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PARCERIA:
ANO 06 | Nº 13 | R$ 9,00 | 2º SEMESTRE 2019 | ISSN 2317-7667 WWW.REVISTATUTORES.COM.BR
MEU FILHO NÃO FALA Atenção: pode ser apraxia, um distúrbio neurológico pouco conhecido no Brasil
FAMÍLIAS FORTES
Veja como esse conceito pode evitar a ocorrência da violência familiar
TRANSTORNOS DE APRENDIZAGEM
Pós-doutor em Ciências da Reabilitação lança livros sobre o tema na Tutores
BEM-VINDO
AO GRUPO DE PAIS Conflitos no WhatsApp são as ocorrências digitais mais comuns nas escolas na atualidade. Como lidar com esses grupos?
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SUMÁRIO
ESPECIAL
EDITORA RESPONSÁVEL
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Se você tem filho na escola, pertence ou já fugiu de um grupo de whats app de pais. Mas você sabia que a falta de gerenciamento dessa ferramenta é hoje a principal causa de processos contra instituições de ensino? Como lidar com esses grupos?
Editora Lamonica Conectada Tel.: (11) 3214-5938 / 3251-3476 / 3256-4696
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Publisher José Lamônica - lamonica@editoralamonica.com.br
O especialista em transtornos de aprendizagem Rafael Silva Pereira fala sobre o lançamento de livros didáticos para diagnóstico e intervenção de cada caso desses distúrbios neurológicos
Edição Andréa Cordioli (MTb: 31.865) andrea@editoralamonica.com.br Repórter colaboradora Renata Turbiani Diagramação Marcelo Amaral - marcelo@editoralamonica.com.br Diagramador colaborador Lucas Barone Faria COMERCIAL PROJETOS E VENDAS DE PUBLICIDADE Sede 55 (11) 3256-4696 - 3214-5938 Gerente Comercial Thais Andrade - 55 (11) 99115-3339 thais@editoralamonica.com.br Gerentes de Contas Bruna Ribeiro - 55 (11) 98568-2920 bruna@editoralamonica.com.br Luzia Rodrigues - 55 (11) 97014-2726 luzia@editoralamonica.com.br Patrícia Cestari - 55 (11) 94797-5823 patricia@editoralamonica.com.br
NA LOUSA
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Estima-se que um em cada 68 bebês nascidos tenham características do Transtorno do Espectro Autista. Quais são os direitos dessa população e como garantir uma educação inclusiva?
PAIS E ALUNOS
Assinaturas: (11) 3214-5938 / 3251-3476 / 3256-4696
www.revistatutores.com.br
NOTA MÁXIMA
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A criança tem dificuldade falar? Atenção: pode ser Apraxia da Fala na Infância (AFI), um distúrbio neurológico pouco conhecido e que atinge a produção motora dos sons da fala E MAIS: WWW.REVISTATUTORES.COM.BR
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Saiba como o conceito de “famílias fortes” pode ajudar a evitar a ocorrência da violência familiar, da vulnerabilidade social e infantojuvenil e da dependência química entre crianças e adolescentes.
Logística e Mercado Mônica Cavalcante - monica@editoralamonica.com.br Administração e Financeiro Silvia Medeiros - silvia@editoralamonica.com.br
A Revista Tutores é uma publicação semestral produzida, distribuída e comercializada pela Editora Lamonica Conectada. Disponível nas versões impresso, web, smartphones e tablets
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04 TiTiti da Educação 07 Sem TiTubear 24 Encontre a Tutores
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i iti da Educação
ENEM TERÁ APLICAÇÃO DIGITAL EM FASE PILOTO EM 2020 O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) terá aplicação digital, em modelo piloto, a partir de 2020. A implantação da novidade será progressiva, com previsão de consolidação em 2026. Segundo o Ministério da Educação (MEC), as primeiras provas digitais serão opcionais – os participantes poderão escolher a modalidade no ato de inscrição. Com essa nova versão, o governo federal pretende realizar o exame em várias datas ao longo do ano, por agendamento. Do ponto de vista técnico, o Enem Digital permitirá a utilização de novos tipos de questões com vídeos e infográficos.
USO SAUDÁVEL DE TECNOLOGIA EM CRECHES E ESCOLAS Evidências de pesquisas científicas sugerem: dispositivos tecnológicos de telas e mídias oferecem benefícios e riscos para a saúde das crianças e adolescentes, tornando-se necessário o planejamento de familiares, professores e cuidadores para manter o processo de desenvolvimento de forma adequada. Para tratar do assunto, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) lançou o documento “Uso saudável de telas, tecnologias e mídias nas creches, berçários e escolas”. A proposta é partilhar conhecimentos da literatura científica médica com equipes de pedagogos, professores, auxiliares escolares e educadores sobre o uso correto da tecnologia em prol de um desenvolvimento neuropsicomotor satisfatório na infância e adolescência. O relatório completo pode ser baixado no site da SBP: www.sbp.com.br.
NOVO PROGRAMA DE ROBÓTICA EDUCACIONAL A Viamaker Education tem um novo programa de robótica educacional, o Astromaker. Com realidades aumentada e virtual, atividades extraclasse e versão em inglês, ele é acompanhado de um aplicatico gamificado, o Clube Maker, no qual alunos e pais ou responsáveis podem desenvolvem juntos atividades makers complementares, além de fazer o acompanhamento on-line das aulas. A metodologia de ensino do Astromaker é formada por três eixos fundamentais: Explorar (pesquisar e desenvolver soluções), Criar (construir tecnologia e programação) e Compartilhar (difundir experiência e conhecimento a todos). Mais informações: www.viamaker.com/empresa.
