O
Her贸i An么nimo
Poucos conseguem enxergar um verdadeiro her贸i
Renan Rangel
O
Her贸i An么nimo
Poucos conseguem enxergar um verdadeiro her贸i
S茫o Paulo 2013
Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa AF Capas Revisão Marcos Sosa Diagramação Monica Rodrigues CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________
C189e R156h
Rangel, Renan O herói anônimo: poucos conseguem enxergar um verdadeiro herói/ Renan Rangel. - São Paulo: Baraúna, 2013. ISBN 978-85-7923-652-5 1. Romance brasileiro. I. Título. 13-0728.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
31.01.13 04.02.13
042555
________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua da Glória, 246 – 3º andar CEP 01510-000 – Liberdade – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br
Um her贸i que n茫o foi visto, passou pela cidade completamente despercebido, sem homenagens, nem foto alguma em jornais.
Agradecimentos
Agradeço em primeiro lugar a Deus e a meus pais. Agradeço também a todos os amigos que me apoiaram. É com muito carinho que queria compartilhar com vocês um dos meus poemas favoritos, escrito por Madre Tereza de Calcutá.
Se você é... Se você é um vencedor, terá alguns falsos amigos E alguns amigos verdadeiros. Vença assim mesmo. Se você é honesto e franco, as pessoas podem enganá-lo Seja honesto e franco assim mesmo. O que você levou anos para construir Alguém pode destruir de uma hora para outra. Construa assim mesmo. Se você tem paz e é feliz, as pessoas podem sentir inveja. Seja feliz assim mesmo. Dê ao mundo o melhor de você, mas isso pode nunca ser o bastante. Dê o melhor de você assim mesmo. Veja você que, no final de tudo, Será você... e Deus. E não você... e as pessoas!
Então, eu comecei a escrever esse livro, não sei se todos vão gostar, mas escrevi assim mesmo.
Prólogo
N
ão sou escritor, poeta ou alguma coisa parecida, mas o que estou escrevendo tinha de ser contado, seria um enorme pecado se esta história acabasse esquecida no decorrer dos anos, ou contada de outra maneira que não seja a verdadeira.Sempre tive um sonho, sonho de fazer algo grande, de deixar minha marca neste mundo. Como vários homens que passaram por aqui, nesta mesma terra nossa, e nunca morreram, tornando-se imortais. Fizeram revoluções, deixaram inspirações, lições de paz e, o mais importante de tudo, semearam esperança. Esta minha história é baseada em um grande homem, um verdadeiro herói, que, graças a Deus, pude ter o privilégio de conhecer e agora tenho a oportunidade de lhes mostrar. Como refletimos há pouco, muitos homens passaram para a história com seus feitos, mas teve um que não foi visto, nem deram seu nome para rua alguma, não lhe fizeram homenagens, nenhuma foto em jornais. Como uma flor que nasce e nunca é vista, ele passou pela cidade de Montana completamente despercebido.
Ano de 1924 — Bom dia. — Bom dia, é uma honra recebê-lo aqui, Sr. James Taylor. Em uma das maiores e mais consagradas gráficas do estado do Texas, o Sr. James Taylor entra com um punhado de folhas nas mãos. No auge dos seus 60 anos, ainda não exibia muitos fios brancos na cabeça, e os olhos verdes conservavam aquele brilho que tanto encantaram em sua juventude. Já os olhos do dono da gráfica, Sr. Dustin Bell, cresceram nas folhas que o Sr. James carregava em suas mãos: — Olha, vejo que o senhor escreveu sua autobiografia. E vamos ter a honra de publicá-la, não é mesmo? — Na verdade, não, aliás, não deixo de ter parte nessa história, mas aqui está algo muito mais valioso. — Não entendi, senhor, que história? — A história de um verdadeiro herói. — O senhor conheceu Billy The Kid? — Não conheci. — Mas que pistoleiro famoso é esse, então? — perguntou o Sr. Dustin. — Seu nome... John Bryan — respondeu o Sr. James. — John Bryan! — ficou pensativo o Sr. Dustin Bell. — Mas quem é esse John Bryan, afinal? Nunca ouvi falar nele... — o Sr. James Taylor deu um leve sorriso ao ouvir esse comentário. — Mas me responda uma coisa, Sr. James, quantos homens esse tal de John Bryan matou?
Primeira Parte Ali nascia John Bryan
E
u, James Taylor, saí novo de casa, em busca do meu espaço no mundo. Tinha uma série de planos e fui, sem medo, em busca deles. Com isso, sentia-me grande por dentro. Meu primeiro passo foi pegar o dinheiro que praticamente juntei minha vida toda e abrir um comércio, que logo me levou à falência. Depois depositei toda a minha esperança em um produto que inventei para lavar roupas, saí de cidade em cidade, batendo de porta em porta, mas ninguém deu importância. Era para deixar a roupa mais perfumada, mas a maioria das pessoas que eu contatava nem banho tomava... Conclusão: fui à falência novamente. Passei por vários lugares, até que finalmente me instalei numa cidade no norte do Texas. O nome? Montana! Aqui trabalho em um pequeno correio, muito simples, mas muito bem arrumado, cada coisa em seu devido lugar. Passei grande parte da minha vida sem que nada de marcante nem de extraordinário tivesse feito e, é claro, não consegui mudar o mundo.
