ELIANE MARÇAL
DEPENDÊNCIA QUÍMICA
São Paulo 2017
Copyright © 2017 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa
Giacomo Gaeti II
Diagramação
Editora Baraúna
Revisão
Adriane Gozzo
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ M262d Marçal, Eliane Dependência química / Eliane Marçal. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2017. ISBN 978-85-437-0812-6 1. Técnicas de autoajuda. 2. Comportamento - Modificação. I. Título. 17-44074 CDD: 158.1 CDU: 159.947 ________________________________________________________________ 14/08/2017
15/08/2017
Impresso no Brasil Printed in Brazil
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AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus, por me fazer de instrumento nesta caminhada tão árdua, mas que me dá forças para persistir na atuação deste trabalho. A todas as pessoas que de certa forma participaram da elaboração desta obra, estando envolvidas nessa grande batalha: a recuperação. Aos meus filhos, Daniele, Karina e Giacomo, e também às minhas netas, Maria Ana Clara, Rafaela, Gabriele e Catarina, que suportaram minha ausência para a atuação desta difícil missão.
Sumário PREFÁCIO........................................................................ 9 ORAÇÃO DA SERENIDADE....................................... 11 Dependência Química.................................................... 20 Causas existenciais atribuídas ao uso de drogas.............. 28 Relatório Mundial sobre Drogas – 2016......................... 33 Aumenta acesso de jovens a álcool e drogas, revela IBGE – 26/8/16.......................................................................... 35 Dados sobre o uso de drogas entre adolescentes no Brasil.38 Aumento do consumo de maconha no Brasil................. 41 Crenças iludem jovens sobre a cocaína.......................... 43 Consumo de drogas mata 200 mil pessoas por ano, diz ONU – 2016.................................................................... 45 Exercícios fazem bem na Dependência Química ......... 48 Dependência Química, Alcoolismo e Exercícios .......... 50 Dependência e Personalidade......................................... 53 Transtorno Disruptivo do Comportamento e Dependência.................................................................... 55 Diretrizes da OMS para diagnóstico de Dependência... 58 Principais características da Alteração da Personalidade na Dependência Química.................................................... 67 Impulso e Agressão do Dependente Químico ............... 71
Transtornos Devidos ao Uso de Substâncias psicoativas ..... 75 Inimigos do Cérebro (NERI, V.C. – 2013) .................... 81 Contribuições da Psicanálise na Dependência Química.84 Familiares do Dependente Químico............................... 93 O Papel da Família no processo terapêutico do paciente dependente químico........................................................ 95 Comunidade Terapêutica e Clínica para Dependentes Químicos......................................................................... 99 Os Doze Passos ............................................................. 112 História dos 12 Passos.................................................... 114 Prevenção e Tratamento................................................ 118 Referências Bibliográficas ............................................. 122
PREFÁCIO O interesse pela atuação com Dependentes Químicos deu-se no início do ano 2000, quando comecei meu trabalho atendendo presidiários da Penitenciária Estadual de Londrina-PR. Lá, entre tantos casos, atendi muitos usuários e traficantes. Participei da Comissão Interna de Saúde, onde especificamente atendíamos problemas de saúde em diversas áreas, sendo que o que prevalecia eram os usuários de álcool, drogas e com HIV. Tínhamos monitores que eram treinados por mim, por outra psicóloga, por assistentes sociais e também pelos agentes penitenciários que faziam parte desta comissão. Assim como atendíamos em grupo, o atendimento individual também se realizava. Paralelo a esse trabalho, sempre atuei em consultório, e na clínica foi aumentando o atendimento em relação à dependência química, sendo que os que mais procuram, nesta área, são os familiares, com seus filhos adolescentes, mas também adultos. Realizei cursos na área da dependência química para especializar-me, pois a procura foi grande. Entrei atuando em Comunidade Terapêutica voluntária 9
