A República na Praça

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A república na praça: manifestações do Jacobinismo popular em

Minas Gerais (1893-1899)



Antonio Carlos Figueiredo Costa

A república na praça: manifestações do Jacobinismo popular em

Minas Gerais (1893-1899)

São Paulo 2010


Copyright © 2010 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Aline Benitez Ilustração de capa Alinne Alexandra Revisão Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

C87r

Costa, Antonio Carlos Figueiredo A república na praça : manifestações do jacobinismo popular em Minas Gerais (1893-1899) / Antonio Carlos Figueiredo Costa. - São Paulo : Baraúna, 2010. ISBN 978-85-7923-187-2 1. Minas Gerais - História. 2. Brasil - História - Jacobinismo, 18931897. 3. Brasil - Política e governo - 1889-1930. I. Título. 10-4543.

CDD: 981.51 CDU: 94(815.1)

09.09.10 23.09.10

021596

________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua João Cachoeira, 632, cj.11 CEP 04535-002 Itaim Bibi São Paulo SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br


Agradecimentos

Este livro é uma versão revisada de minha dissertação de mestrado, defendida em julho de 2006, junto ao Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pesquisa produzida parcialmente, graças a uma Bolsa de estudos concedida pelo CNPq. Trata-se de um estudo sobre a vertente popular do jacobinismo que o Brasil conheceu no início da sua História Republicana. Cidadãos dispostos à direta intervenção nos assuntos da República, os neojacobinos brasileiros, os quais consideravam-se herdeiros ou filhos tardios da Revolução Francesa, foram por mim analisados sob a estratégia metodológica da História dos Conceitos. Como seria de se esperar, este trabalho carrega dívidas de gratidão com diversas pessoas, muitas das quais são profissionais ligados à UFMG, instituição na qual encontrei ,desde os cursos de licenciatura e bacharelado, mas também na função de professor substituto, grande apoio e sólidas amizades. Dessa forma, torna-se fator de justiça, agradecer aos queridos professores Carla Anastásia, Betânia Figueiredo, Júnia Furtado, José Carlos Reis, Francisco Vinhosa e José Dabdab. Suas seguras orienta-


ções e a simpatia com a qual as transmitiram, certamente tornaram as lides acadêmicas muito mais agradáveis. Agradeço ainda às professoras Maria Efigênia e Heloísa Starling, a primeira por ter gentilmente aceitado participar da banca de qualificação, abandonando seu merecido descanso, meu reconhecimento pelas interessantes sugestões. A professora Heloísa Starling, sempre enxergando à frente, fez diversas sugestões de caminhos a serem explorados para o desenvolvimento da minha pesquisa, os quais dentro do possível, procurei seguir. Espero não ter desperdiçado suas orientações, por embaçamento do seu brilho original. Ao meu estimado orientador, o professor Rodrigo Pato, meu eterno agradecimento, por ter me proporcionado uma fina combinação entre a objetiva e lúcida orientação acadêmica, e o exercício possível da autonomia intelectual. Não poderia ainda esquecer da Biblioteca da FAFICH, chefiada pela querida professora Vilma Carvalho, secundada entre outros pelos prestimosos Márcio Cossenzo, Sindier Antonia e Telma Oliveira. Na Secretaria de Pós-graduação, encaminho meus agradecimentos para a competente Magda Terezinha. Aos colegas do mestrado, especialmente, à Cristiane, Rosângela, Natali, Cláudia, Locke, sempre dispostos a ouvir minhas lucubrações, intercaladas pelas xícaras de café, um especial agradecimento pela companhia e a generosidade das sugestões e da escuta. Ao Clayton, meu irmãozinho de tantos anos na agradável aventura do conhecimento, meus sinceros


agradecimentos, pela estima, pelos inúmeros projetos compartilhados e pela companhia constante. Finalmente agradeço aqueles que mais sentiram a minha ausência forçada de tantas atividades comuns ao lar de pessoas comuns. Minha querida Nilza conseguiu equilibrar as responsabilidades de esposa com a doçura que se costuma encontrar somente nas melhores namoradas. Minha amada filhinha Beatriz, que começou a tomar consciência do Mundo vendo seu pai à volta com intermináveis leituras e extensas anotações, e ao pequeno Guilherme, que à época deste trabalho ainda ensaiava seus primeiros passos e quase nenhuma palavra, mas que espero algum dia, tenha consciência do quanto me ajudou.



