H ospital p siquiátrico são pedro
LIVRO DOS VISITANTES
editado por AMIGOS DA MEMÓRIA DO HOSPITAL SÃO PEDRO AMEHSP
Textos andréa Mostardeiro bonow Gilberto Slud brofman edson Medeiros Cheuiche renata Galbinski Horowitz
Fotografi a Jane Machado e Cylene Dallegrave Design Gráfico Cylene Dallegrave Revisão rosana Maron
Fotografi as adicionais cedidas por: acervo do Hospital Psiquiátrico São Pedro/ Serviço de Memória Cultural págs. 54, 57, 57, 58, 61 a 64, 68, 70, 77, 78, 83 acervo da aMeHSP págs. 132 a 142 Fórmula Filmes págs. 2 a 5, 88 e 89, 130 ronaldo Marcos bastos pág. 83 arq brasil págs. 92 a 99 renata Galbinski Horowitz págs. 45b, 102b, 103 a 105, 106 a, b e c Wikipedia Commons/ Halley Pacheco de Oliveira pág. 71 banco Nacional de Dados pág. 82 a516h amigos da Memória do Hospital São Pedro aMeHSP Hospital Psiquiátrico São Pedro: livro de visitantes / Textos de Andréa Mostardeiro bonow, Gilberto Slud brofman, edson Medeiros Cheuiche e renata Galbinski Horowitz; fotografi a de Jane Machado e Cylene Dallegrave. – Porto Alegre : Editora Letra1, 2019. 148 p.: il. col.
ISbN 978-85-63800-41-1
1. Hospital Psiquiátrico São Pedro - História. 2. Psiquiatria – rio Grande do Sul. 3. Patrimônio histórico. I. bonow, andréa Mostardeiro. II. brofman, Gilberto Slud. III. Cheuiche, edson Medeiros. IV. Horowitz, renata Galbinski. V. Machado, Jane. VI. Dallegrave, Cylene. VII. título.
CDD – 908
Hospital psiquiátrico são pedro
LIV r O DOS VISI ta N te S
aMeHSP
Porque é necessário registrar que não cruzamos os braços quando encontramos vestígios do passado que possam auxiliar na compreensão da nossa história.
Porque entendemos que o zelo pelos objetos, pelos documentos e também pelos prédios, até que se tornem antiguidades, é responsabilidade de todos.
Porque desejamos sintonizar mais e mais pessoas na frequência da preservação dos bens patrimoniais.
Porque queremos sensibilizar as autoridades para que direcionem ações de resultado para o Hospital Psiquiátrico São Pedro, que desde o século XIX encontra-se ativo nas questões de saúde mental da população do Rio Grande do Sul.
E, por estarmos, desde 2003, realizando um trabalho voluntário, focado na memória que o São Pedro resguarda, com poucas palavras, muitas imagens e sem pretensões acadêmicas, resolvemos fazer este livro.
Com este gesto, estamos oferecendo ao leitor a possibilidade de se emocionar com o nosso caminho. E a nós, a esperança de que outros venham a apostar nessa ideia.
Amigos da Memória do Hospital São Pedro
su M ário
A NOSSA HISTÓRIA 21
Andréa Mostardeiro Bonow
A TRAJETÓRIA DE UMA INSTITUIÇÃO CENTENÁRIA 55 Gilberto Slud Brofman
FRAGMENTOS HISTÓRICOS DA CRIAÇÃO E INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO 69 Edson Medeiros Cheuiche
ANOTAÇÕES SOBRE O RESTAURO DO PRÉDIO HISTÓRICO 87
Renata Galbinski Horowitz
A MEMÓRIA DOS AMIGOS 130 Relatório de atividades dos Amigos da Memória do Hospital São Pedro
[01]
Andréa Mostardeiro Bonow Pedagoga1A NOSSA HISTÓRIA
No ano da graça de 2018, a associação Amigos da Memória do Hospital São Pedro completou quinze anos de atividades ininterruptas. Depois de intensas e fraternas discussões, o grupo formado por nós, membros da comunidade, e por profissionais vinculados ao hospital, que tinham em comum a preocupação com a história de Porto Alegre, decidiu-se pela constituição de um organismo autônomo e parceiro nas questões da preservação da instituição. Até chegarmos a esse ponto, nossa caminhada foi intensa e plena de emoção.
Convencidos de que a memória de uma cidade transcorre necessariamente por onde a vida passa, sob qualquer ângulo, vimos no conjunto arquitetônico do velho hospital uma testemunha, muitas vezes silenciosa, das várias faces que ela oferece. E nunca de forma igual para todos. Nosso olhar, tantas vezes impactado pela imponente edificação de mais de 12 mil metros quadrados de área construída, incansavelmente nos remetia a indagações. Quantos moradores de Porto Alegre conheciam, ou conhecem, o São Pedro? Que ideia fazem sobre o papel que representou, e representa, no cotidiano de tantas famílias que convivem com os dramas das doenças que se instalam na alma e que, aos poucos, consomem também o corpo? Quantos já entraram naquele prédio centenário?
1 Presidente da AMeHSP nos períodos de 2003/2005, 2011/2013, 2013/2015 e 2017/2019.
Acima: bandeira do portão de ferro da Divisão Pinel
À direita: corredor do bloco I
Quando subíamos os degraus de mármore da escadaria principal ou andáva mos pelos corredores, ficávamos deslumbrados com a visão das portas trabalhadas, dos gradis, das luminárias, dos azulejos, ou do que restou de tudo isso e de tudo mais. E os vestígios dessas belezas nos seduziam um pouco a cada vez.
Algumas alas que estavam interditadas, e ainda estão, obstruídas por tapumes, aguçavam nossa curiosidade, que insistia em querer desvendar remotos acontecidos. Enquanto devassávamos interiores que a iluminação precária nem sempre nos deixava enxergar, constatávamos ser preciso saber por onde era possível transitar. Talvez nem se chegasse a lugar nenhum, ou talvez não se conseguisse voltar.
Por vezes, nos deparávamos com janelas e portas que outrora se abriam para cultivados jardins de inverno e que encontramos invadidos por vegetação daninha espalhada pelo chão, enveredando-se muradas acima.
Enquanto insistíamos em ver as belezas vencidas, quase desmanchadas ou encobertas pelo mofo e pela poeira, nossa sensibilidade se curvava ao choro das paredes, espectadoras mudas de sofrimentos guardados.
Simultaneamente, a leitura de fragmentos da extensa documentação que lá se encontra acervada foi afirmando nossa convicção da premência de nada mais se perder para que não se perdesse tudo. Constatamos que, se a grandiosidade da edificação se atreve à contemplação de quem passa ao largo, as minúcias, que são os elos muitas vezes responsáveis pela ligação do passado com o futuro, mostram-se com discrição.
Identificamos nesses documentos uma importância relevante para o entendi mento da evolução recente da medicina, em especial no Rio Grande do Sul, no que tange aos tratamentos utilizados, seus acertos e seus equívocos, no auxílio aos portadores de doenças psiquiátricas.
Um belo livro de registro de visitantes mostra, em sua primeira página, a assi natura da Princesa Isabel, que compareceu à inauguração do hospital, quando o Brasil Império agonizava, às vésperas de se tornar República. Chamaram nossa atenção os pequenos objetos de ultrapassado uso nas práti cas médicas, recolhidos cuidadosamente por funcionários atentos e amorosos com as coisas do passado. Fomos nos deparando com outros tesouros que o tempo e a negligência involuntária não conseguiram destruir, ou simplesmente apagar, e que estão lá, à espera de proteção, a ser executada através de técni cas e métodos modernos e adequados.
Além de tudo que é concreto, um manancial de informações se oferece ao pesquisador atento. Bens intocáveis e invisíveis, porém igualmente impor tantes, escondem-se nas lembranças daqueles que colaboram cotidianamente e que são os fiéis depositários de episódios ocorridos à margem do que conta a história convencional.
Nas nossas incontáveis idas e vindas, observamos pacientes circulando à vontade, como se estivessem em casa. São moradores lá albergados há muitos anos que já não têm mais para onde voltar ou a quem abraçar. Não demoramos a nos certificar de que a casa é mesmo deles, o que nos ajudou a assimilar que estávamos em um mundo feito de sobras de vidas, feito de vidas de sobra.
Ao longo desses encontros, reforçou-se em nós o quanto era, e é preciso, incrementar a divulgação da biografi a do São Pedro, tornar públicos aspectos pouco conhecidos de seus mais de 130 anos. Sem ignorarmos a marca da saúde mental, impregnada na sua imagem, propusemo-nos a contribuir para a solidificação do resguardo do patrimônio edificado, dos conjuntos documentais, dos papéis, dos objetos e também da expressão oral, relativos ao seu nascimento, estruturação, evolução e atuação.
De saída, disseram-nos que a principal orientação seria a de não nos envolvermos com os pacientes, com aquelas pessoas com quem nos deparávamos locomovendo-se pelas entranhas do velho prédio, caminhando pelos passeios externos ou até mesmo tomando sol, sentados nos bancos ao ar livre. Entendemos que o trato com eles era da competência dos profissionais da saúde. E, principalmente, que neles estavam centradas as preocupações e as referências da instituição.
A convivência contínua com servidores que já percebiam o quanto os anais do São Pedro se misturavam, informalmente, com a memória de Porto Alegre foi um fator desencadeante para que chegássemos à decisão de formar uma organização não governamental com foco na inserção de tudo que o hospital representa na vida da cidade. E assim, no dia 30 de setembro de 2003, foi fundada a Associação Amigos da Memória do São Pedro – AMeHSP. Conforme seu estatuto, é constituída por pessoas físicas e jurídicas, por tempo indeterminado, sem fins lucrativos, com sede e foro na cidade de Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul. Tem como finalidade desenvolver a preservação do patrimônio e da memória do São Pedro, respeitados os procedimentos estabelecidos pelo próprio hospital.
A Direção, com quem sempre mantivemos um excelente relacionamento, disponibilizou uma sala mobiliada para que iniciássemos nossas atividades. E voluntários e integrantes do quadro de pessoal, especialmente do Serviço de Memória Cultural, do Escritório de Restauração e Reciclagem e da Oficina de
O livro de visitantes registra passagens ilustres: Princesa Isabel; Baronesa de Suruhy, irmã do Duque de Caxias; José Júlio Albuquerque Barros, governador da Província; e Álvaro Nunes Pereira, engenheiro responsável pela construção do prédio. Acima: talheres e terço descobertos durante as obras de restauro do primeiro bloco
Criatividade, uniram-se no desempenho das tarefas indispensáveis à implan tação da recém-gerada entidade.
A Sociedade de Apoio ao Doente Mental (Sadom), também fundadora da AMeHSP, assumiu-se como companheira e forneceu orientações indis pensáveis para que a nova ONG pudesse dar, acertadamente, seus primeiros passos.
Inicialmente, a preocupação em atribuir-lhe cidadania foi o norte estabeleci do. Um grupo de 26 sócios fundadores assinaram a ata de criação da AMeHSP. Esta, anexada ao estatuto, possibilitou a matrícula no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre.
Também a inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas foi efetivada, para que a entidade ficasse integralmente legalizada e pudesse começar sua atuação de fato e de direito.
Para conferir-lhe visibilidade e inclusão no cenário das entidades ligadas à valorização de bens patrimoniais de caráter histórico, visitamos o Iphan –Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional e o Iphae – Instituto
do Patrimônio Histórico e Artístico Estadual, que saudaram o surgimento da nova organização não governamental.
Voltamos nossa mirada para os colaboradores internos do hospital, para que, na sua totalidade, soubessem da presença do novo parceiro. E com o objetivo de ampliarmos o conhecimento sobre as questões relativas ao patrimônio, realizamos palestras e encontros com convidados especialistas no assunto. Aos poucos, no entanto, constatamos que a gestação do projeto, revestida do entusiasmo inerente a qualquer processo de planejamento, havia sido mais fácil, ou menos difícil, do que a tarefa de realizar os sonhos aflorados.
Assumimos que o funcionamento rotineiro da associação deveria ser resultado de trabalho voluntário e passamos a identificar a disponibilidade das pessoas como uma moeda valiosa. Ou seja, qualquer quantidade de tempo que alguém pudesse oferecer seria bem recebido e teria a mesma relevância. E, se o tempo ficou sendo a nossa moeda corrente, descartamos a contraditória alternativa da cobrança de mensalidades.
Acredita-se que os vitrais da capela te nham sido instalados nos anos 1940 ou 1950 e provavelmente executados pela Casa Veit, importante ateliê de Porto Alegre na épo ca. Da esquerda para a direita: Rainha Santa Isabel com camponeses; São José e São Pedro; Cristo curando enfermos; Sagrado Coração de Maria e Sagrado Coração de Jesus. Na la teral direita da sala, dois painéis menores en contram-se sem função, devido a uma parede cons truída atrás deles
Porém deliberamos que tarefas especializadas e com responsabilidade técnica deveriam ser contratadas e pagas, para que obtivéssemos as certezas e ga rantias de estarmos agindo nos limites da legislação vigente, em qualquer área que fosse.
