OS PECADOS DE UMA MULHER

Os pecados de uma

mulher

e outras cr么nicas

Aldrin Marcelo Felix

Os pecados de uma

mulher

e outras cr么nicas

S茫o Paulo 2013

Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Aline Benitez Revisão Natalia Silveira Diagramação Monica Rodrigues CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________

F36p

Felix, Aldrin Marcelo Os pecados de uma mulher: e outras crônicas/ Aldrin Marcelo Felix. São Paulo: Baraúna, 2013.

ISBN 978-85-7923-688-4 1. Crônica brasileira. I. Título.

13-1002.

CDD: 869.98 CDU: 821.134.3(81)-8

18.02.13 19.02.13

042832

________________________________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 — Liberdade — São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br

Agradecimentos

Gostaria de fazer alguns agradecimentos: Deus: inteligência suprema, fonte primária de todas as coisas. Sem Ele nada seria possível. À equipe de profissionais que trabalhou para o êxito deste projeto.

Eliana e Olivar: meus amados pais! Sem o seu efetivo apoio, em todos os sentidos, esta obra não seria hoje uma realidade.

Meu irmão Patrick e sua esposa Verônica: valorosos companheiros de jornada com quem tenho aprendido muito.

Professora Cláudia Cantarella: uma grande educadora e prestimosa amiga, que muito me incentivou a publicar um livro e me honrou com a autoria do prefácio do presente volume.

Finalmente, minha sincera gratidão a todos os leitores que dedicarem um pouquinho do seu tempo à leitura destas páginas.

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Enxergando longe...

A primeira vez que vi Aldrin Marcelo, eu estava na sala de provas de um centro de estudos, e ele entrou para fazer um teste de Português. Sentou-se e, imediatamente, “colou” os olhos na folha de papel.

Pareceu-me que as letras entrariam pelos seus olhos.

Eu era novata na escola, não sabia de suas dificuldades de visão e corri à coordenação para me informar a respeito. A voz da coordenadora revelou-me que ele quase não enxergava.

Voltei à sala, e Aldrin estava aguardando-me para entregar a prova sem nenhuma incorreção. Depois, ele me falou dos seus textos, de sua poesia, de sua “Rosa da Encosta”... de sua visão. Aldrin vê além das palavras e das frases, além dos textos e das imagens. Em seus inúmeros trabalhos em sua página da internet é visível como sente a vida e a saboreia, visceralmente a vê e a vivencia.

Nas crônicas deste livro, há um pouco de tudo que ouvimos, falamos e vemos pela vida. São retratos de pessoas que se mostram, embora pareçam ocultas, são espelhos de vidas que se expõem e se escondem. São histórias que mesclam chocolates e amarguras, Papai Noel e novos vampiros; “jovem garboso” e “aquele vagabun7

do filho da puta”; verdades, sonhos, sarcasmos, ironias, compaixão e poesia.

Pela voz de Aldrin- em meio às vozes das suas personagens tão presentes-, descobrimos como ele vê a vida e, inclusive, como vê a escuridão dentro daqueles que enxergam e não veem.

Cláudia Cantarella

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Introdução1

Uma malformação congênita nos olhos me impediu na infância de desfrutar os prazeres que uma boa leitura pode oferecer. Não obstante, de nove para dez anos eu já escrevia histórias infantis em um caderno, sem ter lido um único livro.

Lembro-me que quando mostrei meus escritos para a professora ela disse incrédula: “não foi você quem escreveu isso aí não, menino”. Depois disso fiquei muitos anos sem escrever.

Aos dezoito anos — com trabalho árduo e muita força de vontade — finalmente comecei a ser capaz de ler livros. Então o velho dom de escrever viera aos poucos à tona. Acredito sinceramente em inspiração e transpiração.

Hoje faço incursões nos universos da prosa e do verso. Sou também adepto da Doutrina Espírita e ministro aulas e palestras de divulgação. Mas o Espiritismo não é assunto deste livro.

