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GARIBALDI CARTAS SULAMERICANAS DE AMOR, AMIZADE E CORAGEM



Dimitrj Zen

GARIBALDI CARTAS SULAMERICANAS DE AMOR, AMIZADE E CORAGEM

S達o Paulo 2014


Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Jacilene Moraes

Diagramação Felippe Scagion Revisão

Dimitri Zen

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ Z54g Zen, Dimitrj Garibaldi: cartas sulamericanas de amor, amizade e coragem / Dimitrj Zen. 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014. ISBN 978-85-437-0262-9 1. Garibaldi, Giuseppe, 1807-1882. 2. Revolucionários - Itália - Biografia. I. Título. 14-16109 CDD: 923.2 CDU: 929:32 ________________________________________________________________ 18/09/2014 24/09/2014

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


Para os meus pais; Gastone e Enza



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Introdução

GARIBALDI – CARTAS DE AMOR, AMIZADE E CORAGEM Por esta obra ser publicada no Brasil e idealizada ao leitor brasileiro, os curadores decidiram que é fundamental manter os textos nas duas línguas principais das cartas de Garibaldi – o italiano, e o espanhol. Esta escolha baseou-se em dois motivos:— Em primeiro lugar desejava-se criar um texto no qual o interesse psicológico e existencial referente aos escritos de Garibaldi e endereçados a América do Sul, não fossem sem o obrigatório rigor científico que cada texto desta natureza, deve necessariamente possuir. Por este motivo pensou-se em manter, ao lado da tradução em português, os textos originais das cartas de Garibaldi escritas no período de 1834/1848 e assim, reproduzindo um texto único dos pequenos documentos históricos


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atualmente existentes em várias bibliotecas históricas internacionais, os quais são de difícil acessibilidade. — Em segundo lugar desejava-se negar uma identificação estéril do homem Garibaldi, das suas obras e dos seus ideais em relação a uma Pátria singular, que seria a República de Rio Grande do Sul (pois a maior parte das cartas referem-se a mesma), o Brasil, o Uruguai, a França ou até mesmo a Itália, esperando assim evidenciar a grandeza da personalidade e da visão internacionalista de Garibaldi. A escolha e seleção dos temas mostra, o paradigma da imagem popular de Garibaldi, o amor, a amizade e coragem. Amor por uma mulher deixada na Europa e amor por Anita, a mulher mais importante de sua existência. Amizade por todos os homens sem distinção de raça, língua, cultura e religião que almejavam a liberdade dos povos sul-americanos. Coragem, tanto nas batalhas como nas adversidades da vida de um estrangeiro em terras distantes. A decisão de limitar, seja o número de cartas traduzidas que compõem o presente texto, seja a situação temporal da produção epistolar de Garibaldi nos quatorze anos que transcorreram entre 1934 e 1948, origina-se principalmente, na importância que este período teve na história da construção do Estado brasileiro, e também na história de Europa, mas também do desejo dos curadores de não tornar o texto excessivamente cansativo. A estrutura do presente livro é idealizada segundo duas diretrizes-


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— Na primeira é desejável manter a ordem cronológica das cartas, sendo estas diferenças por tipologia, argumento e dimensão. — A segunda diretriz é que se tentou construir, dentro da estrutura temporal, um quadro estilístico— conceitual formado inicialmente das três primeiras cartas de amor de Garibaldi para sua ultima namorada deixada na Europa – 1934 – e das três ultimas cartas de amor a namorada de sua vida, Anita – 1948. — Na parte central a intuição de separar as demonstrações de amizade com os expatriados italianos, das inúmeras provas de coragem guerreira e humana ( competência para negar a instituição da escravidão e libertar cada escravo encontrado), seriam inúteis para o objetivo final da narração idealizada pelos curadores. Realmente o desejo maior está focalizado em salientar as características psicológicas— literárias do personagem Garibaldi, e não excessivamente em uma descrição de natureza histórico-didática. O grupo de pesquisadores/tradutores que participaram na elaboração deste texto foi constituído com base em interesses comuns relacionados às questões inerentes, tanto na tradução intercultural, especificamente as línguas neolatinas, quanto a interesses relativos à historiografia moderna da América do Sul, com especial referência para a história da emigração italiana para o Brasil e, por sua vez, os estados vizinhos, como Uruguai e Argentina. Os participantes do grupo, cuja biografia pode ser consultada no final deste livro, vem de diversas experiências acadêmicas e profissionais que vão desde o ensino