Em face dessas duas diretrizes sobre as quais embasamos as possibilidades de atuação, vimo-nos diante dos primeiros obstáculos. A contratação dos
serviços de contabilidade e de assessoramento, já de início, mostrou-nos a necessidade de encontrarmos fontes de recursos que garantissem sustenta bilidade e autonomia.
Por outro lado, também definimos que a captação de verba deveria estar vinculada à divulgação da finalidade da ONG. Queríamos, dessa forma, que aquilo que fornecesse os meios também fosse o portador da mensagem.
Acima: detalhe de grade de janela do Pavilhão Freud
Ao lado: base de uma das luminárias da escadaria da entrada principal
A primeira iniciativa, que se tornou inspiradora de muitas outras, foi a rea lização do sorteio de uma gravura, oferecida por uma artista plástica. Com as contribuições arrecadadas, foi viabilizado o ingresso da associação no mundo das instituições oficiais.
Entretanto, intuímos que era indispensável mostrar algo que nos retratasse. Foi então que uma estudante de arquitetura nos trouxe alternativas de coisas que poderíamos confeccionar e que levariam mais longe as informações sobre o hospital. No portfólio que nos apresentou, gratuita e voluntariamente, encontramos formatos possíveis de aliar as duas preocupações: levantar fundos através da difusão da ideia.
Em um século e meio de história, os caminhos do hospital criaram um mosaico de formas e cores
Com aparas de papel, passamos a confeccionar, nós mesmos, pequenos blocos de anotações. Para que cada peça se tornasse única, inspiramo-nos nos detalhes construtivos do prédio centenário, fizemos gravuras representando gradis, lampiões e vitrais e as colocamos na capa dos bloquinhos. Foi nosso primeiro produto. Aos poucos, concebemos outros e acrescentamos-lhes o argumento da reciclagem e do reaproveitamento.
Se, de um lado, estávamos cientes de que nossas movimentações não teriam porte para enfrentar a grandiosa tarefa de restaurar a edificação, também sabíamos que poderíamos dar passos mais largos. E nos propusemos a arrojos maiores.
Partimos para a realização de eventos mais importantes, que ampliassem nossa abrangência e nos permitissem, concomitantemente, oferecer notícias sobre as realidades atuais do prédio tombado e cooptar aliados na luta pela sua revitalização. Não havíamos esquecido que muitos dos nossos interlocutores desconheciam que o hospital continuava, e continua funcionando.
Passamos a realizar jantares em datas comemorativas e, numa ousadia maior, criamos dois eventos anuais. Um deles, o Bazar & Brechó, é viabilizado pela solidariedade de quem também acredita na importância do HPSP e doa pertences de toda ordem, que ao serem oferecidos por valores simbólicos atingem um total significativo.
Cerca de mil blocos de anotações, com gravuras alusivas a detalhes do prédio, já foram produzidos pelos voluntários da AMeHSP
A ação na porta principal e no lustre do auditório teve como princípio fundamental a recuperação total, possibilitando sua utilização cotidiana. As etapas realizadas foram: limpeza e higienização; imunização; reintegração de perdas com substituição de parcelas impossíveis de reparação; proteção do substrato; e acabamento final
Com a participação de artesãos e artistas plásticos, apoiadores da AMeHSP desde seu início, realizamos também o Bazar de Natal, quando mostramos nossa pro dução e oportunizamos a exposição de obras de arte e de artesanato. E os interessados em colaborar adquirem presentes que carregam ideias.
Pode parecer pouco o que resulta do muito que trabalha mos. Contudo, nesses quinze anos, essas campanhas repercutiram em ações concretas de defesa e proteção a variados elementos históricos do hospital.
Inicialmente, foi possível disponibilizar verba para encadernar livros antigos, pertencentes à biblioteca; propor cionar suporte ao trabalho do Escritório de Restauração e Reciclagem, à Oficina de Criatividade e ao Serviço de Memória Cultural; contratar serviços de marcenaria para confecção de mapoteca destinada à guarda dos projetos e plantas originais de arquitetura e engenharia da edifi cação centenária; contratar serviços especializados para a elaboração do Código de Classificação do Acervo Docu mental; e proporcionar aporte financeiro a atendimentos que se mostraram emergenciais.
Quando já tínhamos alcançado uma situação financeira mais consistente, entendemos que poderíamos fazer intervenções que colocassem em ev idência os ambientes por onde circulava um maior número de pessoas.
Simbolicamente, para começarmos a ativar essa modalidade de contribuição, escolhemos recuperar a porta principal do histórico edifício, toda feita em madeira. Para esse fim, fomos buscar em Cachoeira do Sul (RS) uma empresa especializada em restauração de bens culturais e que detinha um currículo confiável de trabalhos realizados. No segundo semestre de 2009, a porta foi definitivamente recolocada em seu lugar, integralmente restaurada. Com autorização da Direção, foi fixada na parede uma placa alusiva ao feito.
Em 2011, optamos por restituir as condições originais ao belíssimo lustre do auditório, igualmente confeccionado em madeira.
Na continuidade do nosso intento de resgatar a nitidez de elementos pontuais, buscando fazer com que os desavisados enxergassem a história através da visualização da aparência, promovemos, em 2014, a recomposição do pórtico de entrada do edifício. Feito em ferro e vidro, suas óbvias fragilidades impediam-no de proporcionar resguardo aos que ingressavam no prédio. As intempéries do clima haviam-lhe roubado a missão e a estética.
Ainda com recursos arrecadados nas campanhas anuais, em 2016 procedemos à recuperação dos dois lampiões que, originalmente, iluminavam e adornavam os degraus que davam acesso ao Pavilhão Protásio Alves. Enquanto a restauração do prédio não se efetiva, eles se encontram sob a guarda do Serviço de Memória Cultural, à espera do retorno às suas funções.
Todas essas providências seguiram as normas exigidas pelos organismos de patrimônio histórico e observaram o princípio fundamental da recuperação e reintegração total dos bens, de modo a possibilitar sua utilização cotidiana.
Para além dos muros do hospital, exercemos a condição de representantes da sociedade civil organizada e participamos da força-tarefa, instituída pelo governo do Estado, quando reivindicamos a revitalização plena do São Pedro. E aos sucessivos secretários da Saúde, que ocuparam o cargo no decorrer dos últimos quinze anos, apresentamos a meta da restauração do prédio construído no século XIX.
Estivemos presentes nas audiências públicas e nos grupos de trabalho propostos pela Assembleia Legislativa que tiveram como objeto o Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Na esfera das organizações privadas, destacamos nossa integração no grupo de trabalho instalado pelo Sindicato Médico do Rio Grande do Sul (Simers), com a finalidade de discutir questões de saúde mental e o papel que efetivamente compete ao São Pedro.
Toda essa trajetória foi possível graças às pessoas, físicas e jurídicas, que nos receberam e nos ajudaram a levar adiante nossas propostas. Temos orgulho de deixar registrado que nunca ouvimos uma resposta negativa a qualquer pedido de socorro que manifestamos.
Estima-se que a marquise da porta principal tenha sido executada no plano de reformas e melhorias implementadas durante a gestão do Dr. Jacyntho Godoy, em 1927 Na imagem superior, um diagrama datado de setembro de 1989, contém anotações e medidas, possivelmente para um futuro projeto de restauro Abaixo, a cobertura recuperada e entregue pela AMeHSP em 2014
Ao completarmos quinze anos, olhamos para trás e ainda lembramos os difíceis obstáculos que transpusemos, os momentos de angústia e de alegria que compartilhamos, as muitas pessoas que mobilizamos para a proposta de revitalização do hospital. Sentimos, sobretudo, o quanto somos vencedores por termos sabido superar o vaticínio que nos lançaram, quando começávamos a dar os primeiros passos, ao nos dizerem que esse tipo de iniciativa não costu mava durar mais de dois anos.
No caso da Amigos da Memória do Hospital São Pedro, permanecemos com o mesmo espírito que tínhamos quando a projetamos e com a mesma dedi cação que devotamos voluntariamente ao São Pedro.
[02]
Dr. Gilberto Slud Brofman Médico psiquiatra1A TRAJETÓRIA DE UMA INSTITUIÇÃO CENTENÁRIA
O Hospício São Pedro, posteriormente denominado Hospital Psiquiátrico São Pedro, teve seu primeiro pavilhão inaugurado em 1884 e o último, o sexto, concluído em 1903. Esse conjunto arquitetônico constitui hoje o prédio histórico do hospital.
Sua missão inicial foi receber, albergar e cuidar dos pacientes portadores de doenças mentais. O que se originou de uma necessidade percebida pela população e pelas autoridades da época no sentido de se buscar uma solução mais adequada para os pacientes. Eles viviam perambulando pelas ruas, sem assistência nenhuma ou abrigados nos porões da Santa Casa de Misericórdia, em condições insalubres.
Desde aquela época até o momento, o hospital se mantém fiel à sua missão original, prestando serviços à população gaúcha na área da psiquiatria.
Como uma instituição centenária, o São Pedro viveu e testemunhou o nascimento da psiquiatria moderna e todo o seu desenvolvimento até hoje. Em seu início, esta correspondia ao que hoje se denomina neuropsiquiatria e buscava descobrir lesões anatômicas que explicassem os sintomas observados nos pa-
1 Diretor técnico do Hospital Psiquiátrico São Pedro nos períodos de 2007/2010 e 2015/2018.
A placa de bronze instalada no hall principal homenageia o psiquiatra Julius Wagner von Jauregg, Prêmio Nobel de Medicina (1927), pela descoberta da malarioterapia no tratamento da sífi lis cerebral Instrumentos cirúrgicos e fotóforo da década de 1950
cientes. Um exemplo marcante dessa época foi o pioneirismo do São Pedro, no Brasil, ao desenvolver a malarioterapia. Tratamento que salvou a vida de muitos pacientes portadores de uma doença prevalente nas primeiras décadas do século passado, a neurolues ou sífilis cerebral, que não tinha até então nenhum recurso terapêutico efetivo. Com o passar dos anos se estabelece uma divisão entre o que hoje corresponde à neurologia e à psiquiatria. Ao São Pedro coube a psiquiatria.
Já nas décadas de 1940, 1950 em diante, o hospital passou a sofrer um grave problema, que acometeu a maioria das instituições psiquiátricas em todo o mundo: ter de abrigar pacientes devido ao crescimento da população. Fato que gerou uma grande demanda de atendimento para os pacientes psiquiátricos. Além disso, até os primeiros anos da década de 1960, vivia-se um período anterior à psicofarmacologia moderna. Não havia nenhum tratamento farmacológico que tivesse efetividade no controle das condutas e sintomas produzidos pela doença mental. O melhor que se podia fazer era manter o paciente internado até que a doença apresentasse uma remissão espontânea, o que geralmente levava muito tempo, e as vezes não acontecia. Nessa época foi descoberta e sintetizada a primeira geração de fármacos antipsicóticos, antidepressivos e ansiolíticos.
A partir desse avanço extraordinário no tratamento dos quadros psiquiátricos, o São Pedro, através do seu corpo técnico e em conjunto com a Secretaria
Estadual de Saúde, novamente sendo pioneiro no Brasil, adotou e pôs em prática um grande projeto para reencaminhar para as suas regiões de origem todos os pacientes que estivessem em condições de alta. Esse projeto previa a criação de leitos psiquiátricos em hospitais gerais, abertura de pequenos hospitais psiquiátricos e de residenciais terapêuticos e um grande incremento no atendimento ambulatorial dos pacientes. Foi através dessas ações que o hospital começou a dar uma solução adequada para o espantoso número de pacientes lá internados: em torno de 4 mil pessoas! A repercussão desse projeto gerou as primeiras sementes da reforma na assistência psiquiátrica no Brasil, ocorridas a partir da lei federal, sancionada em 2001, que a instituiu. Hoje, os técnicos do hospital sentem orgulho do trabalho realizado que pôs fim à era asilar do São Pedro. Desde os anos 1980 não se institucionalizam pacientes. Em 2019, foram encerrados os últimos processos de alta ou transferência para residenciais terapêuticos dos que ainda reuniam condições para isso.
Mantendo o espírito de buscar sempre as melhores condições técnicas, o Hospital Psiquiátrico São Pedro é hoje um complexo de atenção integral em saúde mental. Possui 140 leitos para pacientes agudos que permanecem internados em média 23 dias; um ambulatório que conta com programas específicos de atendimento nas principais patologias psiquiátricas; um serviço de reabilitação psicossocial; uma enfermaria para pacientes com comorbidades clínicas e psiquiátricas; e um serviço de odontologia para pacientes com necessidades especiais.
Para cumprir essa ampla gama de ações em saúde mental, o HPSP conta com equipes multidisciplinares, que têm ao seu dispor todo o arsenal psicofarmacológico, e utiliza as principais técnicas psicoterápicas, atendendo e internando, quando necessário, pacientes de todas as faixas etárias. De crianças a idosos. Hoje, o hospital é parte integrante da Rede de Assistência Psicossocial (Raps) do Sistema Único de Saúde (SUS).
A outra vertente integrante das ações do HPSP é o ensino, desenvolvido desde a sua fundação como parte parte fundamental da sua história.