“Os pecados de uma mulher e outras crônicas” é uma coletânea de crônicas, publicadas inicialmente no site Recanto das Letras, que em sua maioria retratam o cotidiano 1 Este trabalho não guarda nenhum rigor quanto ao gênero literário, ora apresentando elementos da Crônica, ora agregando elementos do Conto.

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urbano, embora algumas apresentem algo de insólito.

Das vinte e duas crônicas contidas nesta obra, duas ”Chocolates Também São Feitos De Gratidão” e “Nosso Inesquecível 147” são baseadas em fatos reais.

O restante é fruto da mente excitada de um simples contador de histórias.

Com uma única exceção, procurei não julgar minhas personagens, mantendo-me na narração imparcial dos fatos. Os julgamentos ficam a cargo dos leitores.

Bem, feitas as considerações preliminares, só me resta agora desejar a todos: façam uma bela viagem!

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Os pecados de uma mulher

O jovem playboy dirigindo um Audi prata jamais poderia imaginar o que aconteceria dali a duas semanas quando pegou aquela prostituta na Rua Augusta. Em verdade o rapaz nunca chegaria de fato a solucionar o mistério.

Sem saber como explicar, Gabriel sentira uma atração irresistível por aquela mulher que já entrava na idade madura, de coxas grossas, pernas bem feitas, tez morena, cabelos lisos a lhe caírem sobre os ombros e lábios rubros e carnudos. “Nossa, estou fissurado nessa coroa”!

No quarto de motel o casal recém-formado iniciou a breve preliminar.

— Então, quanto você cobra, Samanta?

— Cem reais a hora, meu bem.

— E para ficar uma noite inteira?

— Cobro mil reais pela exclusividade.

O rapaz, que também era moreno de cabelos castanho escuro, que estavam um pouco compridos, deixou escapar um sorrisinho cínico e observou: 11

— Por enquanto ficamos combinados por uma hora, certo? Agora me mostre o que você sabe fazer.

— Olhe, antes de começarmos vou logo dizendo: nada de beijos. Sou uma profissional. O moço meneou a cabeça em sinal positivo. A mulher pediu que Gabriel se deitasse na cama; em seguida a mesma foi abaixando lentamente sua calça.

A experiente meretriz mostrou-se de extrema habilidade no ato oral. Depois se despiu, abriu as pernas e numa voz que se fez sensual, falou: — Vem, estou pronta. Ah, se não tiver camisinha, pegue uma na minha bolsa, querido.

O jovem dominado por um desejo incontrolável avançou sobre aquele belo corpo nu e delgado. Queria possuir aquela mulher de todas as maneiras. Os corpos fundidos começaram a arder de prazer num vai e vem ininterrupto, e os tímidos suspiros do princípio se transformaram rapidamente em gemidos lascivos.

Acostumada a encarar o sexo apenas como trabalho, dessa vez aquela que tinha por nome de guerra Samanta, sentiu-se intimamente ligada a Gabriel. Teve por este logo que seus olhos se cruzaram na Augusta, um estranho sentimento, um misto de afeto e desejo. Quis que o rapaz a beijasse com paixão e sabia que seria atendida, no entanto, conteve-se em seu ímpeto. Era um risco; não podia se apaixonar por aquele garoto, todavia, já parecia estar.

Ao se despedirem naquela noite quente, Samanta permitiu que Gabriel ficasse com seu número de celular.

Assim se encontraram novamente dois dias depois, só que desta vez em um hotel. Gabriel pediu à moça que

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fosse ao encontro usando uma roupa mais discreta para não dar assunto às más línguas.

Nesta ocasião o casal ficou junto à noite toda. Houve mais romantismo com troca de caricias e finalmente a meretriz cedeu. Um longo beijo revelou o amor nato naquele coração feminino que até então apenas tinha conhecido sofrimentos.

