HISTÓRIA ILUSTRADA DA MEDICINA NA ANTIGUIDADE A História da Medicina Antiga no seu contexto sociocultural
Carlos Henrique Vianna de Andrade
HISTÓRIA ILUSTRADA DA MEDICINA NA ANTIGUIDADE A História da Medicina Antiga no seu contexto sociocultural
São Paulo 2012
Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Débora Nacarato Vianna de Andrade Projeto Gráfico Tatyana Araujo Revisão Daniel Souza
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Andrade, Carlos Henrique Vianna de, 1946História ilustrada da medicina na antiguidade: a história da medicina antiga no seu contexto sócio-cultural/ Carlos Henrique Vianna de Andrade. - São Paulo: Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-474-3 1. Medicina - História - Obras ilustradas. I. Título. 11-8338.
CDD: 610.9 CDU: 61(09)
09.12.11 19.12.11
032073
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Ă€ Eliana, companheira da minha vida
Sumário
Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 Capítulo 1 – Onde Vivemos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 Capítulo 2 – Início da Vida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37 Capítulo 3 – Início da Civilização e da Medicina. . . . . . . . . . . . . . 65 Capítulo 4 – Mesopotâmia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99 Capítulo 5 – Antigo Egito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115 Capítulo 6 – Creta e Micenas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151 Capítulo 7 – Grécia Antiga . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173 Capítulo 8 – Alexandria. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 215 Capítulo 9 – Império Romano. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 237 Capítulo 10 – Índia Antiga. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 277 Capítulo 11 – China na Antiguidade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 301 Capítulo 12 – América Pré-Colombiana. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 321 Bibliografia Consultada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 357
Introdução As figuras são em tamanho reduzido para que possam entrar juntamente com o texto que ilustram. Elas são apenas um complemento da matéria expressa em palavras. Muito da comunicação humana é por imagens, muitas delas impossíveis de serem expressas em palavras. Portanto, a separação das figuras do texto, por motivos de formatação e editoração, que seria necessário para que elas fossem maiores, prejudicaria a comunicação do autor com os leitores. Também deve ser mencionado que as figuras impressas em preto e branco diminuem o impacto que causariam se fossem coloridas, como no original. Entretanto, aumentariam muito o preço do livro, e uma das intenções que nortearam sua redação foi torná-lo acessível aos jovens estudantes. Mas o livro pode ser encomendado impresso colorido ou em e-book à Editora Baraúna. Por outro lado, a maioria das ilustrações foi obtida na internet e o endereço consta na sua legenda. O conhecimento da natureza humana torna as pessoas mais humanas e mais conscientes do que são. Sócrates já dizia: “Conhece-te a ti mesmo.” Pois ele sabia que isso é a consciência da própria ignorância, ou seja, dos seus limites, assim como a humildade, eram os caminhos para a sabedoria. E o filósofo também complementava: “A filosofia e a sabedoria são boas para o ser humano.” Portanto, se esse livro puder contribuir para o autoconhecimento do ser humano, particularmente para aqueles que buscam o alívio do sofrimento alheio, cumpriu sua missão. Pouso Alegre, 15 de abril de 2012. O autor.
