Recebido pela mĂŠdium Alice Cirilo Escrito por Maria Luiza Martini
Irmão Pires
Recebido pela médium Alice Cirilo Escrito por Maria Luiza Martini
São Paulo 2011
Copyright © 2011 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Aline Benitez Projeto Gráfico Tatyana Araujo Revisão Priscila Loiola Ilustrações: Paula Massi CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________
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Pires, Irmão (Espírito) Alguém de espera no céu / [do espírito] Irmão Pires ; recebido pela médium Alice Cirilo ; escrito por Maria Luiza Martini. - São Paulo : Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-406-4 1. Romance espírita. I. Cirilo, Alice. II. Martini, Maria Luiza. III. Título. 11-6253.
CDD: 133.9 CDU: 133.7
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________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04547-020 Vila Nova Conceição São Paulo SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br
Dedicatória
Aos meus eternos irmãos de jornada, Josué e Rosa Soares, que estiveram comigo sempre, em todos os momentos. A amizade nos trouxe a fé, que nos uniu em torno de muitos que foram chegando até formarmos uma grande família. Que nos seja permitido muitos outros momentos juntos.
Alice Cirilo
Apresentação
A
tarefa da escrita a que nos propusemos a fazer começa por esta obra! E que bom que a primeira venha trazendo uma mensagem de amor infinito, de força espiritual, pois é firme nesse propósito que nos propusemos a servir e a dedicarmos às novas lições literárias que haverão de se nos apresentar. “Alguém te espera no céu” é uma história que, tenho certeza, irá emocionar a muitos pela simplicidade e pela narrativa bem posicionada que é própria do Irmão Pires, que tenta expressar toda a beleza da pureza e do romantismo que raramente testemunhamos nos dias de hoje. A tonalidade da emoção caberá a cada um conforme se pintar o quadro da história em suas mentes. Testemunhamos um misto grande de sentimentos ao tecê-la, que variou de indignação em vá-
rias situações às lágrimas incontidas de emoção. Orgulha-me, não com vaidade, mas com honra e alegria, fazer parte dessa parceria com a Médium Alice Cirilo e o Espírito Irmão Pires. Alice, uma fonte inesgotável de sabedoria humana e de solidariedade, onde incontáveis sedentos buscam matar a sede espiritual e a quem rendo todos os méritos deste trabalho. Irmão Pires, espírito de uma luz animadora e empreendedora, um irmão, um companheiro e que pelo seu grande refinamento faz-nos sentirmos que somos capazes de tudo se tivermos foco e entrega pessoal com amor. Não existiriam canteiros bem conservados nem campos bem semeados se não tivessem boas ferramentas para o labor e para a conservação do solo fértil. É essa junção de estrelas desta constelação de luzes salutares que nos trazem este inesquecível trabalho, esta história capaz de mudar nossas vidas se soubermos extrair dela ensinamentos para nossas ações e nossa vida. Assim, espero sinceramente que ao debulhar suas letras compartilhe conosco da indescritível felicidade de conviver com esses personagens, seus hábitos, suas particularidades e suas lições. Se assim for, nos daremos por satisfeitos em ter-lhes proporcionado momentos especiais.
