Avaliação do Corpo para Tratamento Emocional

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Avaliação do Corpo para Tratamento Emocional



José Luis Pimentel do Rosário

Avaliação do Corpo para Tratamento Emocional

São Paulo 2012


Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Projeto Gráfico Tatyana Araujo Revisão Jacqueline Lima

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ R713a Rosário, José Luís Pimentel do Avaliação do corpo para tratamento emocional/ José Luís Pimentel do Rosário. - São Paulo: Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-522-1 1. Fisioterapia. 2. Exercícios terapêuticos. 3. Exercícios físicos - Aspectos psicológicos. I. Título. 11-8544.

CDD: 615.82 CDU: 615.8

21.12.11 27.12.11 032227 ________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA

Rua da Glória, 246 – 3º andar CEP 01510-000 – Liberdade – São Paulo - SP www.editorabarauna.com.br


Sumário

O que meu cachorro sabe sobre emoções? . . . . . . . . 7 Por que comecei a estudar sobre o efeito emocional das posturas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O que fala a literatura?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Mas o que é Emoção?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 17 Emoções, Instintos, Hábitos e Postura. . . . . . . . . . . . 21 Emoção e Postura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 Postura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33 Emoções hoje em dia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 O que podemos falar, cientificamente, sobre a avaliação corporal das emoções?. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 39 Avaliação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49 Tratamento . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57 Referência Bibliográfica. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89



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O que meu cachorro sabe sobre emoções?

Cães são fantásticos, pelo menos, eu acho. E o leitor pode estar se perguntando: “Qual a relação que um cachorro pode ter com a postura ou as emoções humanas e principalmente seu tratamento?”. Já chegaremos lá. Um belo dia, tive vontade de ter um cachorro. E me deram uma labradora. Labradores são muito interessantes, ansiosos por natureza. No geral, as principais ansiedades são duas: comida e atenção do dono. Se eu precisava viajar, deixava comida para mais de um dia, pois não havia ninguém com quem pudesse deixar minha linda labradora comilona, a Cacau. Mas não adiantava nada, porque comia toda a comida no mesmo instante em que eu a servia. Mais tarde, comprei uma fêmea da raça São Bernardo, Fiona, também linda, para 7


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não deixar Cacau sozinha numa época de muitas viagens. Pois bem, Cacau (que tinha 25kg) conseguia comer no mesmo instante a comida de três dias dela e da Fiona (que tinha 80kg)! Mas esta é outra história... Antes de chegar a Fiona, éramos só eu e Cacau. Quando lhe servia sua comida, ela comia super rápido. Parava um pouco corria na minha direção, não me deixava ir embora, voltava para a comida, engasgava de tão rápido que comia. Corria de novo pra não me deixar ir embora, porque eu estava caminhando para a porta, pulava na minha frente, batia a cabeça na minha mão, corria de novo para a comida... Tudo isso em segundos! Muitas vezes, ela podia ficar dentro de casa e era muito divertida, realmente muito querida, educada e doce. Mas ansiosa. Quando eu precisava sair para trabalhar, que não era em horários fixos, portanto ela nunca sabia qual o horário que eu sairia, ela pressentia e não me deixava ir de maneira alguma. Por isso tive que desenvolver uma tática de fuga: a clássica brincadeira da bolinha. Havia uma bolinha de tênis que ela adorava. Era jogar a bola que ele disparava, como um raio, e pegava a bola ainda no ar. Quando eu precisava sair, jogava a bola o mais longe que eu podia e fechava a porta. Mas ela era muito rápida. Antes que eu terminasse de fechar a porta ela já estava voltando, balançando o rabo numa megafelicidade. Quando ela percebia que havia caído na minha armadilha, pois eu estava fechando a porta, o cenário mudava completamente. O rabo que balançava, como um metrônomo, em prestíssimo de felicidade ia diminuindo de frequência, passava para um adágio de decepção e rapidamente para 8


