O Vale dos Mortos

O Vale dos mortos

O Vale dos mortos Rodrigo de Oliveira

S達o Paulo 2013

Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa Dalton H. Chiarioni Projeto Gráfico Aline Benitez Diagramação Thaís Santos Revisão Pérola Benitez

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _________________________________________________________________ O51v Oliveira, Rodrigo de O vale dos mortos / Rodrigo de Oliveira. - São Paulo : Baraúna, 2013.

ISBN 978-85-7923-675-4 1. Ficção brasileiro. 2. Contos de terror. I. Título.

13-0212.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

10.01.13 14.01.13 042081 _________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 Liberdade — São Paulo — SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br

Para minha esposa Cláudia e meus filhos Felipe e Fernanda. Sem vocês minha vida não teria sentido.

Agradecimentos gradeço minha esposa Cláudia pelo seu apoio incondicional neste projeto.

Muito obrigado a minha mãe Maria de Fátima e meu sobrinho Raphael, os dois primeiros que leram este livro.

Um agradecimento especial a minha irmã Viviane, minha leitora mais crítica, meus irmãos Rogério e Renato e minha cunhada Patrícia, vocês fizeram questão em ler estas páginas antes de todos os outros.

Muito obrigado à Renata, minha cunhada e revisora. Eu sei que te dei muito trabalho e espero que você me perdoe.

Agradeço ao meu amigo Ricardo Lucena pelas dicas a respeito do ramo editorial. Sobretudo, quando disse que eu deveria ouvir as críticas e aguentar firme. Vou levar esse conselho comigo para sempre.

Também agradeço o apoio das equipes dos sites “Zumbi Apocalipse” — http://www.facebook.com/zumbiapocalipse, “Apocalipse Zumbi no Face” — http://www.facebook.com/ apocalipsezumbinoface, “Revil” — http://www.facebook. com/revil.br, “Zumbis no Face” — http://www.facebook. com/zumbisnoface e “The Walking Dead Brasilian” — http:// www.facebook.com/thewalkingdeadbrasilian, por apostarem neste projeto.

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O meu muito obrigado aos meus amigos Mattheus Paulo, Eduardo Delfino, Hilton Gabriel, Gabriel Gregório, Bruno Miranda, Ramon Oliveira e Carlos Oliveira, a melhor equipe de divulgação em redes sociais do mundo. E agradeço todas as pessoas que acessaram e curtiram o site do livro no Facebook.

Somos poucos, mas somos fortes!

Acima de tudo agradeço a Deus. Eu questiono suas decisões nesta obra, mas nunca deixei de ter fé.

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Introdução van abriu os olhos e tentou entender onde estava. A cabeça e o corpo todo doíam horrores, ele mal conseguia se mexer.

Demorou um pouco, mas lembrou-se do que havia acontecido. Sofrera um acidente de carro. Tentou manter o veículo sob controle, mas foi impossível, a caminhonete praticamente empurrou seu carro para fora da pista e, depois disso, tudo havia se apagado. Mas, estranhamente, ele não se lembrava de ter sido socorrido por nenhuma ambulância ou carro dos bombeiros.

Foi quando se deu conta de que ainda estava dentro do carro. Olhava para os lados e via apenas mato alto, tingindo de verde toda a paisagem. Logo à frente, tinha muito capim e pouco adiante, uma árvore ressecada, quase sem folhas, uma visão fantasmagórica que tornava a cena ainda mais assustadora.

De repente, ele se sobressaltou, onde estava sua família?

Sua mulher, seus filhos? A última lembrança que tinha era dos gritos das crianças, chorando apavoradas, pedindo para ele ir mais devagar. Sua esposa também gritava, ora falando para ele ir mais devagar, ora implorando para ele acelerar.

Depois de alguns instantes de verdadeiro pânico, Ivan lembrou o óbvio: só precisava olhar para trás. Estavam todos

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no banco de trás do Elantra. Mas estariam bem? Teriam se machucado? Teria acontecido algo pior?

Reuniu coragem e olhou sobre o ombro direito. O que viu o encheu de alívio: sua esposa Estela estava sentada no banco de trás entre seus dois filhos, Matheus e Ana, aparentemente bem. Mas era uma visão ao mesmo tempo assustadora, pois, ela estava com os olhos abertos, porém, olhando para o teto do carro, praticamente sem piscar. Mas os olhos não estavam parados, dançavam nas órbitas de forma frenética, inquietos, confessando um terror silencioso que fez com que Ivan sentisse um calafrio.