Capítulo 1: Onde Vivemos
CAPÍTULO 1 ONDE VIVEMOS
Quem quiser conhecer uma pessoa, tem que saber quais são seus hábitos, o que faz, o que não pode fazer, o que ela pensa, quais são seus anseios, do que ela gosta e do que não gosta, o que fez, o que seus ancestrais fizeram, o que faz a sua prole e assim por diante. Se quisermos conhecer o ser humano, temos que saber tudo isso dele e muito mais, principalmente o local onde surgiu e vive. Enfim, se quisermos saber quem nós somos e qual é o nosso papel e o que devemos fazer na vida, temos que saber onde vivemos e qual é a nossa dimensão neste Universo. Os humanos das primeiras civilizações, como os habitantes da Mesopotâmia, achavam que viviam num mundo vasto e misterioso que se estendia nas imediações dos Rios Tigre e Eufrates, limitados ao sudeste pelo Golfo Pérsico e no norte pelos Montes Zagros. Os assírios habitavam mais ao norte e os ba- Figura 1 – Mapa de 600 a.C, representando Babilônia no retângulo cortado por duas bilônios no centro. Os mapas da época linhas verticais. Museu Britânico. Wilford em argila queimada mostram esse relati- JN, Sacha B – Revolutions in Mapping. National Geographic 1998;193(2):6-39. vo vasto mundo que habitavam. 11
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Os gregos na época de Homero, século VIII a.C., achavam que o mundo era plano e terminava num abismo além das Colunas de Hércules, como chamavam o Estreito de Gibraltar. Não se aventuravam no Oceano Atlântico, pois, pensavam que lá era o caos. Mas o mundo para eles era mais extenso e os gregos antigos viajavam por todo o mediterrâneo, mantendo contato com os egípcios, os habitantes do oriente médio e outros povos de Creta e do norte da África. Somente no século III a.C. é que Figura 2 – Prova de Aristóteles da Terra redonda, Aristóteles demonstrou que o mundo do manuscrito De sphaere do sec. XVI. Biblioteca era redondo e não plano. Observando Estense – Modena (Ronan AC 1987 volume I). os navios ao longe, se aproximando do porto, os mastros apareciam primeiro e só depois se avistavam os cascos. Ora, se a luz se propaga em linha reta, isso só seria possível se ela tangenciasse o mar redondo e evidenciasse inicialmente os mastros dos navios. Além disso, a sombra da Terra nos eclipses da Lua era redonda. No século seguinte, um grego de Alexandria, Eratóstenes, supondo que a Terra era redonda como havia demonstrado Aristóteles, de que tamanho então seria ela? Eratóstenes sabia que no solstício de verão, o sol a pino se refletia sem sombras no fundo de um poço em Siene. Ele mandou medir com a melhor exatidão possível a distânFigura 3 – Poço em Assuã no solstício de ve- cia entre Siene, hoje Assuã, e Alerão. Swerdlow JL – Wilford JN, Sacha B – Rexandria. Em medidas atuais é 787 volutions in Mapping. National Geographic km. No dia do solstício, Eratóste1998;193(2):2-39. nes mediu o tamanho da sombra
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de um enorme obelisco que havia em Alexandria, e constatou que o ângulo formado pela sombra do obelisco e o plano era de 7, 20. Portanto, se a distância de 787 km propiciava uma sombra que fazia um ângulo de 7, 2o, um ângulo de 360o, que é a circunferência da Terra, daria que distância? Pela simples regra de três encontrou uma circunferência de 39.350 km. Hoje, pelas medidas atuais sabemos que a circunferência da Terra naquele paralelo é de 40.050 km. Eratóstenes não sabia que a Terra não era redonda e sim achatada, o que só foi comprovado no século XVIII.
Figura 4 – Medidas realizadas por Eratóstenes (www. esec-povoa-lanhoso.rcts.pt).
