Fragmentos de uma rua sem fim

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Fragmentos de uma rua sem fim



Adalberto Nogueira

Fragmentos de uma rua sem fim

S達o Paulo 2011


Copyright © 2011 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Aline Benitez Projeto Gráfico Tatyana Araujo Revisão Henrique de Souza

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ N71f Nogueira, Adalberto Fragmentos de uma rua sem fim / Adalberto Nogueira. - São Paulo: Baraúna, 2011. ISBN 978-85-7923-333-3 1. Ficção brasileira. I. Título. 11-2220.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

20.04.11 25.04.11 025902 ________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04547-020 Vila Nova Conceição São Paulo SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br


Para Fรกbio Nogueira, meu irmรฃo, in memoriam



“Estou hoje perplexo, como quem pensou e achou e esqueceu. Estou hoje dividido entre a lealdade que devo à Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, e à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro. Falhei em tudo. Como não fiz propósito nenhum, talvez tudo fosse nada (...)” Tabacaria Fernando Pessoa

“Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor...” Elegia Mário Quintana

“Todas as vidas são um fracasso, julgadas do ponto de vista de suas possibilidades não realizadas e de seus fins infelizes” Consciência à Flor da Pele John Updike



Sumário

A letra T . . . . Os nomes . . . Capítulo I. . . . Capítulo II. . . Capítulo III . . Capítulo IV. . . Capítulo V . . . Capítulo VI. . . Capítulo VII. . Capítulo VIII . Capítulo IX. . . Capítulo X . . . Capítulo XI. . . Capítulo XII. . Capítulo XIII .

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Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo

XIV. . . XV . . . XVI. . . XVII . . XVIII . XIX. . . XX . . . XXI. . . XXII . . XXIII . XXIV. . XXV . .

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A letra T

Gosto muito da letra T, principalmente maiúscula. Antes de mais nada, porque parece uma cruz acéfala, com seus braços abertos, imponente e mística como um crucifixo quebrado. Além disso, seu desenho remete a um caminho que termina abruptamente, abrindo-se para os lados em direções opostas, num desdobramento sem retorno. E também porque seu som é staccato definitivo, o que não deixa margem a firulas de entonação, como um S ou um F. Quando pronunciamos o T, estalamos a língua contra o céu da boca, de uma maneira mais forte e seca. Aliás, desdenho quem desvirtua a letra T, pronunciando-a a partir da colocação da língua entre os dentes. A mim parece uma afetação descabida, decorrente da cópia da pronúncia americana para palavras iniciadas em “th”. A letra T sinaliza autoridade. Letra T de temeridade. Letra T de tempestade. Letra T de Tudo e de Todos. 11


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Os nomes

O que são os nomes, a não ser uma forma de rotular as pessoas? Nascemos e já ganhamos uma denominação que nos acompanhará pelo resto da vida, como uma marca definitiva, irremediável. Não nos livramos nunca da sina que o nosso nome proporciona, para o bem ou para o mal. Carregamos o fardo de um nome imposto pela imaginação dos pais, a quem devemos o fato de termos pela vida toda nomes que não refletem nossa personalidade, a não ser que numa inversão de valores sejamos subjugados por esse conjunto de letras, adequando-nos ao que o nome representa. Considero que o ideal seria agirmos como algumas tribos de índios, nas quais, ao atingirem uma determinada idade, as pessoas podem adotar um novo nome, que refletirá seus próprios anseios, desejos e visão de vida. Algumas 13


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pessoas dirão que somos nós que fazemos nossos nomes, porque nossas atitudes diante das vicissitudes da vida é que tornarão nossos nomes respeitados ou não, lembrados ou não, amados ou odiados. Provavelmente quem diz isso é porque não foi agraciado com um conjunto de letras estrambótico e escalafobético, muitas vezes resultado de uma conjugação infeliz entre os nomes de pai e mãe. Por isso não me resigno ao que me determinaram como nome. Eu sou Tudo e sou Todos. E não sou ninguém.

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Capítulo I

2004 Eu me chamava Teodoro e caminhava por uma rua da cidade de São Paulo, numa tarde preguiçosa e fria de terça-feira, com possibilidade de pancadas de chuva ao cair da noite, como dissera o noticiário matutino na TV. Estranha possibilidade, porque já deveria ter começado a tradicional estiagem, com suas inversões térmicas e outras consequências negativas, resultado do outono que já avançava. Fazia frio quase como se fosse inverno e pairava no ar uma sensação desconfortável de indefinição: pouco vento, sol fraco, nuvens esparsas, frio intenso nas sombras. A rua era plana, reta e razoavelmente larga, com uma praça ao final dotada de árvores de copas altas e volumosas. A união das copas das árvores impedia a passa15


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