Histórias de gatos e anjos 15p

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S達o Paulo 2014


Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Yuri J. O. Silva • Jacilene Moraes

Diagramação Camila Morais Revisão

Priscila Loyola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ K43h Kenna, Flávio Histórias de gatos e anjos/Flávio Kenna, Jorge Franco. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014. ISBN 978-85-437-0078-6 1. Ficção brasileira. I. Franco, Jorge. II. Título. 14-14001 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 11/07/2014 17/07/2014

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.


Ao nosso inesquecĂ­vel e para sempre amado gatinho Bimbo.



Resolvemos escrever este livro em primeira pessoa, e no presente, sendo o Bimbo o narrador de sua própria história. A escolha desse tipo de narrativa foi feita porque queremos prestar um tributo a esse animalzinho que revolucionou as nossas vidas. Num momento em que nos encontrávamos perdidos e sem perspectivas de mudança, ele foi o nosso porto seguro, o nosso horizonte iluminado, e, por esse motivo, permanecerá em nossas memórias para sempre. Através de sua visão de felino, numa linguagem clara e objetiva, e, às vezes, até um tanto informal, Bimbo irá divertir, emocionar e cativar o leitor com suas aventuras de um gatinho, que foi muito amado durante toda a sua existência neste plano.

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Já estamos em fevereiro, ou seja, faz um mês que eu nasci e ainda estou aqui nesta pequena baia do pet shop à espera de alguém que me adote. Desde que cheguei aqui, eu vejo uma plaquinha presa à nossa casinha provisória que diz que somos para doação, mas, sinceramente, eu detesto quando dizem que serei doado, prefiro dizer que serei adotado, afinal, eu sou um bebê como outro qualquer. É uma situação muito triste essa que vivo agora, pois já faz um tempinho estou aqui esperando a minha vez de ganhar uma nova família. Muitas pessoas passam, olham, às vezes brincam, fazem gracinhas, mas, no fim, tudo o que fazem é dizer: — Ai! Que fofo! Tudo bem, bebê? Ai, que dó! Fazem alguns minutos de carinho alisando o nosso pelo, mas não vão além. O que ainda me faz um pouquinho feliz é saber que estou na companhia dos meus três irHistória de Gatos e Anjos

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mãos. Quanto ao pessoal daqui do pet shop, eu não posso reclamar, até que eles nos tratam bem, dão comida, água e, o mais importante, aplicaram vacinas para nos proteger de várias doenças. Mas ainda assim é chato não ter a nossa mãe nem o nosso pai por perto, aliás, depois que viemos para cá, nunca mais tivemos notícias deles. Mas tudo bem. Apesar de todos esses contratempos, eu me divirto bastante ao lado dos meus irmãos. Hoje, já brincamos de rasgar jornal, de morder um ao outro — mas tudo sem machucar, só de brincadeirinha! Coisa de criança, sabe? Opa! Parece que chegou um moço para nos visitar, e, pela cara dele, está disposto a adotar um de nós. Quem será que ele vai escolher? Eu não quero parecer malvado com os meus irmãos, mas não posso negar que eu gostei muito da cara dele. Tem cara de boa gente. Parece ser um senhor bastante sério e responsável. Dizem que a primeira impressão é sempre a que fica, então, ele conseguiu me transmitir uma das melhores. Quer saber? Meus irmãozinhos que me perdoem, mas eu vou até o vidro da baia e vou fazer uma gracinha pra ele. Yes! Ele parece ter gostado. Está falando ao celular. Na certa está falando com a esposa dele sobre mim, dizendo que já arrumou um gatinho para adotar. Só pode ser isso. Preciso manter a calma para não transparecer que estou ansioso, isso pode atrapalhar os meus planos. Mas e se ele desistir de mim? Vou fazer mais uma gracinha pra ele. Ele sorriu para mim! Ah! Esse já está no papo! Olha lá, já até chamou o doutor para conversar, com certeza para acertar as formalidades da minha adoção. Bem, é melhor começar logo a me despedir dos 10

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meus irmãos. Não será tarefa fácil, mas uma hora isso teria de acontecer; se não fosse comigo, seria com um deles. — Eu sei que ainda vão ficar um tempo por aqui, mas onde quer que eu esteja, irei sempre pedir ao Papai do Céu para que sejam adotados logo. Vamos, não fiquem tristes, assim me deixarão triste e com remorso. Que tal brincarmos um pouco mais enquanto o moço acerta os detalhes com o doutor? Hora de parar com a brincadeira. O moço já está voltando e, pelo jeito, já está com a adoção acertada. Olha lá aquele papel na mão dele, é o meu registro de adoção. Só pode ser. Shhh! Escutem! O doutor está perguntando ao moço por que ele não leva os quatro. Shhh! Façam silêncio! Não consigo ouvi-los. Quem sabe não vamos todos juntos para a mesma casa? Que pena! Ele está dizendo que não pode, porque mora em apartamento. — Puxa vida! Eu sinto muito, rapazes. Ainda não foi dessa vez. Mas nada de ficarem tristes, pois logo, logo será a vez de vocês. As despedidas são sempre muito dolorosas, mas o que posso fazer se o moço foi com a minha cara? Ele até comentou com o doutor que EU era quem o tinha adotado. Acho que foi o resultado das gracinhas que eu fiz pelo vidro. Mas não poderia ser diferente, porque eu gostei muito dele, o que aconteceu entre nós foi aquilo que vocês humanos chamam de amor à primeira vista. Adeus, meus irmãozinhos queridos, adeus passarinhos, adeus cachorrinhos. Foi muito bom ter ficado esse tempo aqui com vocês.