Em 1908, a cadeira de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina lá se estabeleceu. Fundada em 1939 pela direção do hospital, a Escola Profissional
Fotografi a da década de 1960, fogareiro a ál cool e estojo contendo ampolas para injeções, encontrado na obra de restauro do bloco I
Acima:
Cerimônia de encerramento da primeira turma de enfermeiros, em 1940
Placa da Divisão Melanie Klein, criada em 1961, que tornou-se um centro de referência nacional na formação de psiquiatras
Na página ao lado:
O Serviço de Memória Cultural guarda relíquias, como vidros com resquícios dos remédios ma nipulados no laboratório do hospital, seringas, equipamentos para eletrochoque, livros, docu mentos e muitos outros objetos
de Enfermagem funcionou até 1952. Em 1940, foi criado o Curso de Biopsicologia Infantil, com um viés de prevenção das patologias mentais. Entre 1957 e 1984, a disciplina de Clínica Psiquiátrica da Faculdade de Medicina da UFRGS era ministrada no São Pedro. Uma parte significativa dos grandes nomes da psiquiatria gaúcha foi treinada lá. Em 1984, a direção criou a Residência Médica em Psiquiatria, que permanece funcionando até hoje e conta com oito va gas anuais, mais três para Psiquiatria Infantil. Nesse mesmo ano, o São Pedro criou a primeira Residência Multiprofissional do Brasil destinada a habilitar profissionais não médi cos para atuar na área de saúde mental. Esse programa funciona, hoje, na Escola de Saúde Pública da Secretaria Estadual de Saúde.
Atualmente, o hospital, através da sua Direção de Ensino e Pesquisa, mantém convênios de cooperação técnica com as principais universidades gaúchas e com inúmeras outras instituições de ensino, públicas e privadas, para o fun cionamento de estágios em nível de graduação e pós-graduação. Esses estágios, frequentados por cerca de 200 alunos, oriundos de todo o Brasil e tam bém do exterior, são coordenados pelos técnicos da instituição. Uma parte significativa dos profissionais da área técnica que trabalham na rede pública de saúde mental do estado foi treinada no São Pedro, já que o ensino no hospital é voltado para esse setor.
Para encerrar esta longa história contada em breves palavras, é uma grande satisfação para a comunidade do HPSP informar que nesta gestão se iniciou a obra de restauro do primeiro pavilhão de um conjunto de seis do prédio histórico. Complexo arquitetônico que quando foi inaugurado era um dos prédios mais imponentes da província e hoje representa o maior patrimônio histórico tombado do estado. Esta é a história que está contada neste livro. No pequeno museu do hospital podem-se ver alguns objetos, documentos e livros que fizeram parte dela.
A restauração do prédio histórico também simboliza a renovação constan te que uma instituição como o São Pedro, com 134 anos de idade, precisa ter para se manter atual e eficiente, e continuar cumprindo bem sua missão original, que é atender e ajudar os portadores de doenças mentais da comu nidade gaúcha.
145 ANOS DE HISTÓRIA
O Serviço de Memória Cultural do Hospital São Pedro foi criado em 1999, a partir da iniciativa de alguns funcionários, preocupados com objetos que se encontravam espalhados ou guardados improvisadamente no hospital. O grupo tinha a intenção de criar um museu que reunisse essas relíquias e desenvolvesse um trabalho de pesquisa e documentação histórica. A proposta foi encaminhada à Direção, que se mostrou sensível às questões de preservação patrimonial e resolveu abraçar a ideia.
Assim, em 2000, uma comissão desenvolveu o projeto e, em 2001, o setor, voltado especificamente para o resgate da memória institucional, foi instaurado.
Hoje, em suas 11 salas de exposição e reserva técnica, o memorial guarda documentos, equipamentos médicos de várias épocas, prontuários,
fotografi as, plantas arquitetônicas, pinturas antigas e recentes, livros, ornamentos arquitetônicos, móveis e utilitários. Além da organização desse material, o setor é responsável por sua exposição, preservação, conservação e restauro. E continua sempre em busca de acervo material ou documental que ainda possa ser resgatado nos quase 14 hectares de área da instituição.
Em 17 anos de existência, o Museu, como carinhosamente é chamado pelos funcionários, já recebeu mais de 20 mil visitantes, que tiveram conhecimento da rica história do Hospital Psiquiátrico São Pedro e, com certeza, foram tocados por ela.
Neuza Barcelos Serviço de Memória Cultural do HPSP Na página da esquerda: camisa de força usada no hospital. Acima, à esquerda: carro fechado, com tração animal, que transportava os enfermos. Acima, à direita: as Irmãs de São José de Chambéry, que trabalharam no hospital de 1910 a 1997Registros fotográficos de diversos ambientes ainda existentes na década de 1960, sem identificação precisa
No extenso arquivo de imagens do memorial, encontram-se registros das atividades de praxiterapia e reabilitação, incluindo musicoterapia e aulas de ensino fundamental, costura, desenho e pintura Em 1978 e 1979, foram oferecidos cursos técnicos de formação em marcenaria, sapataria e artesanato, com entrega de certificados
Na página ao lado: obra de um dos frequentadores assíduos da Oficina de Criatividade, desde sua criação, em 1990. Pinturas, bordados, cerâmicas e desenhos produzidos por pacientes têm participado de mostras em importantes centros culturais do país
POTÊNCIAS DA LOUCURA E DA ARTE
No Hospício São Pedro (HSP) de 1884, preponderava a preocupação em manter pacientes ocupados em atividades que os distraíssem, diminuindo sua excitabilidade. Esperavam com isso que se cansassem até provocar a necessidade de repouso. Dessa forma procuravam combater a ociosidade, eliminar a desordem e contribuir para a economia hospitalar, princípios estes que eram elementares no tratamento preconizado à época. A partir da década de 1950, são propostas novas abordagens, entre as quais surgem o trabalho como terapêutica e a reabilitação pela prática das artes. Alternativas estas que tinham como finalidade oferecer um tratamento mais humanizado. Do material produzido nesse período, em oficinas de praxiterapia, restam raros exemplares no Memorial do Hospital Psiquiátrico São Pedro (HPSP).
Em 1990, um grupo de trabalhadoras da saúde mental deu início à Oficina de Criatividade/HPSP. Inspirada no trabalho da psiquiatra Nise da Silveira e em seu Museu de Imagens do Inconsciente, no Rio de Janeiro, a oficina surge com o propósito de dar vazão a intrincados caminhos entre razão e desrazão. Assim, pintura, bordado, modelagem, colagem, produção textual, música, teatro e/ou dança dão vazão a manifestações singulares. As atividades expressivas fazem surgir potências de vida até então submersas nos meandros da loucura.
Em cooperação com a UFRGS, cerca de 250 mil documentos estão salvaguardados no Acervo de Imagens do Inconsciente e já fazem parte da vida
cultural do estado, através de pesquisas, publicações e exposições em importantes centros culturais do país, contando com o apoio da AMeHSP e da Sadom. Em 2016, a oficina foi objeto do longametragem Epidemia de Cores, do diretor Mário Eugênio Saretta. E, em 2017, o Iphan agraciou a Oficina de Criatividade com o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, que reconhece iniciativas sociais de salvaguarda e proteção aos bens culturais brasileiros.
Barbara E. Neubarth
Dra. em Educação Psicóloga Bacharel em Artes Visuais Coordenadora da Oficina de Criatividade do HPSP
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Edson Medeiros Cheuiche Historiador do Serviço de Memória Cultural do HPSPFRAGMENTOS HISTÓRICOS DA CRIAÇÃO E INAUGURAÇÃO DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO SÃO PEDRO
O Hospital Psiquiátrico São Pedro foi a primeira instituição psiquiátrica do estado do Rio Grande do Sul. Criado em 13 de maio de 1874 e inaugurado em 29 de junho de 1884, recebeu a denominação de Hospício São Pedro em homenagem ao santo padroeiro da província. Foi o sexto asilo/hospício de alienados implantado durante o Segundo Reinado no Brasil (1841-1889). O hospício (do latim hospitium; hospedeiro de doentes pobres e incuráveis) de alienados (do latim alienus; estranho a si mesmo ou à comunidade social) foi renomeado a partir de 1925 como Hospital São Pedro e, em 1962, como Hospital Psiquiátrico São Pedro.
A urbe, concepção de espaço apolíneo, foi ocupada por notáveis considerados judiciosos que, no propósito de instaurar a organização e o funcionamento social, estabeleceram padrões sanitários avalizados por processos de medicalização/higienização (discurso). Nesse ambiente considerado racional, a loucura foi silenciada, institucionalizada e isolada do centro de civilidade , pretendido como previsível, transparente, disciplinado, purificado e opulento (prática).
A criação do asilo de alienados fez parte do procedimento de saneamento social de Porto Alegre. O artificio utilizado foi o de deslocar para a periferia da cidade os estabelecimentos que abrigavam as enfermidades, as detenções e os sepultamentos: a Santa Casa foi construída no alto da colina – alto da Misericórdia –, circundando o núcleo populacional da cidade; o Lazareto de Variolosos estava situado no perímetro leste da cidade, na Chácara das Ba naneiras, onde hoje estão estabelecidos os quartéis da Brigada Militar e o Presídio Central; a Casa de Correção, uma edificação pública que serviu para
o encarceramento dos aviltados sociais que não se enquadravam nas normas comportamentais ditadas pela sentenciosa comunidade, foi edificada na ex tremidade da península que acolhia a zona urbana da sede do município; e o cemitério da Santa Casa, estava localizado na região rural e alta do arraial da Azenha, afastado do curso natural do arroio conhecido como do Sabão, atualmente canalizado como Dilúvio ou Ipiranga.
Os hospícios foram utilizados pelos médicos alienistas como espaços de ob servação dos insanos, confiando no propósito de que assim estariam afastados das prováveis causas que levaram à alienação mental. Se o hospício foi o meio na construção do saber alienista, o isolamento foi o método empregado como prática terapêutica de reabilitação mental.
Na província de São Pedro, a preocupação do governo em contar com um local específico para o acolhimento e tratamento dos alienados ficou evidente através do relatório do presidente Joaquim Antão Fernandes Leão, apresen tado à Assembleia Provincial na 2ª sessão da 8ª legislatura, de 5 de novem bro de 1859. Lembrando aos deputados a proibição do encaminhamento de alienados para o Hospício Pedro II, no Rio de Janeiro, sugeriu a criação de uma instituição de caridade especialmente voltada aos insanos da província.
A construção do edifício teria a supervisão da Santa Casa da capital e o apoio financeiro do Governo Provincial:
Hospicio de Alienados - Estando prohibida a remessa e admissão no hos picio de Pedro II dos alienados, que existem na provincia, e que forem reconhecidos incuraveis, como sejão os idiotas, imbecis, epilepticos e paraliticos dementes, que possão viver inoffensivos em qualquer parte; e não havendo nos estabelecimentos de caridade fundados na provincia accommodações apropriadas, onde possão ser conservados e tratados aqueles infelizes, com especialidade os dementes furiosos; chamo a vos sa attenção sobre a necessidade de se fundar um pequeno hospicio em local apropriado, onde possão elles ser recolhidos e tratados convenientemente: este estabelecimento poderia ser feito pela Santa Casa da Caridade desta Capital, sendo para esse fim applicada somma sufficiente.1
No ano seguinte, como a população de alienados crescia rapidamente na Santa Casa de Porto Alegre, cujos insanos eram provenientes de intendências
1 Relatório apresentado à Assembleia Provincial de S. Pedro do Rio Grande do Sul na 2ª sessão da 8ª legislatura pelo conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão. Porto Alegre, Tip. do Correio do Sul, 1859. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http://www-apps.crl.edu/ brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
Hospício Pedro II - Praia Vermelha Litographia Imperial de Edward Rensburg / P. G. Bertichem Rio de Janeiro, 1856
Santa Casa de Misericórdia, Porto Alegre Fotografia de Virgílio Callegari, s/d
de todas as regiões da província, aumentou a dificuldade de acolhimento na instituição. Assim, foi necessário abrigar insanos de ambos os sexos na cadeia civil. A decisão foi registrada no balanço anual de novembro de 1860, que foi apresentado à Assembleia Provincial pelo conselheiro Antão Fernandes Leão no seu segundo ano como presidente provincial:
Alienados: Grandes são os embaraços com que luta o estabele cimento para proporcionar commodos adequados á essa classe de infelizes, por se limitar a 12 o numero das cellulas que alli ha sem as condições hygienicas indispensaveis á sua conservação; pelo que por mais uma vez se tem mandado reunir alguns na cadêa de Justiça, até que possão ser transferidos para o Hospital. 2
Em 1864, foi registrado no relatório emitido pelo presidente da província de São Pedro, Espiridião Eloy de Barros Pimentel, no Capítulo Estabelecimentos de Caridade , informações do atendimento proporcionado ao longo do ano anterior pela Misericórdia de Porto Alegre:
Que dentre uma população atendida de 1.012 enfermos cons t avam cinquenta alienados pobres (trinta homens e vinte mulheres) e sete particulares (cinco homens e duas mu lheres). Que saíram curados doze alienados pobres e dois par ticulares, falecendo seis alienados pobres e dois particulares. 3
Também ficou consignado no relatório de Pimentel que, no ano anterior, na administração do provedor João Rodrigues Fagundes, houve a inauguração de um local específico para o acolhimento de alienados na Santa Casa:
Asylo de alienados: No dia 02 de Dezembro ultimo foi com toda a solenidade inaugurado este estabelecimento no edificio para elle ex pressamente construido com as necessarias proporções e sob o mesmo plano do hospital de caridade, de que é continuação. No pavimen to superior destinado ás mulheres forão recolhidas em 1.º de Janeiro do anno findo 13 alienadas; o segundo pavimento destinado para os homens recebeo 18 alienados, que com aquellas perfazem o n.º de 31. 4
2 Relatório apresentado à Assembleia Provincial de S. Pedro do Rio Grande do Sul na 1ª sessão da 9ª legislatura pelo conselheiro Joaquim Antão Fernandes Leão. Porto Alegre, Tip. do Correio do Sul, 1860. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http://www.apps.crl.edu/ brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
3 Relatório apresentado pelo presidente da província de S. Pedro do Rio Grande do Sul, Espiridião Eloy de Barros Pimental, na 1ª sessão da 11ª legislatura da Assembleia Provincial. Porto Alegre, Tip. do Correio do Sul, 1864. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http:// www-apps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
