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Os pecados dos outros

Os pecados dos outros Deco A. Costa

S達o Paulo 2014

Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Jacilene Moraes

Diagramação Felippe Scagion Revisão

Mariana M. Benicá

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ C871p Costa, Deco A. Os pecados dos outros/ Deco A. Costa. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0013-7 1. Romance brasileiro. I. Título.

14-11665 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 28/04/2014 05/05/2014

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados.

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Dedicat贸ria Aos meus pais, que sempre, aos meus olhos, ser茫o instrutores do bem, e a todos que me inspiraram e incentivaram a escrever este livro. E principalmente a Deus pela coragem dada me ajudando assim a encarar meus pr贸prios erros.

Sumário Prólogo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 O princípio da queda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O velho e o tempo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19 A rotina de Edgar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29 O enterro de Adamastor . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41 Lágrimas secas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 O bando do Café. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59 Tião das Dores. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 67 E por falar em você. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75 Ornitorrinco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81 Confissão. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91 Tanto desamor. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97 O crime do porta-retratos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105 Você sabe com quem está falando?. . . . . . . . . . . . . . 117 Em teu nome . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 125 Jardel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135 O sorriso do palhaço . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145 A mentira nossa de cada dia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155 A verdade. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161 Na cabana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 167 A última festança. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179 Uma fome do tamanho do mundo. . . . . . . . . . . . . . 183 O pecado dos outros. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 189

Prólogo Desde o início dos tempos, o homem, crente ou ateu, rico ou pobre, estudado ou analfabeto, e até mesmo os mais santos, são vítimas dos pecados que os rodeiam. Não importa mesmo o seu credo, mais cedo ou mais tarde, quando menos se espera, lá está uma atitude ou uma palavra, dita por qualquer um de nós, que nos leva ao inevitável cárcere do errar. Uma prisão sombria de nossa própria consciência. Claro, os mais puritanos irão discordar, vão achar absurdo colocar todos em um mesmo nível, e porque não dizer, colocá-los em nosso nível. Assim também pensavam os sacerdotes fariseus, nos remotos tempos em que a Judeia era apenas mais um quintal do Império Romano. Eles, que por se considerarem santos demais, crucificaram o seu próprio Cristo. E assim também papas, nos primórdios da era medieval, munidos desta mesma certeza, puniram com a morte os que eram considerados imundos. E até para fugir de um cenário religioso, os mais céticos e sábios estudiosos condenam a um inferno de desprezo aqueles que vão contra a toda a sua imposta filosofia. No final, isso só prova a igualdade dos homens, pelo menos nos erros.

Convido você a se livrar de todos os seus conceitos de pecado, certo ou errado, e aventurar-se com o nosso herói, se assim podemos dizer, na mais terrível missão dada a qualquer pessoa: conhecer os defeitos do próximo para, mais tarde, confrontá-los em si mesmo.

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E não é à toa que o seu nome é Dante, clara alusão ao grande escritor e poeta italiano, autor da Divina Comédia, que enfrenta o próprio inferno e todos os seus círculos, para, somente assim, ser digno de conhecer o paraíso. Nosso herói, de certa forma, fez o mesmo e, acredite, somente assim, ao conhecer o inferno dentro de nós, podemos ser dignos de redenção.

Nas histórias, pode ser que, à primeira vista, elas pareçam paralelas e sem conexão alguma, mas mostram o pecado, assim como ele é, e chegam a um final onde tudo efetivamente está conectado.

Além dos conhecidos sete pecados capitais, Soberba, Inveja, Preguiça, Ira, Gula, Luxúria e Avareza, nós trouxemos de volta a Melancolia, descartada da lista no início do século cristão, e incluímos a Mentira e a Vaidade, os dois pecados mais comuns no nosso dia a dia.

Para que a aventura seja plena e a justa recompensa recebida, não tema reconhecer alguém nos contos descritos. Mais ainda, não tema se reconhecer. Apenas se vista de humildade, único escudo e espada para a batalha que se aproxima. Uma batalha pessoal onde só os mais valentes podem sair vitoriosos. Desarme-se de tudo para vencer esta guerra.

Siga em frente, nobre guerreiro(a) de seus próprios conflitos!

O autor

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O princípio da queda O relógio marcava dezoito horas e, como era o combinado, o tempo se esgotara. Já na porta, olhei para os seus cabelos e barba brancos e me despedi, ainda atônito com o pedido que me fora feito. Ele, desprendido de culpa por isso, com um sorriso calmo, disse: — Até a próxima semana, Dante, passar bem.

Passar bem? Ele havia me pedido algo que até agora não conseguia entender direito a razão e, pior ainda, daria muito trabalho. Pior do que você fazer algo que não vê motivos para ser feito, é o trabalho que isso acaba tomando. Maldito o dia em que resolvi fazer esta terapia!

Peguei o elevador e, enquanto descia os sete andares que me elevavam do chão, fui imaginando como cumprir a tal tarefa. Andar por andar, minha mente não parava de pensar. De certa maneira, meu coração já me dizia, como um amigo avisando do perigo, que era o início de uma viagem para um mundo desconhecido e assombroso. Afinal de contas, o que é mais assustadoramente desconhecido e assombroso para o homem do que enfrentar seus próprios fantasmas, seus monstros imaginários, escondidos no mais profundo oceano de sua alma? A descida daquele elevador simbolizava a partida para essa batalha pessoal, uma queda para o meu próprio inferno, sem a certeza de que, ao terceiro dia, eu poderia também ressuscitar. Talvez essa comparação não seja a mais adequada,

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independente do meu ateísmo convicto, herdado pelos meus pais, mas conservo o respeito por toda e qualquer crença. Melhor seria comparar a busca descrita na Divina Comédia, dando assim um sentido mais literário, ainda que religioso, mas ao menos socialmente e de comum acordo considerado fictício. E, ironias à parte, meus pais me deram o mesmo nome que o personagem do livro.