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universitário até a museologia e organização de arquivos, além da atividade de tradutor profissional para várias instituições ligadas à comunidade italiana no Brasil. Além das cartas endereçadas ao almirante espanhol da Marinha Real Inglesa, Samuel Hood Inglefield, desejou-se introduzir algumas cartas, traduzido do francês, primeiro idioma de Garibaldi que nasceu em Nice, ao almirante da Marinha Francesa Jean Pierre Lainé Honorato . A importância destes documentos históricos, na opinião dos organizadores, é essencial para a compreensão da geopolítica e a história do Brasil na década de 1838-1848, e em particular a importância que as forças navais tiveram tanto para a construção do Estado brasileiro quanto na biografia de Garibaldi.


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Biografia de Garibaldi

Giuseppe Garibaldi (1807-1882) nasceu em Nice, no sul da França, quando essa cidade ainda era italiana, e pertencia ao reino da Sardenha. Seu pai, capitão da Marinha Mercante foi seu mestre. Aos 18 anos, como aprendiz, embarcou em inúmeras viagens. Em 1832, na Ucrânia encontrou alguns exilados italianos pertencentes ao movimento nacionalista de unificação da Itália, na época dividida em vários Estados absolutistas. O movimento “Jovem Itália”, ao qual Garibaldi aderiu imediatamente era dirigido por Giuseppe Mazzini. Em 1834 lidera uma conspiração em Gênova, com o apoio de Mazzini. Derrotado, é obrigado a exilar-se em Marselha, condenado à morte foge para o exilo no Brasil. Em 1835 desembarca no Rio de Janeiro, onde já se encontravam outros exilados. Em 1836, segue para o Rio Grande do Sul, onde luta ao lado dos farroupilhas na Revolta dos Farrapos e se torna mestre em guerrilha.


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Giuseppe Garibaldi, três anos depois, vai para Santa Catarina auxiliar os farroupilhas a conquistar Laguna. Lá conhece Ana Maria Ribeiro da Silva, que também lutava na revolução. Com a derrota dos republicanos, Garibaldi foi para Montevidéu com sua mulher, que ficou conhecida como Anita Garibaldi. Dirigiu as defesas de Montevidéu em 1841, contra as incursões de Oribe, ex-presidente da República, então a serviço de Rosas, o ditador da Argentina. Voltou para a Itália em 1847 e integrou-se às tropas do papa e do rei Carlos Alberto da Sardenha que pretendia expulsar os austríacos e libertar a Itália dos estrangeiros. Derrotado, voltou para Nice, ao encontro de Anita e de seus três filhos, nascidos na América. Em 1849 Garibaldi e Anita seguem para os combates em Roma, mas são perseguidos e durante longa fuga, próximo de Ravenna, a caminho de Veneza, Anita é acometida pela febre tifoide e não resite. Triste e derrotado, volta para Nice, onde é exilado pelo governo piemontês. Refugiou-se por cinco anos nos Estados Unidos e depois no Peru, até voltar à Europa em 1854. Desembarcou em Gênova e se estabeleceu em Caprera, pequena ilha ao norte da Sardenha. Numa nova guerra contra a Áustria em 1859, assumiu o posto de major-general e dirigiu a campanha que terminou com a anexação da Lombardia pelo Piemonte. Comandou as célebres camisas vermelhas entre 1860 e 1861, que utilizando táticas de guerrilha aprendidas na América do Sul, conquistou a Sicília e depois o reino de Nápoles, até então sob o domínio dos Bourbons.


