Vicente de Paula Sousa
MINHA VIDA: sonhos, realizações e gratidão
São Paulo 2016
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Scarlett Martins
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ S698m Sousa, Vicente de Paula Minha vida : sonhos, realizações e gratidão / Vicente de Paula Sousa. - 1. ed. São Paulo : Baraúna, 2016. : il. ISBN 978-85-437-0707-5 1. Sousa, Vicente de Paula. 2. Educadores - Brasil - Biografia. I. Título. 16-37110
CDD: 923.7 CDU: 929.37
________________________________________________________________ 17/10/2016 19/10/2016 Impresso no Brasil Printed in Brazil
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PREFÁCIO
Piscou no meu computador o e-mail de um amigo da época de adolescente, Vicente, intimando, sem direito a defesa, a atender um pedido seu, uma honra para mim: participar do seu primeiro livro, que agora você tem em suas mãos e que terá para sempre também em seu coração, cujo título é: “Minha Vida: Sonhos, Realizações e Gratidão”. É uma pequena joia, forjada na mente de um grande guerreiro, e me emocionou porque nos remete a coisas findas, que ficarão ainda mais, quando os felizardos que a terem em suas mãos tiverem ciência das ações desse pequeno na estatura, mas gigante na força e na tenacidade com que escreveu sua luta contra tudo e contra todos para atingir seus objetivos na vida. Nós só podemos falar de quem conhecemos, e eu sempre me senti honrado e feliz por ter partilhado das lutas, alegrias e sonhos da época em que éramos felizes e não sabíamos. Eu, como parte daquele seleto grupo de amigos 5
do Vicente da Dona Rosa, como ele era conhecido. De família humilde, desde cedo ignorou os obstáculos que a vida teimou em lhe oferecer, e, a cada dificuldade vencida, sempre estava com um sorriso nos lábios, pronto para enfrentar a seguinte que logo viria, mas nem por isso o abatia. Laborou em olaria fazendo tijolos, em serraria com corte de madeira, até galgar o primeiro o emprego que o levaria à trilha do sucesso na área educacional. Foi no hoje extinto Instituto de Educação, sendo que a partir daí não parou mais de escalar as escadas do sucesso. Atuando em diversas instituições, sempre na área educacional, deixando a marca de sua tenacidade na solução dos problemas que enfrentava com bom humor e altivez, atributos que sempre o acompanharam pela vida afora. A narrativa de sua obra comprova que nem toda a tecnologia atual, fria, e sem alma, é capaz de apagar frases e histórias que poderiam se perder por aí, não fossem recontadas em livros. O dom deste livro é voltar a reunir as pessoas nele citadas em torno de suas páginas, pois consegue agradar adultos, pelo passeio nostálgico no tempo, e crianças e jovens, pelas descobertas e sorrisos que provoca e a ambos, pais e filhos,pela linguagem clara e o português correto. Creiam: ler esta obra vale uma viagem de ida e volta a seu imaginário e que serve de exemplo a todos nós que o admiramos. Confesso que não foi fácil, dentro dos limites de um prefácio, contar um pouco da trajetória do amigo Vicente e de sua obra, porém 6
espero ter contribuído para informar seus leitores sobre algo que, como seu amigo, fui também partícipe, e que não esta escrito nesta obra. A obra não é apenas para se ler e esquecer na prateleira da biblioteca como um simples livro de memórias, ela possui, em seu bojo, sua personalidade, sua marca, seu acento, sendo um hálito de vida que dá permanência à sua criação, e serve de consulta para nos animar em qualquer tempo. Só para finalizar nossa modesta participação, o autor desta obra trata-se de alguém que ignorou, em toda sua existência, as armadilhas e dificuldades que o destino teimava em lhe desafiar, indo à luta, e conquistando as vitórias que só os fortes e corajosos conseguem obter. Vida longa ao agora também escritor, VICENTE DE PAULA SOUSA, e que DEUS continue a lhe iluminar.