Ironias. Minha vida tem sido um mar delas. E eu, ainda que saiba nadar nesse oceano, encontro às vezes dificuldades em dar braçadas rumo a uma praia tranquila. Longe delas. Ironias!

O elevador atinge o térreo, e como um anjo caído, destituído de sua glória, e no meu caso, do comodismo de não confrontar com o que minha própria mente esconde, sigo o caminho de casa. Caminho cheio de espinhos, todos criados por meus medos.

Meu senso crítico me fez questionar a mim mesmo, mais de uma dezena de vezes, o por quê desse pedido.

Escrever todos os dias uma história diferente, sem tema proposto, apenas o que minha alma e coração desejassem expor. Talvez seja melhor pegar antigas matérias de revistas e jornais e apenas transcrevê-las. A ideia até que me agrada. Assim não perco tanto tempo nisso, já que estou convencido de que é uma bobagem. Uma tolice criada apenas para inflar um ego já inchado. Quem ele pensa que é? Deus? E se O fosse, tenho que toda hora lembrá-lo de que sou ateu?

Vali-me de algumas pesquisas, coloquei pra fora do armário uma centena de revistas, guardadas por muito tempo e com total zelo, algumas anotações do tempo

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do colégio, algumas frases perdidas em redes sociais e o quebra-cabeças foi se juntando.

E assim foi.

Naquela busca para escrever tudo o que vinha na mente, nada tirava o meu foco. As horas se transformaram em minutos, e aos poucos não mais consultava os velhos trechos escritos por outros. Joguei fora tudo aquilo que não era de minha própria autoria. De alguma forma se tornou prazer. As palavras fluíam como as águas de uma represa rompida, devastando o que estava na frente. Fui marcando o papel com a mesma raiva que antigos gladiadores marcavam com espada a pele de seus inimigos. Fui imprimindo cada frase, marcadas a fogo, como é feito em gado. Determinando a propriedade e a autoria. Todas minhas.

A semana passou rápido e eu estava pronto para entregar todo o conteúdo escrito. Para dar mais clareza aos assuntos, separei por tema, e ao fazer isso, percebi algo em comum entre todos eles. Um tema central prevalecia.

Estranho ter notado isso. Mas resolvi que esta seria mesmo a melhor maneira de dividir cada conteúdo escrito.

Uma sensação de orgulho foi se agigantando ao ver tudo aquilo escrito. Daria até um livro (pensei).

— É, Dante, você conseguiu! — Falei olhando para o espelho.

Antes de enviar por email, me certifiquei de que estava tudo certo, lendo cada capítulo. . Procurei um lugar mais tranquilo. Sentei na sacada do meu apartamento, que por culpa da ganância e falta de planejamento das grandes construtoras, dava de frente ao prédio vizinho, separados

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apenas por alguns metros, que deram origem a um pequeno beco na rua, sempre escuro e sujo, com alguns caixotes jogados e com alguns latões de lixo. Um ambiente sombrio em que poucos se arriscavam a entrar lá.

Na parte mais escura daquele beco dava morada a um mendigo que, embriagado, falava aos seus amigos imaginários, e provavelmente os únicos que davam ouvidos as lamentações de suas derrotas.

— Que fim ele chegou. — pensei tentando enxergar o seu rosto, coberto pelas sombras.

—Vai trabalhar, vagabundo! — Gritou a vizinha do apartamento de baixo, que logo resolveu o seu problema aumentando o volume da televisão. Não importava a ela que o som agora que o aparelho emitia, incomodava até mais a vizinha que o tagarela mendigo.

Continuei mais alguns minutos na sacada, quando no prédio ao lado pude ouvir um casal discutindo. Os poucos metros que separavam a minha sacada da janela deles me tornava cumplice de suas mazelas diárias.

— Silêncio! — esbravejou o bêbado, talvez porque aquele barulho atrapalhava os seus delírios, confessados no beco escuro.

Achei por um momento engraçado, ainda que um sentimento de desprezo pelo modo caótico que essas pessoas levavam as suas vidas, tenha invadido minha mente e coração. Quando já desistira de permanecer do lado de fora do apartamento, todos se aquietaram. Um momento de paz, apenas quebrado alguns segundos pelo som dos passos de uma prostituta, que tentava se equilibrar em seu salto alto, desfilando pela calçada.

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A tranquilidade que se seguiu, uma raridade no centro da cidade, me permitiu entender a lógica dos contos escritos, tão mal desejados quando o terapeuta os pediu, mas que no final se tornaram como um diário de um mundo imaginativo, protagonizado pelos personagens reais do meu cotidiano.

Mal eu sabia o que me esperava. Apontar os erros dos outros, é mesmo como entrar em um beco sujo, escuro e apertado. Emparedado pelos erros ignorados, obrigado a desvenda-los, me sentindo encurralado por tijolos que eu mesmo ergui, de atos que cometi.

Por alguns minutos me lembrei de Beatriz, o grande amor de minha vida e os bons momentos juntos, que invadiram minhas memórias. Mas em seguida senti um aperto no coração e o terrível sentimento de culpa, razão de iniciar a terapia com Virgílio. A decepção de ver os meus sonhos abandonados em nome de um amor que não pude sustentar e que depois a acusei de ser a causadora deste sentimento de frustração. Joguei-me em um precipício de tristezas, sentenciando nós dois a solidão.

Não saber lidar com os meus fracassos e atribui-los a Beatriz foi mesmo o principio de minha queda.

Comecei a correr os olhos por aquelas folhas escritas, agora separadas da forma como se encontram.

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