e involuntária, com atendimento em grupo e individual. As palestras sobre dependência química foram surgindo, onde hoje realizo muitas. O que mais ajuda são as palestras aos familiares, pois existe a necessidade em saber como tratar os filhos e entender que na dependência química temos que saber como lidar, ajudar, compreender as dificuldades e necessidades e até mesmo fazer acompanhamento para que todos melhorem. O que os familiares têm dificuldade em entender é que eles são codependentes, e até mesmo a aceitação a isso é complicada. Aquele que entra no mundo do álcool ou das drogas é aquele que entra no mundo do inferno, da perversidade, pois para retornar a sua vida é muito complicado. A pessoa passa pelo fundo do poço e vai afundando-se cada vez mais. Muitos não encontram a volta, mas sabemos que muitos conseguem retomar sua vida, porém sempre tendo os cuidados para que a recaída não tome conta de seu ser novamente. Viver só por hoje! No entanto, as dificuldades em desenvolver um bom trabalho são imensas, pois dependemos de muitas pessoas envolvidas no processo de cada dependente químico. Mas, quando conseguimos a recuperação e o viver só por hoje, isso se torna muito gratificante, porque sabemos que temos um bom retorno e que a pessoa, quando aceita e quer a sua recuperação, com aquele desejo interno, consegue. Todavia, precisamos de muito esforço, dedicação, desejo, espiritualidade e amor pela vida. Eliane S. Marçal Psicóloga – CRP 08/05774 10
ORAÇÃO DA SERENIDADE “Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para modificar aquelas que eu posso e sabedoria para distinguir umas das outras.” Oração da Serenidade. O que ela significa? Esta bela oração foi escrita por um homem chamado Reinhold Niebuhr em 1943. As palavras têm um significado especial para aqueles que estão sempre “à procura da paz” em um momento de turbulência, desespero ou de incerteza em suas vidas. Essa oração se tornou intimamente associada a programas de 12 Passos, oferecendo força e calma para quem busca uma vida mais estável. É utilizada por grupos de ajuda mútua, tais como Alcoólicos Anônimos e Narcóticos Anônimos, representando uma síntese dos esforços que devemos desenvolver para vencermos a nós próprios e aprendermos a exercer nossa vontade. 11
Primeiro, ao proferir estas palavras, estamos reconhecendo a existência de Deus e que Ele é verdadeiramente o único que pode nos trazer a paz interior, independentemente das circunstâncias caóticas ao nosso redor. Sua presença maravilhosa em nossas vidas traz a “serenidade” que não pode ser encontrada em nenhum outro lugar. Há um versículo bíblico que diz que a paz de Deus vai além de qualquer compreensão humana. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus (Filipenses 4:7). Até permitirmos que a “paz de Deus” entre em nossa mente, coração e alma, nunca iremos experimentar da paz definitiva que desafia as circunstâncias mais graves na vida. A oração se dirige então à aceitação, coragem e sabedoria. Tudo se resume em pedir e permitir que Deus nos dê estas coisas. Em outras palavras, é rendernos a Ele. A segunda parte nos relembra de termos que confiar que Deus (e apenas Ele) pode resolver essas coisas. Temos também que reconhecer que geralmente não temos qualquer controle real sobre as dificuldades neste mundo pecaminoso ou sobre as ações de outras pessoas. Confie nEle e viva um dia de cada vez, desfrutando de cada momento. Em sua parte básica, mais conhecida popularmente, a oração diz assim: Concede-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar, coragem para 12
modificar as que eu posso e sabedoria para distinguir uma das outras. Nessa oração, podemos destacar quatro virtudes ou comportamentos básicos essenciais para a aquisição do equilíbrio e da harmonia com o mundo em que vivemos: serenidade, aceitação, coragem e sabedoria. Serenidade significa paz. No Evangelho de João, capítulo 15, versículo 27, Jesus nos deixou sua paz dizendo: Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou como o mundo dá. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize. Diante de sua realidade, o homem pode buscar duas situações: satisfazer suas necessidades considerando como valor as coisas do mundo material, ou colocando seu ponto de vista nos valores do espírito. Podemos então escolher entre buscar a paz do mundo ou construir a paz do Espírito, ou a paz que o Cristo nos deixou. Ilude-se aquele que busca a paz pela aquisição das coisas materiais: apego, posse, poder, riqueza, prazer, sucesso... As coisas do mundo não estão, nunca estiveram nem estarão sob o nosso controle. No mundo vive-se a ilusão do ganho e da perda, existe a necessidade de competir para sobreviver, as dores impõem sofrimentos, desequilíbrio e depressão. A felicidade consiste em breves momentos de trégua em que aparentemente nossos problemas estão resolvidos. Vive-se em contínua preocupação e medo pelo dia de amanhã. No mundo tudo passa. Conta uma lenda que um rei, desejando saber qual era a receita da felicidade, mandou chamar um 13
