Afilosofiaemconan 15

Page 1





S達o Paulo 2014


Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Alexandre Jubran

Capa

Diagramação Isaac Tiago Revisão

Ana Paula Ferreira

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ T258f Tegão, Afrânio William A filosofia em Conan, o bárbaro: entre a civilidade do bárbaro e a barbárie da civilização / Afrânio William Tegão. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014. ISBN 978-85-437-0053-3 1. Conan, o bárbaro (Personagem fictício) - História em quadrinhos. 2. Filosofia. I. Título. 14-16986 CDD: 791.4572 CDU: 621.397 ________________________________________________________________ 20/10/2014 20/10/2014

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


“Saiba, ó Príncipe, que entre os anos quando os oceanos tragaram a Atlântida e as reluzentes cidades, e os anos do surgimento dos Filhos de Aryas, houve uma Era que não existiria nem nos sonhos, quando reinos esplendorosos se espalhavam pelo mundo como mantos azuis sob as estrelas – Nemédia; Ophir; Brithunia; Hiperbórea; Zamora, com suas lindas mulheres de negras cabeleiras e torres de mistério aracnídeo; Zingara, com sua cavalaria; Koth, que fazia fronteira com as terras pastoris de Shem; Stygia, com suas tumbas protegidas pelas sombras; Hirkânia, cujos cavaleiros ostentavam aço, seda e ouro. Mas o reino mais orgulhoso de todos era Aquilônia, que dominava supremo no Oeste sonhador. Para lá se dirigiu Conan, o cimério, de cabelos negros, olhos ferozes, espada na mão, um ladrão, um saqueador, um matador, com gigantescas crises de melancolia e não menos fases de alegria, para pisotear com seus pés os frágeis tronos cheios de joias.” Crônicas da Nemédia



SUMÁRI O

A P R E S E NTAÇÃO . . . . . . . . 11 P R E FÁCI O D O AUTO R . . . . . . 15 I N T RO DUÇÃO . . . . . . . . . 23 Pr i m e i r a Par t e . . . . . . . . . . 33 ROBE RT ERWIN H OWARD . . . . . 33 1. A vida de um escritor . . . . . . . . . . 33 2. O nascimento da fantasia . . . . . . . . 40 3. Influência e influências . . . . . . . . . 47 4. A morte da fantasia . . . . . . . . . . 53


Segunda Parte . . . . . . . . . . . . . . . 65 O M U N D O HIB O RIAN O : D A HISTÓRI A À FA N TA S IA . . . . . . . . . 65 5. A Era Hiboriana . . . . . . . . . . . 65 6. Do mundo da imaginação ao mundo conhecido . . . . . . . . . . . . 70 7. A Ciméria e os cimérios . . . . . . . . . 79 8. Cronologia Hiboriana . . . . . . . . . 87 9. O mito de Atlântida . . . . . . . . . . 93 Terceira Parte . . . . . . . . . . . . . . . 99 C O N A N : O RIGEM , HIS TÓ RIA E BA R BÁ R IE . . . . . . . . . 99 10. Uma Fênix renascida das cinzas de Kull . . . . . . . . . . . . . . . . 99 11. A trajetória de um selvagem . . . . . . 107 12. A origem tribal de Conan . . . . . . . 125 13. Civilização versus Barbárie . . . . . . . 136 Quarta Parte . . . . . . . . . . . . . . . 149 BOM S E LVAGEM O U LO B O D O H OM EM ? . . . . . . . . . 149 14. Conan e o mito do “Bom Selvagem” . . . . . . . . . . . . . . 149 15. Conan e o Lobo Mau . . . . . . . . 164 16. Quem é bárbaro, afinal? . . . . . . . . 178 17. Rei Conan e as relações de poder . . . . . . 200


Quinta Parte . . . . . . . . . . . . . . . 229 R E L I G I ÃO : D EUS ES , D EM Ô NIOS E A L I E N S . . . . . . . . . . 229 18. Um bárbaro favorável à tolerância religiosa? 229 19. Nem todos os caminhos levam aos deuses . . . . . . . . . . . . . . 246 20. Por Crom! . . . . . . . . . . . . . 259 21. Perto dos deuses . . . . . . . . . . . 270 22. Eram os deuses astronautas? . . . . . . 282 23. A Bíblia e a Era Hiboriana . . . . . . . 289 24. Deus está morto! Conan torna-se o Super-homem . . . . . . . . 297 Sexta Parte . . . . . . . . . . . . . . . . 315 OS BRU TO S TAM B ÉM AM AM . . . 315 25. Não existe amor sem sexo . . . . . . . 315 26. É dos bárbaros que elas gostam mais . . . . . . . . . . . . . . 338 27. O grau mais elevado do amor . . . . . 351 C O N S I D ERAÇÕ ES F INAIS . . . . 357 BI BL I O G RAF IA CO N S ULTAD A . . . 365