Dr. Aparício dos Santos Valle Advogado e amigo de Infância
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Capítulo I
DA INFÂNCIA À ADOLESCÊNCIA
Dia 25 de junho de 1925, Marcirio e Maria Rozalina uniam-se oficialmente pelos laços do matrimônio e, desta união, vieram os filhos em grande número. Iniciando pelo Nilson Joaquim de Souza, o “Fio”, Wilson Souza, o “Neno”, Gilson Souza, “Doro”, Teresinha de Jesus, “Teresa”, Maria dos Prazeres, “Prazera”, Maria Inês, “Inês”, Maria Helena “Lena”, eu, Vicente de Paula, e o primogênito Antonio Francisco “Toninho”. Quero registrar uma homenagem aos meus pais e irmãos que, ao longo dos anos, foram nos deixando, mas que eternamente morarão em nossos corações. Sendo o primeiro o Nilson, Fio, em 1965; logo em seguida, em 1973, foi a mãe Maria Rosalina, dona Rosa; o pai Marcírio em 1974; já em 1992, lamentavelmente, foram 9
dois: o Gilson, que estava acamado em Chapecó, e o Neno, em Lages, de morte súbita por um infarte fulminante; o Toninho, em 1993, nos deixou tão prematuramente, com pouco mais de 40 anos, em decorrência de complicações de um AVC; e a Teresa, em 2004, depois de ficar acamada. Hoje, a Prazera, a Inês, a Lena e eu, como o único homem da família, estamos curtindo os prazeres de sermos terceiranistas da melhor idade.
Aqui estamos nós em um almoço de Natal
Na madrugada de uma quarta-feira, dia 21 de janeiro de 1946, morávamos numa casa na Avenida Marechal Floriano, na frente da antiga Casa Nova. Logo em seguida o Pai foi trabalhar na serraria do Senhor Emiliano Felicidade, situada na localidade de Índios e lá ficamos por algum tempo, e pelo que contam minhas irmãs, aos dois anos, por descuido delas eu caí 10
num buraco do soalho da serraria e fui cair sobre as correias da serra circular e, por pouco, não estaria aqui agora para lembrar deste episódio. Quando aconteceu a mudança da família para Lages, esqueceram de mim na casa lá nos Índios. No meio da estrada a mãe deu pela minha falta e obrigou o caminhão de mudança a retornar para me pegar e me encontraram espiando no portão da casa e tentando sair para a estrada. Lá pelos idos de 1954, nossa família se mudou para uma das casas mantidas pela Empresa de Esgotos na qual o pai trabalhava e ele passou a ser zelador do depósito de material e das casas ali construídas, terreno este localizado ao lado do Estádio de Futebol Municipal, próximo à Maternidade Teresa Ramos, mais tarde transformado no famoso Vermelhão, Estádio do Internacional.
Álbum de Família – Foto de 1956 (estou segurando o cachorro Coli) 11
Era uma casa comprida que havia sido um galpão e foi transformado em residência. Eu dormia com o meu irmão Nilson num quarto grande e tinha muito medo do escuro e de barulhos. Por muitas vezes a mãe me descobriu dormindo debaixo da cama, pois eu caía e continuava dormindo. Na esquina havia uma casa que estava vazia e lembro que, por um pequeno tempo, o Neno, a Izarina e as crianças vieram morar ali em l956, depois eles foram morar em Curitibanos. Na frente da nossa casa moravam a Dona Amália e o Senhor Bujuga e os filhos, que ficaram muito amigos de nossa família, principalmente o Luiz, pois a gente brincava junto e até vale lembrar que a primeira briga feia que eu tive com ele foi por causa do Getulio Vargas. Pra mim o Getulio era um ídolo e, quando ele morreu, eu fiquei muito chocado e o Luiz disse que ele era ladrão; não deu outra: nos pegamos no pau até que a Dona Amália interveio, mas não deu em nada e continuamos amigos por muitos anos e, por sua vez, as filhas dela ficaram muito amigas das minhas irmãs. Teve uma sacanagem da Lena que não esqueço nunca. A Dona Amália morria de medo de sapo e a Lena jogou um sapo na cozinha da mulher. Não deu outra: Dona Amália pegou um cabo de vassoura e saiu atrás da Lena pela rua afora e ela teve que se esconder em casa. Quando a mãe chegou em casa nós contamos o episódio e ela obrigou a Lena a pedir desculpas, mas Dona Amália não aceitou e ainda deu um gelo na Lena. 12
