A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo Guia de implantação e capacitação
Marinella Burgos
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo Guia de implantação e capacitação
São Paulo 2011
Copyright © 2011 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Aline Benitez Projeto Gráfico Tatyana Araujo Revisão Pedro Chimachi
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________
B971o
Burgos, Marinella A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo : guia de implantação e capacitação / Marinella Burgos. - São Paulo : Baraúna , 2011. ISBN 978-85-7923-311-1 1. Esporte - Estudo e ensino. 2. Esportes - Aspectos sociais. 3. Professores Formação. 4. Integração social. I. Título. 11-1817.
CDD: 796.07 CDU: 796(07)
01.04.11 04.04.11
025487
________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Januário Miraglia, 88 CEP 04547-020 Vila Nova Conceição São Paulo SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br www.livrariabarauna.com.br
Sumário Capítulo 1 - Apresentação do projeto. . . . . . . . 7 Instituto Social Esporte Educação. . . . . . . . . . . . . . . 11 Parceria ISEE-SEME. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 15 Projeto Ermelino Matarazzo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21 O esporte inclusivo numa perspectiva de política pública. 25 Capítulo 2 - As capacitações . . . . . . . . . . . . . 31 Capítulo 3 - Capacitação geral . . . . . . . . . . . . 35 O contrato. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35 Esporte, sociedade e cultura . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38 Conceito e manifestações do esporte. . . . . . . . . . . . . . 38 O esporte como direito. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 A interação de esporte e outras políticas públicas . . . . 45 Ação na comunidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50 Diagnóstico - mecanismos e instrumentos. . . . . . . . . 50 Divulgação - mecanismos e instrumentos. . . . . . . . . . 55 Gestão - funcionamento dos núcleos e instrumentos. . . 61 Atendimento externo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71 Qualidade do serviço. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Diretrizes e Código de Ética. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
Capítulo 4 - Capacitação Professores . . . . . . . 81 Pedagogia do esporte educacional. . . . . . . . . . . . . . . . 82 Princípios pedagógicos do esporte educacional. . . . . . 82 O professor transversal. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90 Metodologia de ensino – o jogo. . . . . . . . . . . . . . . . . 94 Instrumentos de planejamento pedagógico. . . . . . . . 103 Ideia de Currículo e sua construção . . . . . . . . . . . . . 103 Metodologia de ensino - Planejamento pedagógico. . . 106 Currículo e unidade didática . . . . . . . . . . . . . . . . . . 113 Avaliação reguladora. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 116 Capítulo 5 - Capacitação Gestores . . . . . . . . 121 Integração entre instituição e comunidade local. . . . 123 Pesquisa de interesse. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Trabalho em rede: o direito de participar e o dever de contribuir. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 128 Planejamento: otimizando recursos e identificando necessidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 131 Planejamento participativo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 134 Estruturação do Conselho de Usuários. . . . . . . . . . . 136 Identificação de parceiros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 143 Instrumentos de gestão administrativa e pedagógica. . . . 147 Avaliação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152 Referências Bibliográficas . . . . . . . . . . . . . . 155 Acesso através da internet: . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157 Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo
Capítulo 1 Apresentação do projeto
O projeto Ermelino Matarazzo nasceu de uma parceria entre o Instituto Social Esporte e Educação e a Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, com o objetivo de levar atividades esportivas e de lazer aos moradores, assim como o de gerenciar a estrutura esportiva da região. Esta parceria se deu na forma de um Contrato de Gestão – entre SEME e ISEE – que envolve a execução de quatro serviços: implantação gradativa do Clube Escola1 nos CDCs (Clubes da Comunidade2) de Ermelino Matarazzo; promoção do 1 Clube Escola é um programa da Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, que oferece atividades esportivas gratuitas em espaços públicos, através de parcerias com organizações do terceiro setor. 2 Clubes da comunidade (CDCs) são instalações esportivas públicas municipais de São Paulo, cuja administração pode ser direta (da secretaria de esporte do município) ou indireta (de associações constituídas por moradores – gestores – da região onde se encontra o clube). 7
Marinella Burgos
