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A leitura para crianças bem pequenas
A leitura para crianças bem pequenas é necessariamente uma leitura em voz alta realizada por um leitor mais experiente. Ao ler para uma criança bem pequena, não se está apenas traduzindo oralmente aquilo que está escrito no livro ou representado em suas imagens, mas o adulto também é, nesse momento, um modelo de leitor. Os gestos ao segurar o livro e ao virar as páginas; a direção do olhar pelo livro; a entonação da voz... Tudo isso serve como pista para a criança que observa o mediador (ora de forma mais atenta, ora de forma mais dispersa, mas sempre observando) e, logo, se sente estimulada a imitá-lo. A criança bem pequena que participa de situações de leitura de forma frequente (em casa ou na creche), quando diante de um livro, começa a mexer os lábios como se estivesse ela também lendo em voz alta; percebe que é preciso olhar para as páginas do livro; aprende a apontar com o dedinho para algum conteúdo específico; começa a antecipar o conteúdo do texto e da imagem; passa a ter domínio crescente dos gestos da leitura. E, sobretudo, reconhece o objeto livro como sendo um objeto socialmente importante, a ser explorado como fonte de conhecimento e de entretenimento. A leitura para a criança bem pequena deve ser sempre uma situação de cuidado e afeto, proporcionando um intenso momento de convívio entre as crianças e os educadores e entre elas e seus familiares. Na sequência, apresentamos algumas dicas que podem ajudar no planejamento das situações de leitura e no desenvolvimento, por parte das crianças, da comunicação oral e do conhecimento linguístico.
1. Explorar o livro antes de ler.
É importante que o adulto mediador conheça o livro antes de ler para que possa para estar inteirado de seu conteúdo e melhor explorá-lo durante a leitura.
2. Preparar a leitura.
A leitura se torna mais estimulante para a criança bem pequena se o livro render conversas, muitas conversas. Tecnicamente, essas conversas são situações de interpretação do texto (e da ilustração) e o adulto servirá como um modelo para as crianças leitoras. O ideal é ler o livro para planejar aquilo que será comentado sobre cada página. Os comentários podem ser sobre o texto ou sobre as ilustrações. Recorrer a eventos vivenciados pela criança, fatos da rotina, outras histórias, livros e até mesmo às suas memórias de infância é sempre interessante, “caldo” para uma boa conversa.
3. Desenvolver um estilo próprio.
Criar um estilo próprio para ler em voz alta. Não existem regras. Algumas pessoas preferem uma leitura mais teatral. Outras preferem ler com a voz séria e baixa. Algumas pessoas preferem ler e contar; outras apenas ler. Mas jamais deixe de efetivamente ler o livro. Muitos adultos acabam apenas contando a história, o que não é interessante para a formação do leitor. Ler é sempre essencial.
4. Variar a posição do livro durante a leitura.
A criança pode estar ao lado do adulto, os dois observando o livro do mesmo angulo. O adulto pode ler de frente para a criança, com o livro aberto voltado para ela. Assim ela não apenas enxergará o livro como também poderá visualizar as expressões do rosto do adulto durante a leitura. A leitura pode acontecer ainda em lugares abertos ou fechados. Essa variação é muito importante, pois permite que a criança bem pequena tenha diferentes interações com o objeto livro. Em determinados momentos também é interessante deixá-la manipular o livro livremente, mesmo ele sendo de papel. Assim ela atuará plenamente como leitora, folheando o livro e atribuindo sentidos ao texto e às ilustrações de forma espontânea.
5. Ler e reler o mesmo livro.
As crianças bem pequenas adoram quando os adultos repetem a leitura de um mesmo livro. Maiorzinhos um pouco, essa diversão acaba virando uma necessidade e, a partir dos 2 ou 3 anos, elas chegam a pedir para repetir eternamente as histórias, os livros, os filmes, as canções. Esta repetição é fundamental para o seu desenvolvimento. Permite que elas lembrem, relacionem e compreendam cada vez mais e melhor um mesmo fato ou sentimento.
6. Criar uma rotina de leitura e relativizar as expectativas. Criar uma rotina agradável e prazerosa de leitura para as crianças bem pequenas, de preferência envolvendo mais de um adulto. Na instituição escolar, esse adulto será, sobretudo, o(a) educador(a) que cuida deles; em casa serão seus familiares. É importante determinar um horário fixo na rotina para a leitura no qual as crianças já estejam alimentadas e com suas necessidades de sono já resolvidas. Assim, elas se sentirão mais confortáveis para aderir a alguns procedimentos que, pouco a pouco, devem aprender: como escutar, esperar a sua vez para falar, olhar o livro. A atenção, principalmente da criança bem pequena, porém, é fragmentada e de curta duração. Mesmo que ela pareça desinteressada ou agitada, é possível prosseguir com a leitura, pois de alguma forma ela estará prestando atenção – salvo, é claro, naquelas ocasiões nas quais manifestar claro descontentamento com a situação.
