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Ser TĂŁo no Mundo Testemunho de uma Vida de Amor



Margarida Maria Moura

Ser TĂŁo no Mundo Testemunho de uma Vida de Amor

SĂŁo Paulo 2018


Copyright © 2018 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Débora Neves

Diagramação

Beatriz Amaral

Revisão

Adriane Gozzo

Ilustração

Marilia Moura

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ M888s Moura, Margarida Maria Ser tão no mundo : testemunho de uma vida de amor / Margarida Maria Moura. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2018. 98 p. : il. ; 21 cm. ISBN 978-85-437-0839-3 1. Poesia brasileira. I. Título. 18-47954 CDD: 869.1 CDU: 821.134.3(81)-1 ________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

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ร memรณria do professor Antonio Candido. Um sรกbio.



Sumário Sobre Sertão e Ser Tão......................................................... 11 I – Você é melhor poeta que antropóloga............................ 17 II – Descobri, moura encantada.......................................... 18 III – A caminhada é para a descoberta das sendas............ 20 IV – Ah! Veredas, veredas.................................................... 23 V – Caminho por uma manga de pasto.............................. 25 VI – Sete sentidos capitais:................................................... 26 VII – Amo-o......................................................................... 27 VIII – Vinho da mesma pipa............................................... 28 IX – Óbvio e espanto............................................................ 29 X – Forte novena e fogueira................................................ 30 XI – Que o seu corpo............................................................ 31 XII – Tua mão em concha erra........................................... 32 XIII – Se sente a opressão.................................................... 33 XIV – Como posso estar longe............................................. 34 XV – Quando estou triste, sou lusa..................................... 35 XVI – O evo grotesco e sórdido............................................ 36 XVII – Passos, Paixão, Passagem........................................ 38 XVIII – Tem tempos de muita saudade.............................. 40 XIX – Esfumaram-se, depois de dores imensas.................. 42


XX – Saudades de minha mãe............................................. 44 XXI – Não era protetor, protegia-se..................................... 46 XXII – Nasce, meu filho, nasce............................................ 48 XXIII – Leandro e Priscila,.................................................. 49 XXIV – Lia, teu nome começa............................................. 51 XXV – Ernesto,..................................................................... 52 XXVI – Leonard................................................................... 54 XXVII – Europa, África, Oriente........................................ 55 XXVIII – Ladeiras de Hampstead!...................................... 57 XXIX – Paris do Norte! Belíssima sueca!............................ 59 XXX – Ponte entre o Ocidente e o Oriente.......................... 61 XXXI – Como se a flor de França fosse apenas lis.............. 62 XXXII – Oportuna tarde, em mês de julho......................... 65 XXXIII – No lusco-fusco sequía.......................................... 67 XXXIV – Rímac del Pacífico................................................ 68 XXXV – Yin-cidade de grávidas ondulações...................... 69 XXXVI – Teresópolis foi. Não é mais.................................. 70 XXXVII – O jasmim-manga, frondoso e perfumado......... 72 XXXVIII – Ai! O azul do céu do Recife............................... 73 XXXIX – Pensei que as musas............................................. 75 XL – Assim me chamas........................................................ 78 XLI – Ôlinda! Te bendigo neste oito de setembro............... 79 XLII – Se o se de Kipling me pertencesse............................. 80 XLIII – Orgasmo índico....................................................... 82 XLIV – Ar marinho, sal que arde........................................ 83 XLV – Pérola,....................................................................... 85 XLVI – Mínima a dor dentro da água................................ 86 XLVII – Banhar-me em sal marinho.................................. 87 XLVIII – Calei a garganta, a língua, o lábio....................... 89 XLIX – Sentia já................................................................... 90


L – Venho de um jardim muito simples.............................. 91 LI – O teu corpo na rede...................................................... 92 LII – Clio não quis dar a Gerson a glória deste mundo..... 93 LIII – Mon Amour............................................................... 94 LIV – Eras da Terra............................................................. 98



Sobre Sertão e Ser Tão Margarida Maria Moura é uma antropóloga. Não foram poucas as pessoas que ela orientou e segue orientando em programas de pós-graduação. São também vários os seus artigos científicos, e os seus livros sobre o mundo rural brasileiro constituem uma leitura obrigatória a quem se aventure por essas trilhas. Alguns trabalhos seus sobre rituais religiosos populares revelam não apenas um “texto de ciência”, mas também uma sábia e suave sensibilidade, onde a pesquisadora de campo quase se confunde com a testemunha emocionada com o que vivencia. E também com a escritora que transforma cantos, preces, músicas e gestos em narrativa envolvente. E ela escreve poemas. E é de poesias este livro. E por ser assim, antes de falar sobre a sua poesia, eu me sinto bastante tentado a procurar não propriamente respostas – porque não é este o caso e nem farei aqui teoria alguma –, mas algumas pistas – já que falamos de “trilhas” – que sugerem intrigantes versões sobre o estranho salto de fronteiras que Margarida ousa praticar. Pois há pessoas que, como Margarida Maria 11