4 Idem.
O marechal de campo Luiz Manoel de Lima e Silva, provedor da Santa Casa de Misericórdia, de 1865 a 1872, censurou em seu relatório de 1867, emitido à Mesa Administrativa, o comportamento destrutivo dos alienados asilados na pia instituição:
Pois os infelizes que n´lles habitão, muito os enxovalhão e estragão, além do que inutilisão roupas, isto constantemente, não obstante a pontual vigilancia dos enfermeiros (...) e não impedia a continuada quebra de vidros, que traz uma grande despeza no anno, tudo causado por taes infelizes, que têm um instincto particular para a destruição. 5
No último ano de sua gestão, o provedor Lima e Silva reafirmou as dificuldades administrativas e financeiras da Misericórdia proporcionadas pelo acolhimen to de insanos e alertou para a prática contumaz do envio indiscriminado de alienados de toda a província para o asilo de alienados da Santa Casa, sendo que alguns alienados estavam abrigados em outros espaços da instituição:
Estes pensionistas vitalicios são os mais pesados para o pio estabe lecimento pelas despezas que fazem, e o incommodo que dão. O asilo continua repleto de alienados de ambos os sexos, e se maior fosse não chegaria para tantos infelizes, pois de todas as partes da Provincia se reclama entradas de novos (...). As antigas reclusões do pavimento térreo estão ocupadas com alienados immundos.6
Foi recorrente a prática de regulação social dos insanos na província, antes e após a inauguração do asilo de alienados. As propostas discricionárias estatuí das pelo poder público através dos Códigos de Posturas de diversas Câmaras Municipais da província de São Pedro estabeleceram uma marginalização coagida desses indivíduos destituídos da razão. Excluídos dos padrões sociais, os alienados foram considerados inaptos para conviverem no cotidiano e em meio às comunidades das vilas e cidades da província.
O comerciante José Antônio Coelho Júnior, provedor da Santa Casa, de 1873 a 1881, foi um cidadão ativo e altruísta na vida pública da província. Diante das circunstâncias aviltantes de acolhimento dos insanos na Misericórdia e na cadeia,
5 Relatório da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, capital da província de S. Pedro do Sul, apresentado pelo provedor, Luiz Manoel de Lima e Silva, no ano compromissal de 1867. Porto Alegre: Tip. do Jornal do Comércio, 1867.
6 Relatório da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, capital da província de S. Pedro do Sul, apresentado pelo provedor, Luiz Manoel de Lima e Silva, no ano compromissal de 1872. Porto Alegre: Tip. do Constitucional, 1872.
Coelho Júnior registrou nos relatórios exibidos à Mesa Administrativa sua consternação e inconformidade, até mesmo com a indiferença da sociedade. Em seu primeiro relatório, através de crítica enérgica, propôs como alternativa a criação de um asilo de alienados na província:
Os pavimentos baixos deste edifício, únicos em que se póde collocar os loucos mais furiosos, são xadrezes escuros, frios e humidos, são verdadeiras masmorras, mais próprias por certo para fazer perder o juízo a quem o tiver do que para nellas recuperal-o (...). Ao ver-se esses infelizes sepultados nessas humildes e sombrias enxovias parece que a sociedade não quer cural os nem mesmo atenuar-lhes os seus soffrimentos, e sim que considera um crime a sua desgraça e que os quer punir com isso (...). Que tratamento podem ter na cadêa civil esses desventurados, que não seja ainda peior do que o que podem ter neste estabelecimento?! E há de continuar uma sociedade chistã e civilizada, a collocar aquelles que perderam a razão, muitas vezes por injustiças da própria sociedade, nas mesmas condições em que colloca o malvado e o criminoso (...). Não conheço, Srs., nada mais revoltante n’uma sociedade christã e civilizada, do que vêr um pai que perdeu a razão porque um assassino lhe arrancou a preciosa vida de um filho querido, ser lançado por essa sociedade na mesma enxovia em que lança o malvado. Ver um homem que perdeu a razão por injustiças da propria sociedade, ainda ser por ella lançado n’uma masmorra, e ahi terminar seus tristes dias, e no entanto estes e outros factos se dão, e se continuarão a dar, em quanto não tivermos um Asylo de alienados.7
Após liderar a exitosa campanha de criação do asilo de alienados em Porto Alegre, o provedor Coelho Júnior exerceu a presidência da primeira comissão incumbida da construção do prédio manicomial. No primeiro momento, os recursos financeiros foram obtidos através da promoção de eventos sociais, de donativos e por meio da concessão da extração de doze loterias à Irman dade da Santa Casa, encarregada de implantar o asilo de insanos na capital, de acordo com a Lei Provincial nº 944, de 13 de maio de 1874, sancionada pelo presidente provincial João Pedro Carvalho de Moraes. No ano seguinte, através da Lei nº 988, de 27 de abril de 1875, decretada pela Assembleia Provincial e sancionada pelo presidente provincial José Antônio de Azevedo Castro, o Art. 1°, § 12, Subvenção às Casas de Caridade , autorizava o adiantamento de 25 contos de réis por conta das loterias para iniciar a edificação do asilo de alienados.
7 Relatório da Santa Casa de Misericórdia da capital da província do Rio Grande do Sul, no ano de 1873, apresentado à Mesa da mesma Santa Casa pelo provedor José Antônio Coelho Júnior. Porto Alegre: Tip. do Rio-Grandense, 1873.
O Acto n° 69, de 25 de junho de 1884 e o Acto n° 70 , de 25 de junho de 1884, assinados pelo presidente da província, José Júlio de Albuquerque Barros, o Barão de Sobral, nomeou, respectivamente, 12 Grandes Protetores e Protetoras do Hospício São Pedro
Protetores
D. Sebastião Dias Laranjeira Cons. Antonio de Souza Martins Dr. Carlos Thompson Com. Francisco Antonio Borges Com. João Batista Ferreira de Azevedo Com. João Breyer
Antonio Domigues Antonio José Gonçalves Mostardeiro Domingos da Silva Paranhos Porto Edmundo Telscher Francisco Gonçalves Carneiro
Protetoras
Condessa de Porto Alegre Viscondessa de Pelotas Baronesa do Cahy Baronesa de Cacequy Baronesa de Jacuhy D. Antonia Ferreira Cruz D. Deolinda Canabarro da Camara D. Francisca das Chagas Araujo Vieira D. Josepha Dias de Castro D. Maria José Palmeiro Salgado D. Maria Luiza de Abreu Fernandes D. Rita Eulalia Torres da Fonseca
Ao lado, um donativo destinado à construção do hospital, datado de 1886, feito por um de seus protetores.
Provincia do Rio Grande do Sul 3ª Secção N 1936
Palacio do Governo em Porto Alegre 24 de agosto de 1886
Ilmº. Sr.
Acaba de comunicar-me o Provedor da Santa Casa de Misericordia desta Capital que recebeu duas apolices da Camara Municipal desta cidade, do valor nominal de 500$000 reis cada uma, ao juro de 6% ao anno, por V. Sª offerecidas, na qualidade de Grande Protector do Hospicio S. Pedro, como donativo para consti tuição do patrimonio desse pio estabelecimento.
Agradeço a V. Sª o donativo, que dá um elevado testemunho dos seus sentimentos humanitários.
Deus Guarde a V. Sª
Manuel Deodoro da Fonseca Sr. Antonio José Gonçalves Mostardeiro
No ano seguinte foi ajustada a compra da chácara de Israel Rodrigues Barce los para a construção do prédio do asilo de alienados. O local estava situado na Estrada do Mato Grosso (atual Av. Bento Gonçalves), caminho para a lo calidade de Nossa Senhora da Conceição de Viamão, próximo da atual Rua Vicente da Fontoura (ex-Boa Vista), no arraial do Partenon. No dia 19 de março, na presença das autoridades provinciais, Dom Sebastião Dias Laranjeira, bispo da Província de São Pedro, benzeu a pedra fundamental da nova instituição manicomial que levou o nome de Hospício São José. Por motivos desconhecidos, o proprietário do terreno acabou desistindo do negócio, impossibilitando a construção do asilo de alienados.
Em novembro de 1879, no governo de Carlos Thompson Flores, a Fazenda Provincial comprou um terreno conhecido como Chácara da Saúde para a edificação do hospício. A área foi adquirida da viúva Maria Rita Clara Rabello por 25 contos de réis. Afastada da urbe, a chácara tinha 2.500 palmos de frente e 3.181 palmos de fundos e entestava ao sul com a Estrada do Mato Grosso. Como estabelecia a lei de criação do asilo, a bucólica quinta era arborizada, rica em ar puro e água potável, onde corria a leste o arroio do Chagas e ao norte o arroio da Azenha. Estava apta à terapêutica laboral e à segregação social da loucura.
Em Porto Alegre, mesmo com a compra de um espaço específico para a construção de um asilo de alienados, permaneciam as inquietações das autoridades provinciais com as detenções dos insanos na cadeia. Em janeiro de 1882, o presidente provincial Francisco de Carvalho Soares Brandão, ao comentar no seu relatório anual as ocorrências na Repartição de Obras Públicas, relatou que de acordo com sua proposição estava concluída a edificação de cinco celas na cadeia civil para o exclusivo acolhimento de alienados:
De accôrdo com o projecto e orçamento que mandei organizar pela repartição de obras públicas, determinei ao respectivo di rector a construcção de cinco cellulas para alienados, junto ao corpo da guarda da cadéa civil desta Capital (...) as cellulas se achão concluidas e já os alienados ahí acommodados, evitando-se os inconvenientes de sua conservação no interior da cadéa. 8
8 Relatório do presidente provincial, Francisco de Carvalho Soares Brandão, entregue à administração da província do Rio Grande do Sul ao vice-presidente, Joaquim Pedro Soares, em 14 de janeiro de 1882. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http://wwwapps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
Em setembro do mesmo ano, o presidente provincial, José Leandro de Godoy e Vasconcelos, determinou a construção imediata de um dos pavilhões projetados do hospício para o acolhimento imediato dos alienados que estavam detidos na cadeia civil: Para se recolherem os alienados que se acham na cadéa civil, mandei que com urgencia se preparasse um dos pavilhões desse hospicio suspendendo-se as demais construcções. 9
Em fevereiro do ano seguinte, enquanto o engenheiro Álvaro Nunes Pereira, diretor da Repartição de Obras Públicas, reforçou a premência da construção de pelo menos um dos pavilhões do hospício, o chefe de Polícia José Maria de Araújo manifestou seu desconforto com a situação desagradável e perversa do encarceramento de alienados na cadeia civil da capital:
É verdadeiramente commovedora a sorte desses desgraçados que, perdendo o uso da razão, tornam-se uma ameaça e um perigo para a communhão social, quando, ás tristezas de seu infortunio, accrescem os constrangimentos de uma reclusão incommoda e iniqua (...). Existem nesta cidade cincoenta alienados, dos quaes vinte e nove são homens e vinte e uma mulheres. Dezenove estão lançados nos quartos da Cadéa Civil e trinta e um permanecem na Santa Casa de Misericórdia. 10
Do lançamento da pedra fundamental do Asylo de Alienados, em 2 de dezembro de 1879, aniversário de 54 anos de D. Pedro II, até 1903, com a conclusão das obras do sexto pavilhão, foi concluída a metade do projeto original de edificação do hospício.
O provedor da Misericórdia, Joaquim Pedro Salgado, comunicou ao presidente provincial, José Júlio de Albuquerque Barros, em 19 de junho de 1884, o aceite da Mesa Administrativa em gerir o futuro asilo de alienados. Essa situação durou até a assunção do governo republicano gaúcho, que através do Ato nº 04, de 28 de novembro de 1889, determinou que o hospício deve estar sob as vistas directas e immediatas do Governo, indicando no mês seguinte o médico Francisco de Paula Dias de Castro para comandar o Hospício São Pedro.