A Leitura Em Fam Lia
As indicações feitas aqui podem ser sugeridas aos familiares. A leitura fora do contexto da creche é similar àquela realizada na creche: o adulto leitor precisa estar preparado, o local e a hora da leitura devem estar previamente planejados. Como o livro Para lá e para cá aborda uma temática do cotidiano das famílias, a sua leitura será carregada de significados para todos, facilitando a formação de uma comunidade de leitores também em casa.
O livro Para lá e para cá e o desenvolvimento da criança
O livro Para lá e para cá é uma narrativa curta formada por um texto rimado que uma história que estimula uma leitura prazerosa em um parque, em casa ou na creche, seja em um momento de integração e leitura coletiva ou na hora de dormir.
Para lá e para cá retrata um dia na vida de um bebê que convive com pessoas da família e amigos, que brinca à vontade, que participa de um espaço coletivo, que explora o lugar e tudo o que ele oferece, que se expressa em falas e gestos e que, principalmente, conhece a si mesmo e a natureza ao seu redor. Com isso, o livro contempla todos os seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento previstos para a Educação Infantil na Base Nacional Comum Curricular. A base também aborda cinco campos de experiência, que trazem as situações e experiências da vida cotidiana, e essas definições também estão presentes no livro.
L O eu, o outro e o nós Essa interação está presente em todas as páginas do livro. O bebê protagonista da história conhece a si mesmo e ao seu corpo quando se alimenta, quando percebe o vento e se equilibra, quando sente sono. Da mesma forma, a interação com o outro e o nós também é relatada em diversas situações, ao brincar com a irmã e demais crianças no parque, ao socializar na caixa de areia, no encontro com a vizinha, na relação com o pai e a mãe. Essas vivências são fortalecidas com as atividades e com as memórias criadas nos momentos mais simples e corriqueiros, além de explorar a rotina, assunto pertinente para ser tratado de modo lúdico com as crianças.
L Corpo, gestos e movimentos
A ilustração do livro auxilia na percepção dessas experiências que a criança bem pequena tem. É possível ver o bebê protagonista brincar no chão, seus movimentos quando brinca com a bola e se abaixa para buscá-la, quando ele se estica a língua para fora da boca para sentir uma gotinha da chuva. Importante destacar que as ilustrações mostram diferentes pontos de vista desde a perspectiva do bebê protagonista: a bola vista do chão; as formigas marchando em trilha vistas de cima; o banco que cresce, pois o bebê é pequeno. Os próprios movimentos da criança são registrados: ela se equilibra ao mesmo tempo em que as folhas das árvores também balançam ao vento; ela sente a maciez do pelo do cachorro; o sabor da fruta se destaca; a escuta atenta aos gritos das maritacas... A audição, o olfato, a visão, o tato, o paladar e o equilíbrio são explorados na obra, estimulando, assim, conversas e atividades em casa e na creche sobre os sentidos e as nossas percepções.
L Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações
A narrativa mostra linearmente um dia na vida de um bebê. Ela traz noções de espaço e de tempo, mostra a chegada no parque, a duração da brincadeira, o momento de ir embora e contempla essa rotina até a hora de dormir. A relação de quantidade também é expressa através de elementos que aparecem para compor a obra, como um cachorro, muitas formigas; uma flor na mão, muitas flores no arbusto. A passagem do tempo também é mostrada através das cores no céu, que está tão azul no início do livro e que se transforma em um colorido pôr do sol ao final da narrativa.
L Escuta, fala, pensamento e imaginação
A narrativa é apresentada em primeira pessoa nesse livro, ou seja, a história é contada a partir da interpretação do bebê, é como se escutar os seus pensamentos. Em alguns pontos, há conversas simples, mas que são carregadas de expressão, como quando o bebê convida a irmã a partilhar uma fruta com ele ou quando ele brinca com o cachorro da vizinha. Na última página, já na hora de dormir, o bebê está ouvindo o pai ler uma história antes de adormecer, que infere à imaginação da criança que escuta a história e a relaciona com o seu dia a dia.
