O Fracasso e o Sucesso

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O FRACASSO E O SUCESSO



José Luiz Gonçalves

O FRACASSO E O SUCESSO

São Paulo 2012


Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Aline Benitez Revisão Priscila Loiola Diagramação Monica Rodrigues

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ G626f Gonçalves, José Luiz O fracasso e o sucesso/ José Luiz Gonçalves. - São Paulo: Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-310-4 1. Ficção brasileira. I. Título. 11-6532.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

29.09.11 06.10.11 030230 ________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04507-020 Vila Nova Conceição - São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br


A minha irmã Divani pelo apoio e colaboração nesta obra



Capítulo I Andando rapidamente pelo gramado da fazenda Serra Negra, em Patrocínio, Minas Gerais, Nicolau, para se proteger do vento violento e da chuva forte, entrou em um galpão cheio de beliche e foi em direção de um que estava vazio. Sentou por um longo momento sacudindo a umidade dos cabelos loiros cacheados. Ele tinha olhos verdes, uma pele rosada, um belo rosto e um olhar cativante. Sedutor, com 1,75 m de altura 25 anos, Nicolau Ferraz Magalhães se deu conta do que estava acontecendo com ele: tinha chegado à colheita de café para ser boia fria. Já eram seis horas da tarde. Nicolau, ou simplesmente Nik, não tinha agasalho suficiente para enfrentar a geada que começava a cair. Logo mais, chegou a noite, e Nicolau não tinha nada para comer. Mas ele se acomodou ali... Às quatro horas da manhã seguinte, o ônibus parou em frente o galpão para levá-los ao trabalho. Nik deitou frio e levantou gelado. Todos começaram a levantar. Alguns banhavam o rosto e iam em direção à cantina tomar café, outros pegavam blusas, jaquetas e todos os agasalhos 7


possíveis. Após meia hora, o ônibus estava pronto para sair, e Nik vestiu duas camisas manga longa, uma marrom e outra bege, e saiu em direção ao ônibus. À frente do galpão havia um gramado, como um campo de futebol. A grama estava branca, coberta de gelo. Todos entraram no ônibus, e partir dali rodariam cinquenta minutos para chegar ao cafezal. Ao raiar do sol, o dia estava lindo, mas logo após a neve começou a cobrir as montanhas e começou a chover, então não dava mais para trabalhar. A friagem era tanta que as mãos começaram a congelar. Nik parou debaixo de um pé de café, esperando o tempo melhorar, mas a fome aumentou e ele foi em busca do almoço. Chegando ao local combinado, não tinha mais comida já tinha acabado. Nik ficou pasmo! Um rapaz, que acabava de pegar a última marmita, olhou para Nik e perguntou se queria dividir com ele. Nik não tinha outra escolha, e aceitou. Nik perguntou: — Qual é o seu nome, parceiro? — Léo, me chame de Léo, mas o meu nome é Leonardo, e o seu? — Nik. Ficaram calados por um longo tempo almoçando, e depois Nik perguntou: — É a primeira vez que você vem à colheita do café? — É a primeira vez. Eu nem vou te perguntar se é a sua primeira vez na colheita, porque só pelo agasalho dá para ver, pois estamos iguais e quase ficamos sem almoço.

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— Será que vem faltando? — Não, tem gente que pega duas. O tempo começou melhorar e eles voltaram para a colheita, mas não produziram o suficiente, o tempo não era bom. À tarde, todos voltaram para o ônibus. Nik foi um dos primeiros a chegar. Quando Léo chegou, foi logo brincando: — Agora ficou esperto, Nik! — Claro! Sentaram juntos e foram conversando. Logo que chegaram, Nicolau desceu do ônibus, entrou no galpão, pegou uma toalha e foi tomar um banho. Como não tinha chuveiro quente, tomou uma ducha rápida. Quando voltou, Léo e os outros colegas de trabalho já estavam acendendo uma fogueira. Ele chamou Nik para sentar em volta dela e se aquecer com eles, e ficaram jogando conversa fora até o jantar sair. Nik e Léo ficaram por ali até mais tarde conversando, depois de comer. Foram dormir. Nik rodava na cama como um parafuso. O frio era tanto que ele não conseguiu dormir. Às três e meia da manhã, ele levantou e foi para perto do fogo para se aquecer. Às quatro e vinte, ele molhou o rosto e foi para a cantina tomar o café. Dali alguns minutos, todos começaram a circular pelo galpão. Havia fila no banheiro e na cantina. O ônibus já estava esperando-os. Nik dessa vez se sentou sozinho. A friagem era tanta que ele começou a tremer e em alguns momentos pensou que não sobreviveria.