9 Relatório do presidente provincial, José Leandro de Godoy Vasconcellos, entregue à administração da província do Rio Grande do Sul ao 1º vice-presidente, Leopoldo Antunes Maciel, em 9 de setembro de 1882. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http:// www-apps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
10 Fala dirigida à Assembleia Legislativa pelo presidente, conselheiro José Antonio de Souza Lima, na 1ª sessão da 21ª legislatura, em 2 de março de 1883. Porto Alegre, Tip. do Jornal do Comércio, 1883. Provincial Presidential Reports (1830-1930): Rio Grande do Sul; http://wwwapps.crl.edu/brazil/provincial/rio_grande_do_sul. Acesso em 25.07.2018.
Em 29 de junho de 1884, domingo, 13 horas, foi inaugurado o Hospício São Pedro pela Mesa Administrativa da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, sendo liberado para visitação pública a partir das 15 horas. O evento foi comemorado com ostentação na presença das autoridades civis, militares e religiosas, dos benfeitores do asilo de alienados, dos notáveis e da imprensa da capital. Durante a solenidade, o presidente, Albuquerque Barros, nomeou o ex-provedor José Antônio Coelho Júnior como o Grande Protector do Hospicio. Dos atuais seis pavilhões, o Hospício São Pedro foi instalado com somente um concluído e dois em construção. Na véspera da inauguração foram acolhidos 41 alienados, sendo 25 provindos da Santa Casa (14 homens e 11 mulheres) e 16 da cadeia civil (10 homens e seis mulheres), sendo indicado o médico Carlos Lisbôa para responder pela direção do serviço sanitário da instituição manicomial.
Na planta de janeiro de 1900, o terreno é delimitado pela Estrada do Matto Grosso, atual Av. Bento Gonçalves, e pelo Arroio da Azenha, hoje Arroio Dilúvio
Acta do lançamento da pedra fundamental do Hospício São Pedro
Anno do Nascimento de Nosso Senhor Jesus Christo de mil oitocentos setenta e nove, quinquagésimo oitavo da Independência e do Império, aos dous dias do mês de Dezembro, anniversario natalício de S. M. O Imperador o Senhor Dom Pedro Segundo nesta Leal e Valoroza cidade de Porto Alegre, Capital da Provincia de são Pedro do Rio Grande do Sul, achando-se presente o Exmº Sr. Dr. Carlos Thompson Flores, Presidente da Provincia, no terreno em que se deve levantar o edificio destinado aos alienados, sito á estrada do Matto-Grosso, suburbios desta Capital, adquirido por compra feita pela Fazenda Provincial á sua proprietaria Dona Maria Clara Rabello, para o fim de lançar a pedra fundamental do mesmo edificio, com toda a publicidade e solemnidade e estando tambem ali presentes o Exmº e Revmº Sr. D. Sebastião Dias Larangeira Bispo desta Diocese, o Engenheiro Alvaro Nunes Pereira, encarregado
da execução da planta e fiscalização da dita obra, os cidadãos Major José Antonio Coelho Junior, como presidente, João Bornfeld e Joaquim Gonçalves Bastos Monteiro, como membros da comissão nomeada pelo mesmo Exmº Sr. para promover e admnistrar a mencionada obra, bem como a Ilm ª Camara Municipal desta Capital, autoridades civis, militares e eclesiasticas e uma nume rosa concequencia de pessoas gradas, foi pelo mesmo Exmº Sr. Presidente da Provincia, procedidas as formalidades do estylo, assentada a um metro de profundidade no centro do alicerce de alvenaria do encontro sul da porta principal do edificio a pedra fundamental do mesmo que se denominará - Hospicio São Pedro - e se destina ao tratamento dos infelizes accommettidos de alienação mental.
Em um vão aberto na dita pedra fundamental foi collocada uma caixa de zinco contendo uma de madeira, dentro da qual forão depositadas pelo mesmo Exmº Sr. Presidente da Provincia moedas nacionaes de cobre, nikel, prata e ouro e todas as gazetas do dia
impressas n’esta Capital e bem assim uma folha de papel hollanda com a seguinte inscripção:
“Felizmente para os Brasileiros era Sua Magestade O Senhor D. Pedro Segundo o Imperador Cons titucional e Defensor Perpetuo do Brasil quando no dia dous de Dezembro de mil oitocentos setenta e nove anniversario Natalicio do Mesmo Augusto Se nhor, n’esta Leal e Valorosa Cidade de Porto Alegre, Capital da Provincia de S. Pedro do Rio Grande do Sul, o Exmº Sr. Dr. Carlos Thompson Flores, Presidente da mesma provincia, lançou a pedra fundamental deste edificio, em execução ao disposto na Lei Provincial nº 944 de 13 de maio de 1874 e no § 4º do artigo 5º da de nº 1220 de 16 de Maio de 1879, para nelle serem tratadas os infelizes accommettidos de alienação mental.
Para perpetua memoria vai esta inscripção ser guardada na pedra fundamental deste edificio para que com elle vá até a mais remota posteridade.”
Sendo a sobredita caixa de zinco bem feichada e soldada por todos os lados para em tempo algum se lhe communicar a luminosidade e poder por este modo perpetuar-se a memória da construção daquelle edificio.
E sendo lançada esta pedra no logar acima mencionado foi coberta com outra preparada e ajustada para ficar assim a referida caixa de zinco no centro de ambas e depois de betumadas as juntas com cimento de Portland, foi assentada a pedra em traço forte de cál e areia e sobre ella se continuou no mesmo acto a levantar o alicerce do edificio, formado também de pedra como o mesmo traço de cál e areia.
E para constar mando o Exmº Sr. Dr. Presidente da Provincia lavrar esta acta para ser archivada na Secretaria do Governo e assignou o mesmo Exmº Sr. e mais autoridades e convidados presentes ao acto. Eu Francisco Pereira da Silva Lisboa Diretor Geral servindo de secretario de Governo subscrevo.
A inauguração, sob a ótica do jornal A Fede ração , veículo do Partido Republicano Riograndense
A imagem maior, digitalizada a partir de negativo em vidro, data de 1899 e nela é possível ver o último pavilhão ainda em construção. As outras fotografias raras e um cartão postal mostram a fachada concluída
Documento datado de agosto de 1898, com os desenhos e instruções para a execução das bandeiras das portas e janelas
Renata Galbinski Horowitz1
Arquiteta especialista em Gestão de Obras de Restauração e Conservação de Patrimônio Cultural
ANOTAÇÕES SOBRE O RESTAURO DO PRÉDIO HISTÓRICO
O Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, localizado originalmente em gleba de 33 hectares, na antiga Estrada do Matogrosso, constitui-se atualmente em zona urbana com 13,90 hectares, na Av. Bento Gonçalves, no bairro Partenon, centro geográfico da cidade de Porto Alegre. Ao longo de sua história, 48% da extensão total de sua área foi subtraída, dando lugar a instituições públicas e privadas. Esse magnífico complexo compreende cerca de 40 edificações, perfazendo um total aproximado de 44 mil m² de área construída. O Prédio Centenário re presenta o bem de maior relevância cultural. Construído entre 1874 e 1903, é composto por seis blocos de dois pavimentos e porão, interligados transversalmente por um extenso eixo de circulação. Tem cinco pátios internos, numa estrutura tipo pente , modelo de planta comumente utilizado no século XIX para administração de grandes contingentes humanos, tais como prisões e internatos. Inaugurado em 29 de junho de 1884, possui área de 12.324,00 m², preservando em suas paredes e elementos arquitetônicos seus 135 anos de história.
1 Coordenadora técnica do Escritório de Restauração e Reabilitação do Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, de 2004 a 2008, e do Serviço de Restauração Patrimonial, de 2008 a 2015. Diretora do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul.
A edificação foi tombada, juntamente com seu entorno, em nível estadual, em 1990 e, em nível municipal, em 1993. O vazio frontal junto à Avenida Bento Gonçalves, que confere sensação de respeito a esse marcante elemento do imaginário coletivo e o coloca em posição privilegiada na paisagem urbana, foi gravado como praça pelo Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano Ambiental em 2002, juntamente com sua área lateral sudeste.
Os primeiros relatórios apontando necessidade de adaptações na instituição datam de 1908, cinco anos após o término de sua construção, e eram justificados pelo crescente incremento de pacientes internados.
No período de 1927 a 1932, sob a direção do Dr. Jacyntho Godoy, estabele ceu-se um novo discurso médico psiquiátrico, e a implementação de modernos recursos terapêuticos levou à execução de significativas obras de reforma no prédio.
A perda de autonomia financeira no ano de 1937, com consequente falta de recursos e superpopulação manicomial, contribuíram para o agravamento dos problemas administrativos do hospital. Registram-se, a partir dessa época, novas construções para o abrigo de internos, contabilizados em 3.280 no ano de 1957.
No início da década de 1970, com uma população manicomial de cerca de 5 mil indivíduos, o Complexo do Hospital Psiquiátrico São Pedro possuía 10 edi ficações destinadas ao abrigo de pacientes, além do Prédio Centenário, que se encontrava em processo de abandono. A partir daí, infiltrações, presença generalizada de cupins no madeiramento de sustentação da cobertura, colapsos estruturais localizados e princípio de incêndio acentuaram sua deterio ração. A necessidade de restaurar o Prédio Centenário tornou-se, então, irreversível.
No ano de 1985, deu-se a primeira iniciativa de restauração, com contratação do arquiteto Edegar Bittencourt da Luz para elaborar o Projeto Arquitetôni co de Restauração da Cobertura dos Blocos 2 e 3. A obra foi iniciada e parcialmente executada, sendo interrompida devido à falta de especialização da empresa contratada.
A partir do ano 2000, quando o prédio encontrava-se 80% desocupado, a Secretaria da Saúde instituiu um grupo de trabalho com técnicos de várias secretarias destinado a elaborar propostas para viabilizar sua utilização. Iniciou-se, assim, um amplo processo visando à restauração e revitalização global
do complexo hospitalar. Nessa trajetória, em 2004, foi criado o Escritório de Restauração e Reabilitação do Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro. A partir de Termo de Cooperação entre Secretaria de Estado da Saúde (SES), Secretaria de Estado das Obras Públicas (SOP) e Universi dade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs), foi acordado o gerenciamento do Projeto de Restauração e Reciclagem Global do Conjunto Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro, prevendo a instalação da Uergs no HPSP.
Dadas as dimensões do complexo e considerando os tombamentos em nível estadual e municipal, em 2006 o escritório de restauração elaborou um inventário em parceria com técnicos do Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) e da Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural (Ephac). Foram identificadas as edificações formadoras do conjunto, definidas aquelas a serem consolidadas e estabelecidas orientações para futuras intervenções. Dessa forma, pretendia-se romper com a desestruturação existente, bem como com a desqualificação tipológica da arquitetura de acompanhamento, visando a uma futura ordenação de fluxos e à qualificação das edificações que viessem a ser projetadas.
Na sequência, em 2008, foi elaborado o Estudo Preliminar de Restauração e Reabilitação Global do Prédio Centenário. Mesmo ano em que foi criado o Serviço de Restauração Patrimonial, consolidando assim o gerenciamento do processo de restauração a partir do hospital. Esse estudo teve como objetivos a requalificação do conjunto edificado do hospital e a reabilitação do prédio centenário. Permitiu, a partir daí, preservar o patrimônio cultural e viabilizar o espaço físico para transformar a instituição em um Centro Integral de Atendimento em Saúde Mental, de acordo com as prerrogativas da Direção do hospital e da Secretaria da Saúde do Estado. A proposta de uso para o prédio centenário manteve três eixos básicos definidos por uma força-tarefa de 2007: saúde, educação e cultura. Previu a instalação no prédio de setores vinculados à administração do hospital, museu e ensino, e como diretriz o resgate do eixo longitudinal de circulação no primeiro e segundo pavimentos. No primeiro, localizaram-se ao longo desse eixo as coordenações, conforme o organograma do hospital; e no segundo, a proposta previu liberação total da circulação, atividades de memória e ensino. Apontou ainda abertura de acessos diretos ao prédio pela alameda frontal e recobrimento dos pátios um e cinco com elementos translúcidos e estrutura metálica. Essas intervenções visavam à melhoria do fluxo e à acessibilidade universal à edificação.
Para viabilizar a elaboração do projeto de restauração e considerando as dimensões da edificação, em reunião entre Sops, diretoria do hospital e Iphae, acordou-se que seria licitado inicialmente o Projeto de Restauração para o bloco A e posteriormente para os blocos B, C, D, E e F do Prédio Histórico.
Foi disponibilizado para contratação desse projeto o Estudo Preliminar e ainda elaborado programa de necessidades, pré-dimensionamento estimativo e diretrizes de restauro. As diretrizes definiram que o projeto arquitetônico de restauração deveria respeitar as linhas de arquitetura predominantes no prédio tombado, mantendo harmonia com os elementos originais de fachada, materiais, revestimentos e cobertura, bem como o equilíbrio de volumes. O projeto deveria, também, compatibilizar as dimensões espaciais e os níveis de pisos, soleiras, vergas, peitoris, beirais, cobertura, fundações, etc. Quanto
à arquitetura interna proposta, a mesma teria de ser compatível com circu lações, distribuição e dimensionamentos de salas existentes, integrando-se perfeitamente ao prédio centenário tombado. Os revestimentos, pavimen tações, aberturas, internas e externas, vãos de ventilação e iluminação, elementos de vedação, bem como os elementos estruturais propostos, deveriam estar em harmonia com os existentes. Deveria também ser observada toda a legislação vigente quanto à acessibilidade universal e à proteção contra incêndio.