L Traços, sons, cores e formas
A narrativa se passa em uma praça que apresenta à criança muitas cores, sons, formas e sensações. No fim do livro, há a figura do pai que lê um livro infantil e que, com isso, estimula o imaginário e constrói e amplia a cultura da criança. O livro convida os educadores e a família a conhecerem melhor o espaço do seu entorno e a desbravar as praças e parques perto de casa, assim como a cultura de sua região, e incluir as crianças nessas descobertas.
Todos os pontos presentes na Base Nacional Comum Curricular exploram questões importantes para o desenvolvimento das crianças bem pequenas e, por isso, são também abordadas no decorrer do livro Para lá e para cá, que tenciona abranger de maneira completa muitas possibilidades de trabalho e interação entre as crianças bem pequenas e o livro e entre elas e as pessoas e os lugares ao seu redor.
A rotina da criança como temática do texto literário
Estudos apontam para a importância da rotina no dia a dia das crianças, sobretudo na primeira infância. Saber que há a hora de se alimentar, de descansar, de tomar banho e fazer a higiene bucal e também, é claro, de ler, brincar e aprender ajuda as crianças a terem mais consciência do tempo, do espaço em que habita e de suas atividades individuais e coletivas, colocando-as como protagonistas no aprendizado e de seu próprio desenvolvimento. A rotina deve ser respeitada em casa e no ambiente escolar, oferecendo tempo e liberdade para que as crianças tornem-se cada vez mais independentes e autônomas. Como citam Barbosa e Horn no artigo “Organização do tempo e espaço na Educação Infantil”:
“A ideia central é que as atividades planejadas diariamente devem contar com a participação ativa das crianças, garantindo às mesmas a construção das noções de tempo e de espaço, possibilitando-lhes a compreensão do modo como as situações sociais são organizadas e, sobretudo, permitindo ricas e variadas interações sociais”.
(BARBOSA; HORN, 1998, p. 67-69)
Essa percepção da rotina pode ser estimulada também pela leitura de Para lá e para cá, uma percepção que será estimulada de modo lúdico, divertido e acessível através de um texto literário. No decorrer da narrativa, o leitor pode acompanhar a passagem de algumas horas do dia desse bebê protagonista que mostra, através da sua experiência, o desenvolver da criança e representa a infância em algumas de suas inúmeras possibilidades.
O protagonista está em um momento de interação com a família, em um simples passeio que releva a necessidade e importância da interagir com outras pessoas e com a natureza do entorno. No decorrer do livro, é possível acompanhar diversas tarefas do cotidiano do personagem, reforçando a importância do cuidado com a rotina da criança bem pequena: a alimentação saudável, o descanso, o desejo e a percepção da importância do banho (aqui representado pelo desejo do bebê protagonista em ir para casa para se banhar após momentos de brincadeira) e, finalmente, a hora de dormir, retratada em uma página cheia de sutis elementos indispensáveis para o sono de qualidade da criança – o lugar calmo, o conforto de uma cama quente, o acolhimento do adulto que está por perto transmitindo segurança e cuidado. Além de apresentar a rotina da criança bem pequena e o seu contato com os outros, Para lá e para cá tem a função principal de mostrar a importância do ato de brincar. A brincadeira com o próprio corpo, de modo individual, coletivo, a utilização de brinquedos simples e muitas vezes relacionados à natureza, a percepção da diversão em explorar o ambiente em que se está para descobrir coisas novas, utilizando os sentidos com base para o seu desenvolvimento. É o uso pleno do corpo: o desenvolvimento das habilidades físicas e a coordenação motora e o desenvolvimento intelectual, sempre de modo lúdico e interativo.
“É na situação de brincar que as crianças se podem colocar desafios e questões além de seu comportamento diário, levantando hipóteses na tentativa de compreender os problemas que lhes são propostos pelas pessoas e pela realidade com a qual interagem. Quando brincam, ao mesmo tempo em que desenvolvem sua imaginação, as crianças podem construir relações reais entre elas e elaborar regras de organização e convivência. Concomitantemente a esse processo, ao reiterarem situações de sua realidade, modificam-nas de acordo com suas necessidades. Ao brincarem, as crianças vão construindo a consciência da realidade, ao mesmo tempo em que já vivem uma possibilidade de modificá-la”. (WAJSKOP, 1995, p. 33)
A linearidade cronológica é representada pela passagem do tempo no livro, que mostra que há tempo para tudo: para a brincadeira, para a alimentação, para a higiene, para o sono. A organização do tempo no decorrer do dia é fundamental para que a criança possua maior consciência da sua rotina e tarefas, sempre respeitando o seu ritmo.