Moura, não apenas transitam entre uma margem e a outra de um mesmo rio, mas tal como o personagem sem nome do conto de João Guimarães Rosa talvez se lancem em busca de uma “terceira margem do rio”. Afinal, pode um cientista social ser também um escritor entre o romance e a poesia? Darcy Ribeiro, antropólogo e romancista, responderia sem dúvidas que sim, e daria o seu próprio exemplo. Boaventura de Souza Santos, sociólogo e também autor de um livro de poemas, o acompanharia. E quem mais? E quantas e quantos mais? Falo de mim mesmo. Antes de me tornar profissional da antropologia e professor, eu já escrevia contos e poemas. Persisti ao longo de minha vida nesta aventura nem sempre assumida e bem-vista na academia. E cheguei um dia a escrever longos poemas antropológicos em um livro a que ousei dar este nome: Diário de Campo – a antropologia como alegoria. No entanto, entre as universidades em que estudei e nas várias de que estive – e sigo sendo professor –, raramente encontrei “colegas de ofício” que sequer confessassem, entre confidências de corredor ou em pequenas reuniões de mesa de bar, que, além de teses e artigos curriculares, escreviam também literatura. E imagino que, entre todos, alguns as guardavam para eles mesmos, e outros, poucos, os davam a ler em pequenos círculos de amigos. E outros, mais raros ainda, os publicavam editorialmente. Entre estas diferenças sobre “o que fazer com a minha outra escrita”, talvez sejam mais frequentes do que imaginamos os habitantes de “uma margem e a outra do rio da escrita”. E 12


talvez apenas pareçam tão poucos, porque é quase temerário em nosso meio incorporar ao currículo Lattes as “obras publicadas” que ultrapassem os seus rígidos padrões e, se possível, somem pontos creditáveis em nosso meio acadêmico. Talvez seja algo para lastimarmos o fato de que sejam entre nós, raras e raros, os seguidores de Darcy Ribeiro, Boaventura de Souza Santos e Margarida Maria Moura. Mais feliz tenha sido talvez o tempo em que, na passagem do mito ao logos, os primeiros filósofos da Grécia Antiga escrevessem em poemas o que veio a ser boa parte da Filosofia Pré-Socrática. Veja-se o exemplo de Parmênides, um dos fundadores de todo o pensamento ocidental, e todo belo e misterioso poema em que ele salta de uma cena quase de conto fantástico para afinal enunciar mais adiante uma das descobertas científicas essenciais do pensamento humano: “o ser é e o não-ser não-é”. Mas e hoje? E agora, quando, para o bem e para o mal, as fronteiras entre a ciência e a arte foram tão separadas e estejam tão bem guarnecidas entre regras de identidade e exclusão, sobretudo entre os guardiões das ciências? Mesmo quando se sabe que Albert Einstein tentou ao longo da vida ser também violinista. Até mesmo entre campos próximos permanecem algumas intrigantes perguntas. Exemplo: pode um poeta ser também um teórico da literatura? Alguns, como Manuel Bandeira foram, e foram também professores. Pode um filósofo ser também um poeta? Serão muito raros, e quase todos esconderão no fun13


do das gavetas os seus poemas. Pode um antropólogo escrever crônicas em jornais sobre o trivial cotidiano? Roberto Da Matta tem sido um fecundo praticante desta ousadia. Para além dos recatos acadêmicos, o que como pessoas pensantes e sensíveis perdemos ao ocultarmos ora de nós próprios, ora de nossos outros, ora de todos os outros, talvez a face mais pessoalmente profunda de nós mesmos? Em nome do que essas evitações tornadas quase um princípio de valor, para que as nossas objetivas “descrições densas” de trabalhos de cientistas possam ser aceitas, indexadas e lidas com a racional atenção devida? Margarida Maria Moura viaja de uma margem à outra do rio, e talvez algum dia nos anuncie que descobriu onde afinal existe a “terceira”. E, se posso retomar o meu próprio exemplo, devo lembrar que ela o faz com uma ousadia de que não me senti nunca praticante. Retomo por um momento o exemplo do que se passou na Grécia, para tentar traduzir o que penso aqui. A primeira poesia grega foi épica. A Ilíada e a Odisseia são o seu melhor exemplo. Uma poesia masculina, guerreira e objetivamente narrativa, que vale por uma história e que funda um imaginário de forte teor identitário. Nela os atores precisam ser personagens, mais do que pessoas, e, se possível, devem ser o paradigma dos grandes heróis exemplares. Apenas mais tarde a Grécia descobre a lírica, e ela é a primeira poesia vivida e escrita também por mulheres. Safo. Diferente da poesia épica que narra feitos de pessoas tornadas personagens de algum grande drama históri14


co, a poesia lírica transforma personagens em pessoas, e não os seus grandes feitos, mas os pequenos e, não raro, sofridos fatos da vida e do afeto, aquilo que se poetiza e canta. Em Diário de Campo é sobre uma pequena épica do mundo natural e de seus povos que eu escrevo. Entre descrições e narrativas, é uma antropologia o que se lê, apenas – como em Parmênides – sob a forma ousada de um poema. No livro de Margarida, desde o título, o que se encontra é uma ousada lírica pessoalizada. Meu livro é quase todo sobre “o sertão”. O dela se anuncia como “Ser tão no mundo”. E a misteriosa terceira margem do rio talvez esteja justamente no intervalo que não apenas no título do livro, mas em seus poemas, separa para unir o “ser” e o “tão”. E o subtítulo do livro: testemunho de uma vida de amor, já avisa de cara ao leitor o teor do que se lerá da primeira à última página. O amor de quem vive, bem mais do que o olhar de quem o pensa, escreverá os poemas deste livro. Ao trazer a um poema o nome e a memória de uma pessoa, ela não a descreve ou narra com a poesia. Ela traduz na poesia o que cada pessoa escolhida para virar arte em seu poema é ou foi para ela. Todas as pessoas de seus poemas surgem através do sentimento, e desde ela própria voltam a existir. E assim também quando Margarida escreve sobre uma casa querida, uma vez habitada entre jardins e recantos de dentro em Teresópolis. Lugares são vivências, vivências são afetos, afetos são memórias que precisam ser escritas – mas agora não como antropologia – e tornadas uma confessante poesia. 15


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