Em 2009, após licitação pública, foi contratada a Empresa Arquibrasil Ar quitetura e Restauração Ltda., de Curitiba, para elaboração do projeto de restauração do bloco A do Hospital Psiquiátrico São Pedro, que foi concluído em 2010. 4
Ao lado e nas próximas páginas: projeto a rqui te tônico de restauração ela bo rado em 2009, após licitação pública.
ELEVAÇÃO OESTE
Legendas conforme anotações contidas na planta:
1 - Executar cobertura com telhas de barro tipo capa-e-canal
2 - Tubos de queda de cobre 9 x 6,5cm
3 - Restaurar vitrais
4 - Colocar esquadrias conforme modelo original
5 - Restaurar marquise e colocar vidro aramado
6 - Colocar vidros azuis de mesmo tipo dos existentes nos locais faltantes e substituir os de tipo diferente
7 - Recompor frisos
8 - Recompor vão e colocar esquadrias con forme modelo original
9 - Restaurar luminárias
PLANTA DE IMPLANTAÇÃO E COBERTU RA
Legendas conforme anotações da planta:
1 - Antiga soteia: estrutura de aço, vedação lateral e cobertura de vidro
2 - Vidro laminado refletivo prata 10 mm
3 - Travessia elevada blocos intertravados (Paver) cinza e vermelho
4 - Vidro laminado refletivo prata 10 mm
5 - Circulação vertical volume da escada e elevador: estrutura de aço, escada metálica, cobertura de vidro
6 - Plataforma elevatória
7 - Executar calçada com placas de pedra conforme padrão existente
8 - Tubo de queda
9 - Janelas de telhado 70 x 100 cm para locação, ver prancha A09/49
10 - Rampa de acesso
21
A
Legendas conforme anotações da planta:
1 - Retirar cobertura de telhas de fibrocimento
2 - Demolir acréscimo em alvenaria
8 - Retirar azulejos 9 - Retirar folhas 10 - Recompor vãos conforme indícios existentes 11 - Retirar esquadria 12 - Retirar esquadria e grade 13 - Retirar esquadria e grade
B - CORTE GG/ELEVAÇÃO LESTE - A EXECUTAR
Legendas conforme anotações da plantas
14 - Executar cobertura com telhas de barro
15 - Ver prancha A10/49
16 - Colocar caibros e executar telhado com telhas de barro
17 - Imunizar todos os elementos de madeira da cobertura: estrutura, ripas e caibros
18 - Executar reforço de aço conforme projeto específico (M1, M2, M4)
19 - Estrutura de aço de reforço da cobertura
20 - Fechamento do terraço com estrutura de aço conforme projeto estrutural (M3) e vedação com vidro conforme prancha A 27/49
21 - Executar estrutura de aço conforme projeto estrutural (M5) e pranchas 126/49 e 127/49
22 - Executar reforço da laje conforme projeto específico (R1, R2)
PROPOSTA DE INTERVENÇÃO
Segundo os arquitetos Jussara Valentini e Roberto Martins, autores do pro jeto de restauração, foram adotadas as seguintes diretrizes de intervenção: conservação e restauração dos elementos originais; recomposição da configu ração espacial da década de 1920; manutenção de contribuições posteriores que valorizassem o edifício; e adequação à acessibilidade e aos usos propostos.
A opção por recompor a configuração espacial da década de 1920 baseou-se em informações documentais e iconográficas, na análise espacial e também no fato de datar dessa época importante intervenção arquitetônica. Elementos significativos como os forros e a escadaria principal, executados naquela dé cada, estavam presentes. A reformulação do saguão de entrada e a criação da capela no segundo pavimento, também executadas na época, foram mantidas por valorizarem a edificação. Avaliou-se também que as intervenções ocorridas a partir da segunda metade do século XX apenas haviam contribuído para a descaracterização do prédio. Os projetistas optaram, então, por sua eliminação.
O projeto definiu uma série de intervenções preventivas e corretivas: reforço ou substituição de peças da estrutura de madeira da cobertura comprometi das e execução de tesouras intermediárias em aço para redistribuição de esforços; recomposição do entelhamento com telhas de barro do tipo capa e canal; reconstituição do nível original de forros e pé direito; restauração das esquadrias originais existentes e substituição das esquadrias de ferro por esquadrias de madeira com configuração similar à da década de 1920; recomposição de arcadas, terraços e vãos originais alterados, bem como fechamento de alguns vãos não originais; substituição de componentes de madeira de esquadrias, forros, pisos e rodapés, quando necessário, para garantir sua integridade e proteção contra térmitas.
As ações propostas para atender ao programa de necessidades e à legislação vigente tiveram caráter de reversibilidade, fazendo uso de técnicas e lingua gem contemporâneas, como se observa a seguir: construção de acesso ao nível da calçada frontal com instalação de plataforma elevadiça para permitir acessibilidade; execução de elevador e de escada externa de acesso ao segundo pavimento em estrutura metálica; fechamento do espaço destinado ao café com estrutura metálica e cobertura translúcida, execução de escada interna metálica visando à circulação entre os três pavimentos e às normas de prevenção contra incêndio; instalações sanitárias para portadores de ne cessidades especiais em todos os pavimentos; utilização de paredes em siste ma dry-wall, divisórias ou vidro em espaços internos; execução de esquadrias de vidro em vãos sem indícios e/ou documentação da esquadria original. Em termos espaciais, para atender ao programa de necessidades, a direção geral e os setores de administração foram localizados no porão e no primeiro pavimento, o auditório e parte do memorial, no segundo.
Acima e na página da esquerda: maquetes eletrônicas do projeto de restauração. Nas imagens, vê-se o pátio interno, entre os blocos A e B, e intervenção em estrutura metálica prevendo acessibilidade
As tratativas para início das obras de restauração se deram em 2012, e devido à disponibilidade orçamentária, determinou-se sua execução em duas etapas.
A primeira, iniciada em 2013 e concluída em 2017, compreendeu: demolição e retirada de alvenarias, pisos e materiais deteriorados; restauração e reforço estrutural da cobertura; execução do barroteamento e pisos de madeira, piso de painel wall e alvenarias novas; impermeabilizações; instalações prediais de sistemas hidráulicos, elétricos, de telefonia e lógica, de proteção contra des cargas atmosféricas e contra incêndio.
Após cercamento do trecho da edificação a ser restaurado, foram executadas proteções na escadaria principal de acesso, no piso do saguão em pastilha vitrificada, nos azulejos do hall, nos vitrais da capela e na cobertura de vidro e da marquise (1).
Os trabalhos de restauração iniciaram-se pelo subsolo, com a inspeção geral do madeiramento do forro, e ficou constatado alto grau de contaminação por
térmitas (cupins). Não sendo possível o reaproveitamento, foram selecionados trechos para reprodução de sua modenatura.
Ao iniciarem-se os trabalhos de remoção dos forros de madeira do subsolo foi identificado vigamento metálico de sustentação de piso em laje de grés do primeiro pavimento, não prospectado em projeto (2). Decidiu-se, então, pela permanência desses elementos aparentes e pela compatibilização das insta lações elétricas através de iluminação nas paredes.
No primeiro pavimento, após retirada dos pisos de madeira, constatou-se que estes se encontravam apoiados sobre barrotes de madeira originais em avançado estado de deterioração e infestação por térmitas. Após análise, definiu-se por sua substituição e pela manutenção do espaçamento original de 60 cm entre estes (3).
No piso do auditório havia sido prospectada a existência de laje de concreto, entretanto, após remoção do piso vinílico existente, constatou-se a presença de contrapiso. Este apoiado sobre assoalho e barrotes de madeira em situação de deterioração semelhante à do restante dos ambientes, Optou-se, então, pela remoção de toda a estrutura comprometida (4).
Em um dos corredores do primeiro pavimento, deparou-se com a existência de um porão com arcadas de tijolos maciços e vão aproximado de 1 m de altura. Decidiu-se, então, executar a passagem da alimentação elétrica e dos dutos de PPCI por esse vão (5).
Com a retirada dos forros de madeira do primeiro pavimento, houve várias constatações com relação aos pisos do segundo pavimento, que são citadas a seguir.
A existência de piso em laje de concreto em várias salas foi uma delas (6). Essa laje de concreto, com espessura de 9 cm e contrapiso em iguais dimensões, apresentava-se precariamente engastada nas paredes de contorno do prédio, apoiada sobre piso e vigas de madeira originais. Foram executadas aberturas de várias janelas de observação no piso de cada sala, para avaliar a disposição da armadura e a capacidade de suporte, constatando-se a instabilidade estrutural do sistema. Em consequência, a Fiscalização da Secretaria das Obras Públicas, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico do Estado do Rio Grande do Sul e o Hospital Psiquiátrico São Pedro acordaram que as lajes de piso de concreto existentes, bem como os contrapisos, seriam removidos,
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retornando-se ao piso original de madeira com sustentação em estrutura metálica apoiada sobre coxins de concreto. Presença de piso em sistema construtivo misto de tijolos e ma deira, no espaço do antigo terraço projetado para abrigar a cafeteria (7). Após avaliação estrutural quanto ao comprometimento das peças de madeira e à capacidade de suporte, determinou-se a restauração integral e a permanência dos espaços do pavimen to inferior sem forro para possibilitar visualização. Para tanto, foi executado escoramento e posterior substituição de ripas e vigas de madeira infestadas por térmitas e apodrecidas (8).
No terraço do segundo pavimento, acima das arcadas do pátio interno, comprovou-se a existência de piso em laje de concreto apoiada sobre o peitoril e, abaixo desta, piso de plaquetas apoiado sobre tábuas e vigas de madeira em avançado estado de deterio ração. Definiu-se pela remoção dos dois tipos de piso e execução de laje pré-moldada no local (9, 10 e 11).
Após a retirada dos forros de madeira e constatação do alto nível de conta minação por térmitas, foram executadas amostras para catalogação e viabilização de perfeita reprodução destes (12, 13 e 14).
Quanto às paredes de estuque, além das identificadas durante a fase de pro jeto, foi constatada a existência de outras no primeiro e segundo pavimentos. Executou-se a abertura de janelas de inspeção em diversas alturas para veri ficação do estado de conservação da madeira do ripamento destas, determi nando-se a permanência e a restauração de todas (15 e 16).
Na cobertura, o projeto de restauração definiu reforço ou substituição de peças da estrutura de madeira comprometidas, execução de tesouras intermediárias em aço e entelhamento com telhas tipo capa e canal. Foi realizada limpeza detalhada das tesouras de madeira e foram examinadas as infestações por térmitas de cada peça. Após análise do estado de conservação e dos serviços necessários à sua recuperação, constatou-se a necessidade de eliminação de duas tesouras do bloco A e das existentes no bloco G (17, 18, 20 e 21). Nas tesouras remanescentes foi executada imunização total. As peças das tesouras originais foram guardadas para acervo do Museu do HPSP (19).
Na platibanda, constatou-se existência de sistema construtivo tipo enxaimel, com pecas verticais em madeira e tijolos. Definiu-se pela preservação e reconstituição total da estrutura existente, porém, devido ao nível de infestação por térmitas e apodrecimento, 70% das peças originais precisaram ser substituídas.
Conforme o projeto arquitetônico, em toda a cobertura foi colocado subtelhado de chapa galvanizada.
A segunda etapa da obra de restauração, até o momento não iniciada, com preenderá serviços de consolidação e execução de paredes, forros, pisos, escadas, esquadrias, gradis, estruturas metálicas e áreas externas; tratamentos de superfícies, pintura, revestimentos e acabamentos; instalação de elevador, plataformas, louças, metais, acessórios, tampos, divisórias sanitárias, lu minárias e elementos de comunicação visual. Estes permitirão a conclusão do restauro e o uso efetivo do prédio.
Acima: detalhe da nova iluminação do pátio interno
Ao lado: instalações elétricas, cobertura e piso executados
[05]
Relatório de atividades dos Amigos da Memória do Hospital São Pedro
A MEMÓRIA DOS AMIGOS
A associação Amigos da Memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro é uma Organização Não Governamental, sem fins lucrativos, inscrita no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ). As diretorias são definidas bienalmente, por eleição, com o objetivo de preservar e proteger o patrimônio e a memória do Hospital Psiquiátrico São Pedro. A AMeHSP foi criada em 30 de setembro de 2003.
BIÊNIO OUT2003| SET2005
Eleição e posse da primeira diretoria em 30/09/2003
Presidente
Andréa Mostardeiro Bonow, pedagoga Vice-presidente
Maria de Fátima Lima de Ávila, socióloga
1ª Secretária
Cylene Oliveira Dallegrave, artista plástica e jornalista 2ª Secretária
Neuza Maria de Oliveira Barcelos, advogada 1ª Tesoureira
Juçara Zdonek Mongeló, historiadora 2ª Tesoureira
Cristiane Teresinha de Deus Virgili, historiadora
ATIVIDADES DA GESTÃO
Elaboração e aprovação do Estatuto Social. Criação da logomarca e confecção de banner para eventos (4).