“Para dispor de tais atividades no tempo é fundamental organizá-las tendo presentes as necessidades biológicas das crianças como as relacionadas ao repouso, à alimentação, à higiene, e à sua faixa etária; as necessidades psicológicas que se referem às diferenças individuais como, por exemplo, o tempo e o ritmo que cada uma necessita para realizar as tarefas propostas; as necessidades sociais e históricas que dizem respeito à cultura e ao estilo de vida, como as comemorações significativas para a comunidade onde se insere a escola e também as formas de organização institucional da escola infantil”. (BARBOSA, HORN, 2001, p. 68)
Para lá e para cá não é apenas um livro divertido. Através da obra, as crianças bem pequenas podem perceber que existem rotinas diferentes das que estão acostumadas, refletindo que o que é importante é o bem-estar e o seu desenvolvimento saudável. Afinal, o bebê protagonista e a irmã estão crescendo, assim como as crianças leitoras do livro.
A brincadeira na literatura
A Base Nacional Comum Curricular aponta que a brincadeira é um dos direitos de aprendizagem e desenvolvimento na Educação Infantil.
“Brincar cotidianamente de diversas formas, em diferentes espaços e tempos, com diferentes parceiros (crianças e adultos), ampliando e diversifIcando seu acesso a produções culturais, seus conhecimentos, sua imaginação, sua criatividade, suas experiências emocionais, corporais, sensoriais, expressivas, cognitivas, sociais e relacionais”. (BRASIL, 2018, p. 38)
A brincadeira é atividade fundamental para o desenvolvimento infantil. É a partir da brincadeira e do lúdico que a criança começa a criar relações e referências entre o jogo imaginário e o real. Quando uma criança bem pequena brinca de cuidar de uma boneca, de um bichinho de brinquedo ou se imagina como um explorador ou qualquer outra profissão, ela está assimilando a realidade e criando consciência da importância do cuidado, da proteção, da segurança, do que lhe é possível realizar.
Mesmo a brincadeira fantástica e que não representa necessariamente atitudes e realidades verossímeis também a auxilia nesse processo de assimilação e desenvolvimento. É uma maneira de expressar seus conhecimentos prévios, de explorar o novo, de conviver com os amigos, familiares, criar novas relações e participar de construções de novos aprendizados. Permitir que a criança bem pequena seja cada vez mais autônoma e independente no seu processo de desenvolvimento, sempre a partir do lúdico e de atividades condizentes com a sua faixa etária, é fundamental para o seu crescimento de forma saudável. É um convite para que a criança aprenda e seja consciente de tudo o que acontece ao seu redor e, principalmente, de seu lugar no mundo.
Essa é uma das propostas do livro Para lá e para cá , já que o protagonista é um bebê que está assistido a todo o momento, mas que se sente livre e confortável para explorar o entorno e interpretar tudo o que vê e sente de forma muito especial. É através de cada brincadeira, cada sensação e cada relação que ele vai construindo, de forma lúdica, a sua própria interpretação de cada novidade.
Os sentidos como tema do livro infantil
Para lá e para cá é um livro que tenciona mexer com as sensações do leitor. A obra possui um texto narrativo cheio de descobertas, não só para o personagem principal como para o próprio leitor. A escolha da ilustração em aquarela, incomum para livros infantis, pretende oferecer um visual extremamente sensorial, oferecendo uma paleta de cores quentes e pinceladas que causam a impressão de diferentes texturas. Todo esse cuidado com a produção se deve ao desejo de fazer um livro que promove uma experimentação sensorial de muitas formas: pelo texto, pela imagem, pela sonoridade, pelo toque e pela memória de sensações que os leitores já conhecem.
A obra explora todos os sentidos de forma lúdica e acessível, mas que despertam sensações importantes para o leitor, convidando as crianças bem pequenas a desenvolverem e potencializarem as suas habilidades. Sobretudo na primeira infância, faixa etária para a qual o livro é destinado, cada cor, cheiro, som, sabor ou toque acarretam em um descobrimento carregado de significado.
