HistĂłria ilustrada da medicina ocidental na Antiguidade com suas origens no Oriente MĂŠdio e Egito
C a rlos Hen rique Vian na de And rade
História ilustrada da medicina ocidental na Antiguidade com suas origens no Oriente Médio e Egito
São Paulo 2017
Copyright © 2017 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa
Débora Neves
Diagramação Editora Baraúna Revisão
Mariana Benicá
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Dedicatória
“Dedico este livro aos meus netos Enrico, Leonardo, Natália e os demais que virão, para que não se esqueçam de que somos os que nossos ancestrais nos moldaram”.
PREFÁCIO
Este livro é uma nova edição do livro História da Medicina na Antiguidade (Editora Baraúna 2012), refeita, atualizada, ampliada e suprimidos os capítulos da América Pré-Colombiana, da Índia e da China, restringindo-se à História Ocidental com suas origens no Crescente Fértil. A história da medicina naquelas culturas foi retirada por questão de espaço e serão publicadas futuramente em outra edição, se o autor tiver fôlego, naturalmente. O capítulo sobre a Mesopotâmia foi substituído pelo Oriente Médio, onde se acrescentou a História e a medicina dos hebreus e dos persas. Uma das preocupações desta edição foi referenciar a fonte das informações, considerando que o autor não é nenhuma autoridade em História. Assim o leitor pode verificar a credibilidades dos fatos narrados, e dar crédito ou não. O autor não criou nenhuma informação histórica, apenas narrou o que leu de fontes que julgou mais ou menos fidedignas. Qualquer profissão exige conhecimento da natureza humana e da sua dimensão, mas principalmente as que tratam de aliviar o sofrimento das pessoas. O profissional de saúde, apenas com seus conhecimentos de identificar e tratar as doenças físicas e psíquicas, sem conhecer o ser humano dotado de valores culturais alcançados ao longo de milênios, mais movido por esses valores do
que pelo seus instintos, seria insuficiente na sua missão. Para se exercer a arte de aliviar o sofrimento humano tem que se levar em conta a complexidade não só dos fenômenos biológicos e dos sentimentos, mas também dos valores adquiridos que compõe a existência humana. O objetivo deste livro é contribuir para a compreensão holística do ser humano, não só para profissionais de saúde, mas para todos que se interessam em conhecer o Homo sapiens sapiens, esse animal que há muito tempo se distanciou dos outros e se construiu pela observação, experiência e raciocínio lógico e dominou a natureza e os outros animais, para o bem e para o mal. O que motivou essa transformação foi sua capacidade de trocar e acumular conhecimentos, seja pela palavra falada ou escrita, pelas artes e pelas atitudes positivas ou negativas observadas nos outros seres. Assim construído hoje ele é um ser cultural dotado não só de conhecimentos sensoriais aprendidos na própria vida, mas muito mais adquiridos pelo ensinamento de outras pessoas. Inicialmente pelos seus pais, que por sua vez também receberam essas informações dos seus genitores e assim tem sido, sucessivamente passadas e acumuladas por muitos milhares de anos. Mais tarde saberes aprendidos nas escolas, nos livros, revistas, TV, filmes, teatros etc. Foi incorporando conhecimentos aprendidos e construídos por outros seres humanos, é que ele foi se formando e norteando seus pensamentos, suas aspirações, ações e sua conduta, controlando e dominando seu instinto animal, para viver bem com os outros e consigo mesmo. Ele não nasceu humano, ele aprendeu a ser humano. Ele também aprendeu que um dos seus principais valores é seu auto respeito, sua dignidade, com a qual ele se equilibra, alegra ou se consola das suas frustrações, tristezas e sofrimentos inevitáveis da vida. É conhecendo toda essa elaboração é que se aprende a respeitar todos os seres humanos, não importa a maneira com que se apresentem. Portanto, esse livro, contando nossa formação inicial, tem a intensão de contribuir para o leitor, mesmo que um pouco, compreender o que nos tornamos.
Sumário
CAPÍTULO 1. ONDE VIVEMOS..................................................................................11 CAPÍTULO 2. ORIGEM DA VIDA........................................................................65 CAPÍTULO 3. INÍCIO DA CIVILIZAÇÃO E DA MEDICINA..........119 CAPÍTULO 4. ORIENTE MÉDIO.......................................................................... 185 CAPÍTULO 5. ANTIGO EGITO..........................................................................237 CAPÍTULO 6. CRETA E MICENAS.................................................................291 CAPÍTULO 7. GRÉCIA ANTIGA....................................................................335 CAPÍTULO 8. ALEXANDRIA................................................................................421 CAPÍTULO 9. IMPÉRIO ROMANO........................................................................4
CAPÍTULO 1. ONDE VIVEMOS 1.1 O Mundo na Antiguidade e Idade Média
Quem quiser conhecer uma pessoa tem que saber quais são seus hábitos, o que faz, o que não pode fazer, o que ela pensa, quais são seus anseios, do que ela gosta e do que não gosta, o que fez, o que seus ancestrais fizeram, o que faz a sua prole e assim por diante. Se se quiser conhecer o ser humano, tem que saber dele tudo isso e muito mais, como o local onde surgiu a sua espécie e em quais locais consegue viver. Enfim, se alguém quiser saber quem é esse animal complexo que é o ser humano, é necessário começar analisando onde ele existe. Os humanos das primeiras civilizações, como os habitantes da Mesopotâmia no III milênio a.C., achavam que viviam em um mundo vasto e misterioso, que se estendia nas imediações dos Rios Tigre e Eufrates, limitados a Sudeste pelo Golfo Pérsico e ao Norte pelos Montes Zagros. Um mapa ancestral em argila queimada mostra esse suposto vasto mundo que habitavam1.