Alexandria foi, durante pelo menos quatro séculos, o centro científico do mundo, com sua biblioteca de 700.000 volumes e suas escolas que eram verdadeiramente uma universidade. Ali também viveu Claudio Ptolomeu no século II da nossa era. Apesar do nome não tinha nenhum parentesco com os Ptolomeus que reinaram em Alexandria desde o tempo de Alexandre Magno até a invasão dos romanos no século I a.C. A última representante dessa dinastia grega do Egito, Cleópatra, foi morta ou suicidou com uma picada de cobra. Cláudio Ptolomeu foi um grande astrônomo, matemático e geômetra, calculou a distância da Terra ao Sol e à Lua por intermédio de paralaxe (Fig. 5). No seu livro Almagesto, publicou sua concepção do Universo, tendo a Terra no centro, com os planetas e o Sol, este entre Vênus e Marte, girando em torno da Terra (Fig. 6). Ptolomeu também fez um mapa-múndi, o mais completo até então, em projeção cônica, com latitude e longitude, de acordo com informações de viajantes, pois nunca se afastou de Alexandria. 13
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Tal modelo perdurou durante toda a Antiguidade e a Idade Média. Nossa Terra era o centro do Universo, que era formado pelos planetas, o Sol e Lua girando em torno de nós e as estrelas num ponto mais distante, provavelmente no céu onde habitavam os anjos e as almas boas (Fig. 7). Nós éramos o centro da criação e a imagem de Deus, o objetivo final da Natureza e tudo fora feito para a nossa existência. Mesmo assim, na concepção do Figura 5 – O Universo de Ptolomeu. Cristianismo da antiguidade e medieval, esta vida era provisória; apenas um preparo para a existência eterna ao lado de Deus ou no inferno com o Diabo, dependendo de nossas ações e de nossa fé nesta vida. A interpretação do universo e da natureza era relativamente simples com os poucos conhecimentos adquiridos até então. Este é um dos motivos da relutância entre as religiões cristãs quando a ciência quis retirar a Terra do centro do Universo e rebaixar sua condição como a de um simples planeta girando em torno do Sol. Isso tornava o Universo muito mais complexo e difícil de encaixar em um modelo em que a natureza existia para nossas necessidades. Era uma ideia muito revolucionária e perigosa para a ordem estabelecida. O padre polonês Nicolau Copérnico, nascido em 1473, chegou a ser cônego e administrou uma paróquia durante vários anos. Como também havia se formado médico na famosa Universidade de Pádua, exerceu a medicina gratuitamente para seus párocos Figura 7 – Dante e Beatriz no Paraíso, Dante Alighieri com competência. Era tam- – A Divina Comédia 1321. (ilustração de Gustave Doré 1832 -1883). Wikimedia Communs, 2011. bém formado em matemática
Capítulo 1: Onde Vivemos
e astrônomo amador – não conseguiu se formar em astronomia por falta de tempo. Enquanto exercia a paróquia em Frauemburgo, construiu uma torre de observação na casa paroquial, na qual observava o céu sem instrumento óptico, ou seja, a olho nu. Com suas pesquisas e lendo o Almagesto de Ptolomeu e outros escritos de astronomia, não conseguia encontrar um modelo de Universo que acomodasse a movimentação dos astros observada por ele. Se juntasse os dados disponíveis Figura 8 – Copérnico (1473-1543). seria como se formasse um corpo com váAutor desconhecido. Wikimedia Communs 2011. rios membros de várias pessoas diferentes, como escreveu no seu livro. Por deduções matemáticas e experimentação de inúmeros modelos, chegou à conclusão de que a única maneira de explicar os movimentos dos astros verificada, seria colocar o Sol no centro do Universo e a Terra e os outros planetas girando em torno dele. (Fig.8) Durante muitos anos manteve suas conclusões apenas entre seus amigos, sem divulgá-las publicamente. Só no final da vida é que Copérnico resolveu publicar um livro com seus achados, estimulado pelo astrônomo alemão Rheticus, que havia documentado que a Terra se movia. A publicação só ficou pronta quando Copérnico estava no leito de morte em 1543, no mesmo ano em Andreas Vesalius publicava seu tratado de anatomia humana em Pádua, outra obra que marcou o pensamento humano. Copérnico viu o livro impresso e morreu. Foi a sua sorte ter morrido então, pois o livro suscitou indignação tanto dos protestantes como dos católicos. O “Das Revoluções dos Corpos Celestes” publicado em 1543 foi condenado por Lutero e Calvino e mantido no Index de livros proibidos da Igreja Católica até o século XIX. Provavelmente Copérnico teria sido queimado vivo pela Inquisição, como seu colega padre Giordano Bruno. Até hoje se nomeia uma mudança brusca e diametralmente oposta de ideias, em qualquer assunto, como uma “revolução copernicana do pensamento”. Outro cientista que entraria em atrito com a Igreja Católica, por causa da rotação da Terra, foi Galileu Galilei, nascido em Pisa em 1564, não
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