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Logo chegaram, e cada um seguiu o seu rumo. Nik já estava desanimado com o serviço. Trabalhou por duas horas e voltou para almoçar. Muitos já estavam comendo, e foi aí que Nik entendeu por que ele quase ficou sem almoço. Era porque algumas pessoas almoçavam às nove horas e tornavam a almoçar às onze. Ele comeu e voltou rapidamente para o trabalho. Tinha parado de chover, o tempo ficou claro, parecia que o sol ia brilhar; o tempo ficou razoável. Lá pelas duas horas da tarde, a neve começou a cobrir as montanhas, e logo após começou a chover. Nik ficou triste porque o serviço não produzia o esperado, e como eles trabalhavam por produção, cada um fazia o seu salário. Quando ele percebeu que não dava para trabalhar, ele foi para o ônibus. Assim que todos chegaram, partiram de volta. Nik e Léo sentaram juntos e foram conversando. Para Leonardo, não tinha tempo ruim, ele era bem-humorado o tempo todo. Passaram-se alguns dias e a rotina era a de sempre. Quando completaram-se quinze dias de trabalho, o encarregado da turma chamou todos para uma reunião e fez uma avaliação de como estava. Todos estavam com o saldo negativo, e alguns começaram a gritar: — Quando nós fomos contratados, a firma dava as passagens, as marmitas e os equipamentos de trabalho, como peneira, rastelo etc. Agora, a firma cobrava por tudo, e enquanto não pagassem a conta, não eram liberados para irem embora. Nik e Léo estavam com o saldo um pouco melhor. Nik sugeriu que cancelassem uma das marmitas e que os

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dois dividissem uma até acertarem as contas. Léo sorriu e topou. Eles conversaram com o encarregado, e daquele dia em diante eles passaram a dividir a marmita. O próximo acerto era só dali a quinze dias. Nik pensava que não sobreviveria a todo esse sofrimento, e a cada dia que passava ele pensava mais na sua família, que talvez não visse mais. Já fazia três meses que ele tinha saído de casa. Se ele ligasse para seu pai, ele iria buscá-lo em qualquer lugar que ele tivesse, mas Nik preferia morrer a apelar para sua família. Nicolau Ferraz Magalhães, aos 25 anos, nunca tinha trabalhado fora; tinha uma vida tranquila, era um jovem bonito e mulherengo. Seu pai, Rui Dias Magalhães, um homem alto, moreno claro, dos olhos verdes, risonho, cabelos castanho escuro, de uma beleza fascinante, parecia ter 35 anos, ao invés de 48. Ele tinha um controle de vida exemplar, era um pequeno fazendeiro capitalista que sempre movimentava um bom dinheiro. Nicolau e seu pai eram como irmãos, bebiam juntos e falavam a respeito de tudo. Rui era o melhor amigo de Nik, e quando eles saíam juntos, as pessoas nem notavam que eram pai e filho. Nik era muito feliz. Mas quando chegavam as festas de final de ano e os colegas que moravam na cidade grande começavam a chegar todos de carro novo, Nik começava a achar que ele não era feliz, e, às vezes, até falava de ir embora. Os colegas não acreditavam e perguntavam: — Por que ir embora, Nik? Você tem tudo. Nik vendeu uma boa parte de gado e sua moto e foi embora. Passados três meses, não restava mais nada.

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Ele já tinha passado por várias cidades, levando uma vida boa, conheceu belas mulheres. Foram três meses extravagantes, e agora só restava aguentar a barra, os dez dias que faltavam. Léo levava tudo na brincadeira e deixava o ambiente mais descontraído. Quando finalmente venceram os dez dias, eles voltaram para Pirapora, Minas Gerais. Quando chegaram à rodoviária, Nicolau ficou tenso pensando o que ia fazer com o pouco dinheiro que tinha, pois a roupa tinha acabado e ele ia voltar para casa pior do que saiu. Ele não teria coragem de sair nunca mais, pois ele era um homem de confiança do seu pai e não queria transformar-se em um perdedor. Ficou por ali conversando com Léo até a partida do ônibus para Brasília de Minas, para a fazenda do seu pai. De repente, alguém tocou em seu ombro, e quando ele olhou era o seu amigo João Paulo. — Oi, Nik! Você por aqui! Ele levantou e saudou o amigo atenciosamente e o apresentou a Léo: — Este e o meu colega Léo. Léo, esse é o João Paulo. Eles conversaram por um longo tempo, e João Paulo falou: — Eu vim para arrumar gente para trabalhar comigo em Campinas, no estado de São Paulo. Eu fui à casa dos seus pais, Nik e perguntei por você, e eles me falaram que você tinha ido embora. Eu nem acreditei. — Eu fui, João Paulo, mas já estou de volta. — Então vamos comigo, Nik, eu estou formando uma nova equipe. É a sua chance.

