O Assustador e Intrigante
Diรกrio de Viviane
O Assustador e Intrigante
Diรกrio de Viviane Antonio Estorilio
Sรฃo Paulo 2015
Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda
Capa Diagramação Diagramação Final Revisão Revisão Final
Jacilene Moraes Camila C. Morais Ieda Ferrari Andrade Cristiane Martini Carla Estorilio
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ E84a Estorilio, Antonio O assustador e intrigante diário de Viviane / Antonio Estorilio. - 1. ed. São Paulo : Baraúna, 2015. ISBN 978-85-437-0184-4 1. Romance brasileiro. I. Título. 15-19516 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 26/01/2015 26/01/2015
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua Sete de Abril, 105 – Cj. 4C, 4º andar CEP 01043-000 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial, por qualquer meio, sem a expressa autorização da Editora e do autor. Caso deseje utilizar esta obra para outros fins, entre em contato com a Editora.
Apresentação O título “O Assustador e Intrigante Diário de Viviane” – seria o suficiente para dispensar apresentação, porém, por ser um livro baseado em fatos ocorridos com pessoas reais no século XX e muitos personagens deste livro ainda viverem; sempre temi a sua publicação por não saber quais seriam as consequências além de que, a sua leitura não é recomendada para pessoas que não estejam acostumadas a tomarem conhecimento ou presenciarem fatos ou acontecimentos violentos, trágicos e mesmo místicos como estigmas — marcas corporais ou feridas; precognição; transfiguração; telecinesia; fantasmogênese ou mesmo um dentre vários descritos pelo Jurista Cesare Lombroso: “A justiça era feita sob a forma de antropofagia ou canibalismo da maneira mais cruel praticada como lei pelos nativos: “Nas Ilhas da Polinésia no Oceano Pacífico,
atualmente (Havaí, Midwai, Samoa, pertencentes aos Estados Unidos; Cook, Tokelau à Nova Zelândia; Marquesas, Tuamotu, Tubuai à França e Páscoa, Sala e Gomez ao Chile), na época de Marco Polo (1254-1324) que permaneceu por 17 anos na corte do rei mongol Kublai Khan, neto do poderoso Gengis Khan descrita pelo próprio Marco Pólo — o criminoso ou a criminosa quando cometia adultério era amarrado/a em uma estaca e atacado/a pela multidão com facas e cutelos ou estraçalhado/a com as próprias mãos ainda viva e os pedaços, após serem molhados num caldo de limão e sal dentro de uma cuia, eram devorados ali mesmo, sendo que o melhor pedaço cabia ao marido!” Nem opinião formada sobre conduta humana como assassinatos, traições, massacres, torturas...” Enfim, tudo aquilo que o ser humano tem praticado durante séculos e em especial no século XX, considerado “o século da matança”.
Marco Pólo
Homenagem póstuma Em memória a todos aqueles que foram torturados, assassinados de maneiras cruéis por monstros em forma de seres humanos, desde épocas mais remotas, até a data de hoje, acreditando na paz e em um mundo mais justo e humano.
Agradecimentos Finalmente resolvi publicar este livro que conta parte da historia vivida por nós, especialmente aqueles que viveram na segunda metade e parte da primeira do século XX, uma época de grande agitação política e progresso tecnológico, tanto em nosso País, como no mundo todo, com ditaduras sanguinárias. Agradeço, primeiramente, as minhas filhas Carla Cristina e Elisabete pelo apoio e incentivo; ao meu neto Rafael, pela ajuda na confecção deste trabalho; a minha filha Carla, pela revisão do texto final; aos meus filhos Jairo, Carla Cristina, Elisabete e Fábio; aos meus netos Rafael, Isis, Theo Francisco, Silvia, Gabriela e Luiza por seu carinho e respeito; a minha adorável esposa Janete por suas sugestões das quais me tornei dependente. Finalmente, a Maurício Paraguassú, editor da Editora Baraúna Ltda., por tornar possível editar este trabalho.
Biografia Antonio Estorilio foi médico em Curitiba, nascido no Município com o menor número de habitantes do nosso País, “Borá”, Estado de São Paulo. Reeditou pela Editora Baraúna o livro “Os Retirantes – História dos desbravadores do norte do Paraná”, Participou do Concurso Nacional de Contos “Prêmio Paraná” em 1988 da Secretaria de Estado da Cultura do Paraná; do concurso Banco Real “Talentos da Maturidade” em 2001, 2002 e 2004, na categoria Literatura, tendo sido premiado com os contos “A Realização de um Sonho” e “O Enterro de Dona Edmundina”.