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CURSOS ON-LINE GRATUITOS DE TECNOLOGIA Alunos e professores que gostam de tecnologia podem participar da iniciativa Code IoT, promovida pela Samsung em parceria com o LSI-TEC (Laboratório de Sistemas Integráveis Tecnológico). Na plataforma de cursos on-line gratuitos Code IoT, os temas abordados são Introdução à Internet das Coisas; Aprendendo a Programar; Eletrônica: Conceitos e Componentes Básicos; Programação Física; Aplicativos para Dispositivos Móveis; e Objetos Inteligentes Conectados. As aulas começam no dia 2 de setembro e as inscrições podem ser feitas no site www.codeiot.org.br. Para os docentes, o Code IoT na Escola tem como proposta apresentar conteúdos específicos, estimulando a prática do ensino de tecnologia em sala de aula. Ele é complementado por um dia de formação presencial, o “Code Day”, que será realizado nos dias 10 e 24 de agosto no campus da Universidade de São Paulo (USP), em São Paulo. www.naescola.codeiot.org.br
PARQUINHO É PROJETADO PARA EXERCITAR O CORPO E A IMAGINAÇÃO Uma escola da Zona Sul de São Paulo ganhou um parquinho onde as crianças têm a possibilidade de exercitar o corpo e a imaginação. Uma das atrações é um brinquedo com múltiplas possibilidades de visualização, já que foi projetado com formas apenas sugestivas. Antigos brinquedos de madeira, que já existiam no local, foram transformados em uma casa suspensa, com pontes oscilantes, escorregadores e parede e rede de escalada. O espaço ganhou ainda um pergolado com balanço, um jacaré de troncos de eucalipto, uma bancada para experimentos artísticos, um chalé suíço ladeado por banquinhos em forma de caramujo e dois pares de orelhões em forma de flor. O projeto é da Lao Engenharia e Design. Mais informações: www.laoengenharia.com.br
APENAS 1% DOS BRASILEIROS TEM FLUÊNCIA EM INGLÊS Levantamento do British Council, instituição pública do Reino Unido, aponta que 5% da população brasileira sabe se comunicar em inglês e que, desse total, apenas 1% apresenta algum grau de fluência. Atualmente, o País é o 41º colocado no ranking internacional de proficiência na língua inglesa, ficando abaixo de outras nações da América Latina, como Equador, Chile e Peru. Apesar disso, o investimento no aprendizado do idioma tem registrado bons números. Prova disso é que o setor movimentou R$ 270 bilhões em 2018, segundo a Associação Brasileira do Ensino Bilíngue (Abebi).
TODOS PELA EDUCAÇÃO LANÇA ANUÁRIO BRASILEIRO DA EDUCAÇÃO 2019 Recentemente, a organização Todos pela Educação e a editora Moderna lançaram o Anuário Brasileiro da Educação 2019, documento que traz um panorama da educação no Brasil. Nessa última edição, um dado que chamou a atenção foi o de que, no ano passado, 37,8% dos professores do Ensino Fundamental 2 (entre o 6º e o 9º ano) não tinham licenciatura ou complementação pedagógica na área da disciplina pela qual eram responsáveis. O documento também revelou que o País ainda tem 1,5 milhão de crianças e jovens (de 4 a 17 anos) fora da escola. Outra informação importante foi a de que no território nacional, de cada 100 estudantes que ingressam na escola, 90 concluem o Ensino Fundamental 1 até os 12 anos (e 60,7% têm aprendizagem adequada em português e 48,9% em matemática); 76 concluem o Ensino Fundamental 2 aos 16 anos (39,5% têm aprendizagem adequada em português e 21,5% em matemática), e 64 concluem o Ensino Médio aos 19 anos (29,1% com aprendizagem adequada em português e 9,1% em matemática). Outras informações no site www.todospelaeducacao.org.br.
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i iti da educação Eu leio
Dicas da Tutores para você LIVRO PARA MÃES DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES AUTISTAS
CURSO PROPÕE DEBATE SOBRE URBANISMO ENTRE ALUNOS
A médica especialista em Medicina Oriental Li Hui Ling, que trabalha com mães de crianças e adolescentes que sofrem do Transtorno do Espectro Autista (TEA), acaba de lançar o livro Mandalas das Emoções: Mães do Autismo, sobre a técnica integrativa das Mandalas das Emoções. A obra, escrita com muita empatia, mostra que ao lidar com esses pacientes em seu neurodesenvolvimento atípico, faz-se necessário conhecer o universo do transtorno e, mais que isso, compreender o desenvolvimento humanizado nas esferas biológica, neuropsicossocial e educacional. O lançamento é da ADCiência com o apoio da Tutores e custa R$ 35,00, com parte do valor revertido para a organização não-governamental Assistência à Saúde ao Paciente com Epilepsia (ASPE). Mais informações pelo e-mail adciencia@gmail.com
Com o objetivo de despertar os jovens para a importância de compreender a cidade, ao mesmo tempo em que descobrem como interferir nela, os arquitetos Vinicius Andrade e Beatriz Vanzolini, em conjunto com a equipe da plataforma Arq. Futuro, lançaram o curso Aprendendo a viver na cidade. Voltado para alunos dos ensinos Fundamental e Médio, ele conta com livros, vídeos e áudios da série Cidade Cidadão, e as escolas que quiserem implementá-lo em sala de aula ainda têm acesso a um Caderno dos Professores, em formato digital, com sugestões e propostas pedagógicas. Dentre os temas tratados estão conceitos-chave do urbanismo moderno e desafios enfrentados pelos grandes centros urbanos. Mais informações: www.arqfuturo.com.br
APOIO E PATROCÍNIO
REFLEXÃO SOBRE A ESCOLA DO FUTURO Preocupados com as mudanças pela quais passa o ensino padronizado, o especialista em novas tecnologias, criatividade e inovação Marcos Piangers e o doutor em engenharia, professor universitário e pesquisador em design para a educação Gustavo Borba decidiram discutir o assunto em A Escola do Futuro, lançado pela editora Penso (Grupo A) e publicado em parceria com a Belas Letras. Em um cenário no qual a informação é aberta e o acesso praticamente irrestrito, e qualquer um pode divulgá-la a partir de sua compreensão e perspectiva, o livro aponta que é fundamental o papel do professor como alguém que desenvolve competências múltiplas, além das clássicas de comunicação, e ainda fala de inteligência emocional e tecnologia na educação. O preço é R$ 39,00. Mais informações: www.grupoa.com.br
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Sem Tenho um filho adolescente de 14 anos. Os professores reclamam que ele está dormindo em sala de aula, pois estuda no período da manhã e as aulas iniciam às 7h30. Como posso regular a quantidade de horas que ele deve dormir para prestar atenção nas aulas? Estudos apontam que o sono é uma função biológica indispensável para a regulação do organismo como um todo, além de regular a saúde mental, emocional e cognitiva. O sono está ligado aos processos de crescimento, restauração, regeneração e fixação da nossa rotina diária que envolve a aprendizagem de tudo o que vivenciamos durante o dia. Especialistas têm recomendado oito horas de sono para adultos e até dez horas para adolescentes, a fim de favorecer a saúde dos sistemas nervoso, endócrino e imunológico. Portanto, dormir é fundamental para que ocorra a aprendizagem. Uma sugestão é que o adolescente deva ser orientado para praticar os bons hábitos de higiene do sono, que devem ser adotados também pelos demais moradores da casa, como dormir sempre no mesmo horário e desligar todos os aparelhos eletrônicos.