APR E SE NTAÇ ÃO

Não conheço o Afrânio pessoalmente. Mas é interessante como, ao ler a obra dele, identifico uma série de afinidades e pontos que temos em comum. Coisas que eu também vivi de forma bastante parecida, e pensamentos e sentimentos que concordo e partilho. Isso gera uma sensação de proximidade a até de (pasmem!) intimidade. Pois sinto que se nos encontrássemos pessoalmente, passaríamos horas conversando sobre um assunto que ambos adoramos e que exerce enorme fascínio na nossa personalidade: a obra de Robert E. Howard, mais especificamente os textos de Conan. Bem, não vou me alongar falando sobre quem foi Howard e sua importância – já que este livro inteiro trata justamente do autor e de sua obra – mas quero dizer que, 11


em minha opinião, este foi um dos maiores escritores do século XX. E digo mais, se ele não tivesse morrido tão cedo (a exemplo de outro luminar contemporâneo, H. P. Lovecraft, que por acaso também era amigo de Howard), hoje seria tratado com a mesma justiça de outros mestres do conto estadunidense, como Edgar A. Poe. Mas não foi assim que aconteceu. Howard nos deixou muito cedo e, o que é pior, nos anos 1960, sua obra sofreu profusamente nas mãos de Lin Carter e L. Sprague de Camp, que, por meio de sucessivas revisões e reescritas, a descaracterizaram ao ponto de ela ficar irreconhecível – um crime passível hoje de multa pesada e, talvez, até um tempo na prisão (ao menos nos EUA). A parte curiosa é que se Howard foi redescoberto após quase duas décadas sem ser publicado, os anos 1940 e 1950 (salvo raras exceções), foi graças a esses dois senhores que resolveram republicar a obra dele com um chamariz irresistível – as capas de Frank Frazetta – possivelmente o maior ilustrador do gênero fantástico que já existiu. Mas o fato é que as pessoas descobriram Howard por esses livros descaracterizados (incluindo Roy Thomas), a Marvel descobriu Howard por intermédio de Roy e transformou Conan numa coqueluche nos quadrinhos a partir dos anos 1970, o cinema descobriu Conan por intermédio da Marvel e, a partir do filme, o mundo inteiro descobriu o grande bárbaro, nos anos 1980. Conan foi tão forte que se criou um termo para a onda: Conanmania! Foi em meados dos nos 1990 que alguns fãs mais lúcidos que trabalhavam no mercado editorial começaram a se dar conta de que aquilo que vinha sendo pu12


blicado na literatura não era a visão original do autor, já que a maior parte do que saía eram reedições das obras revisadas por Carter e Sprague. Foi iniciado, então, um processo para recuperar os textos lançados nos pulps na década de 1930. Hoje, felizmente, a balança se inverteu e no mundo inteiro cada nova edição que é publicada de Howard apresenta a obra original. O vigor de um texto de Howard é incomparável. No Prefácio que Afrânio faz (que você lerá logo a seguir – e NÃO O PULE!!!), ele menciona uma frase de um certo Dr. John D. Clark que afirma que não há significados filosóficos que possam ser encontrados na obra de Howard. Besteira! Como não há? Como pode não haver? Há todo tipo de mensagem filosófica, ética, política e social contida nos textos (obviamente não em todos, mas em grande parte) deste escriba, visto que – e digo isso com conhecimento de causa – as histórias de um escritor, de qualquer escritor, são um veículo para que ele registre a sua visão de mundo. E a visão de Howard era extremamente contundente! Mas não tome minha palavra como verdade – ela não é! De fato, a primeira coisa que você precisa fazer (caso não tenha feito ainda) é ler as histórias originais de Howard e tirar suas próprias conclusões. Feito isso, pode voltar para este livro, afinal, não se deve ler uma obra sobre um autor sem ter lido ainda o que o próprio autor escreveu. Dessa forma, poderemos começar uma discussão embasada sobre o conteúdo, a temática, as ideias (e até as cismas e vícios) que o autor insere em suas histórias – o que é justamente a proposta deste livro que você tem em mãos! 13


Mas não se engane; em tempos de material descartável, em que filmes de sucesso geram produtos derivados de terceira categoria cujo único objetivo é capitalizar e gerar receita, este livro é uma entidade completamente diferente. Em primeiro lugar porque não estamos mais na era da Conanmania. Em segundo, não se trata de uma obra pseudointelectual, mas sim de um estudo apaixonado, porém embasado, de um autor que conhece os dois lados da moeda que está trabalhando: a filosofia e a obra de Howard. Rousseau em Conan? Pode apostar! Platão em Conan? Sim, está lá! Maquiavel em Conan? Está, e esse aí até é mais evidente! Mas o ponto é que a relação destes e de outros filósofos com as obras de Robert E. Howard é esmiuçada de modo claro e natural por Afrânio W. Tegão, que faz propostas e observações filosóficas surpreendentes, e contradiz as opiniões do Dr. John D. Clark, não de forma dialética, mas sim de maneira contumaz! Aqui não há espaço para “achismos” e meras opiniões; o autor trata o tema com o máximo de seriedade e procura embasar cada linha com enorme solidez, como se estivesse redigindo uma tese universitária. No final, o que se revela, é uma leitura surpreendente que descortina novos aspectos da obra deste espetacular criador de bárbaros, o homem que deu ao mundo o subgênero Espada & Feitiçaria e entregou aos leitores um dos maiores personagens da cultura pop universal: Conan, o Bárbaro. Alexandre Callari

14


PR E F ÁCI O DO AUTO R

O início do meu relacionamento com as sagas de Conan, o bárbaro, data de 1984. Foi nesse ano que exibiram na TV o filme “Conan o Bárbaro”, de 1982. Naquele tempo os filmes demoravam em passar na telinha. Eu contava com 12 anos de idade nesse tempo, e posso dizer que foi amor à primeira “assistida”. Não conseguia desgrudar os olhos da televisão. O ator, dono de um nome impronunciável, era gigantesco. Nunca imaginei que pudesse existir alguém daquele tamanho. Sem sombra de dúvida, na minha cabeça adolescente, aquele foi (e ainda é) o melhor filme que assisti. Lembro-me que queria ser como o Conan: um aventureiro solitário sem destino certo, dono do próprio nariz, forte, corajoso, e, é claro, cercado por mulheres

15


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.