Aeducacaonecessaria15

A educação necessária O que as escolas não ensinam... e deveriam ensinar

Antônio Walter de Andrade Nascimento

A educação necessária O que as escolas não ensinam... e deveriam ensinar

• Educação • Autodesenvolvimento • Liderança e gestão • Cidadania

Uma coletânea de 50 artigos do autor publicados entre 1978 e 2013

São Paulo 2014

Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

C apa

e

P rojeto G ráfico

Monica Rodrigues

R evisão

Henrique de Souza CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

N193e

Nascimento, Antonio Walter A. (Antônio Walter de Andrade),

A educação necessária: o que as escolas não ensinam... e deveriam ensinar/ Antônio Walter de Andrade Nascimento. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0036-6 1. Educação - Brasil. 2. Escolas - Organização e administração. I. Título.

14-09715

CDD: 370.0981 CDU: 37(81)

________________________________________________________________

17/02/2014 20/02/2014 ________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 — Liberdade — São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br

Dedicat贸ria Aos que veem, ouvem e n茫o se calam.

Apresentação Ao longo de quase 60 anos de atuação profissional em diversas organizações e vários países, três focos se destacaram no cenário: o desenvolvimento profissional e pessoal do ser humano, a formação de líderes e gestores nas empresas e nas escolas e os rumos da educação no Brasil.

Uns poucos 50 anos dessa atuação foram dedicados, primordialmente, ao magistério, em colégios – com aulas de biologia –, em universidades, abordando disciplinas como neurofisiologia, psicofisiologia, fisiologia humana, psicologia da aprendizagem e outras, ou em empresas, com algumas incursões em áreas administrativas como direção de faculdade, chefia de departamentos, coordenação de cursos e gestão de treinamento e desenvolvimento.

Nos últimos 36 anos, os temas foram desenvolvimento profissional e pessoal e formação de líderes e gestores de pessoas, enquanto crescia e se avolumava a preocupação com a educação no Brasil, sobretudo após o advento da globalização e o extraordinário avanço da tecnologia, relegando cada vez mais a segundo – ou terceiro, ou quarto plano – o foco na educação humanística e de cidadania, enquanto a sociedade mergulhava em uma onda de corrupção, violência e perda de valores essenciais à convivência humana. Tais os fatos que levaram às duas

7

dezenas de livros e aos quase 100 artigos que publiquei até aqui, desde os primórdios de 1978.

Neste volume, relacionei, para conhecimento e reflexão de meus prezados leitores, alguns desses artigos, incluindo o mais novo deles, baseado em pesquisa inédita feita por mim e promovida como trabalho de conclusão do MBA que resolvi cursar, para minha atualização e regresso ao magistério superior, em 2012/2013. Trata-se do artigo “Aplicação e ensino das Competências Humanas nas organizações”.

Espero que sejam úteis para suas reflexões.

O Autor

8

1º Parte 1 - A educação necessária (2006) 2 - O que as escolas não ensinam...

E deveriam ensinar (2008) 3 - O ensino e a aplicação das competências humanas nas organizações (2013) 4 - Anúncios classificados – precisa-se (1987)

9

1 - A educação necessária 2006 Falar sobre a necessidade de educação no Brasil de hoje é chover no molhado. Muito já se tem falado a respeito, tanto nas palavras dos mais doutos intelectuais como naquelas dos mais simples cidadãos: a educação é necessária para a solução dos problemas do país e para o seu progresso.

E o que se tem feito? Alguma coisa, talvez; ou talvez absolutamente nada, dependendo do sentido que se dê ao termo educação.

Nessa época de deslumbramento com os avanços da tecnologia, costuma-se cada vez mais entender educação como, principalmente, ensino. E ensino como transmissão de informações e conhecimentos, estimulando o desenvolvimento da aprendizagem.

E é aqui, na aprendizagem, que se refletem as consequências mais desastrosas da má interpretação dos conceitos.

Quando, nas escolas secundárias e universidades, se fala em aprendizagem, entende-se, frequentemente, adquirir conhecimentos. Mas o mesmo termo, nas empresas e no exercício das profissões liberais, toma, muito mais comumente, a conotação de desenvolver capacitação ou habilidade para fazer, pois nessas organizações se vive muito mais do que se faz do que do conhecimento 11

que se tem – o conhecimento visto apenas como uma ponte para a capacitação.

Conhecer e saber fazer não significam, pois, a mesma coisa.

Aprender como se dirige um carro é conhecimento; aprender a dirigir um carro é habilidade (capacitação). O primeiro caso exige informação, associações mentais, compreensão e memorização – um processo basicamente cognitivo. O segundo vai mais além: exige gestão emocional, controle psicomotor e exercício, muito exercício (além do conhecimento do como se faz) – o processo é operacional.

Existe, assim, um descompasso entre o que os profissionais e as organizações esperam da educação/ensino e o que as escolas ensinam.

Em outros tempos, discutia-se frequentemente a função da universidade, muitos defendendo-a como depositária e formadora de conhecimentos e cultura e não obrigatoriamente como centro de formação técnico-profissional.