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Estou muito descontente com a educação que as escolas podem oferecer para a minha filha, que está iniciando na alfabetização (1º ano), e pretendo que ela tenha aulas em minha casa (ensino domiciliar). O que devo fazer? Sua filha iniciou na escola regular todo um processo de aprendizagem que envolve não somente adquirir conhecimento, mas também relacionar-se e aprender por meio da socialização com outras crianças. A educação regular proposta nas escolas é embasada em parâmetros curriculares que permitem o conhecimento ser distribuído em áreas e disciplinas. Para uma criança estudar exclusivamente em ensino domiciliar, os pais deverão responder à Justiça da Infância e da Juventude, além de entrar com uma ação judicial para assumirem esse tipo de educação. Somos favoráveis à compreensão sobre o que é melhor para o desenvolvimento saudável de uma criança. A escola regular é um espaço saudável para que ocorra a aprendizagem e permite ao aluno adquirir conhecimento, aprender e ter uma formação da cidadania.
Tenho dois filhos, de 8 e 11 anos. Eles chegam da escola e jogam todos os materiais em qualquer lugar e seus brinquedos ficam espalhados pela casa. Como posso criar neles o hábito de organização? Eles devem compreender que seus objetos são responsabilidade deles, nãos sendo de responsabilidade da mãe organizar a bagunça espalhada pela casa. Os cérebros em desenvolvimento das crianças expostos a desafios e problemas reais desenvolvem estratégias de resolução de situações que permitem desde a solução de problemas que envolvem aprender matemática, negociação, calcular a quantidade de objetos espalhados e o tempo que se gasta para colocar nos lugares certos, assim como usar a motricidade fina para juntá-los, pois foram deixados fora do lugar combinado. Tudo isso, muitas vezes, quando tratado de forma lúdica e sem a presença de um adulto para cobrar a atitude de organização do espaço, estimula o desenvolvimento de habilidades executivas que permitem criar estratégias de organização pessoal e tomada de atitudes saudáveis que facilitam nos estudos.
Se você tem alguma dúvida, crítica ou sugestão escreva para canaldoleitor@editoralamonica.com.br
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CÉREBRO ATIVADO O pós-doutor em Ciências da Reabilitação Rafael Silva Pereira fala sobre transtornos da aprendizagem e o lançamento de uma série de livros sobre o tema para a Tutores
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econhecer um transtorno de aprendizagem nem sempre é tarefa fácil. Apenas profissionais altamente capacitados são capazes de fazer um diagnóstico preciso e determinar a intervenção mais adequada para cada caso. Mas, assim como os pais, a literatura científica está aí para ajudá-los nisso. E em breve haverá novidades nessa área: a Tutores lança em agosto, durante a sua Convenção anual, uma série de livros sobre essas condições. O projeto está sendo elaborado pelo professor e especialista em transtornos de aprendizagem Rafael Silva Pereira, que nos conta a seguir um pouco do que vem por aí.
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Como é essa série de livros? Foi com enorme satisfação que a Disclinica, a equipe multidisciplinar da qual sou diretor, recebeu esse convite. Para além de ser revelador da confiança no trabalho, é acima de tudo um real manifesto da Tutores com a preocupação na evolução dos alunos que acompanham. Qual é o objetivo desse material? Ele permitirá que os profissionais que fazem parte da rede possam levar aos seus alunos uma melhor intervenção. Produzimos cinco manuais utilizando a técnica da neurometria. Ou seja, quando afirmamos que determinado exercício está ativando áreas específicas e necessárias à intervenção, ele de fato está ativando essas áreas. A neurometria é um procedimento que nos permite perceber, como equipamento neurofisológico que é, a área ativada quando o aluno está realizando determinado exercício. Quais são os temas dos manuais? Disgrafia, Estimulação em Funções Executivas, Estimulação em Consciência Fonológica para Dislexia, Estimulação em Raciocínio Lógico-Matemático e Teste de Avaliação de Funcionalidade. Todos, exceto o último, têm o objetivo de fazer uma adequada intervenção para alunos com transtornos de aprendizagem e pode também ser aplicado a alunos com dificuldades de aprendizagem. No caso do teste de avaliação, ele permitirá, acima de tudo, obter um perfil de funcionalidade do aluno em várias áreas do conhecimento, possibilitando ao
A PEREIRA RAFAEL SILV
ilitação Ciências da Reab § Pós-doutor em cias da Educação § Doutor em Ciên tica do Português § Mestre em Didá ndamental I Aprendizagem § Professor do Fu e Transtornos da ia ex sl Di em ta § Especialis rtugal Disclinica, de Po ileira de Dislexia § Diretor-geral da Associação Bras da co tífi en Ci nselho § Membro do Co ternacional bito nacional e in transtornos âm em e intervenção em § Formador o çã ia al av de s as obra § Autor de divers m ge iza de aprend
profissional direcionar a intervenção e comparar os resultados antes e depois da mesma. O que são os transtornos de aprendizagem? Os transtornos de aprendizagem têm origem neurobiológica e são de caráter permanente, ou seja, vão acompanhar a criança ou o adolescente para o resto da vida. Eles estão relacionados a problemas na escrita, leitura e cálculo. A pessoa já nasce com o problema? Ele se percebe durante o desenvolvimento da criança. Normalmente, vai se manifestar no momento da aprendizagem formal da escrita, da leitura e da matemática. A não
ser que exista uma lesão durante o desenvolvimento que provoque a dificuldade, nesse caso é um transtorno adquirido. Quais são os transtornos de aprendizagem? São vários e estão relacionados à leitura, escrita e ao cálculo. Temos dislexia, disortografia, discalculia e disgrafia, entre outros. E quanto aos sinais, quais são eles? Dependem do transtorno. Por exemplo, considerando a discalculia como um transtorno relacionado ao cálculo e ao raciocínio lógico matemático e abstrato, as crianças vão apresentar desde muito cedo dificuldades em abstração e difi-
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10 PING-PONG culdade com números e cálculos simples. Elas podem trocar 6 por 9, inverter a posição escrita dos números, não conseguir entender os espaços entre os números, ter problemas para fazer cálculo, ler gráficos, memorizar a tabuada... E no caso da dislexia? Na dislexia, se a considerarmos como um transtorno relacionado à dificuldade em associar o grafema ao fonema, a dificuldade é na leitura. Essas crianças, desde a educação infantil, podem apresentar atraso no desenvolvimento da linguagem, falar mais tarde que o habitual, não conseguir memorizar rimas, identificar que uma palavra rima com outra... Esses sinais indicam... Gostaria de ressalvar que nem todos os sinais configuram um transtorno e que a identificação deste não se faz apenas por "check-list", no qual se vai verificando ou identificando o que o aluno faz ou não faz. Os sinais são apenas elementos para nos deixar com atenção para o que está acontecendo ou que possa vir a surgir. Quanto mais rápido eles forem identificados, mais rápido se encaminha para avaliação multidisciplinar e se identificam as características da criança tendo em vista uma intervenção eficaz. Como são feitos os diagnósticos dos transtornos de aprendizagem? A avaliação é feita, normalmente, por uma equipe multidisciplinar e baseada nas queixas apresentadas pela criança ou o adolescente. Face à queixa apresentada, é delineado o processo de avaliação que nos trará o resultado e o perfil de funciona-