sábio, que lhe deu um livro com apenas duas páginas, dizendo: – Neste livro está inserida toda a receita para a felicidade e o resumo de toda a sabedoria. Quando estiveres aflito, desesperado, pressionado pelo mundo, não encontrando o caminho a ser percorrido, abre este livro e leia a primeira página apenas. Assim também, quando estiveres sentindo a necessidade de compartilhar sua alegria e felicidade com o mundo, em função de seus sucessos, abre o livro e lê a segunda página. Assim foi feito. Certa ocasião, o rei encontrava-se encurralado em batalha com o país vizinho, prestes a perder tudo o que tinha, colocando em risco a sorte de seu povo. Não sabendo o que fazer, lembrou-se do sábio, pegou o livro e leu a primeira página. Lá estava escrito: “Isto passa!”. Enchendo-se de esperança, o rei conseguiu recuperar-se de seu estado depressivo, trabalhou com afinco, deu a volta por cima da adversidade e conseguiu superar a situação, voltando a trazer harmonia para seu povo. Quando estava feliz por ter conseguido vencer e resgatar a prosperidade de seu povo, desejando compartilhar sua alegria com todos à sua volta, lembrouse do sábio, pegou o livro e leu a segunda página. Lá estava escrito: “Isto também vai passar!”. Assim também são as coisas do mundo: não estão sob o controle ou domínio dos homens. Tristeza, felicidade, sucesso, fracasso, alegria, tudo passa, tudo se modifica. 14
Aquele, entretanto, que coloca seu ponto de vista nos valores espirituais, adquire a paz que o Cristo nos deixou. Isto porque, do ponto de vista espiritual, não existem problemas, mas oportunidades de aprendizado e conquista. As coisas do Espírito estão sob o controle de cada um, sendo a vida um conjunto de lições a serem aprendidas. As dores são consequências naturais de nossas escolhas atuais e pretéritas. Construímos hoje nosso dia de amanhã. A justiça Divina está presente em todas as coisas, sendo, pois, a resignação a postura mais recomendada. A luta do homem é para vencer a si próprio, domando suas más inclinações e suas tendências inferiores. Não existem perdas, pois, como o Espírito não regride, se ganha sempre. Ao nos deixar sua paz, Jesus nos aconselhou: Não vos ponhais inquietos pelo dia de amanhã. A cada dia basta o seu mal (Mateus: 6-34). A paz espiritual não significa a ausência de problemas ou de obstáculos, mas o reconhecimento de que esses são nossas oportunidades de aprendizado e de iluminação interior. Nesse sentido, a Oração da Serenidade nos apresenta a receita para a felicidade relativa, pois aponta o caminho da paz do Espírito ou da paz do Cristo. Diante das adversidades, encontramos três tipos de situação: aquelas que não estão sob nosso controle e, portanto, não podem ser mudadas pelas nossas ações; aquelas que estão sob nosso controle e só dependem de nós para serem mudadas; e aquelas que, embora não possamos modificar diretamente, podemos tentar influenciar na mudança. 15
Do ponto de vista individual, o Espírito deve passar por provas e expiações. Nas provas, podemos escolher os caminhos, embora não consigamos nos afastar daquilo que nos está determinado experimentar. Nas expiações, nada podemos fazer, a não ser aceitar o que nos é dado viver. Do ponto de vista coletivo, tudo que é do mundo não depende só de nós e, portanto, ocorrem situações que não podemos mudar. Podemos, entretanto, agir de forma a modificar, por influência, comportamentos, leis e posturas coletivas. Tudo começa, pois, pela aceitação de si mesmo, pelo conhecimento de si próprio, pela luta para vencer a ilusão do orgulho, a vaidade, o egoísmo, o apego e pela decisão de caminhar vivendo as experiências do mundo com sabedoria. A felicidade não é um ponto de chegada, não é um momento fugaz, mas a oportunidade de percorrer o caminho continuamente. Cada instante da vida é, pois, um momento de felicidade quando trazemos a paz no Espírito. Nosso mundo é ainda de amor condicional, daí ser a felicidade, aos olhos dos homens, uma coisa passageira. A paz do mundo é tida como ausência de guerra, ausência de conflitos, mas pelos olhos do mundo vivemos todos com medo. Medo de ser rejeitado, de não ser reconhecido, de errar, de fracassar, de ficar doente, de perder coisas e bens materiais, de perder pessoas amadas, de perder o emprego, de passar por dificuldades financeiras, de perder a vida. O sentimento de perda é uma realidade. 16