ouvindo os seus queixumes, amando os que não são amados, perdoando os que são difíceis de perdoar, vivendo o Seu Amor, de maneira especial com os que mais necessitam Dele, estaremos vivendo nossa vocação que é Vocação de amor, por amor e para o Amor. 26. O caminho do Amor Esponsal é ainda o desapego. É necessário desapegarmo-nos de tudo, de nós mesmos, das pessoas, das coisas, de nosso futuro, de nossas ideias, de busca de poder, de busca de satisfação, para nos apegarmos somente a Deus, pois tudo passa e somente Ele permanece. Enquanto possuirmos uma só coisa ou pessoa, o Amor de Deus não será pleno em nós; não poderemos voar em Seu amor, pois a posse pesa e nos impede de alçar o livre voo dos filhos de Deus. 27. O louvor, a adoração, a busca e fidelidade à Santíssima Vontade de Deus, o amor ao irmão e o desapego, eis o que Deus anseia de nós, eis ao que Ele nos chama, a nossa vocação. Conceda-nos o Senhor a infinita graça de vivê-la.
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PARTE I
A EXPERIÊNCIA FUNDAMENTAL
CAPÍTULO I
Conversa em família
C
omo me falta o tempo para este tipo de pesquisa, terei de confiar-me em minha memória para recontar a história do Amor Esponsal entre nós. Quando o Moysés apresentou os Escritos aos que caminhavam com ele, alguns logo perceberam não ser aquele o seu chamado e, em sua liberdade e retidão de consciência, afastaram-se da comunidade que se formava. Para os que permaneceram, o termo novo – “Amor Esponsal” – logo foi incorporado às músicas, às orações pessoais e comunitárias, ao vocabulário de cada dia, às formações pessoais e comunitárias. Queria saber se alguém era Shalom? Era só verificar o “termômetro do amor esponsal”. O comentário era: “Já viu fulano? É Shalom demais, não é? Ave Maria! O amor esponsal dele é impressionante! Já “viu ele” rezando? Dá gosto de ver! É um apaixonamento... só ele e Jesus!” Estava decretado aquele ali era “Shalom para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque”. Naturalmente, o termo não foi absorvido em toda a sua profundidade desde o início. Para ser bem franca, acho que teremos 21
Escrito Amor Esponsal ainda uma longa caminhada para compreendê-lo em sua plenitude. No começo, os rapazes tinham um pouco de dificuldade, pois não lhes soava bem ser “esposa” de Jesus, ainda que fosse “alma esposa”. É que o primeiro conceito absorvido foi muito ligado ao Cântico dos Cânticos, segundo a espiritualidade católica tradicional, ainda com um cunho um pouco romântico, no sentido conjugal. Isso era representado e cantado em dança e música, em prosa e poesia e era visível a inadaptação dos rapazes ao novo conceito. O único que não parecia ter problema nenhum era o Moysés, o que era facilmente explicável pelo fato de ele ter recebido de Deus o conceito original, fundante, profético. Depois desta época, fomos absorvendo um pouco mais do que era este amor esponsal que Deus nos havia dado. Veio o inesquecível tempo da radicalidade evangélica, acompanhada de Francisco, da forte influência da oração de Teresa, do amor esponsal e o amor ao não-amável. Era como se Deus permitisse que pegássemos este ou aquele trecho, em preparação do dia em que pudéssemos entender o Amor Esponsal como um todo. Sei que este dia ainda não chegou, mas juntos, através deste livro, poderemos “dar uma mãozinha”.
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