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lidade e daquela criança ou jovem. Perante o resultado, elabora-se um programa adequado de intervenção. E como é esse programa de intervenção? É estimular o cérebro para as áreas que não estão funcionais, um treino técnico-psicopedagógico, multissensorial e específico para as características apresentadas. Os exercícios que o aluno realiza devem ter na sua base a ativação das áreas cerebrais importantes e identificadas no diagnóstico como não funcionais. Ainda que possam parecer exercícios pedagógicos, não o são.
Quem tem transtorno de aprendizagem fica mais frágil, se sente incapaz e sua autoestima vai rebaixando, alcançando muitas vezes momentos de depressão. Rafael Silva Pereira
Quais profissionais podem ser envolvidos neste processo? Psicólogo, neuropsicólogo, pedagogo, fonoaudiólogo, oftalmologista, audiologista, psicopedagodo, terapeuta ocupacional, psicomotricista, pediatra ou neuropediatra. Toda uma equipe multidisciplinar, portanto. Se não for feita uma intervenção adequada, quais as consequências
dos transtornos de aprendizagem? A criança ou o adolescente poderá ter problemas sociais, acadêmicos e emocionais, pois a sociedade, a escola e a família esperam que se saiba ler, escrever e calcular. Emocionalmente, quem tem transtorno de aprendizagem fica mais frágil, se sente incapaz e sua autoestima vai rebaixando, alcançando muitas vezes momentos de depressão. E as intervenções são realmente efetivas? Fazendo uma intervenção adequada, conseguimos alto grau de sucesso. Nos transtornos ela tem sempre o objetivo de levar a criança ou jovem a alcançar o máximo de sucesso, alterando os níveis de disfuncionalidade apresentadas. As evidências são flagrantes em termos de evolução. Como a literatura também pode ajudar os pais nesse processo? A literatura é importantíssima, especialmente porque os pais se sentem perdidos quando seus filhos apresentam algum problema. Livros sobre transtornos de aprendizagem garantem acesso à informação, ajudando os pais a se conscientizarem e darem um passo à frente na busca por ajuda. Mas é preciso destacar que a maioria dos livros produzidos sobre esse tema ainda não é focada nos pais, tendo uma linguagem pouco familiar, muitas vezes de difícil compreensão. Contudo, a sua existência traz um benefício inquestionável, dado que permite acabar com alguns mitos existentes e com intervenções obsoletas e que não são eficazes. Depois, a existência de livros de orientação para esses pais permite uma relação mais efetiva com a escola e um maior comprometimento.
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AUTISMO: 1% QUE PRECISA DE INCLUSÃO Criança autista tem direito à educação regular e as escolas têm o dever de aceitar sua matrícula
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stima-se que 1% da população brasileira tenha Transtorno do Espectro Autista (TEA). E pela primeira vez, os portadores dessa doença tiveram uma grande vitória: conseguir incluir o autismo no Censo Brasileiro para que se possa fazer um levantamento mais preciso sobre quantos são e como vivem os autistas no País. Isso abrirá espaço para a elaboração de muitas políticas públicas necessárias para melhorar a qualidade de vida dos portadores de TEA e seus familiares. Algumas medidas nos últimos tempos já têm caminhado para isso, como a aprovação na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH) do Projeto de Lei 2.573/2019, que prevê a expedição gratuita da Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (CIPTEA). O objetivo é assegurar atendimento prioritário em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de Saúde, Educação e Assistência Social. O documento também obriga os cinemas de todo o País a reservar uma sessão mensal destinada a esse público e seus familiares, devendo a sala de exibição oferecer os recursos de acessibilidade necessários. Nessas sessões, não serão exibidas publicidades comerciais, as luzes ficarão levemente acessas, o volume de som será reduzido e as pessoas terão acesso irrestrito, sendo permitido entrar e sair ao longo da exibição. Na área da Educação, portadores de TEA conseguiram recentemente uma importante vitória com a promulgação da Lei 12.764, que instituiu a Política Nacional de Proteção dos Direitos da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. A medida reconheceu oficialmente os autistas como portadores de deficiência, dando
Fotos: Divulgação
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Rossana Regina Guimarães Ramos Henz, professora do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação stritu sensu Profletras da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap)
a eles acesso a todas as políticas de inclusão do País. Com isso, ficou estabelecido que quem sofre de TEA tem direito a frequentar escolas regulares, tanto na Educação Básica quanto no Ensino Profissionalizante e, se necessário, pode contar com um acompanhante especializado. Também ficou definido que o gestor escolar ou a autoridade competente que se recusar a matricular aluno com a deficiência será punido com multa de três a vinte salários mínimos e, em caso de reincidência, apurada por processo administrativo, haverá a perda do cargo. INCLUSÃO, DEVER DE TODOS A professora Rossana Regina Guimarães Ramos Henz, do curso de Letras e do Programa de Pós-Graduação stritu sensu Profletras da Universidade de Pernambuco (UPE) e do Programa de Pós-graduação em Ciências da Linguagem da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), diz que a sociedade como
um todo precisa ficar atenta para que crianças autistas – ou com qualquer outro tipo de deficiência – sejam incluídas nas escolas. “A inclusão é uma via de mão dupla, beneficia tanto os que têm alguma deficiência, porque eles vão conviver com pessoas potencialmente mais capazes, quanto os sem deficiência, que aprenderão a conviver com o diferente”, afirma a especialista, autora dos livros Na minha escola todo mundo é igual, Passos para a inclusão e Inclusão na prática: estratégias eficazes para a educação inclusiva. Rossana pontua ainda que a criança aprende por imitação – um dos traços da aprendizagem e do desenvolvimento descrito por Jean Piaget –, daí a educação inclusiva ser ainda mais importante. “Por exemplo, um aluno que não fala deve conviver com quem fala, pois certamente ele irá imitar os coleguinhas e,
com isso, criar algum tipo de comunicação e de interação verbal ou gestual com o grupo.” Se por um acaso a escola se recusar a receber o aluno com TEA, a professora indica que se procure primeiro a secretaria de ensino e, se isso não tiver efeito, o Ministério Público. Ela observa também que a escola precisa se preparar para acolher a criança deficiente: “Não basta apenas colocá-la na sala de aula. Todos os funcionários e a equipe pedagógica devem estar aptos a atender este aluno, de forma que ela consiga aprender e desenvolver todo o seu potencial”.