Ao lado da esposa, as crianças estavam acordadas também, cada qual com a cabeça encostada em um dos ombros da mãe, que estava no meio. Estavam completamente imóveis e silenciosas, como se estivessem com medo até mesmo de respirar.

— Vocês estão bem? − perguntou Ivan, tendo certeza de que já sabia a resposta.

— O que está acontecendo? − perguntou Estela, após uns trinta segundos de hesitação. Parecia que, finalmente, ela estava saindo do estado de choque e ficava olhando para todos os lados, frenética, alerta, esperando que algo acontecesse a qualquer momento.

— Eu não sei, acho que saímos da estrada durante a fuga...

Não me lembro bem, faz tempo que estamos aqui? − perguntou Ivan sincero, tentando desviar da pergunta de sua esposa.

— Nós caímos do viaduto pai. — falou Matheus, seu filho mais velho — Até o air bag abriu, olha só. — falou apontando para as duas bolsas brancas murchas que brotaram do painel e do volante.

— Tem razão filho, deve ter sido uma queda e tanto...

Mas eu não consigo me lembrar direito. Faz muito tempo?

— Acho que mais de uma hora. — disse o filho, inse-

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guro — Nós tentamos chamar vocês, mas nenhum dos dois respondia, ficamos com medo!

— Uma hora! Eu desmaiei mesmo então! — Ivan estava perplexo. Ele olhou para cima e notou que o filho tinha razão, uns quatro metros acima dava para ver a beira do viaduto e um pedaço do 1guard rail balançando tranquilamente, bem no ponto onde o carro tinha arrebentado a grade de proteção e voado rumo ao matagal.

Lembrava, realmente, de estar em alta velocidade no anel viário, desviando dos carros, das pessoas, tentando fugir em alta velocidade da turba furiosa que os perseguia. O anel viário é a principal ligação da zona norte de São José dos Campos com a zona sul, dando acesso à Rodovia Dutra. Era para lá que estavam indo quando Ivan perdeu o controle do Elantra e despencou do viaduto. Tinha pensado em ir para a casa de sua mãe, em São Paulo, mas não tinha conseguido nem chegar na rodovia.

— Papai, eu quero ir para casa — resmungou sua filha Ana, a caçula da família. — Vamos sair daqui, estou com medo!

— Filha, nós vamos sair daqui sim, só preciso ver como a gente vai fazer isso. Mas não podemos voltar pra casa agora, precisamos descobrir o que está acontecendo...

— Quem era aquela gente, papai? Por que nos atacaram?

— perguntou a menina com medo no olhar, como se estivesse revivendo os momentos de pânico que havia vivido mais cedo.

— Ivan, o que está acontecendo? O que eram aquelas... coisas? Por que fizeram aquilo, por que... nos atacaram? — perguntou Estela, quase sussurrando a última parte, tentando não assustar ainda mais as crianças, como se isso fosse possível.

Ela evitava usar a palavra assustadora que havia empregado para definir aqueles seres, pouco mais de uma hora antes.

1 (guard-rail) Barra de metal, localizada na lateral de estradas ou rodovias, para proteção.

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— Não sei amor, nunca vi nada igual... Só sei que não podemos ir para casa, a nossa rua parecia uma praça de guerra, temos que tentar...

Antes que Ivan completasse a frase, começaram a ouvir gritos. Uma mistura apavorante de berros, urros e gemidos vindos do viaduto. Ao que parecia, estava acontecendo uma verdadeira batalha campal logo acima das cabeças deles.

— Temos que sair daqui agora! — ordenou Ivan, soltando o cinto de segurança. A cabeça dele doía e ele se sentia nauseado, mas finalmente, o torpor que sentia desapareceu ao perceber que ainda estavam em perigo.

— Não quero, eu estou com medo! — reclamou Ana, num tom de voz perigosamente alto.

— Eu quero que você obedeça ao seu pai Ana! E fica quieta, antes que alguém nos ouça e...

Naquele instante, um estrondo ensurdecedor se fez ouvir logo acima de suas cabeças, e o teto do carro afundou quase 10 centímetros para dentro da cabine. Todos gritaram ao mesmo tempo, num misto de terror e perplexidade.