Maria Luiza Martini
Na fazenda pôr do sol
E
ram os dias de apogeu da primavera na Fazenda Pôr do Sol. Os jardins presenteavam os olhos de todos com seus coloridos canteiros de amor-perfeito e de tantas outras variedades de flores que se apresentavam para o deleite da plateia. A Fazenda era uma das maiores e mais produtivas do Brasil Imperial do século XIX. Imponente latifúndio onde se perdiam as vistas sobre os montes, as plantações de café e em cujos campos verdejantes abrigavam milhares de cabeças suínas e de gado leiteiro e que enchiam sobremaneira as burras do intolerante tirano Coronel Justino Lourenço. Homem poderoso, hostil e grosseiro, o Coronel destacava-se pela sua estatura alta e imponente, apresentando-se sempre muito bem vestido com camisas e cole9
tes com cortes perfeitos, ternos do mais elegante tecido, botas bem engraxadas e com um bigode volumoso, mas sempre bem aparado. Suas terras ficavam nas redondezas do atual bairro de Pinheiros na capital paulista, palco desta história que mescla a inocência e a pureza de pessoas do campo, escravos e serviçais, que rendiam suas vidas ao poder da arrogância extrema de seu senhor. Herança de seu pai, era o administrador dos bens e da produção da fazenda e dividia os lucros com suas duas irmãs Julia e Frozina, que moravam na cidade de São Paulo. Desnecessário se faz comentar que a maior fatia do bolo ficava com ele, de maneira que enviava pouco menos da metade para as irmãs, junto com as anotações sempre inverídicas quanto ao resultado correto. A sede da Fazenda era um imponente casarão de dois andares e um porão no piso inferior. Na parte mais alta da casa ficavam os aposentos da família. No primeiro piso, a sala de entrada comportava dois sofás almofadados de veludo azul marinho, e era onde se recepcionavam as visitas. No recinto ao lado, uma grande mesa de madeira maciça com doze cadeiras do mesmo material compunha a sala de jantar. Uma ampla cozinha, onde quatro escravas trabalhavam fazendo os quitutes e as refeições, destacava-se por um grande fogão de lenhas que dava a elas a comodidade de fazer vários pratos ao mesmo tempo, além de assar bolos e tortas que sempre aguçavam o paladar daqueles que por ali passavam. Um lavabo e dois amplos quartos para receber os hóspedes ficavam ainda nesse piso.
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Abaixo, então, ficava um porão onde se armazenavam as compras e os objetos da casa, além de servir de humilde moradia para a cozinheira de confiança conhecida como Mãe Benta e seu filho José, apelidado Nô Zé. Uma escada de pedra levava ao piso de entrada da casa onde os convidados eram recebidos em uma pitoresca varanda, toda decorada com ladrilhos portugueses azuis e brancos, que combinavam com as cores das grandes janelas e da grandiosa porta de folhas duplas talhada em madeira com adereços simbolizando o brasão da tradicional Família Lourenço.
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Ao final da escada, havia canteiros muito bem cuidados e que enfeitavam todo o entorno do casarão. As flores semeadas ali, principalmente amor-perfeito e rosas, faziam as boas-vindas aos visitantes. Coqueiros reais desenhavam um semicírculo que culminavam com o caminho ladeado de grandes ipês coloridos que levava à porteira principal, feita de ferro e que ostentava também o brasão familiar. À época, o Brasil Imperial era então governado pelo Imperador Dom Pedro II, que reinava com sabedoria e visão futurista e tinha nas mãos um país promisor. A região que norteavam a sede do Império, Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, tinha crescente progresso e enriquecimento com a agricultura e a pecuária, o que refletia tambem no poder dos latifundiários. Como todo possuidor de grande prestígio e riqueza, o Coronel Justino detinha tambem o poder de ao seu mando cerrar as portas da chamada Casa Recreativa Paris, um bordel luxuoso que ostentava uma decoração de cortinas de seda importada e objetos de cristais sobre os móveis talhados a mão, assim como o corremão da grandiosa escada de madeira, que posicionava-se no centro do salão principal e que levava ao piso superior. Literalmente mantida pelos senhores coronéis em grande disputa de orgulho, a Casa Paris era onde o Coronel Justino, quando vinha a cidade, selecionava amigos para permanecer no local e explusava os indesejáveis. Foi justamente numa dessas ocasiões em que o Coronel Justino deleitava-se do atendimento exclusivo que ele deparou-se com a jovem Betilha. A cafetina já houvera lhe 13
informado da presença de uma nova contratada e que, certamente, ele teria uma agradável surpresa. E realmente, ao sinal da cafetina, o pianista dedilhou uma acorde de expectativa e então aquelas mulheres de vestidos longos, coloridos, com grandes espartilhos e flores no cabelo, se afastaram, algumas para a direita e outras para a esquerda, surgindo assim, ao alcance do olhar do coronel, Betilha, uma jovem de estatura mediana, cabelos com longos cachos dourados e trajando um vestido azul turquesa, que aguçavam seus lindos olhos cor de mel. A pequenos passos, a linda mulher foi se direcionando ao seu encontro. Confortavelmente sentado em uma grande poltrona de veludo, o Coronel levantou-se e com o olhar encantado logo comentou que a jovem parecia uma rainha que desceu do céu de tão bela. Beijou-lhe as mãos e cheio de pompa decretou que a partir daquele momento ninguém chegasse perto, pois ela lhe seria exclusiva.
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