OS SINAIS DO TEA Segundo a Associação Amigos do Autista (AMA), o Transtorno do Espectro Autista, que atinge cerca de 1% da população, é um grupo de condições caracterizadas por algum grau de alteração do comportamento social, comunicação e linguagem e por um repertório restrito, estereotipado e repetitivo de interesses e atividades. O problema aparece na infância – na maioria dos casos, se manifesta nos primeiros cinco anos de vida – e tende a persistir na adolescência e na idade adulta. Seus portadores quase sempre têm condições associadas, como epilepsia, depressão, ansiedade e Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDA e TDAH). O nível intelectual varia muito, indo desde uma deterioração profunda a altas habilidades cognitivas. A professora de genética do Instituto de Biocências da Universidade de São Paulo (USP) Maria Rita Passos Bueno comenta que os sinais do TEA podem ser notados desde muito cedo. “Eles incluem pouca interação na hora da amamentação, comprometimento e atraso na fala, a criança não atender quando é chamada pelo nome e não brincar direito com seus brinquedos e ter. É importante que os pais fiquem sempre atentos ao desenvolvimento dos filhos”, indica. Quanto às causas, a AMA informa que evidências científicas disponíveis indicam a existência de múltiplos fatores, como genéticos e ambientais. Uma vez diagnosticado o transtorno, o tratamento, com terapia comportamental e programas de treinamento para pais, deve ser iniciado o quanto antes, de preferência na primeira infância, para otimizar o desenvolvimento e o bem-estar dos portadores.
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MISSÃO FAMÍLIA FORTE Programa desenvolvido na Europa busca fortalecer os vínculos familiares para afastar crianças e jovens dos comportamentos de risco
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eis em cada dez crianças são educadas em um ambiente que não as ajuda emocionalmente. Parece mentira, mas essa é a realidade brasileira. Segundo a professora Lilia Freire Rodrigues de Souza Li – responsável pela área de Medicina do Adolescente do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) –, atualmente a frequência dos quatro “estilos parentais” existentes se dá da seguinte forma: 13% são autoritários, 14% são indulgentes, 31% são negligentes e 39% são democráticos.
O estilo autoritário é o que tem grandes exigências e pouca responsividade, perfil que normalmente provoca uma série de problemas emocionais nos filhos. O indulgente é o que dá atenção e amor, mas não impõe limites e nem responsabilidades, criando filhos que não toleram frustração e não sabem ouvir não. Pais negligentes ou ausentes são aqueles que não oferecem nem carinho e nem limites. Quase sempre é o que tem mais efeitos negativos sobre as crianças, que correm o risco de desenvolver transtornos mentais e ter problemas de comportamento. Por fim, o democrático é o que dá amor e, ao mesmo tempo, impõe regras, criando filhos mais competentes em todos os níveis.
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Lilia Freire Rodrigues de Souza Li, professora da Unicamp
“Felizmente, os pais podem aprender e desenvolver novas habilidades. E é aí que entra o Programa Famílias Fortes, que visa a melhoria da comunicação entre pais e filhos e promover o desenvolvimento das habilidades parentais”, informa Lilia. Esse programa de sigla PFF criado pelo governo brasileiro é uma adaptação à realidade nacional do Strengthening Families Programme (SFP-UK), elaborado no Reino Unido pela Oxford Brookes University. O PFF, que está sendo reavaliado pelo Ministério da Saúde, se baseia no fato de que uma relação positiva entre os familiares cria condições favoráveis para o bom desenvolvimento dos jovens e tende a afastá-los de condutas de risco. “Nós nos preparamos para sermos bons profissionais, no entanto, não fazemos o mesmo para sermos pais. Ninguém acha que precisa estudar para isso, apenas confiar nos instintos. Só que, infelizmente, nem sempre eles são suficientes, então aprender e aprimorar a capacidade de cuidar e desenvolver um estilo parental que seja mais positivo são atitudes fundamentais”, afirma.
O PFF, apesar de ter como objetivo principal a prevenção ao uso de álcool e outras drogas em crianças e adolescentes de 10 a 14 anos, atua em todos os âmbitos familiares. Seu conteúdo é baseado na premissa de que os filhos se saem melhor em seu desenvolvimento social quando as famílias são capazes de estabelecer limites e regras de convivência e de expressar afeto e dar apoio adequado. Na versão adaptada para a cultura brasileira, ele é composto por sete encontros que acontecem semanalmente. Os pais e os jovens se reúnem separadamente com um facilitador na primeira hora e passam a segunda hora juntos em atividades conjuntas, para trabalhar as habili-
dades de vida, como expressão de sentimentos, empatia, assertividade, resolução de problemas e tomada de decisão, e a comunicação. Apesar de o programa estar sendo reavaliado pelo governo, o Manual Programa Famílias Fortes, E MINISTÉRIO DA SAÚD lançado pelo Ministério da Saúde, explica tudo o que é necessário para reproduzi-lo. Confira no QR Code.