Hoje, entretanto, a julgar pelo que realmente ocorre na imensa maioria das salas de aula, pelo que se vê em suas propagandas na televisão, em outdoors, jornais e revistas, e pelo caráter eminentemente comercial da maioria das faculdades e universidades particulares, tais discussões se tornaram obsoletas: as próprias faculdades apregoam, em caráter exclusivo, seu objetivo de formação profissional.

E cumprem-no, quando o cumprem, apenas precariamente, pois se concentram infinitamente mais no transmitir conhecimentos do que no ensinar a fazer. E falham principalmente porque não perceberam ainda que formar profissionais não é transmitir aos estudan-

12

tes apenas e simplesmente os conhecimentos técnicos de sua futura profissão. A competência dos profissionais de hoje não é medida apenas pelos seus conhecimentos e habilidades técnicos, mas também e, em muitos casos, principalmente, pelos aspectos ditos personais e comportamentais de seu desempenho, como relacionamento interpessoal, eficácia na comunicação e na persuasão, grau de comprometimento e motivação, empatia, empreendedorismo e iniciativa, criatividade e inovação, autogestão e controle emocional, e ainda, em destaque, habilidade de liderança e de trabalho em equipe. Tudo centrado na habilidade de conquistar e de manter clientes.

Tais habilidades, hoje indispensáveis no desempenho profissional em praticamente qualquer área, setor ou nível, a imensa maioria das escolas não ensina (para não dizer nenhuma delas!).

Algumas até alegam fazê-lo, acenando com seus currículos. No entanto, basta uma pequena análise deles, atentando para os objetivos ali expressos, para os conteúdos programáticos listados e para a relatividade das cargas horárias a eles destinados, para verificar a inconsistência e a fragilidade das alegações. E o acompanhamento das lições nas salas de aula eliminam qualquer dúvida que ainda possa restar.

Quando muito, alguns MBAs, mestrados e cursos de extensão universitária (mestrado “lato sensu”) destinam pequena carga horária a dissertar sobre algumas teorias psicológicas e sobre os últimos palpites de alguns gurus da administração.

Algumas escolas e faculdades ainda se dizem ou se consideram centros educacionais; melhor seria se se pro-

13

clamassem centros de ensino técnico-profissional, pois, bem ou mal, é isso que realmente são.

O extraordinário desenvolvimento da informática e das telecomunicações vem proporcionando não menos extraordinário e veloz desenvolvimento da tecnologia em todas as áreas do conhecimento humano, possibilitando e promovendo, por um lado, novos e eficazes processos produtivos, e, por outro, um avanço inusitado de todas as ciências, sejam físicas, químicas, astronômicas, biológicas, genéticas, médicas ou psicológicas.

Hoje, a tecnologia é a força. É a força que promove maior comodidade para o ser humano e contribui para aumentar sua longevidade lúcida e saudável; é a força que possibilita melhor integração entre os povos e melhor qualidade de vida, se considerarmos como qualidade de vida a saúde física, a comodidade e a posse de bens materiais.

Não é à toa, portanto, que as faculdades e universidades se transformaram em centros tecnológicos e em centros de formação técnica. Mesmo nas áreas ditas de saúde e – pasme-se – nas áreas humanas, a formação dos profissionais é cada vez mais eminentemente técnica – muitos processos e teorias, poucas atitudes e comportamentos. Até mesmo a psicologia se transforma em técnicas e métodos – a serviço de programas para computadores.

E os cursos de segundo grau, por sua vez, se transformaram em pré-vestibulares.

No entanto, não se pode negar que o desenvolvimento da tecnologia e o incrível aumento do conhecimento humano são indispensáveis ao progresso e à evo-

14

lução da humanidade, o que torna indispensável levar aos jovens estudantes, rapidamente, não só os novos saberes, como principalmente os métodos e os processos deles resultantes e de que farão uso no exercício profissional.

Mas, também, não se pode ignorar o outro lado, o lado negro da força. O lado negro da tecnologia.

Mata-se hoje com extraordinária precisão e eficácia, tanto em qualidade quanto em quantidade. As possibilidades de emprego da tecnologia moderna estimulam e exacerbam as ambições humanas, possibilitando-lhes meios para a exploração de seus semelhantes, seja pelas sutilezas políticas, seja pela corrupção, seja pela violência explícita.

A divulgação ampla e imediata, ao vivo e a cores, leva à globalização de costumes, com os inevitáveis choques culturais intermitentes. A globalização de costumes leva à globalização da economia.

A globalização da economia, sem os necessários cuidados na preservação da moralidade e da ética, leva à exacerbação da ganância, às lutas por poder e por lucros, à concorrência absurda e à exploração das classes menos privilegiadas que, como sempre, mas num grau mais acentuado, acaba excluída do processo evolutivo da sociedade.

Nesse contexto, em países como o Brasil, os ricos se tornam mais ricos (ou sucumbem à força da concorrência, ou se tornam corruptos), a classe média se torna pobre e os pobres se tornam miseráveis (os miseráveis morrem de fome, de frio e de doenças que não deveriam ocorrer nem ser capazes de matar ninguém).

O ambiente favorece, além das guerras e do terrorismo (ambos absolutamente absurdos), a violência urbana, a

15