O Herói Anônimo * 11
Cidade de Montana, ano de 1885 Cidade pequena de Montana, como qualquer cidade por onde passei. Todo mundo conhecia todo mundo, mas sempre chegando forasteiros, principalmente atrás de um rabo de saia. Havia, é claro, um saloon. Aquele pertencia ao Sr. Nuke, um homem baixinho e gordo, com o cabelo todo lambido para o lado, chegando até a brilhar; bigodes grossos, óculos sempre pendurados no pescoço, coletinho preto sem manga, por cima de uma camisa branca. Ali ficava a oferecer suas garotas. O saloon não era muito limpo, tinha a porta principal de vaivém e, no seu balcão tradicional, homens não muito decentes frequentavam o local. Uns iam para ficar quietos a um canto, bebendo com os amigos e jogando pôquer sem apostas, só por diversão; como eu, por exemplo, já que não tinha outro lugar para me divertir. Se pudermos, é claro, chamar isso de diversão. As mulheres, longe de serem damas, mal vestidas, beirando a sujeira, eram somente prostitutas. Damas nunca se aventurariam a entrar ali. O jogo corria solto no saloon do Sr. Nuke: dados, cartas. Na maioria das vezes, longe da honestidade. Várias brigas já teriam ocorrido e até mesmo mortes, sempre lembradas nas marcas de sangue ao chão, que não saíam nem com água e sabão. Em um dia calmo, bem gostoso, com o vento suave imprimindo um frescor impagável, eu quase cochilava na cadeira do correio, com o fraco movimento, quando ouvi uma voz lá no fundo: — Doutor, doutor, corre que o meu filho vai nascer. Misturando afobação com alegria, era Francis Bryan, 12 * Renan Rangel
sorrindo, mas trazendo os olhos cheios de lágrimas. Puxava pelo braço o descabelado Dr. Estênio, que nem teve tempo de se arrumar. Sua esposa, Marly Bryan, prestes a dar à luz, dali a vinte minutos teria o seu rebento, que nasceria sem chorar, sem derramar uma lágrima, deixando quem estava ali presente em total silêncio. Dr. Estênio, segurando pelas duas perninhas, deu-lhe uma palmada nas nádegas e, aliviado, ouviu o som do seu choro, para alegria dos circunstantes. Ali nascia John Bryan. John era miúdo e doente, o que o levava mensalmente ao consultório do Dr. Estênio, que, por sinal, ficava em frente ao correio. Sua mãe, Marly, não permitia que ele ficasse por muito tempo na rua, dada a sua saúde frágil, mas John era um menino que com qualquer coisa simples se alegrava. Dizem que o homem não escolhe o mundo em que vive, no entanto, ele parecia escolher o seu. Vivia brincando sozinho, correndo de um lado para outro. O carpinteiro Francis, uma figura de estatura mediana, exibia cabelos negros, lisos e curtos, tinha os olhos castanhos e sempre estava de bom humor. Sua vida era estável, e no dizer de muitos, até confortável; homem trabalhador, nunca se envolveu em coisas erradas. Já diziam os filósofos que os pais são espelhos para os filhos, então, até aí, John era privilegiado. Sua mãe Marly, pequena, magra, os olhos grandes e cinzentos, dona de uma grande bondade. Sabia ler e fazer contas, o que era raro na vizinhança. Seus ensinamentos eram todos voltados para John, que não queria muito aprender, mas sua mãe insistia. Ele, com um olho no jor-
O Herói Anônimo * 13
nal e o outro lá fora, vendo as crianças brincando, entre um beliscão e outro, foi aprendendo a ler e a escrever. Eu, particularmente, sabia de tudo que ocorria naquela cidade, pois ficava sentado em minha cadeira em frente ao correio o dia todo. Era o único funcionário. De manhã, bem cedinho, passava o carteiro pegando as correspondências do dia anterior. O ócio me deixava tempo suficiente para saber o que fulano comprou ou ia comprar, para onde estava indo, quem estava traindo quem... Mas nunca comentei nada com ninguém, nem fiz qualquer fofoca; somente observava e, do meu observatório, via John crescer. Dele não esperava muita coisa, a não ser que se transformasse num belo almofadinha, letrado, mimado e egoísta. Por alguma razão, não sei qual, Francis e Marly não tiveram outros filhos.
14 * Renan Rangel
Segunda parte Somente sorria
O
tempo passou e, em 1903, já com 18 anos, John se tornou um homem, embora com cara de menino: comprido, com seu um metro e setenta e seis centímetros de altura, magro, cabelos e olhos castanhos e sem barba. Engraçado: não nascia barba nele e por isso sempre lhe pegavam no pé. Era só ver John passando perto de alguma roda de conversa, que era dito e feito: — Aí, cara de bebê, homem, que é homem, tem barba, rapaz! — Quer uma muda aí? Outro na rodinha arriscava: — Ô, faz simpatia que nasce. — Passa bosta de galinha. John, com seu enorme sorriso, somente sorria, e dizia: — Eu faço todos os dias, por isso que não tenho barba... Todos riam. Todo homem tem seu cavalo, ou pelo menos sabe cuidar e andar em um. É, pode acreditar, John não tinha cavalo e também não sabia cavalgar direito, de vez em quando andava de charrete, e olhe lá! Não ligava muito O Herói Anônimo * 15