Brasília – DF 2017
1 dução e Encontro LITADOR - Intro MANUAL DO FACI
CONCEITO DO PROGRAMA FAMÍLIA FORTES O PFF visa o bem-estar dos membros da família a partir do fortalecimento dos vínculos familiares e do desenvolvimento de habilidades sociais. Tal objetivo se baseia no fato de que uma relação positiva entre os familiares cria condições favoráveis para o bom desenvolvimento dos jovens e tende a afastá-los de condutas de risco.
PRINCIPAIS OBJETIVOS DO PROGRAMA FAMÍLIA FORTES § Ensinar pais e jovens a desenvolverem maneiras eficazes de comunicação e relacionamento § Mostrar aos pais a importância de apoiar seus filhos § Ajudar os pais a disciplinar e orientar os filhos de forma eficaz § Orientar os jovens sobre como compreender e valorizar seus pais § Ensinar os jovens a lidar com o estresse e a pressão dos amigos
PRINCIPAIS RESULTADOS DO PROGRAMA FAMÍLIA FORTES § Redução da agressividade e de comportamentos de isolamento social § Melhora da interação entre pais e filhos § Melhora no rendimento escolar e maior interesse e envolvimento dos pais na rotina escolar dos filhos § Redução do abuso de substâncias (cigarro, álcool e drogas) Fonte: Manual Programa Famílias Fortes, do Ministério da Saúde
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BEM-VINDO (OU NÃO) AO GRUPO DE PAIS Conflitos no WhatsApp são as ocorrências digitais mais comuns nas escolas na atualidade
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om mais de 120 milhões de usuários ativos no País, o WhatsApp caiu no gosto do brasileiro. Ninguém questiona que, até certo ponto, a ferramenta facilita o dia a dia e permite comunicação instantânea e a custo zero. O problema é quando a sua utilização passa do ponto e gera problema de relacionamento em seus grupos. As escolas que o digam. A quarta edição da pesquisa “Escola Digital Segura”, elaborada pelo Instituto iStart, apontou que conflitos, ofensas e desentendimentos em grupos do aplicativo – seja entre alunos ou entre pais e responsáveis –, são as ocorrências digitais mais comuns nas instituições de ensino nacional. De acordo com o estudo, ao menos 77,7% dos incidentes nas escolas são relacionadas a essa situação. “Os grupos de pais são interessantes para que eles acompanhem com mais agilidade a rotina escolar de seus filhos, mas percebemos que o uso dessa tecnologia, que deveria aproximar, tem gerado mais conflitos e ruídos nos diálogos. Muitas situações que seriam facilmente resolvidas com uma conversa, quando colocadas nos grupos ganham uma proporção enorme”, diz a advogada especializa em direito digital e diretora-presidente do Instituto iStart Patrícia Peck Pinheiro. Ela cita, como exemplo, o caso de uma mãe que indicou que as demais lembrassem seus filhos de passar desodorante antes de irem para a escola. “A ideia dela era dar um toque, até porque o propósito inicial desses grupos é a troca de informações, só que outra participante não gostou e respondeu: ‘pior que criança fedorenta é a que usa perfume barato’.
Uma terceira acrescentou: ‘mas nem todo mundo é perua para comprar perfume caro’. Isso virou uma briga generalizada e alguns membros do grupo foram até a escola pedir providências”, complementa. As divergências políticas – tão em voga nos últimos tempos – também estão adicionando mais problemas em grupos de pais. Segundo uma mãe que preferiu não se identificar, o grupo de WhatsApp da escola de seu filho ficou polarizado em função das últimas manifestações de ruas: alguns eram favoráveis que a escola fechasse as portas, outros eram contra, resultando em abaixo-assinados e em uma enxurrada de reclamações. A
escola, pressionada e sem uma comunicação clara, gerou insatisfação geral e, em troca, teve perda de renovação de matrículas. DISTANCIAMENTO Para a advogada Patrícia Peck Pinheiro, a questão é que conversar por aplicativos ou redes sociais traz distanciamento e, como as pessoas não estão se vendo, fica mais fácil dizerem algo que pode ser provocativo, polêmico e até magoar os outros de forma muito descomprometida. Na opinião da consultora em comportamento sustentável e etiqueta Ligia Marques, os grupos de pais têm causado inúmeros
Patrícia Peck Pinheiro, advogada especializa em direito digital e diretora-presidente do Instituto iStart
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ESPECIAL
DEZ REGRAS PARA O BOM USO DO WHATSAPP
1 - Antes de colocar alguém no grupo, pergunte se a pessoa quer participar 2 - Tenha cuidado com a linguagem, seja claro, educado e correto, e evite usar palavras que possam ter dupla interpretação, com conotação desrespeitosa e ridicularizante
Ligia Marques, consultora em comportamento sustentável e etiqueta
3 - Ao relatar um fato, faça isso sem juízo de valores 4 - Não use o grupo para fazer fofoca e nem tratar de assuntos aleatórios e polêmicos. Limite-se aos temas que dizem respeito aos interesses de todos
atritos justamente pelo pouco cuidado na hora de formular as frases, o que cria uma série de mal-entendidos. “Além disso, só por juntar um número grande de pessoas já acarreta uma grande chance de problemas”, acrescenta. A fim de evitar que os conflitos e as brigas ocorram, ela comenta que é preciso, logo na criação do grupo, estabelecer regras e que o administrador seja responsável por coibir os exageros. “Caberá a ele entrar em contato com quem rompeu as normas, de forma privada, pedindo que não faça novamente”, acrescenta. E um ponto que precisa de muito cuidado é quando há a presença de algum profissional da instituição de ensino nos grupos. Nesse caso, os pais precisam entender que aquilo é um ambiente de trabalho para ele e, portanto, não devem ficar mandando mensagens o tempo todo, ainda mais se não tiverem relevância. Também não é bacana lhe perguntar ou cobrar algo fora do horário de expediente. Em alguns casos, o recomendado é
