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As Grandes vozes lĂ­ricas brasileiras no passado e no presente

Klaus Paulus

As Grandes vozes lĂ­ricas brasileiras no passado e no presente

SĂŁo Paulo 2013

Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Monica Rodriguês Revisão Pérola Benitez

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

C1P356g

Paulus, Klaus As grandes vozes líricas do brasileiras no passado e no presente/ Klaus Paulus. - 1. ed. - São Paulos: Baraúna, 2013.

ISBN 978-85-7923-731-7 1. Música. 2. Ópera. 2. Cantores - Brasil - Biografia. I. Título.

13-04517

CDD: 927.84 CDU: 929:7.036

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23/08/2013 28/08/2013 _____________________________________________________________

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Sumário Apresentação................................................................ 7 Eliana Coelho............................................................. 11 Paulo Szot.................................................................. 15 Constantina Araújo.................................................... 17 Bidu Sayão................................................................. 19 Agnes Ayres................................................................ 23 Rosana Lamosa........................................................... 27 Fernando Portari........................................................ 29 Kismara Pessatti.......................................................... 31 Gaetano Ricciolini...................................................... 33 Armando de Assis Pacheco......................................... 35 Glória Queiróz........................................................... 37 Luiz Ottavio Faria ..................................................... 39 Fernando Teixeira, Pavarotti e Bastianini.................... 41 Niza de Castro Tank................................................... 45

Licio Bruno................................................................ 47 Eiko Senda................................................................. 49 Ricardo Tuttmann...................................................... 51 Benito Maresca........................................................... 53 Celine Imbert............................................................. 55 Maria Sá Earp e Violeta Coelho Netto de Freitas........ 57 Ruth Staerke............................................................... 59 Janette Dornella......................................................... 61 Richard Wolfgang Bauer............................................. 63 As temporadas líricas nas casas de ópera nacionais...... 65 As casas de ópera da América do Sul........................... 79 O Teatro Municipal de São Paulo............................... 83 O Teatro Municipal do Rio de Janeiro........................ 85 O Teatro Amazonas.................................................... 87 O Teatro Municipal de Santiago de Chile................... 91 A vida musical hoje em São Paulo.............................. 93

Apresentação O Brasil é um país altamente musical. Entretanto, essa musicalidade é parcial. Limita-se à música popular. Nela estão incluídos os ritmos do samba e da bossa nova, este último, contudo, após um ápice fulminante, caminha devagar rumo ao esquecimento. Nesse meio tempo, o samba se impôs como música nacional. Devido à sua sequência complicada de passos, é difícil dançá-lo. Exige uma grande habilidade acrobática, da mesma forma que o tango argentino.

Devido ao tráfico de escravos, milhões de negros vieram para o país. Para eles, basta uma caixa de fósforos para batucar. E tudo começa. Os músicos são cercados por outras pessoas, a música é praticada com instrumentos bem primitivos, até com panelas se for necessário, as pessoas cantam e dançam. Esse cenário se repete no país inteiro, é expressão da imensa alegria de viver e da leveza que os africanos trouxeram consigo.

Ao contrário da música popular, a música clássica tem uma presença pouco significativa. Existem algumas orquestras que executam música clássica, mas, com poucas exceções, são formadas por amadores. Apenas o Rio de Janeiro, São Paulo, Manaus e alguns estados do sul As grandes vozes líricas do Brasil no passado e no presente  7

têm orquestras profissionais. Elas estão em condições de, inclusive, tocar Mahler, Richard Strauss ou Wagner. Músicos profissionais russos foram contratados para atuar no país e se integraram completamente. Eles são bem pagos e ficaram no país. Assim, o nível da música clássica praticada aqui subiu, contudo, de nenhum modo, pode ser considerado como de primeira categoria mundial.

Também, ninguém pode ter tal expectativa, pois a maioria da população gosta do rock e da música pop.

Os astros internacionais desse tipo de música (como, por exemplo, Madonna) visitam o país todo ano ou muitas bandas de rock vêm aqui com frequência e enchem estádios de futebol ou imensas áreas livres para apresentar suas habilidades a um público de milhões. Os músicos vêm, porque são muito bem remunerados, mas também, certamente, devido ao entusiasmo com que são recebidos. Os brasileiros amam seus astros e os astros amam os brasileiros entusiasmados, tendo à frente os muito jovens.

Num país com as dimensões do Brasil, naturalmente existem talentos musicais excepcionais. Uma série de pianistas muito bem preparados conquistaram o mundo, entre eles Nelson Freire, Arnaldo Cohen, Arthur Moreira Lima e Guiomar Novaes. Antonio Menezes atualmente é considerado o melhor violoncelista, após a morte de Mstislaw Rotropowitsch e vive hoje na Suíça. Contudo, com sua arte, eles apenas despertam o interesse de uma minoria da população. Um Antonio Meneses nunca enche um estádio de futebol. No máximo, são vendidos uns mil ingressos. Esse é o motivo pelo qual tantos artistas, considerados mundialmente como estando entre os melhores,

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moram no exterior ou, dito de outra forma, “têm de morar no exterior”. O país do samba quase não lhes oferece possibilidades de, a partir daqui, construir um alicerce.