Sumário

Apresentação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Introdução. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 1 - Os alicerces de um problema. . . . . . . . . . . . . . . . . 49 2 - O contínuo refazer de um tema. . . . . . . . . . . . . . 107 3 - As muralhas da República. . . . . . . . . . . . . . . . . . 171 Conclusão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 241 Referências documentais e bibliográficas. . . . . . . . . . 249 Bibliografia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 253 Anexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 265



Apresentação

O livro que tenho a satisfação de apresentar ao leitor foi redigido originalmente como Dissertação de Mestrado, que Antonio Carlos Figueiredo apresentou ao Programa de Pós-Graduação em História da UFMG, em 2006. Aprovado com elogios da banca, o texto agora é editado como livro, na expectativa de atrair o interesse de público maior, como contribuição ao conhecimento de momento chave em nossa história política, a implantação da República. Período tumultuado da história brasileira, o começo da fase republicana em geral é enfocado pelo prisma das elites, consideradas as únicas protagonistas de eventos a que o povo teria assistido bestializado, segundo expressão cunhada à época por Aristides Lobo. Se é verdade que a participação popular foi modesta e exagerá-la nos levaria a compreensão distorcida, por outro lado não procede o argumento de que personagens estranhos à elite estiveram ausentes daqueles embates políticos. E é o que nos mostra o autor deste livro, que se dedicou a investigar o republicanismo radical em Minas Gerais na primeira década republicana, enfocando as representações criadas e divulgadas por tais grupos, assim

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como também algumas das ações por eles protagonizadas. Antonio Carlos nos mostra o imaginário político peculiar desses defensores da República, cujo republicanismo primava por um acento radical e intransigente. Na visão dos jacobinos, o governo da República deveria primar pela virtude e por patriotismo intenso, e por isso não hesitaram em denunciar com tons ásperos aqueles considerados inimigos e traidores de seu projeto. No quadro de insegurança e instabilidade dos primeiros anos após 1889, em que os republicanos enfrentaram ameaças reais e imaginadas (neste caso Canudos, por exemplo) ao novo regime, os jacobinos brasileiros empenharam-se com ardor na defesa da sua causa, às vezes de armas na mão. No texto vemos sua atuação na formação de Batalhões patrióticos mineiros que, como em outros estados da federação, foram mobilizados no quadro das “ameaças” à República. Em destaque, o Batalhão Silva Jardim, organizado pelos jacobinos ouropretanos para lutar na Baía da Guanabara contra a Revolta da Armada. Mas o autor analisa também outras manifestações dos jacobinos mineiros, mais pacíficas, como a atuação em “Clubs” e a organização de festividades cívicas para comemorar e divulgar a cultura republicana. Outro ponto forte do trabalho é o rigor no uso de conceitos e instrumental teórico. Antonio Carlos Figueiredo combinou, de maneira criativa, a metodologia da História dos conceitos (de Reinhart Koselleck) e a perspectiva da cultura política, construindo modelo de análise adequado ao estudo dos valores e crenças forma-

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doras do universo mental dos jacobinos mineiros. Ele se baseou em competente pesquisa da literatura especializada sobre o tema, o que permite perceber o jacobinismo brasileiro em suas afinidades com movimentos congêneres europeus, embora ressalvadas as especificidades das cores nacionais. Merece destaque também a pesquisa cuidadosa de fontes primárias, principalmente em jornais publicados pelos militantes do movimento, com os quais percebe e nos mostra as atividades republicanas e jacobinas na Ouro Preto da última década do século XIX. Agregue-se a isso que o texto é escrito com apuro e elegância, e temos a receita completa de um bom trabalho de historiador. Prof. Dr. Rodrigo Patto Sá Motta Departamento de História/UFMG

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Introdução

A primeira década de experiência republicana no Brasil torna-se quase ininteligível caso tentemos suprimir as ações e o pensamento de certo grupo de cidadãos que encontravam-se firmemente interessados na coisa pública, na res publica. Considerando-se republicanos ‘puros’, eles instituíram associações radicais, publicaram ‘jornais de combate’, cultuaram ‘mártires republicanos’, reforçaram mitos políticos ‘auntenticando-os’ com seus ritos, e produziram uma versão da História do Brasil sob o viés do republicanismo radical. Praticamente esquecidos pelos manuais de História, os partidários da República jacobina conheceram seu resgate de forma um tanto tardia apenas ao final dos anos 1960, mediante o esforço daqueles que de forma pioneira resolveram debruçar-se seriamente sobre a temática do jacobinismo, dura tarefa certamente, diante de uma historiografia que mantivera, por décadas, posturas que guardavam silenciamento sobre o tema, quando não teciam comentários pejorativos. Contudo, parte das lacunas ainda existentes na temática do jacobinismo talvez possam ser compreendidas pela tendência em ver o Rio de Janeiro, então sede da

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