Inscrição no Serviço de Registro Civil das Pessoas Jurídicas de Porto Alegre, sob o número 45386.
Inscrição no Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas (CNPJ), sob o número 06.285.540/1000-45.
Contratação de serviços de contabilidade: contadora Cristina Pullmann Palavro.
Visitas a órgãos da memória: Iphan, Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional; Iphae, Instituto do Patrimônio Histórico Artístico do Estado; Casa de Cultura Mário Quintana; Arquivo Histórico Moysés Vellinho.
Participação no Grupo de Trabalho criado pela Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, com a fi nalidade de discutir alternativas e propostas para o futuro do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em 2004.
Participação nas comemorações do aniversário de 120 anos do hospital, com a palestra Valorizando nosso Patrimônio Cultural, proferida por Luiz A. Custódio, presidente do Comitê Brasileiro do Conselho Internacional de Museus. Auditório do HPSP, em 23 de junho de 2004 (1, 3).
Promoção do evento Amigos da Memória do Hospital São Pedro – Participe desta Ideia. Palestras da presidente da AMeHSP e da arq. Débora Magalhães, diretora do Iphae. Auditório do HPSP, em 18 de agosto de 2004. Ofi cinas de artesanato: Encadernação artesanal, ministrada por Laura Marc. Dependências do Serviço de Memória Cultural do HPSP, em 27 de setembro e 4 de outubro de 2004.
Xilogravura, ministrada por Cylene Dallegrave, para voluntários e pacientes do hospital. Dependências da Ofi cina de Criatividade do HPSP, em 27 de outubro de 2004 (6).
Implantação de ofi cina permanente de artesanato para confecção de material promocional da associação; em especial, bloquinhos de anotações, em 2004.
Divulgação da associação em eventos ligados à saúde mental: Encontro de Arte terapia, organizado pela Centrarte; 7ª Jornada Gaúcha de Psiquiatria, promovida pela Sociedade de Psiquiatria do Rio Grande do Sul; III Simpósio Internacional de Neuropsiquiatria. Contratação da arquivista Maria Osmari para elaboração do Código de Classificação do Acervo Documental do Hospital Psiquiátrico São Pedro (2). Apoio ao Seminário Muito Além do Jardim – Arte na Saúde Mental, promovido pela Ofi cina de Criatividade Nise da Silveira, do HPSP, e pela Associação de Arteterapia do Rio Grande do Sul.
Campanha de arrecadação de recursos fi nanceiros: Sorteio de gravura doada pela artista plástica Cylene Dallegrave, em 31 de julho de 2004 (5).
BIÊNIO OUT2005|SET2007
Eleição e posse da Diretoria em 28/09/2005
Presidente
Nelson Fernando Boeira, professor Vice-presidente
Neuza Maria de Oliveira Barcelos, advogada
1ª Secretária
Renata Galbinski Horowitz, arquiteta 2ª Secretária
Maria de Fátima Lima de Ávila, socióloga
1º Tesoureiro
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil
2º Tesoureiro
Ygor Arzeno Ferrão, médico psiquiatra
ATIVIDADES DA GESTÃO
Apoio ao Serviço de Memória Cultural e ao Escritório de Restauração e Reciclagem do HPSP – aquisição e doação de mapoteca em madeira para guarda de documentos históricos referentes à arquitetura do prédio centenário.
Aporte de recursos fi nanceiros para compra de materiais de consumo necessários à restauração e conservação de plantas originais do prédio do hospital.
Destinação de recursos para cópias de relatórios do Dr. Lisboa, primeiro diretor do hospital, textos históricos, fotos antigas e prontuários.
Apoio à elaboração de projeto para concorrer no Programa Petrobras 2006. Apoio à Ofi cina de Criatividade Nise da Silveira para elaboração de projeto para concorrer no Programa Petrobras 2007.
Contratação da Oscip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público) Defender para elaboração de projeto para concorrer no edital do Fumproarte – Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística, Porto Alegre 2007.
Apresentação do projeto Hospital Psiquiátrico São Pedro: Memória dos Esquecidos para concorrer no edital Fumproarte 2007/1º semestre.
Reapresentação do projeto Hospital Psiquiátrico São Pedro: Memória dos Esquecidos para concorrer no edital Fumproarte 2007/2º semestre.
Conclusão do documento Código de Classifi cação de Documentos de Arquivo do HPSP, elaborado pela arquivista Maria R. Osmari.
Colaboração com a Força Tarefa para revitalização e recuperação do Hospital Psiquiátrico São Pedro, instituída pelo governo do estado, através do Decreto 45.214, de 20 de agosto de 2007.
Campanhas de arrecadação de recursos financeiros: Participação no Bazar de Natal do Grupo Harmonia, na condição de entidade convidada.
Jantar de Confraternização, aberto ao público, reunindo 112 pessoas, no restaurante Birra e Pasta, na Av. Cristóvão Colombo, 545, em Porto Alegre, em 20 de novembro de 2007.
BIÊNIO OUT2007|SET2009
Eleição e posse da Diretoria em 03/09/2007
Presidente
Luiz Carlos Illafont Coronel, médico psiquiatra
Bárbara Elizabeth Neubarth, psicóloga
Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresa Suplentes
Bianca Gorostidi Bonow, profi ssional de Educação Física Rosiane da Silva Dagostin, estudante Ygor Arzeno Ferrão, médico psiquiatra
Conselho Fiscal
Titulares
Jorge Abib Cury, médico psiquiatra Yvanise Kruel Aranha, aposentada Carmem Lia Silveira Marino, aposentada Suplentes
Edson Medeiros Cheuiche, funcionário público e historiador
Sergio Tadeu Vargas Côrtes, advogado Adriana Marques da Silva, jornalista
ATIVIDADES DA GESTÃO
Implantação dos Conselhos Deliberativo e Fiscal.
Implementação da Ofi cina de Artesanato com ênfase na criação permanente de novos materiais de divulgação (18).
Apoio ao Serviço de Memória Cultural e Escritório de Restauro do HPSP – aquisição e doação de equipamentos e material permanente, bem como de material de consumo, para uso em suas atividades relacionadas à preservação da memória do hospital.
Participação no evento comemorativo aos 124 anos do hospital através de exposição dos materiais da Ofi cina de Artesanato.
Visita à Fundação Iberê Camargo.
Evento comemorativo aos cinco anos da associação, com exposição de fotos antigas e documentos relacionados ao hospital, em 1° de outubro de 2008, no Serviço de Memória Cultural do HPSP (9, 10,11 e 12).
Participação nas reuniões semanais da Direção do hospital.
Apoio à exposição 125 anos do Hospital Psiquiátrico São Pedro, no Museu de Comunicação Social Hipólito José da Costa. Realização da Se cretaria de Estado da Cultura, Museu de Comunicação Hipólito José da Costa e Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Exposição de materiais de divulgação da AMeHSP no XXV Congresso Brasileiro de Psiquiatria (13).
Participação nas atividades comemorativas aos 125 anos do Hospital Psiquiátrico São Pedro, em especial na apresentação do Concerto da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, regida pelo maestro Isaac Karabtchevsky, nos jardins do HPSP, em 31 de março de 2009.
Participação no lançamento das camisetas da Ofi cina de Criatividade Nise da Silveira, realizada na Fundação Iberê Camargo. Audiências com autoridades estaduais do Gabinete da Governadora e das Secretarias da Saúde, de Obras e da Cultura, com vistas à preservação do Hospital Psiquiátrico São Pedro (19, 20).
Contratação de serviços: organização e catalogação dos livros pertencentes ao Serviço de Memória Cultural do HPSP.
Seguimento à colaboração com a Força Tarefa para revitalização e recuperação do Hospital Psiquiátrico São Pedro, instituída pelo governo do estado, através do Decreto 45.214, de 20 de agosto de 2007.
Participação no evento São Pedro Hoje: I Jornada de Psiquiatria e Saúde Mental, XXIII Semana de Estudos e III Encontro de Residentes e Ex-Residentes, 124 anos do Hospital, 100º Aniversário do Dr. Cyro Martins, no Auditório do HPSP, de 24 a 28 de junho de 2008.
Criação de folder para o Memorial do HPSP.
Criação do calendário 2009 com ilustrações de detalhes construtivos do prédio centenário.
Apoio à confecção de quatro painéis referentes ao projeto de restauração do prédio centenário elaborado pelo Escritório de Restauro (7 e 8).
Destaque: restauração da porta principal do prédio histórico, integralmente realizada com recursos arrecadados pela associação. O trabalho seguiu as normas técnicas exigidas pelos órgãos de patrimônio histórico. Com a devida autorização da Direção do hospital, foi fi xada uma placa
alusiva ao feito, relacionando-o com o aniversário do hospital. Responsável: restaurador Felippe de Morais. Inauguração em 9/9/2009 (14, 15, 16, 17).
Campanhas de arrecadação de recursos fi nanceiros: Participação, na condição de entidade convidada, no Bazar Brechó e no Bazar de Natal do Grupo Harmonia, em 2008.
Jantar comemorativo aos cinco anos da associação, reunindo 117 pessoas. Restaurante Birra e Pasta, Av. Cristóvão Colombo, 545, Porto Alegre, em 25 de novembro de 2008.
Bazar e Brechó/2009, em parceria com a Sadom – Sociedade de Apoio ao Doente Mental e com o Grupo Harmonia, no Empório Treviso. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação. Rua Lucas de Oliveira, 1653, Porto Alegre, em 26 de abril de 2009 (21, 23).
Brechó para funcionários, colaboradores e visitantes do HPSP, nas dependências do hospital.
1º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Empório Treviso, Rua Lucas de Oliveira, 1653, Porto Alegre, em 5 de dezembro de 2009.
Jantar comemorativo aos seis anos da AMeHSP e 125 anos do HPSP. Restaurante Tirol, Rua José de Alencar, 520, Porto Alegre, em 8 de dezembro de 2009 (24,25).
BIÊNI0 OUT2009|SET2011
Eleição e posse da Diretoria em 04/11/2009
Presidente
Vera Lúcia Marostica Callegaro, museóloga e bióloga Vice-presidente
Renata Galbinski Horowitz, arquiteta
1ª Secretária
Andréa Mostardeiro Bonow, pedagoga
2ª Secretária
Ana Maria Pessoa de Brum, professora
1ª Tesoureira
Adriana Marques da Silva, jornalista 2º Tesoureiro
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil Conselho Deliberativo Titulares
Luiz Carlos Illafont Coronel, médico psiquiatra Carlos Alberto Pessoa de Brum, cirurgião -dentista Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresa Suplentes
Bianca Gorostidi Bonow, profi ssional de Educação Física Giselle Mattos de Lima, pedagoga Yvanise Kruel Aranha, aposentada Conselho Fiscal Titulares
Edson Medeiros Cheuiche, funcionário público e historiador Maria Cristina Caon Jovegelevicius, enfermeira Carmen Lia Silveira Marino, aposentada Suplentes
Marco Antonio Lucaora, funcionário público Cesar Augusto Printa Weber, médico Gilberto Slud Brofman, médico
ATIVIDADES DA GESTÃO
Participação nas reuniões semanais da Direção do HPSP. Criação de logotipo para o Serviço de Memória Cultural. Realização da palestra A Restauração da Porta Principal do Hospital São Pedro, com o restaurador Felippe de Morais. Auditório do HPSP, em 26 de maio de 2010. Apoio à realização e conclusão do Projeto de Restauração do Bloco A (27).
Produção de DVD sobre a História do HPSP e sobre a trajetória da Restauração do Prédio Histórico do Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Participação em curso de reciclagem, visando à criação e produção de novos materiais de divulgação da associação (22).
Prosseguimento das atividades da Ofi cina de Artesanato. Aquisição de equipamentos e material permanente para uso do Serviço de Memória Cultural, do Escritório de Restauração e da própria associação. Identifi cação do material permanente da associação com etiquetas.
Evento comemorativo aos oito anos da associação. Participação nas comemorações dos 127 anos do HPSP.
Viagem cultural a Jaguarão para conhecer o patrimônio edifi cado da cidade, com custos por conta de cada participante (30).
Destaque: inauguração de lustre de madeira, restaurado pela AMeHSP, de acordo com as normas técnicas exigidas pelos órgãos de patrimônio histórico. Responsável pela restauração: Felippe de Morais. Saguão do HPSP, em 29 de junho de 2011 (26).
Campanhas de arrecadação de recursos fi nanceiros: Bazar e Brechó/2010. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação. Instituto NT de Cinema, Rua Marquês do Pombal, 1111. Porto Alegre, em 1° de agosto de 2010 (29, 31).
Brechó para o público interno (funcionários, colaboradores e visitantes) do HPSP.
Brechó e Bazar/2011. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação. Clube Caixeiros Viajantes. Rua Padre Shoeler, s/n, Porto Alegre, em 29 de maio de 2011 (28).
Brechó para o público interno do HPSP (funcionários, colaboradores e visitantes).