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— Quais são suas condições, João Paulo? — Eu pago as passagens de ida e volta e você pode ser o chefe da equipe. João Paulo olhou para Léo e disse: — Vamos conosco, rapaz, o serviço é ótimo e você faz o seu próprio salário. Léo perguntou: — Os que têm experiência tiram quanto mensal? João Paulo respondeu: — Entre cinco e seis salários mínimos. Léo olhou para Nik com um jeito crítico e disse: — Será que vamos ganhar tanto dinheiro como na colheita do café? — Nem brinca com uma coisa dessas. Nik dirigiu a palavra a João Paulo: — Quando vamos? Ele respondeu: — Amanhã. Nik disse: — Por mim, negócio fechado. Nik perguntou para Léo: — E você, Léo? — Estou dentro, Nik. Os três homens se dirigiram para o bar na rodoviária, e João Paulo perguntou: — O que vamos beber? Nik respondeu: — Cerveja. Todos concordaram e fizeram o pedido. Bebendo

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algumas cervejas e comendo algumas porções de peixe, conversaram por algum tempo. Léo se despediu e foi embora. João Paulo perguntou a Nik: — Você vai dormir onde? Ele disse: — João Paulo, eu já perdi o ônibus que iria para casa, agora são novos planos, eu vou para um hotel. E você? — Eu ia para casa de um amigo, mas será que arrumamos companhia para esta noite? — Se você entrar com o dinheiro, deixa as mulheres comigo, pois eu fiquei dois meses aqui e conheço boa parte das mulheres mais belas da cidade. Hoje é você que escolhe, loira, morena ou mulata. João Paulo sorriu e falou: — Você continua poderoso como sempre, hein, Nik. — João, estamos com sorte, hoje é quinta-feira e a Adriana, que é bailarina da banda Haus, está livre. Adriana tinha 18 anos, 1,75 m de altura, loira, com luzes no cabelo, que ficou grisalho prateado, os olhos verdes, lábios cheios e rosados. Tinha um sorriso encantador, seios fartos, um quadril arredondado e pernas longas e torneadas. — Ela é uma bela mulher. — Você já pegou? — Claro, mas hoje é você quem escolhe. Eu levo as mulheres, e você paga a conta. — Ok. — João, vamos passar na farmácia. Eu vou convidar Daniela para sair conosco. A farmácia fica aqui pertinho.

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Quando eles chegaram e Daniela avistou Nik, os olhos dela brilharam, pareciam dois faróis. Ela veio logo em sua direção, o abraçou carinhosamente, beijou-o e disse: — Nossa, Nicolau, que surpresa boa! Ela ficou olhando para ele como se tivesse ganhado um prêmio. Nik sorriu e falou: — Vou te apresentar um colega que acabou de chegar. Daniela atenciosamente estendeu a mão para João Paulo, deu três beijinhos em seu rosto e se voltou para Nik. O abraçou e beijou. O farmacêutico cumprimentou Nik e todos sorriram. Nik disse: — Eu não quero interromper o seu trabalho, Daniela, eu quero te convidar para sair hoje à noite. Ela disse: — Eu trabalho até mais tarde hoje, até as nove horas. Ele perguntou: — Pode ser às dez horas? — Sim. — Então eu passo na sua casa para te pegar. Tchau a todos. Eles saíram, e João Paulo falou: — Eu acho que para mim, hoje, só vai restar a conta para pagar. Quando você falou da loira, eu quase me apaixonei somente pela descrição, e você nem tinha falado a respeito da Daniela. Ela parece uma comissária de bordo! Acho que eu não tenho tanta sorte como você. — Não se preocupe com as mulheres, João. Deixa comigo, hoje é o seu dia de sorte. Vai para o hotel e reserva um quarto para mim que eu vou arrumar a sua companhia. Antes, vou passar em uma loja porque preci-

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