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um grave de tristeza, até que parava completamente e ia baixando. De cortar o coração. Isso quando ela ainda não deixava, num sinal de desapontamento profundo acompanhado de uma depressão passageira, cair a bolinha da boca! Todos esses sinais, que me faziam morrer de remorso por ir trabalhar, Cacau me passava sem um único som nem com expressões faciais, mas tão somente com a linguagem corporal. Depois que Fiona chegou, Cacau já não se sentia da mesma forma. Fiona, que era extremamente e calma e nada ansiosa, era também muito observadora e sabia exatamente quando eu estava feliz, triste ou preocupado e agia de acordo. Provavelmente sentia algo diferente em meu cheiro e na minha postura. Anos mais tarde, acompanhando um trabalho científico sobre equoterapia que acontecia na chácara de uma aluna, encontrei lá um São Bernardo. Automaticamente lembrei da Fiona e fui brincar com ele. E enquanto brincávamos minha aluna disse: “Que interessante! Ele normalmente é muito bravo e não deixa ninguém chegar perto!”. Naquele instante pensei, em um milésimo de segundo, sobre a minha inconsequência de ir brincar desse modo com um cachorro de 100kg, com a boca do tamanho da minha cabeça, que eu não conhecia. Neste mesmo momento, durante este pensamento, o cachorro, que até então se mostrava completamente amigável, avançou e tentou me morder. Uma esquiva e o caseiro chegando foram o suficiente para que ele parasse e perdesse o novo amigo. Mas de alguma forma o cão “leu” meus pensamentos muito bem, sem me conhecer. 9


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Acredito que esta, a linguagem corporal, foi nossa primeira linguagem. E altamente necessária para a sobrevivência da espécie, e continuamos usando isso até hoje. Alguns estudos dizem que o conteúdo gramatical da nossas frases é uma pequena porcentagem daquilo que falamos, e que o conteúdo emocional seria predominante. Talvez os cães, por não usarem a fala, conheçam esta outra comunicação muito melhor que os humanos.

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Por que comecei a estudar sobre o efeito emocional das posturas

Anos atrás, decidi que seria fisioterapeuta. Uma das minhas primeiras pacientes, ainda na faculdade, era uma menina de treze anos, bem alta e magra, que era portadora de uma escoliose de mais de 50º. Tinha indicação para cirurgia e seu médico dissera que nós teríamos apenas três meses. Se a escoliose não diminuísse nada, a cirurgia seria realizada. Ela, que não gostava da ideia do risco de passar por uma cirurgia, aderiu fortemente ao tratamento. Eu, penalizado pela condição da garota, que tão nova precisaria passar por um procedimento extremamente agressivo, criei uma rotina de treinamento bem pesada para uma menina de treze anos, todos os dias, com a técnica clássica de alongar o lado côncavo e fortalecer o lado convexo. 11


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Após três meses, ela realizou um novo exame. E o diagnóstico foi o seguinte: diminuição da escoliose. — Vitória! — Exclamou meu professor, supervisor do estágio: — Viu só? Não é necessário um tratamento em cadeias para resolver uma escoliose! A garota continuou com o mesmo protocolo com o próximo estagiário e não foi para a cirurgia. E eu, depois daquele dia, saí do estágio pensando se não seria ainda melhor um tratamento em cadeias para esta paciente. Assim que me formei fui procurar um curso deste tipo para entender esta forma de tratamento e verificar se era melhor ou não. Aliás, esta dúvida acabou se tornando minha tese de mestrado. Dentre os pacientes atendidos pela metodologia das cadeias musculares, alguns deles passaram por um processo emocional durante a terapia. A primeira paciente foi uma senhora, que num determinado momento começou a chorar. Depois de passar a rápida crise de choro perguntei a ela o que havia acontecido. Ela disse que havia lembrado da mãe, que morrera muito tempo atrás. Perguntei se eu havia dito algo de errado, que teria trazido essa lembrança. Ela disse que não. O interessante é que este sistema de tratamento requer um alto grau de concentração do paciente, fazendo com que, normalmente, os pacientes não consigam pensar em nada além do exercício. O fato ficou na minha cabeça, e, posteriormente, encontrei outros pacientes que tiveram as mais diversas lembranças e reações emocionais. A maioria foi o choro.

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Tanto isso me intrigou, que foi minha tese de doutorado. Assim, divido com todos neste livro o que encontrei no meio deste caminho. Espero que esta minha jornada possa ser útil na ajuda a outros seres humanos (e cachorros também, por que não?) que sofram de problemas emocionais e/ou posturais. Deste modo, o livro fica mais científico e menos romanceado daqui para frente.

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O que fala a literatura?

Muitos são os movimentos relacionados com as emoções. Envolvem, às vezes, algumas partes do corpo, outras, grande parte dele. Dentre estes últimos, há os que se caracterizam por uma alteração contínua de sua forma e os que se estabilizam num padrão de contrações musculares com maior duração: as posturas. Empiricamente, a postura e as emoções possuem uma forte ligação. Mas estas duas características humanas permanecem com muitos pontos obscuros e sem comprovação científica de sua relação. As emoções afetam a musculatura de muitas formas. Como exemplo, podemos citar o efeito da ansiedade sobre: o coração e o ritmo cardíaco; o diafragma e o ritmo respiratório; os músculos esqueléticos em geral. O inverso também é válido, ou seja, o relaxamento muscular pode aliviar a ansiedade, e 15


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