S達o Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa AF Capas Projeto Gráfico Aline Benitez Revisão Jacqueline Lima
Priscila Loiola CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _______________________________________________________________ D675i Dogado, Vandenei Inteligência e aprendizagem : desafios mentais / Vandenei Dogado: colaboração de Sandra Cristina Melchior. - São Paulo: Baraúna, 2012. Inclui índice ISBN 978-85-7923-545-0 1. Inteligência. 2. Aprendizagem. 3. Psicologia cognitiva. I. Melchior, Sandra Cristina II. Título. 12-1428. CDD: 153.9 CDU: 159.955 09.03.12 15.03.12 033760 _______________________________________________________________
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04507-020 Vila Nova Conceição — São Paulo — SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br
Para Sandra Cristina Melchior, amada esposa e colaboradora desta obra.
Agradecimentos Gostaria de agradecer, imensamente, à psicopedagoga Sandra Cristina Melchior, que ofereceu subsídios teóricos para a constituição do capítulo sobre a aquisição da escrita e da leitura. Acrescentei este capítulo por julgar importante para a reflexão de alfabetizadores sobre as causas das dificuldades de algumas crianças durante os procedimentos didáticos de alfabetização. Para isso, foram descritos estudos da argentina Emília Ferrero, aluna de Piaget no doutorado, que contribuiu efetivamente para o esclarecimento de mecanismos nos processos de ensino-aprendizagem da escrita e da leitura. Houve confronto das diferenças no processo de ensino-aprendizagem da escrita e da leitura entre as teorias cognitivistas e as do condicionamento. Todos os créditos desse capítulo são de Sandra que, além da enorme contribuição, é minha amada esposa, companheira de todos os dias. Não poderia deixar de mencionar as contribuições do amigo Hindemburg Melão, fundador da sociedade Sigma Society, instituição social para pessoas com elevados QIs. O capítulo sobre Testes de QI: uma visão psicométrica tem como base os seus artigos sobre o tema publicados no site Sigma Society, portanto, não poderia deixar de oferecer-lhe todos os créditos desse capítulo. Melão destacou-se por possuir uma inteligência lógica elevada e por ter batido o recorde de xadrez às cegas, que foi registrado no Guiness Book. É exímio conhecedor de psicometria, inclusive já elaborou diversos testes psicológicos
para várias instituições. Alguns de seus testes são de grande profundidade e distinguem-se dos tradicionais testes de QI, principalmente por não considerar o tempo. Agradeço ainda a todos que, em algum momento de minha vida, ajudaram a construir o hábito da leitura e da escrita. Sou grato àqueles que despertaram o gosto pela pesquisa científica e filosófica.
Sumário Prefácio....................................................................11 Introdução................................................................18 PARTE I Capítulo I - Inteligência e Filosofia...........................27 Capítulo II - Testes de QI.........................................35 Capítulo III - Inteligência ou Inteligências?..............44 Capítulo IV - O Cérebro Humano.............................48 Capítulo V - Teoria Interacionista de Jean Piaget....54 Capítulo VI - Teoria Interacionista de Vygotsky.......63 Capítulo VII - Diferenças entre as Teorias de Piaget e de Vygotsky...........................................................69 Capítulo VIII - Inteligência, Escrita e Leitura............74 PARTE II Capítulo IX - Inteligência, senso comum e banalização..............................................................89 Capítulo X - Genialidade, internet e êxito..............104 Capítulo XI - Inteligência e as novas tecnologias da comunicação e informação....................................119 Capítulo XII - Considerações Finais.......................134 Capítulo XIII - Desafios Mentais.............................159 Referências Bibliográficas......................................180