— Quanto te devo, Samanta? — perguntou o rapaz apaixonado.

— Oh, pague-me com todo o amor que puder, Gabriel. A prostituta estava vivendo o seu lindo conto de fadas. “Chega de sapos em minha vida, agora tenho um príncipe”.

Samanta dividia um apartamento com uma amiga.

Aproveitando a ausência da mesma que fora “à luta”, seu novo encontro com o seu playboy de quem, aliás, ainda sabia muito pouco, fora ali mesmo.

Nus e abraçados na cama, o rapaz acariciou os cabelos da mulher e indagou: — Qual é o seu nome, Samanta? Quero dizer, o verdadeiro.

— Me chamo Márcia.

— E como foi parar nessa vida, Márcia?

A mulher soltou um profundo suspiro como a fazer esforço para se lembrar de fatos que muito a aborreciam e esclareceu: — Quando mais jovem fui bastante apaixonada por um homem mais velho que eu, porém, sedutor e cheio de charme. Mas o desgraçado não passava de um explorador de mulheres que gostava de fazer negócios arriscados.

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Acabou com todo o meu dinheiro e ao me ver na miséria, sem condições de sustentá-lo, ele simplesmente me abandonou. Ei, não quero mais falar sobre isso. Vamos mudar de assunto. Aposto que você era um menino bem bonito e levado quando pequeno. A moça sorriu descontraída, e emendou: Você tem irmãos, Gabriel?

— Não, sou filho único, minha mãe contou-me que teve muita dificuldade para engravidar. Ah, eu era bem gordinho.

— Nossa! Sério?

Gabriel pegou sua carteira que estava no bolso da calça e retirando de dentro uma velha fotografia disse: — Veja, este sou eu ao lado de minha mãe.

A meretriz não pôde conter o assombro.

— Essa mulher é a sua mãe?

— Sim, minha amada dona M... — A moça cortou-lhe a frase — Dona Mariana Aparecida Veiga.

— Exato. Mas como você...

— Não importa — a mulher entrou em total desespero — pegue suas roupas e saia daqui, garoto. Não quero te ver nunca mais.

— Mas o que foi? Falei alguma coisa errada? Diga-me, por favor.

— Não Gabriel — e começou a chorar copiosamente. Eu é que faço tudo errado mesmo. Agora eu te peço, vá embora.

— Está bem, mas eu volto.

Quando a amiga Mônica chegou de madrugada, Márcia ainda tinha o rosto sob os travesseiros banhado em lágrimas.

— O que foi, Samanta, brigou com o namorado?

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— Não, eu o mandei embora para sempre.

— Mas por quê?

— Porque não passo de uma pecadora desgraçada! Eu estava beijando e indo para a cama com o meu próprio filho. Como isso foi acontecer, meu Deus? O pranto recomeçou.

— O quê! — gritou a outra incrédula.

— Tive um filho quando tinha quinze anos. Como não podia criá-lo e também porque achava que um bebê iria atrapalhar os meus sonhos da juventude, vendi o menino para um casal que não podia ter filhos. Foi fácil, pois eu trabalhava como doméstica na casa deles. Quando o Gabriel veio me mostrar a foto dele pequeno com a mãe, reconheci aquele rosto na mesma hora. Sim, era ela mesma, dona Mariana, a mulher que ficou com o meu filho.

— Mas isso é terrível, amiga! — analisou Mônica — O que vai fazer se ele voltar? Ei, espere aí, você não contou a ele q...

— Claro que não sua desmiolada. Ele jamais vai saber se depender de mim. Imagine se eu disser “sinto muito Gabriel, mas cometemos um engano; temos de parar, pois você está comendo a sua mãe biológica”.

Disso tudo ficara uma única certeza: Samanta (a meretriz) estava morta e sepultada. Márcia tomara um ônibus logo pela manhã no movimentado Terminal Tietê. Seu destino? Qualquer lugar bem longe de São Paulo.

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