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5 - Nunca exponha um menor de idade, seja citando seu nome ou enviando fotos 6 - Evite comentar se não tiver certeza do que está falando 7 - Se houver alguma situação desagradável com você, não entre em brigas. Apenas ignore ou, se não tiver jeito, saia do grupo 8 - Quando quiser falar com uma única pessoa do grupo, fale no particular 9 - Não use o grupo para falar mal da escola ou de seus funcionários. Se tiver alguma queixa, marque um horário com a coordenação ou a diretoria e faça-a pessoalmente 10 - Se perceber que as pessoas estão passando dos limites, relembre as razões pelas quais o grupo foi criado. Caso decida sair do grupo, informe aos demais participantes de maneira educada e cordial Fontes: Ligia Marques, consultora em comportamento sustentável e etiqueta, e Patrícia Peck Pinheiro, advogada especializa em direito digital e diretora-presidente do Instituto iStart
19 “GRUPO DE PAIS NÃO DEVE DISCUTIR DIVERGÊNCIAS” “Participei de um grupo de WhatsApp de pais por três anos. No começo, quando as crianças eram menores, não tinha problema nenhum. Falávamos apenas da rotina deles na escola, dos trabalhos e dos passeios, mas, conforme elas foram crescendo, começaram a surgir os conflitos e alguns pais ficaram um tanto hostis. No último ano, por exemplo, surgiram questões complexas e que poderiam ser resolvidas na escola, como expor nomes de crianças que aparentemente teriam feito algo errado no ambiente escolar. Não concordo com isso. O grupo deve ser uma facilidade, uma ajuda, um ambiente de troca, e não para discutir divergências, inclusive políticas. Mudei meu filho de escola e nem procurei saber se lá tinha algum grupo de WhatsApp de pais”. Thais Silva Mauá, 32 anos, advogada e mãe do Breno, de 10 anos
que só o administrador possa enviar mensagens gerais. PAPEL DA ESCOLA Segundo Patrícia, a escola, por ter como principal missão a educação, pode assumir um papel diante dos grupos de WhatsApp. “É importante que haja um diálogo sobre esse tema nas reuniões de pais. Se por um acaso receber algum tipo de denúncia ou reclamação relacionada a um grupo, mesmo que não tenha por que interferir, é interessante que ela assuma o protagonismo e se posicione para buscar a harmonia da comunidade escolar”, indica a advogada. Outras ações sugeridas pela especialista são a realização de dinâmicas com os familiares e demais membros da comunidade escolar, a fim de melhorar a comunicação e as relações, e a divulgação de materiais educativos, como vídeos e cartilhas. Essa é também uma forma de a escola se proteger legalmente, já que cada vez mais o que acontece no mundo digital tem ido parar nos tribunais.
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Entende tudo, mas não fala Pouca conhecida no Brasil, a Apraxia da Fala na Infância atinge duas em cada mil crianças nos Estados Unidos
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or volta dos três meses, os bebês começam a emitir os primeiros sons, como ah e oh. Um ou dois meses depois, inicia-se o balbucio de algumas sílabas (dá-dá, bú-bú e má-má, por exemplo). Com cerca de nove meses e até um ano, eles formam as primeiras palavras e com dois anos já têm um pequeno vocabulário. Com a pequena Ana Beatriz, hoje com 7 anos, nada disso aconteceu. “Desde os primeiros meses, ela sempre foi quietinha, não balbuciou e quando completou dois anos ainda não falava nada”, conta a mãe, a internacionalista Fabiana Collavini, de 42 anos.
21 acontece é que seu cérebro falha ao planejar a sequência de movimentos para produzir os sons que formam sílabas, palavras e frases. É como se, na hora de enviar os comandos do cérebro para os articuladores da fala, houvesse um fio desconectado”, diz Elisabete, que também é consultora técnica da Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância (Abrapraxia). CAUSAS DA AFI A Apraxia de Fala na Infância pode ser causada por alteração genética; intercorrência neurológica, como falta de oxigenação no parto e má formação cerebral; e lesão em áreas relacionadas ao processamento motor da fala no cérebro (traumatismo craniano, por exemplo). Também pode ser associada a outro transtorno do neurodesenvolvimento, como síndrome de Down e
Fotos: Divulgação
Nesse período, os pais procuraram um fonoaudiólogo. O tratamento inicial durou cerca de 11 meses, mas não surtiu efeito. Um segundo profissional consultado suspeitou de que ela tivesse Apraxia da Fala na Infância (AFI), diagnóstico que foi confirmado pela terceira especialista, quando a menina tinha dois anos e meio. Ainda pouco conhecida no Brasil, a AFI, como explica Elisabete Giusti, fonoaudióloga infantil, com especialização em Desenvolvimento da Linguagem e suas Alterações, é um distúrbio motor que afeta a habilidade de produzir e sequenciar os sons da fala. Nos Estados Unidos, ela afeta duas a cada mil pessoas – não há dados referentes ao Brasil. “A criança sabe o que quer dizer e compreende o que é dito para ela, mas tem dificuldade para falar. O que
Fabiana Collavini com a família e a filha Ana Beatriz, 7 anos, diagnosticada com AFI aos dois anos e meio
Elisabete Giusti, fonoaudióloga infantil
autismo. Porém, na maioria dos casos, é idiopática, ou seja, sem uma causa específica, definida. As manifestações desse distúrbio são classificadas como leve, moderada e severa e são percebidas com mais intensidade após os dois anos. Por afetar o desenvolvimento da fala e da comunicação, o profissional indicado para dar o diagnóstico é o fonoaudiólogo, mas desde que ele tenha experiência na área. Elisabete comenta que o tratamento, que é totalmente personalizado e individual, deve ser iniciado o quanto antes e contar com o envolvimento de toda a família e da escola. Vale destacar que há situações em que se faz necessária uma equipe multidisciplinar, envolvendo pediatra, terapeuta ocupacional e psicólogo, entre outros. “Na terapia motora da fala utilizamos diversos princípios, entre eles seleção de fonemas e palavras-alvo, prática repetitiva e uso de pistas multissensoriais (visuais, auditivas, cognitivas, táteis etc), para ensinar os movimentos da fala para a criança, tudo de forma lúdica, prazerosa e respeitando seu nível de compreensão”, indica.