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Uau! Vou para minha casa nova de carro, em grande estilo. Ih! A viagem está um pouco estressante. Por essa eu juro que não esperava. — Miau! Miau! Acho que não vai adiantar ficar aqui miando o tempo todo. Mas o que posso fazer se tudo é muito novo para mim? E, depois, eu ainda sou bebê, e assim como qualquer bebê, eu sinto muito a falta da minha mãe e dos meus irmãos. Estou ficando cada vez mais assustado. — Miau! Miau! Miau! Esta viagem parece não terminar nunca! O pior é que sou tão pequeno que, por mais que eu me esforce, não consigo alcançar a janela para ver o mundo lá fora. Tudo o que posso fazer é ouvir sons de buzinas, barulhos ensurdecedores de motores. Qualquer barulhinho para os nossos frágeis ouvidos soa como uma bomba sendo detonada. (Tosses) Cof, cof! E essa fumaça? Vai acabar com meus pulmões! Já sei, vou caminhar um pouco pelo carro. Quem sabe não alivia um pouco o estresse? — Miau! Miau! Miau! Miau! Que nada, parece que piorou a situação. Nunca pensei que uma simples viagem de carro pudesse ser tão desgastante como está sendo essa. Ufa! Que alívio! Parece que finalmente chegamos. Isto aqui deve ser o estacionamento do prédio. Será que tem elevador? Oh, não! Não tem elevador! Coitado do moço! Terá que subir todas estas escadas a pé. Eu estou levando vantagem, sou bebê, por isso tenho de ser carregado no colo. Será que eles têm outro gatinho? Será que já é adulto, grandão e vai me bater? Que angústia! Quanta ansiedade! 12

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Pera aí, já estamos entrando. É, parece que eu não terei companhia da minha espécie. Aparentemente não há outro bichinho de estimação. Melhor! Assim terei exclusividade, privacidade e, o melhor, tranquilidade. Nós, gatos, gostamos muito de ficar em paz, tranquilos, sem barulho e sem estresse, por esse motivo somos tachados de preguiçosos. Nada posso fazer, é de nossa natureza. — Ei! Tudo bem, tudo legal, tudo muito bonito, mas... a pergunta que não quer calar: onde é que vou dormir? Ah, que alivio! Ali está minha caminha. Vamos conferir se é confortável. Tá bom pra mim. Para quem dormia no chão duro daquela baia forrada com jornais, esta caminha está maravilhosa. Passeando pelo espaço! É... o apartamento é bom, não é muito grande, mas também não é minúsculo. Bem maior e melhor do que aquele espaço onde me colocaram naquele pet shop. — Miau! Miau! Droga! Por que será que não estou conseguindo ficar à vontade? Eu vou tomar um pouco de água, quem sabe isso não me acalma? Huummm! Aguinha fresca! Que delícia! Acho que estou começando a relaxar. Vou circular um pouco mais pela casa, cheirar todos os cantos e já marcar território com o meu cheiro. Nós, os felinos, marcamos o nosso território deixando o nosso cheiro, fica mais fácil para reconhecer as coisas, os lugares e as pessoas. Ainda falta algo muito importante: e se eu sentir vontade de fazer minhas necessidades? Só tem concreto aqui. Não vi nada de areia no pedaço. Será que ele se esqueceu de que somos animais higiênicos, que enterramos nosso xixi e nosso cocô para não deixar mau cheiro?

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Opa! Achei! Achei meu penico cheio de areia. A minha comidinha está logo ali, tudo bem arrumadinho aqui na área de serviço. Já vi que este moço que eu adotei é bem organizado. Vocês devem estar achando muito estranho que eu fale toda hora “esse moço” (cochicha). É que ainda não consegui ouvir o nome dele. Tem outra coisinha que ainda não está esclarecida: se ele está sozinho aqui comigo, para quem ele estava ligando lá do pet shop para falar de mim? Será que ninguém mora aqui com ele? Estranho! Opa! Parece que a minha dúvida será esclarecida. Tem alguém chegando. E certamente ele mora aqui também, pois tem as chaves da casa e entrou muito à vontade. Ele mora aqui sim. Está tentando se aproximar de mim, mas eu não vou dar confiança pra ele assim logo de cara, vou fazer o “difícil”. Mas ele parece ser tão bacana como o outro. Já chegou abrindo um sorriso para mim. Pera aí! Eu acho que ele está me chamando: — Bimbo! Bimbo! Vem cá, vem, Bimbo! Então este é o meu nome? Bimbo! Tá aí... Gostei!

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Caramba! São cinco e quinze da manhã e eles já estão se levantando? Ai, que sono! Não vou conseguir dormir com essa movimentação toda. Já não foi fácil me acostumar a dormir durante a noite, ainda terei de acordar tão cedo? Ninguém merece! Para de reclamar, Bimbo! Afinal, você terá o dia todo pra ficar aqui sozinho comendo, bebendo e dormindo. Parece que a rotina dos dois é bastante intensa. Ah! Já descobri o nome deles: é papai Jorge e papai Flavinho. O moço que me trouxe do pet shop sempre fala “papai”; papai daqui, papai de lá, o outro moço é um pouco mais reservado, ainda não disse papai quando se dirigiu a mim. Mas não importa! Para mim, os dois serão meus papais. Viram isso? Para quem não conhecia direito a mamãe, nem sabia quem era o seu papai, agora ganhar dois papais de uma vez é o sonho de qualquer gato. História de Gatos e Anjos

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