Fiz 60, a vida prossegue 15

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Fiz

60!

A vida prossegue



ITACIANA SANTIAGO

Fiz

60!

A vida prossegue

São Paulo 2017


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Sumário Prefácio 9 Cheguei aos 60, e agora? 11 O espelho 13 À beira de um colapso psicológico 15 Inconstâncias 19 O desafio do medo 21 Morte: um fenômeno natural inevitável 23 Depois da tempestade sempre vem o sol 27 As primeiras perdas 31 Viver é acumular experiência 35 A vida é bela 39 E se... 41 Cheiro, cor, sabor 45 O fogo acabou? 47 Deixe rolar uma lágrima 49 Luz, velas, vinho 51 Intuição feminina 53 Impacto 55 Chapéu de cor rosa 57 Finitude 59 No canto da sala 61 5


Ana 65 Problemas do cotidiano e da vida 67 Maledicências e o preconceito 71 Querida amiga 73 Nossas coisas 75 Ansiedade 77 Em busca de serenidade 79 Ninho vazio 81 Resignação 83 Viver é preciso 85 O tempo passa e a vida voa 87 Sapatos e a compulsão por comprá-los 89 Nostalgia e ilusões 91 Nosso corpo não acompanha nossa mente 93 Simplesmente mulher! 95 Consumismo 99 Angústias e inquietações 101 O misterioso voo do pavão 105 Dorinha 109 Fragmentos meus... 113 Um novo tempo chegou 115 Enfim... É isso! 117

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Prefácio Nas letras deste livro, o leitor vai encontrar, mais do que tudo, a coragem de uma mulher ao expor suas angústias e aflições ante a ação implacável do tempo. Trata-se das mudanças que as mulheres maduras enfrentam ao ter de encarar as consequências deixadas pela soma dos dias, principalmente as estéticas, tão cobradas pela sociedade de consumo. Nas linhas das inquietações da autora, percebe-se a vulnerabilidade da mulher, tão debatida por Simone de Beauvoir no livro “Mulher desiludida”, vulnerabilidade diante de tantas cobranças e imposições de uma sociedade estritamente machista. A busca por equilíbrio e reconstrução de si mesma é outra característica bastante marcante em seu dialogar, praticamente um solilóquio que deve ter realizado ante um espelho para reconciliarse consigo mesma e estender as mãos à sua outra parte, a real, deixando de lado a idealizada pelo olhar do outro. Percebe-se ainda entre as letras, mais precisamente por detrás das palavras, um choro silencioso de uma mãe que ainda sente os efeitos retardatários da síndrome do ninho vazio. Nota-se, neste contexto, a indiferença da vida, que segue adiante sem se importar com a dor da separação, que é bem mais forte em 9


quem fica, pois a vida veio e fez cada um de seus três filhos seguir para um determinado canto, atendendo aos chamados do próprio destino. Envelhecer e dar-se conta da finitude é algo doloroso, e mais doloroso se torna quando, no alvorecer da velhice, uma filha se torna a mãe da própria mãe, que já trilha as pegadas do entardecer da existência. Nesse ponto, a autora sofre ao perceber, na própria mãe, a inclemência do tempo, impondo-lhe limitações sensoriais e físicas, como também sente na alma certo desamor de pessoas próximas à sua mãe, que deveriam se fazer mais presentes. Passados os dias de crise existencial, a velhice é aceita e, com isso, a autora reencontra, como disse Nietzsche, a seriedade que tinha no jogo da vida quando criança. Pois o que é o envelhecer se não o retorno da criança, que percebe com espanto as coisas e interage melhor com a natureza e com a vida? Porquanto os jovens e os adultos não sabem nem mesmo onde pisam, ludibriados pela falsa noção de que jamais envelhecerão. Tendo como base os textos da autora, podemos dizer que chegará o dia em que terão de reconciliarem-se consigo mesmos. Davi Roballo1