Prefácio Inteligência é um dos temas mais intrigantes da ciência e, no fundo, todos querem ser inteligentes. É comum ver pessoas chamarem os colegas de “burro” (termo politicamente incorreto). Basta o indivíduo fazer uma pergunta ingênua ou mostrar que não tem conhecimento sobre determinado assunto, lá vem o famigerado “burro”. Nem se sabe ao certo a origem dessa metáfora. Talvez seja porque o burro (animal) quando submetido a uma tapa só enxergue a sua frente. No sentido próprio, seria a pessoa de pouca visão ou visão unilateral. Há quem diga que essa linguagem figurada nasceu porque o burro é um animal trabalhador e, no senso comum, quem trabalha muito não é lá muito “inteligente”. Claro que isso não passa de uma grande besteira. As pessoas gostam de ser consideradas inteligentes e, ao mesmo tempo, muitas ofendem as outras com objetivos de autoafirmação. André Chénier disse certa vez que “com um pouco de inteligência e muita soberba, queremos passar por alguém neste mundo. Que triste herança!” Chénier estava absolutamente correto. Que triste herança! Se tivermos algumas habilidades intelectuais avançadas, devemos utilizá-las para ajudar outras pessoas. Não podemos nos valer de facilidades para humilhar ou prejudicar alguém. René Descartes afirmou que “não há nada tão equitativamente distribuído no mundo como a inteligência: todos estão
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convencidos de que têm o suficiente”. Este fato é plenamente constatável no nosso cotidiano. Os indivíduos consideram-se inteligentes e incomodam-se veemente se alguém mencionar o contrário. É obvio que Descartes foi irônico quanto ao “equitativamente distribuído”. Ao proferir tal frase, pretendia mesmo atacar a arrogância das pessoas que possuem vaidades intelectuais. Em contrapartida, as pessoas idolatram sujeitos com habilidades excepcionais. Por exemplo, John Nash, ganhador do Nobel de Economia (embora este prêmio seja considerado um Nobel, não foi deixado por Alfred Nobel), quando veio a São Paulo causou furor em sua palestra. Todos queriam chegar perto do gênio da Teoria dos Jogos. Ainda mais porque, além de gênio matemático, Nash era esquizofrênico e teve sua conturbada vida contada, de forma romântica, no filme “Uma Mente Brilhante”. Outros sujeitos se sentem menos inteligentes porque possuem autoestima baixa, muitas vezes originada na própria escola, devido a métodos inadequados e atitudes antiéticas de certos professores. Nas práticas docentes, deve-se evitar que crianças sofram bullying de colegas ou de professores. Ser chamado de “burro” pelo “educador” pode deixar sequelas emocionais por toda a vida. Muito do que é dito no dia a dia não corresponde nem de longe a inteligência. Justamente por haver grande confusão do que seja inteligência, decidi escrever esta obra para esclarecer, de forma sintética, um pouco do que a ciência descobriu sobre a mais intrigante das características humanas. Ainda que fascinante, alerto de que a inteligência não deve ser considerada mais importante do que o bom caráter. Pretendo indicar a relação da inteligência ou das inteligências com o processo de ensino-aprendizagem, assim, esse livro poderá ser um formidável recurso didático para professores, alunos de licenciatura e prestadores de concursos públicos, não
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deixando de ser interessante para leigos no assunto, porquanto pode subtrair alguns equívocos do senso comum. No último capítulo, há uma ampla gama de desafios mentais para melhorar algumas habilidades intelectuais de qualquer leitor. Esta obra, com exceção dos desafios mentais, não oferece nada de novo no campo da pesquisa sobre cognição, na realidade, é uma síntese de diversas teorias científicas e reflexões filosóficas. Mesmo que, em algum momento, tenha emitido minha opinião sobre o tema, as ideias concentram-se nas teorias piagetianas e vygotskyanas. Não foi possível explanar detalhadamente cada conjuntura teórica abordada, nem mencionar todas as teorias sobre a inteligência existentes, por isso, é de suma importância, para quem quiser aprofundar no contexto cognitivo, ler cada obra citada na bibliografia. Tentei, na medida do possível, tornar os conceitos claros e utilizar uma linguagem bem simples. Não sei se alcancei êxito, mas anseio que o leitor possa extrair proveito do corpo teórico exposto no livro. Então, boa leitura! Na sequência, um breve resumo de cada capítulo: Na Introdução, expus determinados conceitos e teci uma série de questionamentos sobre a inteligência e sua relação com o estudo continuado, o sucesso profissional e as novas tecnologias da informação e comunicação, retomando-os em capítulos posteriores. É uma prévia do que virá nos próximos capítulos, mas de antemão, incita certas reflexões sobre possibilidades no uso da inteligência e seus benefícios nas práticas escolares. No Capítulo I, busquei, inicialmente, mostrar o embate ideológico entre o inatismo e o empirismo na Filosofia que, posteriormente, serviram de base para a sustentação de conceitos cognitivos na Psicologia e na Pedagogia. A questão sobre se nascemos inteligentes ou nos tornamos inteligentes, durante nossas vidas, continua provocando discordâncias e acirrados debates. Uma geração de cientistas mais moderada,