Capítulo 1 Numa tarde de domingo chuvoso, quando todos resolveram sair de casa me deixando sozinho, tentei ler alguma coisa, mas não encontrei nada de interessante; liguei o aparelho de som, mas as músicas eram antigas ou modernas demais e não faziam o meu gênero. Até o telefone que sempre tocava a toda hora, naquela tarde resolveu ficar mudo. O silêncio angustiante na casa fez com que lembranças boas ou más fossem tomando conta do meu pensamento e por mais que tentasse, não conseguia afugentá-las. Acabei por me lembrar da mãe de Viviane. Não era uma lembrança boa, mas, também não era de toda má. Há alguns anos que não a via e não sabia se estava bem. A última vez que nós nos encontramos por acaso, me pareceu estar bem. Falamo-nos pouco, embora tivéssemos muito que recordar... Porém, não era
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interessante para ela, nem para mim. Afinal, já haviam se passado tantos anos, cada um tomou o seu rumo na vida, seguindo o seu caminho, que não havia porque relembrar coisas que nunca levaram a nada e nem levariam a lugar algum. A chuva continuava caindo lá fora, fina e impertinente, e na vidraça embaçada pelo vapor apareciam desenhos caprichosos, deixados pelas gotas d’água que escorriam pelo vidro transparente. Sentado em meu escritório e com as janelas fechadas, mal se podia avistar o muro e as árvores do outro lado da rua. Lembrei-me que ainda tinha guardado em algum lugar o número do telefone e a chave do apartamento da mãe de Viviane. Senti vontade de telefonar para ela, mas isso não fazia sentido; mesmo porque, se ela atendesse, eu não saberia explicar porque estava telefonando; se fosse a sua filha Viviane quem atendesse, ainda seria pior. Uma ansiosidade foi tomando conta de mim e não resisti, fui ao telefone e liguei: O telefone tocou dando sinal de chamada até cair a linha; ninguém atendeu. Liguei mais duas vezes e ninguém respondeu. Fiquei ainda mais ansioso e então decidi ir até o apartamento da mãe de Viviane para ver o que poderia ter acontecido; embora não houvesse nenhuma razão que pudesse justificar porque estava agindo daquela maneira. Na rua, também não encontrei ninguém. Pareceu-me que naquele dia todos os moradores da cidade tinham se escondido ou tinham ido a algum lugar que só eu não sabia. O apartamento da mãe de Viviane era um desses apartamentos populares que ficava dentro de um grande conjunto e somente quando cheguei lá é que me dei 12
conta que não sabia se elas ainda moravam ali. Estacionei o carro e subi por uma escada até o apartamento. Não havia ninguém no pátio, nem nos corredores do prédio; isso reforçou a sensação que somente eu estava na cidade naquela tarde. Bati na porta com a ponta das chaves do carro e ninguém atendeu. Tornei a bater com mais força, nada. Abri a porta com a chave que trazia comigo, mas fiquei hesitante antes de entrar. Apenas olhei através da porta entreaberta e percebi que nada tinha mudado: os móveis da sala eram os mesmos e permaneciam no mesmo lugar: um jogo de sofá vermelho; uma mesa de madeira, além de uma estante com algumas revistas e uma pequena televisão em cima. Quando me dei conta, já estava dentro da sala. Novamente senti uma sensação estranha, uma espécie de angústia, de medo; difícil de descrever o que sentia naquele momento. Fui até a cozinha; a geladeira e o fogão, também de cor vermelha, ainda eram os mesmos. Olhei na área de luz, onde ficava a lavanderia, e vi em um pequeno varal algumas peças de roupas íntimas de mulher e roupas de criança já crescida pendurada. Na passagem de volta para a sala, olhei pela porta do quarto entreaberto, mas, devido ao escuro em seu interior, não pude visualizar nada. Quando já estava novamente na sala é que notei, no canto de uma estante, o que me pareceu o exemplar de um livro volumoso. Apanhei-o e, ao folheá-lo, notei ser um Diário com capa cor-de-rosa, onde estava escrito com letras caprichosamente desenhadas; “Diário de Viviane”. Por não ter data em nenhuma de suas páginas, me pareceu mais um relatório com páginas numeradas, do que um Diário. Abri-o e 13
comecei a folheá-lo. Nas primeiras páginas, havia apenas anotações infantis como o dia da primeira comunhão; o dia da morte da avó; a festa de aniversário de quinze anos, com a presença dos tios, tias, primos e primas; o primeiro dia no emprego... Somente quando cheguei à página oito em diante é que comecei a ler algo que não gostaria jamais de relembrar. As páginas estavam escritas com letras miudinhas e delicadas, começando bem no alto de cada página e quase sem espaço nas margens. O que estava escrito ali seria capaz de deixar qualquer homem, por mais experiente que fosse, confuso e assustado. Talvez somente com a sutileza dos sentimentos femininos seria possível compreender o que Viviane tinha escrito naquelas páginas do seu “diário”. Porém, para mim, simplesmente não fazia sentido... Seria preciso repensar tudo aquilo que eu acreditava ter aprendido sobre as mulheres e a vida; apesar da minha experiência em lidar com pessoas, sentia-me como um adolescente ao dar seus primeiros passos nos complicados caminhos da vida adulta. A primeira coisa que me veio à cabeça foi levar comigo aquele “Diário”, porém, quando Viviane desse por sua falta seria certamente algo terrível para ela, afinal, eu já havia cometido erros demais durante toda a minha atribulada vida, não queria que esse fosse mais um. Achei melhor tirar uma cópia em uma copiadora e depois devolvê-lo, embora correndo o risco de que, quando voltasse, Viviane e sua mãe já tivessem retornado; nesse caso, eu o deixaria na janela da frente do apartamento que permanecia entreaberta e o devolveria sem ser notado. Como não dispunha de muito tempo para pensar no que fazer... Coloquei o Diário em14
baixo do braço e saí às pressas em direção a uma rua onde as lojas ficam abertas vinte e quatro horas todos os dias da semana e que tinha uma copiadora onde por várias vezes consegui copiar vários documentos. Em menos de uma hora já estava de volta com a cópia do “Diário”. Com o coração batendo acelerado e a respiração ofegante, subi as escadas e me aproximei do local esgueirando pela parede até a janela do apartamento de Viviane onde coloquei o diário pelo lado de dentro. Não notei ninguém em seu interior; me pareceu que elas ainda não tinham retornado. Desci as escadas com a mesma rapidez com que tinha subido e entrei no carro com a cópia do “Diário” de Viviane nas mãos, suadas o suficiente para molhar as folhas mais externas. Já em casa, comecei a reler o que estava contido naquelas páginas escritas com letras redondas e miudinhas, numeradas de 1 a 150; as poucas páginas que restavam estavam em branco. A partir da página 9 lia-se:
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