1 Jornalista, escritor e poeta.

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Cheguei aos 60, e agora? Um dia, quando dei por mim, estava prestes a completar 60 anos, seis décadas de vida. Confesso que isso foi assustador. Quando visualizei o número seis acompanhado de um zero em minha mente, o chão sumiu da base de meus pés e o dia ensolarado com céu azul sem nuvens de repente tornou-se para mim escuro, um torvelinho que me pareceu ser eterno. Enquanto caminhava, tentava conectar ideias e, com a ajuda do vento ameno que batia em minha face, sentindo a inquietude que penetrava minha mente, conjeturava então o que me levara a tão estranhas sensações. Pensava nas diferentes fases de minha vida e em todo caminho percorrido até então. Não tinha sido fácil a trajetória até aqui. Em um lapso de tempo, vi-me criança, brincando de ciranda; senti novamente o mesmo medo e a insegurança do primeiro dia de aula, como também os dias coloridos de minha adolescência e a presença carinhosa de meu pai, a quem sempre admirei as capacidades lúdicas e intelectuais, manifestadas em sua 11


inteligência, fina educação e modos incorrigíveis. Logo me vi unida a um homem que me apresentaria, ao longo de quinze anos, as dependências e o sofrimento. Apesar de tudo, percebi em mim a mesma menina otimista e crente em um futuro melhor, onde o amor prevalecesse. Quantas pessoas dividindo dores, incertas esperanças e desesperanças já tinham cruzado meu caminho? Por quantas ainda iria passar e com quantas ainda iria cruzar? Não sei, nem saberei. De algumas bebi o néctar, de outras suguei o sangue; afetos, roubei de montes; ri, chorei, cantei e sofri, sofri; gargalhadas como forma de riso abafado em uma embriaguez de felicidade também vivi. Tal é a vida. Deparo-me a indagar: o que vejo é o que almejo? O que sinto é o que me perpetua? O que tenho é o que me pertence? O que sou é o ideal? Onde estou é o real? Não sei, tampouco saberei, pelo menos por ora.

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O espelho Sempre que me olho no espelho, o que vejo não é o que almejo, as transformações de meu corpo que teima em acompanhar a cronologia do tempo ferem-me a alma. Não bastasse o tempo a corroer meu corpo, que logo mais completará com o infinito, existe esse sentimento lento e angustiante a bater em meu cérebro, a comandar os neurônios em um dizer da impossibilidade de agir contra as benesses do tempo. Benesses? Escapou-me essa palavra! Pois dessa vida sofrida e utópica já estou a meio, ou mais, não se sabe, caminho andado. Parto para conjeturas de uma existência onde o ontem se perde no hoje, sem saber qual o real. Em minhas atuais condições de luta inglória contra o tempo e sacrifícios em aceitar as coisas como são, acredito que as mulheres eram mais felizes antes da invenção do espelho, pois não percebiam as erosões que o tempo esculpe em nossos rostos e muito menos a paisagem cansada que desenha em nossos olhos. Nesses dias de angústia ante o tempo que foge acelerado diante de mim, tenho evitado o espelho, pois ele nos mostra todas as verdades que não aceitamos. O espelho, por ser o oráculo do tempo, é inclemente e impiedoso ao revelar nossa face. Acredito 13


que ele seja um sedutor malÊvolo, que nos seduz e nos envolve na juventude somente para nos torturar quando a vida, quando a nossa vitalidade começa a deixar nosso corpo. Hoje, definitivamente, estou com vontade de quebrar meu espelho.

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À beira de um colapso psicológico Um aperto constante no coração, como forma de angústia que aflige minha alma, torna-me uma fugitiva de mim mesma à procura de algo que aplaque esse sentimento. Envelhecer: será que havia me preparado para isso? Constato que diversos fatores contribuíram para que tal sentimento ocorresse neste período da minha vida. Na verdade, penso que camuflo muitas coisas e vivi um período por demais longo na superfície dos acontecimentos, não caindo de cabeça nos fatos, pois, se assim fosse, não sobreviveria na minha sanidade mental. Desta forma é que analiso, na minha modesta concepção, que estou à beira de um colapso psicológico. Também, pudera, ontem andei pelos campos floridos, a bailar na brisa, esbanjando juventude, e hoje me percebo com sessenta anos. Meu Deus! Foi tudo tão rápido que praticamente não vi o tempo passar diante de mim. Sinto-me vazia, roubada de mim mesma. Percebo estar em uma enrascada, ou seja, em uma 15


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