Contosesporadicos 15p

Contos esporådicos sobre fobia & intolerância

Contos esporádicos sobre fobia & intolerância Gelson Ventura

São Paulo 2014

Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa A.F. Capas Revisão Patrícia de Almeida Murari Diagramação Isaac Tiago CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ V578c Ventura, Gelson Contos esporádicos sobre fobia & intolerância/Gelson Ventura.- 1. ed. São Paulo: Baraúna, 2013.

ISBN 978-85-7923-677-8 1. Conto brasileiro. I. Título.

13-06654 CDD: 869.93

CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 29/10/2013 31/10/2013 Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 — Liberdade — São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br

Sumário INTRODUÇÃO _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 7 HOMOFOBIA — ESPAÇO PARA O SADISMO _

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O vereador _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 14 O perfil social_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 16 O homem cristão_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 24 A família_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 25 O aproveitador_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 34 Lei de Murphy na endemia fóbica _ _ _ _ _ _ 36 O calvário de Lúcia _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 38 A dama de ferro _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 56 Razões para odiar _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 64 A grande equipe _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 68 O grande rival_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 70 Ajuda de peso_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 74 A cura da cainofobia política_ _ _ _ _ _ _ _ 81 O desabafo_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 85 INTOLERÂNCIA RACIAL_ _ _ _ _ _ _ _ _ 93 XENOFOBIA DOMÉSTICA — A AGONIA DO NORDESTINO _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

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O cidadão de bem _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 97 Decepcionando-se com o pré-conceito _ _ _ 104 O lado humano _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 112 HOBOFOBIA — MALDADE NAS RUAS_ _ _ _ 114 XENOFOBIA DOMÉSTICA — UM SENTIMENTO DE JUSTIÇA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 127 Impulso jovem_ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 130 CIPRIDOFOBIA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 132 A volta indesejada _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ Um convite para recordar_ _ _ _ _ _ _ _ O impacto _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ A grande decepção _ _ _ _ _ _ _ _ _ _

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EPISTEMOFOBIA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 167 O DEBATE DA INTOLERÂNCIA _ _ _ _ _ _ 174 LESBOFOBIA - O CASO VANESSA_ _ _ _ _ 205 TANTOFOBIA — A FORMA DO MEDO_ _ _ _ 217 Da hipocrisia à covardia doentia _ _ _ _ _

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AUTOFOBIA _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ _ 230

INTRODUÇÃO A capital do Rio de Janeiro é uma controvérsia no mundo inteiro, pois no mesmo instante que ela é maravilhosa e com vistosas praias, e o litoral exuberante de dar inveja a qualquer praia concorrente ao redor do planeta, ela também exala aos turistas que a desejam certo temor, em parte pela alta da criminalidade registrada esporadicamente, mas contrariando a todas as imagens ruins veiculadas pelas TV’s mundiais geradas pela violência urbana, sobra ainda espaço para a grande verdade encontrada por trás de uma lírica frase que a define: as pessoas boas são aquelas cujas virtudes superam e muito os seus defeitos, assim é o nosso maravilhoso e belo Rio de Janeiro, porque para ser a cidade escolhida como “maravilhosa” certamente se deve aos seus defeitos que são brutalmente esmagados pela força bruta desta gente gentil auxiliados pela beleza estonteante da cidade maravilha, estão convictos, se a cidade fosse humana seria o padrão da beleza, pois de norte a sul, do leste ao oeste, o Rio humilha toda concorrência mundial.

A cidade é formada por uma grande corrente de pessoas que acordam para o bem dela, amarradas ao propósito do trabalho comum para que tudo funcione e não saia dos carris, a desordem, se sabe não é bemvinda no território do paraíso projetado na Terra, almejamos a har-

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monia a fim de preservar o encanto atribuído a ela e fazer jus ao apelido de “Cidade Maravilhosa”, terra de muita gente e de todos os gostos, aqui se vê bem o gosto de pessoas que dão a alma para que o nome desta maravilhosa cidade seja espalhada, difundida em todos os cantos da Terra, esta esfera azulada e bonita onde o melhor lugar é uma porção ao redor da baía de Guanabara, exala perfume de lírios do campo a nossa cidade jardim, coberta do verde vivo, no verão o sol queima e suas flores espontâneas desabrocham perfumando o ar com o néctar, cidade do verde e das águas azuis aliciantes e convidativas para o mergulho, maravilhosa, a única no mundo num mês lava a alma de seus moradores, exímios banhistas frequentadores da mais linda orla atlântica, num batismo por submersão nas águas da princesinha do mar são purificados, aqui tem pessoas, tem encantos e poesias, aqui vivem homens empenhados a batalhar arduamente para que o ar dessa maravilha se torne o sonho de consumo dos habitantes do outro lado do mundo. O cansaço some do rosto dessas almas que ao fazerem de tudo para que as pessoas que aqui chegam se sintam recepcionadas como se nunca tivessem saído de suas próprias casas, pois o Rio é a cidade de todos, não importa de onde vens tenha em mente que este palmo de terra será a extensão do conforto do teu lar, terás recepção calorosa, afinal, os braços do povo do sorriso encantador e da saudação estonteante estão abertos pra qualquer um que vem atrás de um povo amigo. Nossos braços acompanham o gesto do Cristo Redentor, o rei da vida que trocou o Gólgota pelo encanto do Monte Corcovado, em busca de um endereço fixo

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no Rio, a cidade cujo sobrenome é maravilha. Se o Rio é a casa Deus é o anfitrião dos braços abertos pra você ser acolhido em seu zelo.