2º Bazar de Natal da AMeHSP: exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 4 de dezembro de 2010.
3º Bazar de Natal da AMeHSP: exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 3 de novembro de 2011.
BIÊNIO OUT2011 |SET2013
Eleição e posse da Diretoria em 15/09/2011
Presidente
Andréa Mostardeiro Bonow, pedagoga Vice-presidente
Renata Galbinski Horowitz, arquiteta
1ª Secretária
Vera Lúcia Marostica Callegaro, museóloga e bióloga
2º Secretário
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil
1ª Tesoureira
Adriana Marques da Silva, jornalista
2ª Tesoureira
Cylene Oliveira Dallegrave, artista plástica e jornalista
Conselho Deliberativo
Titulares
Ana Maria Pessoa de Brum, professora
Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresas
Yvanise Kruel Aranha, aposentada Suplentes
Bianca Gorostidi Bonow, profi ssional de Educação Física
Giselle Mattos de Lima, pedagoga
Maria Cristina Caon Jovegelevicius, enfermeira
Conselho Fiscal
Titulares
Ana Cecilia Franco de Barros, administradora
Waldyr Antonio Beuren, comerciante
Lenice Iserhard Mostardeiro, industriária
Suplentes
Carlos Alberto Pessoa de Brum, cirurgião-dentista
Eliane Peres Hochmuller, assistente social
Maria Angela Saldanha Vieira de Aguiar, administradora
ATIVIDADES DA GESTÃO
Participação em reunião sobre o início das obras de restauro do hospital, com representantes do Iphae, Epahc/SMC (Equipe do Patrimônio Histórico e Cultural da Secretaria Municipal da Cultura de Porto Alegre), Secretaria de Obras, diretor administrativo do hospital, diretor dos Hospitais do Estado, empresa Fator Engenharia e Serviço de Restauração do HPSP (33).
Criação de página na rede social Facebook com a fi nalidade de divulgar as atividades da associação e notícias de interesse do hospital.
Viagens de caráter cultural às cidades de Colônia e Montevidéu, e a Pelotas e Jaguarão para conhecer seus respectivos patrimônios edifi cados. Custos por conta de cada participante (37 e 38).
Destaques:
Restauração do pórtico construído em ferro e vidro sobre a porta principal (32) e de dois lampiões do prédio centenário. Iniciativa integralmente realizada com recursos arrecadados pela associação. O trabalho seguiu as normas técnicas exigidas pelos órgãos de patrimônio histórico. Responsável: escultor e restaurador Chesne Braitebach. Campanhas de arrecadação de recursos financeiros: Bazar e Brechó/2012. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 15 de julho de 2012.
Bazar e Brechó/2013. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes à creche e aos pacientes do Hospital São Pedro, à Sociedadee Espírita Bezerra de Menezes e ao Teatro Nilton Filho (36). C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 26 de maio de 2013.
4º Bazar de Natal da AMeHSP: exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 8 de dezembro de 2012.
5º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 14 de dezembro de 2013.
Jantar comemorativo aos 10 anos da associação, reunindo 85 pessoas. Restaurante do Museu de Artes do Rio Grande do Sul, Praça da Alfândega, s/n, Porto Alegre, em 25 de setembro de 2013 (35).
Ação entre amigos 2013: sorteio de escultura doada pela artista plástica Maria Tomaselli (34).
Adriana Marques da Silva, jornalista Conselho Deliberativo Titulares
Renata Galbinski Horowitz, arquiteta Bianca Gorostidi Bonow, profi ssional de Educação Física
Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresas Suplentes
Ana Maria Pessoa de Brum, professora Márcia Kern Papaleo, magistrada Barbara Elisabeth Neubarth, psicóloga
Conselho Fiscal Titulares
Vera Lúcia Marostica Callegaro, museóloga e bióloga
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil Waldyr Antonio Beuren, comerciante Suplentes
Maria do Carmo Cervieri, assistente social Carlos Alberto Pessoa de Brum, cirurgião-dentista Lenice Iserhard Mostardeiro, industriária
ATIVIDADES DA GESTÃO
Confecção de adesivos referentes aos 130 anos do HPSP – Hospital São Pedro Vive – 130 anos trabalhando pela Saúde Mental (39).
Participação no ato simbólico de 2º Abraço ao Hospital São Pedro, em defesa da saúde mental e contra o fechamento do hospital, juntamente com Sindissama Saúde – Sindicato dos Servidores Públicos da Saúde; Fessergs – Federação Sindical dos Servidores Públicos no Estado do Rio Grande do Sul; Simers; Sadom. Av. Bento Gonçalves, em frente ao hospital, em 15 de maio de 2014.
Criação do Calendário AMeHSP/2016, com imagens de pinturas consagradas da História da Arte, retratando São Pedro.
Participação nas atividades comemorativas aos 131 anos do Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Participação na 1ª edição do evento Natal na Praça, realizado pelo Hospital Psiquiátrico São Pedro, Simers – Sindicato Médico do Rio Grande do Sul e Museu da História da Medicina, no pátio do HPSP, em frente aos prédios históricos (45).
Participação em reuniões com o secretário estadual da Saúde com a fi nalidade de estudar a participação da AMeHSP na execução do projeto de restauro do prédio centenário. Visita e acompanhamento às obras de restauro do bloco I (41).
Participação em reuniões semanais do grupo de trabalho coordenado pelo Simers – Sindicato Médico Rio Grande do Sul, com o objetivo de discutir os problemas de saúde mental e o papel do Hospital Psiquiátrico São Pedro. Período: 2014 - 2017.
Contratação de novo contador: Luiz de Souza Pllizzari.
Viagem cultural à cidade de Piratini para conhecer o seu patrimônio edifi cado. Custos por conta de cada participante (40,42).
Campanhas de arrecadação de recursos fi nanceiros: Bazar e Brechó/2014. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes ao Teatro Nilton Filho e à Spaan. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 8 de junho de 2014 (43,44).
Bazar e Brechó/2015. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes à creche e aos pacientes do Hospital São Pedro e à ONG Sai das Ruas. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 31 de maio de 2015.
6º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 6 de dezembro de 2014.
7º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Apresentação do Coral do Colégio Anchieta. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 28 de novembro de 2015.
Ação entre amigos 2014: sorteio de duas camisetas assinadas pelos atletas Paulão, da Seleção Brasileira de Vôlei, e Taffarel, da Seleção Brasileira de Futebol (36).
BIÊNIO OUT2015|SET2017
Eleição e posse da Diretoria em 07/10/2015
Presidente
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil Vice-presidente
Andréa Mostardeiro Bonow, pedagoga 1ª Secretária
Adriana Marques da Silva, jornalista 2º Secretário
Vera Lúcia Marostica Callegaro, museóloga e bióloga 1ª Tesoureira
Maria Ângela Saldanha Vieira de Aguiar, administradora 2ª Tesoureira
Maria do Carmo Cervieri, assistente social Conselho Deliberativo Titulares
Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresas Luiz Carlos Pinto Sobrinho, economista Raul Torelly Fraga, médico Suplentes
Ana Maria Pessoa de Brum, professora Barbara Elisabeth Neubarth, psicóloga Ana Cecilia Franco de Barros, administradora Conselho Fiscal Titulares
Renata Galbinski Horowitz, arquiteta Waldir Antônio Beuren, comerciante Yvanize Kruel Aranha, aposentada Suplentes
Carlos Alberto Pessoa de Brum, cirurgião-dentista
Margit Steiner Lamachia, professora Eda Lani Fabris, artista plástica
ATIVIDADES DA GESTÃO
Participação em reuniões semanais do grupo de trabalho coordenado pelo Simers com o objetivo de discutir os problemas de saúde mental e o papel do Hospital Psiquiátrico São Pedro.
Participação no Movimento São Pedro Vivo. Ato no Acampamento Farroupilha, Parque da Harmonia, em 2015 (50).
Participação na 2ª edição do evento Natal na Praça, realizado pelo Hospital Psiquiátrico São Pedro com apoio do Simers e do Museu da História da Medicina, no pátio do HPSP, em frente aos prédios históricos (51).
Apoio fi nanceiro para a impressão de um painel móvel com a Linha do Tempo sobre a história do São Pedro, instalado no Serviço de Memória Cultural. Criação do Calendário AMeHSP/2018.
Campanhas de arrecadação de recursos financeiros: Bazar e Brechó/2016. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes à creche, aos pacientes do Hospital São Pedro e à ONG Sai das Ruas. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 5 de junho de 2016. Bazar e Brechó/2017. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes à ONG Sai das Ruas. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 28 de maio de 2017.
8º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Apresentação do coral do Colégio Anchieta. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 3 de dezembro de 2016 (46, 47, 48, 49).
9º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados. Apresentação do coral do Colégio Anchieta. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 2 de dezembro de 2017.
Ação entre amigos 2016: sorteio de colcha feita a mão na técnica de patchwork, confeccionada e doada pela artesã Irma Becker.
BIÊNIO OUT2017|SET2019
Eleição e posse da Diretoria em 04/10/2017 (52)
Presidente
Andréa Mostardeiro Bonow, pedagoga Vice-presidente
Vera Lúcia Marostica Callegaro, museóloga e bióloga
1ª Secretária
Débora Thomazi Ramos Gonzalez, professora
2ª Secretária
Maria do Carmo Cervieri, assistente social
1ª Tesoureira
Adriana Marques da Silva, jornalista
2ª Tesoureira
Maria Ângela Saldanha Vieira de Aguiar, administradora
Conselho Deliberativo Titulares
Milton Lopes da Costa, engenheiro civil
Luiz Carlos Pinto Sobrinho, economista Renata Galbinski Horowitz, arquiteta
Suplentes
Waldyr Antônio Beuren, comerciante Margit Steiner Lamachia, professora Eda Lani Fabris, artista plástica
Conselho Fiscal Titulares
Carlos Alberto Martins Callegaro, administrador de empresas Gilberto Slud Brofman, médico Júlia Maria Quaranta, fi sioterapeuta Suplentes
Barbara Elisabeth Neubarth, psicóloga
Ana Maria Pessoa de Brum, professora Yvanise Kruel Aranha, aposentada
ATIVIDADES DA GESTÃO
Criação do Calendário AMeHSP/2019, com imagens do prédio centenário em processo de restauração do bloco I.
Produção de videodocumentário sobre os 15 anos da associação, com concepção e direção de produção da voluntária da associação, jornalista Adriana Marques.
Produção de dois painéis novos para os eventos da AMeHSP. Reunião no Iphae, para incrementar a relação entre associações voltadas ao patrimônio histórico do Rio Grande do Sul.
Apoio à Central de Licitações do Governo do Estado na divulgação, na rede social, da Tomada de Preços para a Contratação de Serviços Especializados de Arquitetura e Engenharia para elaboração de levantamento cadastral e diagnóstico do estado de conservação do prédio histórico do hospital.
Campanhas de arrecadação de recursos fi nanceiros: Bazar e Brechó/2018. Acervo composto por doações de simpatizantes da associação, com encaminhamento das peças excedentes à ONG Sai das Ruas. C. E. Caminho do Meio, Rua São Manoel, 556, Porto Alegre, em 20 de maio de 2018 (55).
10º Bazar de Natal da AMeHSP, com exposição dos materiais promocionais da associação e de artigos de artesãos e artistas plásticos convidados, e apresentação do coral do Colégio Anchieta. Café Correto, Rua Florêncio Ygartua, 65, loja 7, Porto Alegre, em 1° de dezembro de 2018 (53, 56). Jantar comemorativo aos 15 anos da associação. Sorteio de gravura de Eda Lani Fabris aos 95 participantes do jantar. Restaurante do Museu de Artes do Rio Grande do Sul – Margs, Praça da Alfândega, s/n, Porto Alegre, em 30 de outubro de 2018 (54).
AGRADECIMENTOS
Alessandra de Oliveira Conforto | Anico Herskovits | Blanca Brites | Briane Bicca | Camila Marques Lacerda | Carla Hunsche | Carlos Alberto Bordignon Carlos Augusto Pessoa de Brum | Cecilia Alcione Martins Callegaro | Cristina Ferraz | Daniela Callegaro de Menezes | Diva Fava Eleonora Rizzo | Elinora Nhara | Eloi Pacheco Soares | Fernando Neubarth | Gastão Mostardeiro | Germano Bonow Giselda Weber Silveira | Ida Marisa Teitelbaum Henkin | Irma Becker | Jane Machado | Jaqueline Ciconet Marostica | Joanna Luiza Belló João Cláudio Cervo | José Glenio Goethel da Silva | Laura Marc | Lidia Maria Wilhelm | Luiz Antonio Bolcato Custódio | Marcia Dutra Barbosa | Marcia Kern Marga Paradeda | Maria Beatriz Targa | Maria Helena Luce Schmitz | Maria Tomaselli Cirne Lima | Mariângela Cervieri | Marlene Machado Marli Elizabeth Ritter dos Santos | Miriam Tolpolar | Nilséa Marques da Silva | Nirley Maria Beuren | Noêmia Nestrovsky | Regina Galbinski Teitelbaum Regina Helena Martins | Ronaldo Marcos Bastos | Sandra Damas | Sandra Fernandes