Agua e vida 15

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Água é vida Antônio Paraguassú Lopes

São Paulo 2016


Copyright © 2016 by Editora Baraúna SE Ltda

Projeto Gráfico Editora Baraúna Revisão

Adriane Gozzo

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ L85a Lopes, A. Paraguassú (Antonio Paraguassú) Água é vida / Antônio Paraguassú Lopes. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2016. ISBN: 978-85-4370-734-1 1. Crônica brasileira. I. Título. 16-38349

CDD: 869.98 CDU: 821.134.3(81)-8

________________________________________________________________ 05/12/2016 06/12/2016 Impresso no Brasil Printed in Brazil

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Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br


Dedicatória

Dedico este livro, do fundo do coração, às pessoas que foram exemplos de bondade e fazem parte da minha vida: minha mãe, Vó Dió, Idalice, minha irmã mais velha e a todos os amigos de infância das “roças” do curral velho, Lagoa do Meio e Aroeira.

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Prefácio

Curral Véio Para Tonho de D. Dió, Em mãos. É cum alegria qui iscrevo estas mau trassadas linhas para dá minhas notícia e colher as sua. Aqui tudo bem, só a seca qui pareci a de trinta. Tô fazeno curço de alfabetizá, de aprendê a lê e iscreve. D. Mariquinha é a professora. Onti, ela leu pra nóis uns pedaço du livro que vossamincê istá iscreveno da seca e da agua qui agente num tem, nunca teve. Mi lembru dagenti amançando carneiro nos corredô de cerca de Gravatá. As areia da inxurrada fazia o caminho macio e bom. Mi lembro tamem, das bola de burracha, das plantação que a seca matava e os pai dagenti sufria. Inté oje, amigo é tudo du mesmo jeito. Ningueim fais nada, nem veriadô, nem prefeto, ningueim. Tu disse 7


qui tem agua dentro da terra e se furá ela sai, e muira. É verdade? Sei que se fais açude, menus aqui. Mandi seu livro agua é vida pra agenti lê e aprendê. Nois precisa de genti que luti pra acaba cum a seca. Jeito tem, so farta vontade dos omi que governa. Ajudi agenti. O sertão li agradeci e agenti vai falar cas otoridade pra fazê. Tonho tenha saúde e pais. Assinado: Genaro Trabuco A Zefa manda lembrança. Venha pra novena de Santana e venha nos visita.

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Apresentação

Este pequeno livro tem uma finalidade exponencial. Ele trata, em pequenas informações e sugestões, da vida do sertanejo e de como fazê-la melhor. Fala do sertanejo do semiárido, mais especificamente da região sisaleira da Bahia, sob a batuta e liderança de Conceição do Coité. É um grito de socorro. Grito saído do fundo do coração, que se desprega e sai em busca da vida decente para toda uma gente maravilhosa. É um grito que se espera ecoe por todo o semiárido da Bahia, não encontre barreiras, espargindo-se por todo nordeste brasileiro. É como se Conceição do Coité dissesse: “Vamos, conterrâneos, todos, em busca do bem, em busca do melhor!”. Se ele despertar uma centelha, se ele puser alguém a pensar sobre o assunto, terá conseguido o seu ideal, o seu fim, o seu objetivo. O autor é filho de Conceição do Coité. Durante 9


toda sua vida, nunca deixou de visitar a região sisaleira, de forma discreta, adorando andar pelas suas feiras semanais, pelos seus povoados, abraçar sua gente, comungar de suas aspirações.

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Água é vida!

A expressão acima faz parte da minha vida, do meu pensar. Inadmissível que dentre os projetos traçados pelas autoridades nordestinas falo especialmente da região sisaleira da Bahia, em que não se dá a mínima importância a prioridades. Água é prioridade máxima. Só se fala em praças, festas, eventos, carnavais, micaretas, política local, que transforma irmãos em inimigos. É o retrato dos gestores do sertão e dos que deles se aproximam. Agora, no final de dezembro de 2015 e os primeiros dias de janeiro de 2016, do ano seguinte, a natureza cobriu de água as cidades, os povoados, as roças, os riachos e os rios secos. Fotos, regozijos, declarações, comemorações, êxtase completo cobriu as cabeças e encheu as mentes e os corações dos sertanejos. A água rolava ladeira abaixo, levando casas, calçamentos, lama e sujeira, rasgando o ventre da terra antes seca, rachada, escaldante. 11