Diante de tantas coisas lindas, existe ainda o lado das pessoas que também fariam de tudo para que a caminhada da cidade se dê como planejada na cabeça de uma minoria conservadora e evasiva. A liberdade é um bem não dado, pois todo ser humano nasce com ela, com a responsabilidade de cuidar e respeitar do maior ao menor sem importar cor, credo ou escolhas, tal posição do gelo não se adequa aos filhos do Sol.

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HOMOFOBIA — ESPAÇO PARA O SADISMO Na movimentada cidade do Rio de Janeiro, bairro da Tijuca, a população conhece bem o senhor Silas Bolsonaro, vulgo Silão, tratamento exclusivo pelos mais íntimos, o perfil é de um homem truculento, sedicioso e fechado na sua ideia, daqueles que só saem de sua cápsula doutrinal apenas para cuspir no rosto dos que se opõem ao seu pensamento, atitude que o torna o terror dos seus inimigos, astuto e exímio farejador de tabus de cunho íntimo sexual sendo que a promiscuidade o desagrada, oportunista, é o típico homem que não mede consequências para chegar ao topo dos seus objetivos, daqueles que escalam a montanha sem olhar para baixo, pois nenhuma vertigem o constrange ou o instiga a se arrepender de ter seguido o caminho mais íngreme em sua escalada, para Silas Bolsonaro os fins sempre hão de ser justificados pelos meios adotados.

Semelhante aos demais de sua espécie, o racional Silão deu espaço a intemperança e desenvolveu em seu coração fobias nocivas. Completamente sédulo a uma em especial, cujo afeto prestado ao medo mórbido se fez descomunal, dentro dele a solidão se alastra e se extenua confundida com ignorância, acariciada e alimentada com ração apropriada, tornou-se pai exemplar do medo, tão 10

orgulhoso deste seu bebê a ponto de não se dar conta de estar sustentando já um voraz monstro, insiste chamá-lo de seu neném. A mente de Silas tornou—se sectária a escravidão das minorias desvirtuadas e, na maior parte do tempo seu debilitado raciocínio descansa num patamar altamente fóbico e segregatício, em meio à endemia homofóbica o pouco de inteligência que lhe restava foi desnecessariamente usado na construção do novo homem que combate o medo com medo, sua única segurança na luta é o seu medo, criado e ensinado a reagir igual cachorro bravo, semelhante ao animal de estimação, pois é... sua fobia o acompanha nos dias de solidão, e porque ele o afaga delicadamente há retribuição de afeto no caráter deplorável entre homem e aquela fobia que fora pequena.

Entrepano. Os anos de obscuridade para uma pequena camada evidenciam estar chegando ao final, o pensamento libertino começa a sobressair, porém o novo causa espanto, e se o novo não atende ao agrado da maioria enfado vira desafeto, nisso consiste e se agrava um dos maiores problemas sociais, causando separação, encadeia o ódio, combustível inflamável da intolerância. O ódio é o único sofrimento pelo qual não se pode esperar nada de bom, até da dor tira-se proveito, mas do ódio colhe-se a estúpida intolerância, assim como não existe veneno do bem não há ódio que sirva para o bem, ao tomar um veneno espera-se a morte, o tomar do ódio espera-se dela ação impensada dos seus atos os quais certamente te arrependerás pelo resto da sua vida.

A alma arrependida a espera do perdão é alma a um pé da cova destruída pelo remorso.

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Bem diferente da maioria. Silas aprendeu a externar seus medos, empecivo à expansão homossexual, hasteou a bandeira e delimitou a cidade como seu território, em seguida declarou guerra contra toda a raça a que chamou de víboras, a visão contrária instigada pela sua mente excede a simples crítica verbal, seu descontrole avança, e muito, o limite da cordialidade e a há anos trava árdua e desigual batalha contra a minoria indecente, forma de tratamento que ele mesmo decidiu cunhar e fez o povo sectário repetir, a seu ver são os gays o mal real e de mais perigoso implantado no mundo contemporâneo, incessante assim o diz sua inigualável e maquiavélica ignorância, gasolina ideológica consumindo aos poucos a escassa energia inerente à matéria encefálica. O surgir em massa da homossexualidade tem causado tamanho desconforto a Silas, a proliferação disso chamado por ele desordem social atormenta muito sua pouca paciência, perante aos olhos da moral, a sociedade depravada, tenta desenhar nova história, novo conto sem fada fugindo do estilo padrão, embora continue tendo centenas de finais felizes o suficiente para assustar desmedidamente aqueles achados a mercê do medo interiorizado contra os que acharam paz em sua ação, hipnotizados pela própria vontade não aceitam e seguem navegando contra a maré entregues aos cuidados da ira sobre a influência do ódio que lhe aflora a intolerância, o faz ranger os dentes contra as almas posicionada na outra extremidade da corda.