Logo em seguida, uma criatura caiu do teto, desajeitada, sobre o capô do veículo. Algo que simplesmente não existia até aquela tarde de sábado, um personagem saído diretamente dos confins do inferno, nascido para uma vida maldita, naquele dia que seria lembrado geração após geração. O dia em que havia acabado o reinado da raça humana, como espécie soberana na Terra, após milênios de dominação.

O ser olhou para a família apavorada dentro do carro.

Todos começaram a gritar e falar ao mesmo tempo. Mas aquela criatura não entendia nada. Não havia nela nenhum sinal de humanidade. Nenhum sinal de sanidade. Apenas dois olhos brancos, leitosos e emoldurados por um rosto feroz, alucinado.

Olhos vazios e mortos. E, acima de tudo, olhos famintos.

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Instantes depois, a criatura espatifou o para-brisa e conseguiu entrar no carro e, quando isso aconteceu, os gritos atingiram um patamar ensurdecedor. Depois, tudo ficou silencioso. O mesmo silĂŞncio assustador que precede a morte.

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Capítulo 1 — O Fenômeno e tempos em tempos, ao longo de milênios, surgiram teorias diversas sobre o fim do mundo. Cientistas e esotéricos, fanáticos religiosos e maníacos por conspirações, professores, políticos, donas de casa, estudantes e, praticamente, todas as pessoas do mundo inteiro ouviram ou inventaram explicações para o evento cataclísmico que iria reduzir tudo em cinzas.

Em alguns casos, a aposta era que um gigantesco cometa iria se chocar com a Terra, reduzindo tudo em um grande monte de escombros. Cada nova descoberta que evidenciava a ocorrência de grandes impactos de corpos celestes com o nosso planeta em tempos remotos reforçava que eventos desse tipo não eram tão raros assim, portanto, era provável que acontecessem novamente.

Para piorar, era cada vez mais óbvio que um cometa não precisaria ser demasiado grande para causar um grande estrago.

Em Tunguska, região remota da Sibéria, um corpo celeste, de meros 50 metros de diâmetro, causou uma explosão de cerca de 10 mil megatons em 1908, derrubando cerca de 80 milhões de árvores. Se tivesse explodido apenas duas horas mais tarde, o tal cometa teria desintegrado toda a cidade de Moscou. A aposta de muitos profetas do fim do mundo era que todos nós teríamos o mesmo fim dos dinossauros.

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Outros diziam que as inúmeras queimadas e emissões de bilhões de toneladas de CO2 iriam superaquecer a Terra com o famoso Efeito Estufa, causando o degelo das calotas polares e o alagamento de cidades costeiras inteiras e, o resto do nosso planeta, em alguns anos iria se tornar um deserto inabitável.

Diversas profecias apontavam o ano 2000, como a data provável da grande catástrofe, mas o tempo passou e o mundo ironicamente continuou existindo, forçando especialistas de todos os países a voltarem aos livros e aos cálculos para entender o que havia dado errado.

Por mais que o tempo passasse e nada acontecesse, de tempos em tempos, surgiam indivíduos que apostavam na tese do apocalipse. Era uma aposta válida, nosso planeta já havia passado por grandes extinções em massa, em diversas épocas, e o acontecimento de mais um evento catastrófico de escala global era algo possível. E, dessa forma, as teorias continuavam surgindo.

Baseados no calendário Maia, alguns afirmaram que o ano da extinção seria 2012, mais precisamente, no dia 21 de dezembro. Porém, mais uma vez nada aconteceu.

Uma das teorias apocalípticas menos divulgadas, falava de um suposto planeta que iria se chocar com a Terra. Essa teoria foi descrita em detalhes por um obscuro autor, chamado Joaquín Amortegui Valbuena, que escrevia sob o pseudônimo de V. M. Rabolú.

Em seu livro, que foi inspirado em outro povo antigo e intrigante, os Sumérios, ele declara que o final dos tempos se daria por ocasião do choque de um imenso planeta contra a Terra, o qual os sumérios chamavam de Ekolubus e que ele batizou de Hercólubus, o Segundo Sol. Ele chegou a afirmar em seu livro que esse mesmo planeta já havia estado próximo da Terra, em eras passadas, e em sua última visita teria causado a destruição da Atlântida, o lendário continente que teria sido tragado pelas águas.

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