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Figura 1.1. Mapa de 600 a.C., representando a Babilônia no retângulo cortado por duas linhas verticais. Museu Britânico. Disponível em: http://hr.wikipedia.org/wiki/ Zemljopis_Irana
Os gregos, no primeiro milênio a.C., achavam que o mundo era plano e terminava em um abismo além das Colunas de Hércules, como chamavam o Estreito de Gibraltar. Não se aventuravam no Oceano Atlântico, pois imaginavam que lá era o caos, provavelmente um abismo onde o mundo acabava. Mas a Terra, para os gregos, era mais extensa que a dos mesopotâmios, pois eles viajavam por todo o Mediterrâneo, mantendo contato com os egípcios, habitantes do Oriente Médio, e outros povos que viviam em Creta e no Norte da África. Por outro lado, os fenícios, originados de onde hoje é o Líbano, também comerciavam por todo o Mediterrâneo e criaram a primeira escrita alfabética, para facilitar e registrar suas transações2. Os gregos aprenderam com eles essa escrita, adaptando-a para sua língua, e foi assim que Homero pôde registrar, no século VIII a.C., a guerra entre a cidade de Troia e os aqueus, acontecida cerca de 500 anos antes.
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Figura 1.2. Vaso de terracota contemporâneo de Homero, cerca de 750 a.C., encontrado no Cemitério de Atenas. Museu do Louvre. Disponível em: http://en.wikipedia.org/ wiki/File:Prothesis_Dipylon_ Painter_Louvre_A517.jpg
Somente no século IV a.C. é que Aristóteles demonstrou que o mundo era redondo, e não plano. Observando os navios ao se aproximarem do porto, os mastros apareciam primeiro e só depois se avistavam os cascos. Aristóteles sabia, por observação prévia, que a luz se propaga em linha reta. Sendo assim, essa visão só seria possível se ela tangenciasse o mar redondo e evidenciasse inicialmente os mastros dos navios, e só mais próximos os cascos poderiam ser vistos. Além disso, durante o eclipse lunar, a sombra da Terra na Lua era redonda3.
Figura 1.3 – Prova de Aristóteles da Terra redonda, do manuscrito Desphaere do séc. XVI d.C. Biblioteca Estense – Moderna. Disponível em: http://www. projetoockham.org/historia_ terraplana_2.html
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No século seguinte, Eratóstenes, um grego de Cirene residente em Alexandria, supondo que a Terra era redonda como havia demonstrado Aristóteles, então qual seria sua circunferência? Eratóstenes ouvira falar que, no solstício de verão, o Sol a pino se refletia sem sombras no fundo de um poço em Siene. Ele mandou medir a distância entre Siene e Alexandria (na época, a unidade de distância era o côvado). Atualmente, a cidade egípcia de Siene se chama Assuã. Na época, a distância medida foi em torno de 1.600.000 côvados, que, em medidas atuais, corresponde a 787 km. O Côvado era uma medida egípcia, também utilizada pelos hebreus e babilônios, que era o comprimento do braço, do cotovelo à ponta do dedo médio, em torno de 45 cm. Figura 1.4. Poço em Assuã no solstício de verão. Foto de Bob Sacha/Corbis. National Geographic, 1998. Disponível em: http:// news.nationalgeographic. com/news/2008/07/06/ photogalleries/solsticephotos/photo5.html
No dia do solstício de verão, Eratóstenes mediu o tamanho da sombra de um enorme obelisco que havia em Alexandria, de altura conhecida, e constatou que o ângulo formado pela sombra do obelisco e o plano era de 7,2 graus. Portanto, se a distância de 787 km do sol a pino propiciava uma sombra que fazia um ângulo de 7,2 graus, e um ângulo de 360 graus, que é a circunferência da Terra, que distância daria? Pela simples regra de três, ele encontrou uma circunferência de 39.350 km. Hoje, pelas medidas atuais, sabemos que a circunferência da Terra naquele paralelo é de 40.050 km4. Eratóstenes não sabia 14
que a Terra não era redonda e sim achatada, o que só foi comprovado no século XVIII pela expedição Maupertuis. Figura 1.5. Medidas realizadas por Eratóstenes para calcular a circunferência da Terra. Vivendo entre símbolos. Disponível em: http://www. vivendoentresimbolos. com/2012/11/eratostenes.html
Alexandria foi, durante pelo menos cinco séculos, o centro científico do mundo, com sua biblioteca de 700.000 volumes e suas escolas, que eram verdadeiramente uma universidade. Ali também viveu Cláudio Ptolomeu, no século II da nossa era. Apesar do nome, não tinha nenhum parentesco com os Ptolomeus que reinaram em Alexandria, desde o tempo de Alexandre Magno até a invasão dos romanos no século I a.C. A última representante dessa dinastia grega do Egito, Cleópatra, foi morta ou se suicidou com uma picada de cobra, segundo Shakespeare conta na sua peça Antônio e Cleópatra. Cláudio Ptolomeu foi um grande astrônomo, matemático e geômetra; ele calculou a distância da Terra ao Sol e à Lua por triangulação com um sextante. O sextante é um triângulo de 60 graus, ou seja, um sexto da circunferência. No seu livro Almagesto, Ptolomeu publicou sua concepção do Universo, estando a Terra no centro, com os planetas e o Sol entre Vênus e Marte, girando em torno da Terra. Ptolomeu também fez um mapa-múndi, o mais completo até então, em projeção cônica, com latitude e longitude, que haviam sido criadas por Erastótenes. Ptolomeu nasceu no Egito e nunca viajou para fora da Alexandria, ele construiu o mapa a partir das informações de viajantes5.
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