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Fazendo tratamento há quase cinco anos, Ana Beatriz – que tem um grau severo de AFI – fala diversas palavras e acompanha sua turma na escola em relação ao aprendizado. “Hoje em dia ela consegue se comunicar e isso, para nós, já é um ganho e tanto”, celebra a mãe, que, inclusive, é presidente e fundadora da Abrapraxia. O resultado e o tempo de terapia variam muito e dependem do grau da AFI. “Isso está relacionado às características pessoais de cada um e da experiência clínica do fonoaudiólogo. Um resultado exato é impossível ser previsto. Nos Estados Unidos, há casos em que a fala se desenvolveu normalmente. Mas em outros casos não, sendo difícil determinar como será a fala quando a pessoa for adulta”, afirma Elisabete. Apesar de a apraxia ser um distúrbio e necessitar de tratamento, a especialista alerta para o fato de que nem toda criança que tem atraso ou dificuldade de fala tem realmente o problema. Por outro lado, ela pondera que quando a criança apresenta esse quadro os pais não devem logo achar que é só falta de estímulo ou preguiça, pois pode ser, de fato, um transtorno.
PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DA AFI consoantes, incluindo Pobre repertório de vogais e de oPeM com , veis visí s as consideradas mai ça de erros Variabilidade de erros e presen os incomuns/idiossincrátic uldade conforme Maior quantidade de erros e dific palavras das bas aumenta o número de síla ade, a criança pode Dependendo do grau de severid vra-alvo em um pala a ou ba produzir o som, a síla duzir o mesmo alvo contexto, mas é incapaz de pro rente dife o text con com precisão em um precisam de controle Mais dificuldade nas tarefas que as realizadas de com o voluntário, em comparaçã ica forma automát ococinesia, ou seja, Dificuldade nas tarefas de diad etição das mesmas para alternar com precisão a rep sequências de ou pa, sequências, como pa/pa/ múltiplas, como pa/ta/ka consoantes, incluindo Pobre repertório de vogais e de oPeM com , veis visí s mai as consideradas icas, fala acelerada ou Presença de alterações prosód ntuação, déficit na ace de s erro l, áve monótona, inst as sílabas e entr duração dos sons e pausas pode Em algum momento, a criança o” para realizar forç “es ou a” cur demonstrar “pro as posições articulatórias des na sequência de Pode também apresentar dificuldaaxia oral) (apr ios ntár volu movimentos orais rdida”, não sabe como A criança demonstra que fica “pe mas não consegue r, fala a tent Ela movimentar a boca. ão e a produção de Discrepância entre a compreens compreender bem, o, mpl exe por e, fala. A criança pod mas não conseguir produzir a fala Fonte: Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância (Abrapraxia)
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Por Lenice Micheletti
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or mais que estejamos em uma sociedade mais aberta e que caminha para uma civilidade maior, não podemos fechar os olhos. Casos de violência acontecem todos os dias. Situações que muitas vezes acreditamos que só existem em novelas e filmes, na verdade estão acontecendo dentro de casa, às vezes na frente de crianças que ainda não conseguem compreender todo o cenário que se desenvolve. E quando aqueles que deveriam ser as primeiras referências de afeto e cuidado são os responsáveis por apresentar a dor, as consequências podem ser bastante sérias. Pais, mães, avós, sejam quais forem os responsáveis pelo desenvolvimento emocional de uma nova vida, precisam ter em mente que todo ato de violência, seja ela física ou verbal, será absorvido pela criança, e seus reflexos poderão ser vistos por bastante tempo. Claro que quando falamos a palavra “violência” o que primeiro vem à nossa mente é a agressão física. É difícil não pensar nas marcas deixadas por esse ato de covardia. Mas precisamos lembrar que há outro tipo, que deixa marcas invisíveis e às ve-
zes muito mais perigosas: a violência psicológica. Pode começar com uma frase simples, como “você é preguiçoso”, progredir para “você nunca faz nada certo” e chegar ao pesado “você é burro” ou algo pior. A verdade é que não importa qual o tamanho do rótulo que os pais colocam em cima das crianças, porque, grande ou pequeno, ele ficará colado lá por bastante tempo. Existem três tipos de consequências para quem passa por situações de violência, e elas podem ser observadas pela escola. São elas: físicas, emocionais e acadêmicas. As físicas incluem distúrbios estomacais, dores de cabeça e, em adolescentes, a automutilação. Nos mais novos é comum observar a perda do controle dos esfíncteres, além de insônia e falta de apetite. Uma maneira de ficar atento para a possibilidade de que algo não vai bem em casa é quando o comportamento beira os extremos: comer demais ou de menos, dormir demais ou ter insônia e assim por diante. Já as emocionais incluem baixa autoestima, comportamento autodestrutivo e mais agressivo e falta de interação com os colegas. Por fim, temos os sinais que se manifestam no meio acadêmico. Toda escola precisa ficar atenta à
Foto: Divulgação
OS REFLEXOS DA VIOLÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO DAS CRIANÇAS
criança que costuma usar muito preto para desenhar, que aperta o lápis no papel com mais força do que o comum, que faz o desenho e, na sequência, cobre com uma cor escura, e os casos em que as situações de violência são claramente retratadas nos desenhos. Em crianças mais novas, que nem sempre conseguem colocar em palavras o que estão sentindo, o desenho livre é uma ferramenta poderosa para detectar qualquer tipo de problema. Outro ponto importante é estar atento às crianças com uma inteligência perfeita, mas que não conseguem fixar a matéria. Isso pode ser um sinal de que o pensamento dela está longe dali. Por isso, é preciso desenvolver as habilidades socioemocionais das crianças desde o Ensino Fundamental, oferecendo o suporte que elas necessitam para superar traumas ou situações que as abalam psicologicamente. Precisamos ainda capacitar os professores, cuidar para que eles estejam sempre em seu melhor momento ao entrar em sala de aula. Os educadores também são seres humanos e, quando eles mesmos estão passando por problemas emocionais, dificilmente conseguirão detectar outros problemas nos jovens.
* Especialista em Educação e fundadora do Colégio Notre Dame
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