Um verdadeiro orgasmo coletivo, notícias, comentários, a cheia era o “bom tom” de todas as conversas. Sim, nada se fez a não ser reparar os buracos deixados na cidade. A água se foi ladeira abaixo, deixando para trás uma vaga esperança de coisas boas. Quem sabe muito feijão de corda. Aguardemos. Virá daqui a 60 dias o 19 de março, dia de São José, dia das chuvas para o plantio de inverno, para o milho do São João. A terra, no decorrer desses dois meses, já estará seca, esturricada, e o sertanejo olhando para os céus e pedindo chuva a Deus. Tudo é Deus quem quer, é a lamúria. Procissões e ladainhas correm os caminhos, as veredas, imagens de santos nos toscos andores desfilam no meio da miséria. É a fé. O sol causticante queima a pele e a alma do sertanejo. Toda aquela água se foi, do Riacho das Pedras, do Tocós, do Jacuípe, do Itapicuru, do Goiás, de todos os riachos e rios secos, em busca de rios maiores, permanentes, até o oceano. É o destino das águas ser o “caminho que anda”! O rastro de miséria ficou para trás e o sorriso da gente durou pouco. E sempre a pergunta: “Por que não se vê o lado bom da coisa?”. Simplesmente porque os sertanejos, como as águas, desceram o morro em busca da imensidão do nada. Será que seria tão difícil represar-se grande parte da água que se foi? 12


Com inúmeras represas, porte pequeno, não se mataria a sede das gentes e seus animais? Não se fariam plantações ao redor, para a sustentação da vida? Não, só jardins, festas, eventos, discursos vazios e ridículos de inauguração de nada. E as águas se foram. Voltarão, Deus sabe quando, as torrenciais e escassas chuvas de verão. Serão, novamente, objeto de largas comemorações. As tristezas passarão como passaram as águas, até que dois ou três meses também se passem. Mais um ciclo de vida. Tudo, porém, é Deus quem quer. Virão outras gerações, outros gestores, todos frutos de uma cultura do “deixa estar para ver como é que fica”. Jargão dos medíocres.

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“Água É Vida” A Região Sisaleira

A região sisaleira, semiárido baiano, compreende, basicamente, os municípios de Conceição do Coité, Valente, Retirolandia, São Domingos, Riachão do Jacuípe, Queimadas, Santa Luz, Cansanção, Tucano, Araci, dentre outros periféricos e viventes das mesmas situações, de forma especial as climáticas. A região, a cada dia, torna-se uma vereda para a desertificação aos olhos de todos que preferem não ver o quadro dantesco que se apresenta. É DEUS QUEM QUER. Há, na região do semiárido de todo o nordeste, uma filosofia cinzenta da cultura do “deixa prá lá”. Os roceiros, os mais humildes, a eterna história de que tudo “é Deus quem quer”. Logo... Plantam seus olhos para os céus na espera de nuvens e chuvas para o plantio de sua roça de milho, 14


mandioca, e feijão. Se chove, “é Deus quem quer”; se não chove, também “é Deus quem quer”. Então, atribuem-se a Deus todas as desgraças da seca, da escassez de água, de alimentos, de alegria pela vida. Saindo, senhores, da cultura centenária da gente dos sertões, tentamos falar às lideranças que sonham com o mando, que sonham com palanques, com os seus séquitos um tanto aos moldes de milênios de anos atrás, de Roma ou dos emirados do Oriente Médio, até hoje, donde floresce a miséria das gentes e a riqueza dos sultões. A fila dos eleitores às portas de suas casas, na sede do município, nos povoados e distritos, é o doce lamber de lábios de algumas lideranças que nada desejam de bom, a não ser para si próprios a “glória” do poder. O “caciquismo” de paletó e gravata. Há, senhores, uma urgente necessidade de drástica mudança dessa nefasta e nojenta cultura.

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