Outra família muito amiga foi da Dona Francinha, uma costureira que morava numa rua em direção à Igreja do Dom Antídio, bem perto da nossa casa. A gente se visitava bastante e as filhas dela ficaram muito amigas das minhas irmãs. Eles tinham dois filhos: um mais velho, que era o Max Coutinho de Azevedo, um jornalista que trabalhava no jornal e na rádio, e também o Luiz, que era meu amigo e gente jogava bola junto, mas não lembro muito bem dele não. Uma coisa que ficou marcante em nossas vidas é que a mãe gostava de tomar todos os dias uma garrafinha de pinga. Eu ou a Lena íamos buscar no Bar do Seu Antonio, na esquina dos fundos da Igreja do Dom Antídio. A gente levava uma garrafinha de Crush e não precisava nem pedir, ele já enchia a garrafinha de pinga e nos devolvia, marcando na conta da mãe. Morava na esquina, quase em frente à nossa casa, os pais do Nilton Rogério Neves, mais conhecido como “Homem Veio”, que mais tarde se tornou Prefeito de Lages. Lembro que ele tinha um cachorro pequeno e que o treinava fazendo ele passar entre suas pernas e levar e trazer coisas na boca. Como o Pai era responsável pelo depósito de material dos serviços de esgoto, quando tinha algum serviço de manutenção a ser feita na rede de esgoto da cidade, o Pai chamava o Tio Vitor para transportar os materiais do depósito para o local onde estava havendo algum serviço. O tio Vitor era marido da tia Jarda, irmã da mãe. Ele tinha uma carreta com dois cavalos e morava algumas ruas acima da nossa casa.Eu e Toninho adorá13
vamos quando o pai mandava a gente ir chamar o tio porque ele deixava a gente ir buscar os cavalos que ficavam num potreiro na frente da casa deles. Os cavalos eram mansinhos e deixavam a gente subir em pelo e era uma festa cada vez que isto acontecia. Desde esta época eu comecei a me interessar por futebol, até porque o pai foi roupeiro do Vasco Futebol Clube e do Lages Futebol Clube e este relato é feito num capítulo especial, mas vale lembrar que no campo de futebol havia os vestiários dos jogadores e eu limpava as chuteiras dos jogadores do Lages Futebol Clube e virei mascote do time, o que aumentava o meu ego ao entrar com o time no Estádio em dias de jogos pelo Campeonato Catarinense. E, mais tarde, quando foi inaugurado o estádio Municipal Vidal Ramos, no Bairro Coral, o campo em que nós morávamos ficou apenas para o Internacional e, de vez em quando, eles alugavam para ali se instalar um circo no campo e cada vez que um circo se instalava no campo de futebol, nós fornecíamos a água para a manutenção do circo e, com isto, toda a família entrava de graça e tinha um monte de mordomia com o pessoal do circo. Nesta época eu comecei a ajudar o pai no seu trabalho de vistoria da rede de esgotos de Lages, pois o pai, quando saia para fazer esta vistoria, me levava junto e nós driblávamos o trânsito dos automóveis no meio da rua, abríamos as tampas do esgoto que tinha no meio das ruas e fazíamos a limpeza de um balde pequeno que ficava pendurado logo abaixo da tampa. Ali ficava de14
positada a terra que caia dos buracos das tampas dentro dos poços e então o pai descia até o fundo , onde corria a água do esgoto, para verificar se havia entupimento. Na caminhada sobre a rede de esgoto a gente era obrigado a caminhar por cima dos canos, às vezes, se equilibrando, e quantas vezes eu caía e o pai brigava comigo me chamando de mole. Esta caminhada era pela cidade inteira até chegar nos locais onde havia uma caixa receptora das redes de esgoto, onde, as vezes, a gente encontrava objetos ali depositados que vinham pelos canos. Lembro que as primeiras bolas de borracha que eu ganhei o pai encontrava nestas caixas, o cheiro era horrível, mas a gente lavava e tudo bem. Nossa caminhada chegava até a Depuradora de Esgotos no Rio Caveiras onde morava o Senhor Oliveira, o zelador daquele local. A depuradora é o local que recebe todo o esgoto da cidade e aí é secado, transformado em adubo e areia, e o líquido era depositado no Rio Caveiras e servia como ceva de peixes, onde a gente vivia pescando. Apesar de eu adorar acompanhar o pai, lembro que a mãe brigava com ele porque tinha medo de acidente, isto é, algum carro me atropelar, mas ele sempre dizia: “ele tem que aprender enquanto eu sou vivo”, mas, por um bom tempo, num turno eu ia na escola e no outro eu acompanhava o pai neste trabalho. Nesta época, ao lado de nossa casa foi construído o Grupo Escolar Flodoardo Cabral e eu ficava o tempo todo “fiscalizando” as obras e enchendo o saco dos operários. Eu achava muito bonito eles esquentando a comida num fogão de tijolos e muitas vezes acabava almoçando com eles. 15