O Boxeador

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“Depois de tudo o que eu sofri, que mal pode me fazer um homem com luvas de boxe?” Hertzko Haft


Esta graphic novel é baseada no livro Eines Tages werde ich alles erzählen. Die Überlebensgeschichte des jüdischen Boxers Hertzko Haft (“Um dia eu contarei tudo: a história de sobrevivência do boxeador judeu Hertzko Haft”), de Alan Scott Haft. A obra foi publicada pela editora Die Werktstatt, em 2009, em Göttingen.

Título original: Der Boxer © Texto e ilustrações por Reinhard Kleist © 2012 por Carlsen Verlag GmbH, Hamburg, www.carlsen.de © da edição brasileira: Editora 8INVERSO, 2013, Porto Alegre Coordenação editorial - Elaine Maritza da Silveira Tradução do alemão - Augusto Paim Revisão - Conforme Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa - Carla Araujo Editoração - Martina Schreiner

K63b KLEIST, Reinhard. O boxeador : a história real de Hertzko Haft / Reinhard Kleist : Tradução de Augusto Paim – Porto Alegre: 8Inverso, 2013. 193p. ISBN 978-85-62696-25-1 1. Literatura alemã - HQ - romance. 830-3 CIP – Brasil – Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (Eroni Kern Schercher- CRB – 10/1421)

Reservados todos os direitos de publicação a Editora 8INVERSO Rua Azevedo Sodré, 275 Passo D´areia CEP: 91340-140 Porto Alegre - RS T: (51) 3237-9588 8inverso@8inverso.com.br www.8inverso.com.br IMPRESSO NO BRASIL PRINTED IN BRASIL ISBN 978-85-62696-25-1


Reinhard Kleist

A hist贸ria real de Hertzko Haft Baseado no livro Eines Tages werde ich alles erz盲hlen (Um dia, eu contarei tudo), de Alan Scott Haft.



Miami, setembro de 1963

Nada de música agora!

Quando meu pai dizia algo, ele não admitia ser contrariado.

...mas o pai insistiu que eu devia acompanhá-lo.

Preferia estar na piscina com meus irmãos...

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Ele não era o ti po de pai que jogava beisebol com o fi lho, tinha o pavio curto.

eu tinha medo dele. Para mim, ele era o homem mais forte do mundo, tinha até sido boxeador.

Minha mãe tentava explicar os acessos de fúria através do seu passado difícil.

Eu não queria ouvir nada daquilo.

O presente já era ruim o bastante

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hh...

Foi bom vocĂŞ ter vindo junto hoje.

Um dia, eu te contarei tudo.

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Belchatow, Pol么nia, 1939.

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Por que sempre eu tenho que atravessar a fronteira?

E agora, para de enrolar, Hertzko!

Deixa ele, Aria, lá vem a menina do Meir com a mercadoria.

Vocês esperaram muito...?

Você tem alguma coisa contra?

Meu irmão vai junto. Ele está com o material do meu pai.

Ele é retardado...

Porque você é o menor de todos.

Ele pode correr tão bem quanto qualquer outra pessoa.

Vou ter que atravessar a fronteira com esse miolo mole aí?!

Ou você está com medinho dele?

N... não.

Está bem, ele pode ir junto.

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Temos que descer até o rio e depois ir sempre para o leste.

Tá bom, Hertzko.

Fale baixo, idiota, ou você quer que os alemães nos peguem?

Eu tinha 14 anos, quando os alemães ocuparam Belchatow, em setembro de 1939.

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Nessa época, a Polônia foi dividida em duas partes: uma zona ocupada e o então chamado Governo Geral. A fronteira ficava bem próxima.

Os moradores de origem alemã davam as boas vindas aos invasores. Nós assistíamos cheios de medo ao desfile nas ruas.

A vida na nossa pequena cidade mudara subitamente.

principalmente para nós, judeus.

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Nós, os Haft, éramos tudo, menos ricos.

Meu pai vendia frutas e legumes no mercado e tinha muita dificuldade para nos sustentar. Minha mãe e ele formavam um casal esquisito. Eu era o mais novo entre os oito irmãos.

Um dia meu pai adoeceu de tifo e, antes de morrer, pediu que Aria, meu irmão mais velho, fosse até ele.

Aria, agora você precisa ser UM PAI PARA SEUS IRMÃOS.

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Pouco depois disso, nossa família se dividiu. Minhas irmãs foram para Lodz, somente Aria, Peretz e eu permanecemos com a mãe.

Todos ajudavam. Eu tinha cinco anos, quando consegui meu primeiro trabalho: levar gansos do mercado até o açougueiro.

Não pensava QUE OS GANSOS SERIAM MORTOS. Só nos pães quentinhos que eu podia comprar com esse dinheiro.

Qual de vocês pode me dizer por quem o senhor Jesus foi assassinado?

Já na escola aprendíamos que cristãos e judeus não eram iguais.

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Eu vou te ensinar a dormir em aula, seu judeuzinho trapaceiro!

Não fui à escola tanto tempo quanto as outras crianças...

VOCÊ É UM IMPRESTÁVEL!

Mas eu só queria...

Mas eu prometi ao pai que te levaria para o caminho certo...

Não, Aria, para!!

MALDITO!!!

A partir desse momento, era só trabalho. Senão apanhava.

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Aqueles lá do outro lado estão numa situação ainda pior que a nossa. Podemos vender comida para eles. Meir Pablanski e sua turma estão juntos nessa.

Ai, a família já está separada, agora você ainda quer colocar todos nós em perigo? Estou dentro!

Olhe em volta, mãe, não há nem trabalho nem dinheiro!

Eu

também!

A nós, judeus, tudo era proibido. A qualquer momento poderíamos ser levados ao trabalho forçado. Não tínhamos autorização para viajar, e havia toque de recolher. Por fim, os alemães nos encurralaram num gueto.

Agora nós pertencíamos ao “Reich” alemão. Os pobres coitados no território do Governo Geral polonês, alguns quilômetros mais ao leste, estavam numa situação pior. Graças ao contrabando, nós ao menos tínhamos o que comer.

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CORRA!!! A fronteira deve ser aqui.

PAREM! Nテグ SE MEXAM!

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O que aconteceu? Por que vocês voltaram?

Demos de cara com uma patrulha!

Como você se chama?

Ele está sangrando!

E você é muito corajoso...

Você é muito... bonita...

Meu nome é Leah. Leah Pablanski. Seu irmão faz negócios com meu pai.

...mas também um pouco bobinho.

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Você acha que somos idiotas?! Deve ter sido alguém da tua cambada!

Alguém do grupo de vocês deve ter revelado a rota!

ISSO É O QUE VAMOS VER!

Aria!

Quem é o próximo? Hã?!

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