desenvolvimento local através da formação dos gestores dos CDCs; atendimento esportivo na forma de atividades externas, em praças, ruas de lazer e CDCs sem Clube Escola; promoção da integração regional através de planejamentos, eventos e participação social. Estes serviços são realizados, regularmente e de forma integrada, durante a vigência do contrato de gestão e monitorados por indicadores (quantitativos e qualitativos), de acordo com as ações propostas. Uma parte importante do projeto consistia em oferecer capacitações a todos os professores, estagiários e demais funcionários contratados para atuar nos núcleos ou atividades relacionadas ao projeto. Além disso, os gestores dos CDCs localizados na região também deveriam receber formações que os auxiliassem no gerenciamento de suas instalações esportivas. Em paralelo às formações, decidiu-se criar um documento que sistematizasse o conjunto de capacitações que vinham sendo ministradas a todos os atores envolvidos no projeto Ermelino Matarazzo. Entretanto, por se tratar de um projeto inovador, e de grande impacto na comunidade local, ao longo do desenvolvimento deste livro percebeu-se a oportunidade de criar um documento ainda mais sólido que pudesse servir como referência a outras organizações que queiram realizar trabalhos semelhantes ao que vem sendo desenvolvido pelo ISEE em Ermelino Matarazzo, independente do local onde venham a atuar. Assim, decidiu-se por escrever o texto em formato de guia, de modo bastante simplificado para facili8
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo
tar o entendimento do leitor e que sugerisse ações de acordo com cada situação. Este livro é uma coletânea dos conteúdos desenvolvidos com os professores, funcionários e gestores durante as capacitações (encontros e palestras) que aconteceram no primeiro ano de implantação do projeto. As apresentações que os formadores utilizavam nas capacitações serviram como referência e base para a elaboração deste material. Por se tratar da transmissão de conhecimentos prévios adquiridos pelos profissionais que ministravam as formações e do desenvolvimento da metodologia em esporte educacional e gestão já utilizada pelo ISEE, buscou-se fazer a transferência desse conhecimento de modo objetivo e não científico (sem buscar fontes de origem e referências). Para que se possa conhecer a participação desses formadores no projeto, o início de cada capítulo apresentará os nomes dos profissionais responsáveis pela apresentação e desenvolvimento do conteúdo durante as capacitações. Os métodos aqui apresentados, e muitas vezes detalhados, são resultado da experiência adquirida no primeiro ano de atuação do ISEE em Ermelino Matarazzo, com todos os seus acertos e erros. Assim, é importante deixar claro que não é objetivo deste trabalho estimular as pessoas a copiarem cegamente as ações tal como estão descritas, mas sim orientar e fomentar o raciocínio daqueles que tenham projetos semelhantes, auxiliando-os a adequarem a experiência de Ermelino Matarazzo às mais distintas realidades.
9
Marinella Burgos
Para que se possa entender melhor o projeto realizado, inicialmente tem-se a apresentação do papel de cada um dos três principais atores envolvidos: Instituto Social Esporte Educação, Secretaria Municipal de Esportes, Lazer e Recreação de São Paulo, e subprefeitura de Ermelino Matarazzo. Além disso, João Batista Freire, revisor deste guia, brinda com uma breve discussão sobre o papel da política pública no desenvolvimento do esporte inclusivo. Após a apresentação das entidades, o guia de capacitações propriamente dito. Espera-se que este documento contribua para estimular trabalhos deste tipo e auxiliar o desenvolvimento do esporte através da viabilização de outros projetos esportivos. Boa leitura!
O prefeito de São Paulo Gilberto Kassab e Walter Feldman, durante a inauguração do CDC Délio de Carvalho.
10
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo
Instituto Social Esporte Educação Por Ana Beatriz Moser
Em 2000 foi lançada a semente do Instituto Esporte & Educação, um grupo de amigos movidos pelo ideal de colaborar com o desenvolvimento do esporte. O movimento virou um projeto, realizamos algumas clínicas e o início do treinamento de um grupo de professores. O desafio era organizar um método de ensino do esporte para crianças e adolescentes que fosse motivante para todos, independente da predisposição motora. Apoiados em vários autores, nacionais e estrangeiros, que descreviam as maneiras de praticar, de ensinar e aprender, buscamos aplicar a teoria na prática: meninos e meninas jogando juntos um esporte adaptado à realidade motora e cultural das crianças. Nesta época eu encerrei a minha carreira de atleta profissional e, entre várias atividades que comecei a desenvolver, passei a liderar este grupo na busca de oportunidades de implantar este projeto. E foi num encontro com uma empresa multinacional que o projeto virou uma instituição, o Instituto Esporte & Educação, criado em março de 2001. Passamos a implantar e conduzir Núcleos Esportivos-Sócio-Educativos em comunidades de baixa renda, onde a ação se ampliou para além da metodologia da prática de esporte, passando a atuar também no fortalecimento dos alunos e das suas comunidades através da prática de esporte. Nossos principais eixos de atuação são a formação de professores e gestores para atuarem com o esporte educa11
Marinella Burgos