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atualmente, não nega as influências da natureza e do ambiente na formação da inteligência. No Capítulo II, delineei a história e o uso dos testes psicométricos e a tentativa de medir a inteligência humana. Antes, porém, ressalto de que os testes de inteligência mensuram apenas algumas habilidades intelectuais lógicas; no entanto, na ausência de outros recursos, é um importante instrumento clínico para diagnosticar dificuldades intelectuais. Embora a utilização dos testes de QI divirja de meu ponto de vista, é um dever democrático expor suas acepções, já que no âmbito de pesquisas sobre a inteligência encontrei um campo aberto e, ainda, há muitas divergências e respostas a serem buscadas. Não posso descartar anos de pesquisas seguindo esta tendência científica, contudo afirmo que os testes de QI não trazem nenhum benefício para as práticas educativas em sala de aula. No Capítulo III, questionei se possuímos uma única inteligência ou diversas inteligências. Apoiei-me na Teoria das Inteligências Múltiplas de Howard Gardner, muito debatida em diversos lugares do mundo no campo educacional. Sou adepto dessa teoria, pois, minha experiência e observações em sala de aula me possibilitaram verificar que alguns alunos têm facilidade com determinados processos mentais e dificuldades com outros. Além do mais, Gardner sustentou muito bem sua teoria com as novas descobertas da neurociência. No Capítulo IV, destaquei algumas descobertas recentes sobre o cérebro e, consequentemente, a esperança de cura para certas doenças degenerativas do sistema nervoso central como o Mal de Parkinson e o Mal de Alzheimer e, ainda, a possibilidade de aprimorar a inteligência humana. A maior descoberta, nos últimos anos, foi a capacidade plástica que o cérebro possui de se transformar e de gerar novas células, um fenômeno que os neurocientistas designaram de neurogênese. No Capítulo V, descrevi um pouco sobre a vida
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de Jean Piaget, os principais conceitos de sua teoria e a implicação nas práticas pedagógicas. Trouxe algumas experiências do autor, sua tese de que as crianças passam por distintas fases de desenvolvimento da inteligência e pela construção do conhecimento por meio da interação entre o sujeito e o mundo que o cerca. Piaget é considerado o maior pesquisador sobre a inteligência, cometeu alguns equívocos, mas elucidou muitos mecanismos de como aprendemos, processamos informações e solucionamos problemas. No Capítulo VI, teci um rápido relato sobre a vida de Vygotsky, discuti os principais conceitos de sua teoria e sua implicação nas práticas pedagógicas. Vygotsky morreu cedo e não chegou a constituir uma completa teoria, mas suas ideias são discutidas até hoje. Seu conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal (ZDP) é um dos subsídios mais importantes que legou à educação. Foi o primeiro pesquisador a mencionar as interações do sujeito com os conhecimentos socioculturais. Também, foi destaque em sua teoria do desenvolvimento da inteligência a importância da linguagem simbólica. No Capítulo VII, ofereci as principais divergências entre as teorias de Vygotsky e de Piaget: pensamento-linguagem e desenvolvimento-aprendizagem. Em contrapartida, mesmo tendo diferenças, destaquei que as duas teorias no âmbito educacional não são excludentes, mas complementares, por isso reforço que os professores podem se beneficiar das duas teorias para construír seus próprios métodos de ensino. No Capítulo VIII, a psicopedagoga Sandra Cristina Melchior, propõe um debate sobre a aquisição da escrita pelas crianças e, consequentemente, a elaboração de hipóteses para construir as noções de significado dos signos linguísticos e da unidade textual. Nesse capítulo, foram oferecidas as características de professores, de alunos e de escolas, conforme as Teorias de Aprendizagem. Depois, retomei a relevância da escrita e da leitura no capítulo
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