O zelador de antigas tradições sonha erradicar a praga dos arredores de sua cidade, também ameaça afastá-la de todo o estado e para isso pretende contar com a sorte

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ou quem sabe o destino seja bom e favorável a ponto de lhe favorecer de meios úteis para expulsar do país o movimento que o causa tanto mal. Num Rio de Janeiro extremamente hipócrita em dado momento onde a intolerância achou campo fértil no consciente dos incomodados, o vereador Silas Bolsonaro agiu e encontrou benesses interpretando o papel de zelador da moral.

Se nas entrelinhas da Bíblia, o livro tido por ele supremo sagrado, em seus pequenos e muitos versos lê-se acerca do seu Deus sendo aquele que possui santidade plena e, portanto não pode olhar para o pecado dos pecadores; seguindo tal vertente, logo Silas contrariava desmedidamente o supremo dogma, na contramão da calmaria do seu Deus se incluía indesejavelmente na natureza dEle ao se passar pelo o impetuoso zelador da justiça, um supremo legislador regional, Silas se recusou a desviar o olhar das ações interpretadas como más repetidas por outros, recusa-se a desviar o olhar conforme tem feito o seu Deus com o pecado, o Único tido como puro, santo e o sábio dos sábios, cuja justiça anunciada há séculos pausou a Seu próprio tempo, enquanto isso o seu fiel seguidor segue reproduzindo insensatez naquilo o qual chama de ato de “justiça” quando na verdade são seus atos a personificação de uma falsa ideologia pretensa a alimentar seu egocentrismo.

Dia após dia o vereador recusa-se a olhar para o outro lado, tal atitude se praticada evitaria dele olhar as ações alheias que o desagradam, contudo descuidado não se dá conta de estar ultrapassando velhos princípios do Mestre, na via desobediência já o torna no falso seguidor,

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afinal, o seguidor é o fiel imitador das ações emitidas por seu mestre, e por se negar a proceder de tal maneira contraria a tradição religiosa e se torna num imoral dentro da moral. Homens seguem a Deus e não Deus a homens, somente o Criador, quando cansar de olhar as ações que o aborrecem poderá se pronunciar, assim diz a crença: no tempo estipulado Ele há de fazer pura justiça, e pelos seus preceitos há de julgar o homem porquanto este esteve apossado do pecado e, o que é o pecado? Senão a transgressão da lei divina. Mas, claro! A Sua lei é contra a mentira, contra os adúlteros, alcoólatras, mesquinhos, hipócritas, é contra os farsantes, duvidosos e mascarados, contra os perversos, perseguidores e doutrinários, principalmente contra aqueles que subjugam o semelhante.

Contudo contra esses não há luta, porque nisso todos se enquadram, portanto a ninguém cabe a tentativa de vir a endireitar a escolha de um ser capacitado a criar suas escolhas, porque Deus se cansará do pecado e não do homem arrependido. Ao destruir escolhas alheias tidas como pecado, Silão assumia perante a sociedade carioca a posição do Deus intolerante, a seu jeito distorcia a imagem do Deus tolerante há milênios cultuado por cristãos decentes, assim com intolerância se mostrou sob a justificativa de estar servindo ao Senhor da tolerância.

O vereador Bolsonaro é vereador pela segunda vez seguida, nessa reeleição é novo recordista no número de votos, com

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jogadas de mestre goza da boa amizade com seu eleitorado, tendo a massa da qual conquistou respeito e dispõe de influência sobre boa parte dos vereadores, uma crítica pública de Silas contra um colega movia a insensibilidade de uma maioria hipócrita composta majoritariamente por pessoas dadas à fobia, os lígios do senhor Bolsonaro, tendo ouvidos poderiam ouvir, tendo olhos poderiam ver, mas preferiram ser fantoches, seguem-no por onde quer que ele vá, desde que continue falando fluentemente a língua do medo, a confiança nele provém da continuidade dele fazer o que fala e viver o que prega.

Reeleito várias vezes graças às suas marcantes campanhas públicas contra qualquer favorecimento ou espaço destinado a cobiça dos homossexuais, o medo é o único sentimento capaz de unir forças sem importar a filosofia doutrinal, inibe o discernimento e abafa a razão exaltando apenas o sonho de vitória, o povo está com medo, temem que gays ocupem a cargos de domínio público, temem que o pintar das canetas manuseadas pelo punho da minoria crie leis indevidas que viesse a favorecê-los, o povo honesto e prejudicado pela possibilidade sabe que eles querem casar, criar filhos e educar conforme o lar comum, querem divergir do estilo hétero e por conta disso Bolsonaro se colocou no lugar do protetor dos moralistas, o grupo que sem legitimação destituiu todo e qualquer direito pretenso por homossexuais, a classe afetada cuja ambição almeja alcançar mais do que lhes fora tirado, sendo eles parte da população reclamam de atitudes inóspitas, tais como a exclusão dos gentios humilhados e tratados como os incircuncisos do Reino, sob o pretexto de

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