As filhas de ninguĂŠm
Um encontro de sete dĂŠcadas
Teresinha Augusta Pereira de Carvalho
As filhas de ninguém
Um encontro de sete décadas
São Paulo 2018
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Capa
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Diagramação
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CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ T272e Carvalho, Teresinha Augusta Pereira de As filhas de ninguém : um encontro de sete décadas / Teresinha Augusta Pereira de Carvalho. - São Paulo : Baraúna, 2018. 112 p. : il. ; 21 cm. ISBN 9788543708515 1. Autobiografia. 2. História de vida. ________________________________________________________________
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Dedicatória Maria Gomes da Silva, minha irmã guerreira que nunca desistiu de encontrar-me. Alessandra Calíope Pereira de Carvalho, minha segunda filha, que pela sua insistência de querer conhecer sua raiz biológica, promoveu a aproximação das irmãs separadas. Maria José da Silva e Edna Francisca da Silva, minhas sobrinhas, utilizando-se da rede social conduziam à aproximação da mãe com a tia. Adélia, minha primogênita, e Ariadne, minha caçula, sempre estimulando a minha vontade de escrever minha história de vida.
Homenagem A minha mãe adotiva Loura que assegurou as bases da minha formação de ser gente. Ao meu filho adotivo João Carlos que teve a mesma história de abandono.
Homenagem póstuma Ao meu pai adotivo Zé Bento que me acolheu como filha legítima. Ao meu falecido marido Lupércio Pereira de Carvalho, além de esposo, foi meu professor que preencheu as minhas lacunas intelectuais, me guiando ao mundo da leitura, abrindo os meus horizontes e assegurando minha ascensão social. Com ele, construí minha família sanguínea. À minha genitora Deolinda Teixeira, atendendo ao apelo da minha irmã Maria Gomes de que “ela nos deu a vida”, estou reconhecendo como a minha mãe biológica, neste pacto autobiográfico, bem como, ao genitor João Gomes, mesmo não sabendo ser pai, nos repassou a sua genética.
PREFÁCIO O livro narra uma história real do encontro de duas irmãs que se conheceram após sete décadas, a mais velha com 73 anos, chama-se de Maria Gomes e a caçula (eu) com 70 anos, vítimas da pobreza da zona rural do agreste do município de Limoeiro/PE, onde nasceram, na década de 40, e sofreram o abandono da genitora e cada uma teve diferente trajetória de sobrevivência. Cada irmã sobrevivente, oriunda de um meio social de exclusão, teceu um mundo interior de desejos, frustrações, rejeições e laços afetivos; também fez suas escolhas que, dependendo das condições materiais e imateriais (valores assimilados e aquisição de conhecimento) impostas, cada uma traçou e seguiu os ditames da existência humana. Ambas foram e são guerreiras nutridas pela vontade de viver e vencer. “Vim, vi e venci”. As Filhas de Ninguém, protagonistas desta narrativa, não foram órfãs de pais biológicos, mas, sobretudo, órfãs das condições materiais de sobrevivência e vítimas da ignorância da família nuclear rural, quando, naquela época, entregar os filhos para outras pessoas criarem era visto como atitudes certas e de proteção à sua prole. A
pobreza da genitora das Filhas de Ninguém era tão arraigada por toda a extensão familiar (pais, irmãos e tios) que, somado à falta de apoio institucional daquela época, só lhe restava a resignação como o destino, distribuir os filhos pela vizinhança como uma roleta da sorte. Salvem-se quem puder! Sobrevivem os mais aptos! Não é uma história triste, mas cheia de meandros entre a carência e o sucesso obtido, contando com o peso da sorte e a resiliência de cada irmã que, se conheceu após sete décadas. É uma história comum de separação de irmãos, tão habitual numa sociedade desigual de direitos que ainda hoje acontece. Porém, uma leitura pelos longos percalços de tempo e espaços em que as duas irmãs diferentemente percorreram até seu encontro de sete décadas separadas, é o que preza esta narrativa. Esse encontro aconteceu em 3 de abril de 2016, o dia que Filhas de Ninguém se conheceram, se abraçaram e começaram a desenrolar a novela de duas vidas antagônicas marcadas por sofrimentos, carências, ausências e sucessos que cada uma imprimiu nas páginas de suas vidas. E, aqui, serão narradas!
SUMÁRIO 1. Começando uma história autobiográfica .................. 15 2. Por que filhas de ninguém? ...................................... 19 3. Adoção das filhas de ninguém – abandono ou desespero? ........................................... 21 4. Os caminhos da doação das filhas de Ninguém ............................................................. 31 5. A história antagônica de adoção das Filhas de Ninguém – separadas por sete décadas ............................................................. 43 6. As irmãs separadas – conhecer ou não conhecer? ...................................... 53 7. Minha família adotiva – o esconderijo da minha origem biológica ................. 57 8. Na trilha do desconhecido – construindo os meus próprios caminhos ................... 79 9. Adoção por quem foi adotado – o caminho da volta ................................................ 89 10. Encontro de sete décadas: o desfecho da separação das Filhas de Ninguém ...................... 97 11. Banquete em família: os rituais de celebração do encontro ...................................... 103
Poema do Encontro de sete décadas – o desfecho da separação Nosso encontro foi o mais esperado de tantos anos: foi a busca do elo genético perdido foi o desfecho de mágoas pela rejeição materna foi a superação da resistência pela aproximação foi o resgate dos vínculos afetivos de irmãs foi o emotivo momento da descrição dos diferentes caminhos foi o conhecimento de diferentes lutas pela sobrevivência Nosso encontro teve a vitória da insistência de quem nunca desistiu: para restabelecer os laços consanguíneos para identificar os traços fisionômicos impressos pela genética para contar a história de vida de cada irmã para demonstrar a capacidade de lutar e vencer para relatar o ponto de vista do abandono sofrido para dizer uma à outra “te amo irmã”, fomos vitimas do destino
Nosso encontro serviu para aprender a ouvir, falar e dizer: quanto tempo desperdiçado quanto medo de conhecer o passado quantas desculpas para pedir e quanta coragem para enfrentar os fantasmas do apartheid biológico! Enfim, um encontro de sete décadas de duas irmãs que foram separadas pelo destino. E para selar a união até que a morte nos separe! Teresinha Augusta Pereira de Carvalho
1. Começando uma história autobiográfica “O tempo torna-se tempo humano na medida em que é articulado de um modo narrativo, em compensação, a narrativa é significativa na medida em que esboça os traços da experiência temporal”. Paul Ricoeur, em Tempo e Narrativa.(*) Esta autobiografia abre as portas da minha memória num breve rasgar de liberdade e o desejo de voar livre e leve. Preza pelo passado não velado e não será uma simples rememoração do passado, mas uma recriação dos acontecimentos vividos e revelados pelo eu-presente e o eu-passado engendrados pelo encontro de sete décadas com minha irmã biológica. Também serve como uma catarse desvendando as minhas memórias de longo prazo, aquelas recônditas que estruturam a nossa psiquê e moldam a nossa personalidade. Com esta história autobiográfica, adentro no universo da minha própria existência, não apenas para reviver, lembrar, mas para reconstruir, repensar a nova trajeAs filhas de ninguém
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