No passado, Paris ou Milão era o destino preferido de jovens artistas ambiciosos; hoje são os países de língua alemã. Centenas de talentos brasileiros estudam nas suas escolas superiores de música, mas somente poucos conseguem ficar famosos. No quesito “canto”, é difícil que eles superem os mexicanos, peruanos e argentinos, donos de um talento natural para o canto. Os novos talentos desses três países dominam os programas em muitos teatros de ópera, principalmente como tenores.

Também dançarinas abriram caminho, entre elas a famosa primeira bailarina Ana Botafogo, sucessora de Márcia Haydée, que dançou durante 20 anos com Richard Cragun em Stuttgart. Durante muitos anos, Marcia Haydée foi tida como a melhor bailarina do mundo.

Mas estamos interessados em vozes operísticas do passado e do presente. Iniciemos com o presente, com a grande soprano da Staatsoper de Viena, a brasileira Eliana Coelho e com o astro ascendente do Metropolitan Opera, o barítono Paulo Szot.

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Eliana Coelho Eliana Coelho nasceu em 1951 no Rio de Janeiro.

Inicialmente, estudou Arquitetura. Depois, decidiu matricular-se na Musikhochschule Hannover para educar a voz. Hoje, como nos disse um amante da ópera vienense, todos os vienenses conhecem “Madame Coelho”, como ela é chamada cheia de reverência, a prima-dona da Staatsoper de Viena.

Eliana Coelho cantou em diversas casas durante seis anos até chegar ao topo. Ela começou no Stadttheater Bremen nos papéis de Liu, Konstanze, Violeta, A Viúva Alegre e Lulu, da ópera Lulu de Berg, que se tornou seu papel mais conhecido. Ela se transferiu com um contrato como soprano na Ópera de Frankfurt, mais ou menos na mesma época que a sua colega de canto Renée Fleming dos Estados Unidos, atualmente a cantora mais bem paga do mundo.

Eliana Coelho cantou a Tosca em Heidelberg, Os Contos de Hoffmann em Bregenz e, em seguida, foi contratada pela Staatsoper de Viena. Sua voz é escura, cheia, de uma altura fascinantemente metálica e de uma capacidade de representação fascinante de seus papéis.

Já depois de poucas apresentações, a bonita brasileira As grandes vozes líricas do Brasil no passado e no presente  11

era a favorita dos vienenses. A sua Salomé de Richard Strauss tornou-se um sucesso imenso. Ela cantou esse papel 140 vezes num intervalo de 12 anos em Viena, no Scala de Milão, em Munique, na Staatsoper de Berlim, em Paris e em outras cidades.

Em Viena, onde havia se estabelecido, cantou praticamente todas as óperas de Verdi, Puccini e, principalmente, as óperas de Strauss. Numa ocasião, pesquisando os programas, contamos três atuações em diferentes papéis principais durante uma semana. Era possível escutá-la em Nabucco, Aída, Madame Butterfly, Turandot e La Traviata. Ela era uma requisitada cantora dramática jovem; e é continuamente convidada para cantar em Tóquio, em Moscou, em Londres e no Brasil.

Nós a escutamos em uma sala triste em São Paulo, apresentando um ciclo de canções, um tipo estranho de música para ouvidos brasileiros. Ela cantou em alemão, que, aliás, ninguém entendia. Depois da pausa, a metade da sala havia ido embora decepcionada. Eliana Coelho percebeu que com lieder ela não conseguia atingir o público. De repente, a voz tímida, a meia voz própria do lied transformou-se na poderosa, intensa soprano operística, que nunca se conseguiria acreditar que pudesse ser emitida por uma figura tão frágil. Todos estremeceram.

Ela cantou árias e os poucos expectadores ficaram encantados. Mesmo assim, a noite havia sido um fracasso, pois a acústica da sala era ruim e o acompanhamento de piano, deplorável. A cantora fazia pena, não era a Eliana Coelho que faz o mimado público vienense vibrar, e isso já há mais de 20 anos.

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Hoje, a grande fotografia de Eliana Coelho está exposta no museu da Ópera Estatal de Viena, logo na entrada junto ao quadro marcante de Hermann Prey, o falecido barítono lírico alemão. Eliana Coelho luta contra um câncer e tem de se poupar. Mora em Klosterneuburg, nas cercanias de Viena.

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Paulo Szot Paulo Szot é um renomado barítono, que ganhou o Tony Award nos Estados Unidos em 2008, pela sua atuação no musical South Pacific. Ele nasceu em São Paulo em 1969 e estudou canto lírico na Polônia, terra natal de seus pais.

Em 1997, nós o escutamos pela primeira vez no Teatro Municipal de São Paulo no Barbeiro de Sevilha. A voz ainda não estava madura, soava frágil e insegura. Ele trabalhou muito, seu caminho o levou à New York City Opera, à Canadian Opera e às diversas casas de ópera europeias até chegar ao Met em Nova York. Atualmente, Paulo Szot domina um amplo repertório e tem de dividir a preferência do público americano com seu grande concorrente Erwin Schrott do Uruguai, marido da soprano russa Ana Netrebko.

Ambos são bem apessoados, são jovens e têm uma voz de barítono com timbre semelhante. Eles cantam com cautela o repertório operístico, sem desgastar precocemente suas cordas vocais. Neste ano, Paulo Szot já cantou a Carmen e a Manon no Met e, agora, está se firmando na França. Se o cantor brasileiro e Erwin Schrott do Uruguai vão alcançar o primeiro patamar mundial, ainda não é possível avaliar. Há muitos e bons barítonos, é necessário ter sorte e persistência.

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