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Conquistou ainda a Umbria, Marcas e o reino sulista das Duas Sicílias, porém renunciou aos territórios conquistados, cedendo-os ao rei de Piemonte, Vítor Emanuel II. Liderou uma nova expedição contra as forças austríacas em 1862 e depois dirigiu suas tropas contra os Estados Pontifícios, convencido de que Roma deveria ser a capital do recém-criado estado italiano. Na batalha de Aspromonte foi ferido e aprisionado, mas logo libertado. Participou depois da expedição para a anexação de Veneza. Em sua última campanha, lutou ao lado dos franceses em 1870 e 1871, na guerra franco-prussiana. Participou da batalha de Nuits-Saint-Georges e da libertação de Dijon. Por seus méritos militares foi eleito membro da Assembléia Nacional da França em Bordéus, mas voltou para a Itália elegeu-se deputado no Parlamento italiano em 1874 e recebe uma pensão vitalícia pelos serviços prestados à nação. Volta para Caprera, onde morre no dia 2 de junho de 1882.


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A Angelina Marsiglia, 19 aprile 1834 Cara amica mia, Ho la risposta che ardentemente desideravo, finalmente, e i miei voti sono compiuti. Tu ti lagni di dover troppo attendere le mie lettere, ma ahimè, angelo mio, dipende da me? Non ti scrissi appena giunto a Génova, come eravamo d’accordo? Confessa piuttosto che non andasti mai alla posta, cara pigrona che mi facesti stare in un’ansia indescri-vibile non sapendo piú che pensare e di te e del tuo affetto cosi necessario, anzi indispensabile alla mia felicita e alla tranquillità della mia burrascosa esistenza. Da ora innanzi mi servirò di un’altra via per mandarti le mie lettere cosi non troverai piú la scusa che vanno perdute. Nell´ultima mia ti ho lasciato intravvedere il dubbio che mi tormentava, che la disgraziata mia sorte potesse mutare il tuo cuore e le tue disposizioni a mio riguardo: perdona il sospetto alla violenza del mio amore; il mio cuore che t’appartiene intero lo ha già sconfessato. No, non ti ho mai creduta capace di darmi un tal dolore . . . Ma penso, purtroppo, ch’io sono bandito, separato ormai forse per sempre dalla dolce signora del mio core, e oserei pretendere . . . queste idee mi fanno fremere, mi fanno imprecare contro il mio avverso destino! Eppure voglio protestarti, o cara, che la tua volontà sara sempre legge per me, e che ove anche tu pronunciassi quella sentenza ch’io non posso immaginare senza sentirmi morire, non


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À Angelina Marselha, 19 de abril de 1834. Minha querida amiga, Tenho a resposta que esperava ardentemente, finalmente, os meus os meus votos foram realizados. Você reclama de ter que esperar muito por minhas cartas, mas infelizmente, meu anjo, isto depende de mim? Não te escrevi assim que cheguei a Gênova, como havíamos combinado? Ao invés disto, confesse que você não ia nunca ao correio, querida preguiçosa que me fez ficar em uma ansiedade indescritível, por não saber mais o que pensar sobre você e o seu afeto que me é tão necessário, ou mais que isso, indispensável à felicidade e tranquilidade da minha tempestuosa existência. De hoje em diante me servirei de outro meio para enviar-lhe as minhas cartas, assim não poderá mais usar a desculpas de que elas se perderam. Na minha última te deixei vislumbrar a dúvida que me atormentava, que a minha desgraçada sorte pudesse tocar o seu coração e suas disposições a meu respeito: perdoa a violenta suspeita do meu amor; o meu coração, que pertence inteiramente à você, já se retratou. Não, nunca acreditei que você pudesse me oferecer tal dor... Mas acredito, que infelizmente, que eu fui banido, agora separado talvez para sempre da doce senhora do meu coração, e ousarei reivindicar... estas ideias que me fazem tremer, me fazem praguejar contra o meu destino adverso! Quero protestar ainda, minha querida, que a sua vontade será sempre lei para mim, e em que também se você pronunciasse aquela


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