“Na fase de zero a seis anos de vida da criança, ela passa por diversas mudanças pontuais e importantes que estabelecem um direcionamento em sua personalidade, suas características estruturais, quanto às percepções do mundo e das pessoas do seu cotidiano, e seu desenvolvimento harmonioso. Assim sendo, é importante um ambiente estimulador, onde a criança tenha oportunidades e possibilidades de ver, ouvir, sentir, explorar e desenvolver suas necessidades e habilidades, conhecer seus limites, e, desta maneira, formar sua personalidade”. (SCHIAVO; RIBÓ, 2007, p. 3)
L A visão
Estudos apontam que a visão é um sentido que vai se desenvolvendo com o passar do tempo. Ao nascer, o ser humano possui a visão apenas como imagens desfocadas, que vão ganhando contraste, nitidez e maior alcance com o passar dos anos. É apenas entre os cinco aos sete anos que a visão da criança é completamente desenvolvida, enxergando como os adultos. O livro explora a visão em diferentes aspectos, auxiliando na percepção de cores e perspectivas: as cores do céu, das plantas e dos animais; os objetos vistos de cima e de baixo. Tudo contribui para que a criança também perceba como a visão pode auxiliá-la a perceber cada detalhe e observar cada pequeno e grande elemento que o seu entorno pode lhe oferecer.
L O tato
O tato é o primeiro sentido desenvolvido pelo bebê. Estudos científicos apontam que ele é desenvolvido ainda na sétima semana de gestação, com o auxílio do líquido aminiótico. No decorrer da infância, o tato é um grande aliado para a descoberta do mundo, assim como um sentido de proteção e segurança. Quem nunca se encantou em ver um bebê segurando firmemente o dedo do adulto que o embala ou se sentiu orgulhoso por vê-lo segurar um objeto pela primeira vez? O tato também ajuda a criança a entender melhor a textura e a temperatura de tudo o que o cerca, experimentando diferentes sensações, além, é claro, do contato de carinho pele a pele com aqueles com quem convive, algo tão importante para as crianças. No decorrer do livro temos abraços, contato com um cachorro de pelo muito macio, a brincadeira na areia. São formas diferentes de explorar o sentido através da literatura, evocando também sensações prazerosas para o leitor.
L A audição
A audição também é um sentido desenvolvido ainda durante a gestação do bebê. Por isso, é tão recomendado que os pais conversem com o bebê ainda durante a gravidez, pois já nesse período ele é capaz de reconhecer a voz de quem está próximo e outros sons. Para lá e para cá possui um texto rimado, o que exalta a sonoridade da narrativa. Algumas passagens no decorrer do livro também evocam imaginação do leitor para os sons propostos, como a gritaria das maritacas e o som da voz do pai, que conta uma história para o filho no fim da narrativa. Ouvir a leitura da história não apenas faz com que a criança compreenda o texto que ainda não sabe ler, mas cada entonação, cada rima e cada palavra podem fazer a diferença.
L O olfato
O olfato também é um sentido desenvolvido rapidamente. Desde bebês, as crianças já utilizam o olfato para reconhecer o cheiro da mãe e do seu principal alimento, o leite materno. Ter memórias olfativas é resgatar muitas sensações para além do odor em si, para as emoções que determinados objetos podem causar. No livro, já no início do texto, o bebê protagonista utiliza o olfato para reconhecer o ambiente em que está chegando. Ele comenta sobre as flores que vê na praça e o cheiro delas, o que o agrada. Da mesma forma, o leitor, quando é estimulado a se lembrar de um cheiro que gosta, não se lembra apenas do odor, mas também da sensação agradável que sente e da lembrança que ele pode evocar.
L O paladar
Os primeiros meses do bebê possuem apenas o leite materno como dieta. Após esse primeiro período, há a introdução alimentar de alimentos sólidos, e a partir daí, cada novo sabor é uma nova descoberta: o doce, o salgado, as sensações que os gostos podem oferecer. Em Para lá e para cá, o protagonista divide um suculento caqui com a irmã e a ilustração os registra comendo sozinhos, sem a ajuda de um adulto. A imagem reflete o início da independência, da autonomia para experimentação, mas isso não quer dizer que esse ato não aconteça sem qualquer sujeira. As crianças leitoras perceberão que as crianças do livro estão comendo livremente, todas lambuzadas! É, mais uma vez, a empatia e o reconhecimento.
L O equilíbrio
O equilíbrio é um dos nossos sentidos, geralmente esquecido pelos trabalhos didáticos na escola. Quando por motivo de doença perdemos o equilíbrio, somos muitas vezes incapazes até mesmo de nos locomover. E o bebê protagonista do livro mobiliza todo o seu sentindo de equilíbrio para andar, correr, levantar, subir, descer, saltar. Ele também nota o equilíbrio ao seu redor, como as folhinhas das árvores balançando ao vento.