cional; o atendimento direto de crianças e jovens; a influência em políticas públicas, através das boas práticas e da articulação com parceiros públicos e privados. O IEE iniciou em 2001 com 06 funcionários em 02 núcleos, atendendo 400 alunos. Nestes anos desenvolvemos variados projetos e parcerias que mobilizam cerca de 150 funcionários, 48 núcleos e 13 mil alunos. As parcerias (poder público, escolas, associações de bairro, SESI, SESC, clubes privados e públicos) tem como objetivo viabilizar a prática de esporte para o maior número de pessoas possível no maior número de espaços, bairros e municípios. O IEE dissemina os conceitos e práticas de esporte educacional para os professores e estagiários desta rede de núcleos, como também para outros projetos, municípios, ONGs e grupos, através de projetos itinerantes em parceria com instituições globais como o UNICEF. Também sistematizamos nossas experiências em livros que apóiam a disseminação. Todas as ações do IEE são financiadas por empresas e por convênios com o poder público. Também são mobilizados outros recursos através de parcerias, na forma de apoios e de cogestão entre o poder público e as comunidades. A iniciativa privada é potencial investidor social, através de programas e plataformas de responsabilidade socioambiental. O poder público tem o potencial de capilaridade e alcança, com seus serviços, a maior parte da população. Já as comunidades organizadas representam a conexão entre a população e os agentes prestadores de serviços sociais. Porém, na área do esporte, há muita dificuldade para as instituições manterem a continuidade dos projetos e 12
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo
programas e, para a população, é frustrante a interrupção ou a perda de qualidade dos serviços. O Brasil carece de mecanismos que garantam a prática de esporte para todos. A regulamentação da lei das Organizações Sociais, na cidade de São Paulo, proporcionou ao nosso grupo a oportunidade de realizar uma ação de longo prazo e que será continuada. Criamos o Instituto Social Esporte & Educação, o ISEE, que foi qualificado pela Prefeitura de São Paulo para implantar, através de um Contrato de Gestão, uma política pública de esporte no bairro de Ermelino Matarazzo. O contrato estabelece serviços a serem prestados para a população e metas de atendimento a serem atingidas. Um processo moderno de gerir ações esportivas que repercutem muito positivamente na satisfação das pessoas e que denotam credibilidade a todo o processo. Nessa relação da OS do Esporte atuando em efetiva parceria com o poder público, estão muito claros os porquês, as maneiras e os resultados esperados, junto às pessoas que convivem no território de Ermelino Matarazzo. Os profissionais que se formaram dentro do IEE transferiram suas experiências e conhecimentos para a nova instituição (ISEE), possibilitando a implantação desta nova empreitada. Uma ação ampla e maciça que está envolvendo a população local em torno das atividades motoras e esportivas. Uma ação que está criando um ambiente saudável, seguro e lúdico, onde crianças, jovens e adultos estão agora inseridos e que está mudando a realidade do dia a dia das comunidades, especialmente àquelas moradoras dos entornos dos CDCs locais. 13
Marinella Burgos
Para mim que estou há 10 anos atuando no setor social, a iniciativa das Organizações Sociais do Esporte representam um avanço em termos de parceria entre o governo e a sociedade. Uma grande oportunidade para estabelecer novas frentes de convivência social através do esporte, de mudar a perspectiva de vida dos jovens e adultos moradores do bairro e de criar referência em termos de monitoramento e avaliação do serviço público de esporte oferecido à população. De todas as iniciativas com o poder público que realizamos anteriormente, os maiores diferenciais do contrato de gestão são o monitoramento e os indicadores de avaliação, medidos mensalmente. Somado à vigência mínima de três anos, temos a oportunidade de acompanhar indicadores importantes, como a frequência e a qualidade de ocupação dos espaços públicos, o envolvimento dos atores locais (instituições, lideranças, usuários), o custo por aluno e por equipamento esportivo. O acúmulo desta medição fornece parâmetros importantíssimos para serem adotados em larga escala no planejamento e implantação de políticas de esporte. Um avanço marcante que irá colaborar no desenvolvimento de conceitos e estratégias destas políticas. Muito aprendemos neste primeiro ano de atividade e muito ainda teremos a aprender e desenvolver, com especial atenção ao empoderando daquelas comunidades para que elas sejam coautoras desta transformação. Porque só há sentido se todos estiverem envolvidos, uma vez que o esporte é diálogo e participação.
14
A organização social de esporte em Ermelino Matarazzo
Ana Moser durante evento do projeto
Parceria ISEE-SEME Por Walter Feldman
Quais as razões para se implantar o modelo de Organizações Sociais na área de esportes, lazer e recreação do Município de São Paulo? Essa questão pode ser vista por duas vias. Primeiro: a as políticas públicas de esporte e de lazer não podem mais serem vistas isoladas do conjunto das outras ações do poder público. E, segundo: modelos de gestão que se mostram mais transparentes e eficientes devem ser utilizados e adaptados como instrumentos para alcançar o nosso objetivo: São Paulo – Capital Brasileira do Esporte. Cada vez mais é crescente a percepção de que as práticas esportivas são essenciais para a qualidade de 15