Pilates Clínico

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Pilates ClĂ­nico



José Luis Pimentel do Rosario

Pilates Clínico

São Paulo 2012


Copyright © 2012 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Aline Benitez Diagramação Thaís Santos Revisão Jacqueline Lima

Priscila Loiola CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ _______________________________________________________________ R713p Rosário, José Luís Pimentel do Pilates clínico/ José Luís Pimentel do Rosário. - São Paulo: Baraúna, 2011. Inclui índice ISBN 978-85-7923-524-5 1. Pilates, Método. 2. Exercícios físicos. I. Título. 11-8543.

CDD: 613.71 CDU: 613.7

21.12.11 27.12.11 032225 _______________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Glória, 246 — 3º andar CEP 01510-000 Liberdade — São Paulo — SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br


Sumário Introdução................................................................... 6 Fisiologia da Postura................................................... 10 A postura e sua avaliação............................................ 13 Princípios do método................................................. 25 Particularidades e orientações..................................... 36 Patologias e exercícios para tratamento....................... 39 Referências bibliográficas.......................................... 105


Introdução Joseph Hubertus Pilates nasceu em 8 de dezembro de 1880, na cidade alemã de Monchenglad­bach, perto de Dusseldorf. Foi sempre uma criança doente que sofria de asma, raquitismo e febre reumática e por isto, praticou vários esportes, a fim de se tornar mais forte e sadio. Pilates se propôs superar suas dificuldades. Por isso, ainda adolescente, foi destro ginasta, esquiador e mergulhador. Em 1912, aos 32 anos, mudou-se para a Inglaterra, onde ganhava a vida como lutador de boxe, artista de circo e treinador de autodefesa na Polícia Civil Inglesa. Quando estourou a Primeira Guerra Mundial, ele foi considerado estrangeiro inimigo e foi enviado para um Campo em Lancaster junto com outros alemães. Em seu tempo livre, deu aula de seu método aos internos, Sua técnica ficou conhecida quando nenhum dos internos daquele campo sucumbiu a uma epidemia de gripe que matou milhares de pessoas em outros campos na Inglaterra em 1918. Foram assim todos beneficiados com a melhora na saúde, o que seria impossível sem a presença de treinos e exercícios. Em 1926 imigra para os Estados Unidos e organiza seu método, que chamou de Contrologia. Em janeiro de 1966, ocorreu um incêndio no Studio na Oitava Avenida

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e Joseph, na ten­tativa de salvar seus arquivos e equipamentos, caiu através do piso queimado, sustentando-se em uma viga até ser resgatado pelos bombeiros. Alguns acreditam que esse foi o motivo da sua morte, em outubro de 1967, aos 87 anos de idade. Fiel expoente de seu próprio sistema, e estava seguro que seus conhecimentos estavam 50 anos adiantados em relação à sua época. Contrologia O Método criado por Pilates destaca-se pela originalidade de seus conceitos e princípios, sendo considerado por especialistas e praticantes como o mais eficiente método de condicionamento físico da atuali­dade. Joseph Pilates era aficionado pelos princípios clássicos de harmonia e beleza do corpo da Grécia antiga, bem como pelos princípios de resistência e força pelo povo espartano. Nessa busca pelos elementos que propiciam o equilíbrio e a harmonia do corpo e da mente, em seu livro Your Health, de 1934, escreve a respeito da Contrologia: É o controle consciente de todos os movimentos musculares do corpo. É a correta utilização e aplicação dos mais importantes princípios das forças que se aplicam a cada um dos ossos do esqueleto, com o completo conhecimento dos mecanismos funcionais do corpo, e o total entendimento dos princípios de equilíbrio e gravidade aplicados a cada movimento, no estado ativo, em repouso e dormindo.

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No seu 2º livro Return to life through Contrology, publicado em 1945, está escrito: Contrologia é a completa coordenação de corpo, mente e espírito. Desenvolve o corpo, mente e espírito. Desenvolve o corpo uniformemente, corrige a postura, desenvolve a vitalidade física, revigora a mente e eleva o espírito. O condicionamento físico é o primeiro requisito para a felicidade... Nós temos de tentar alcançar constantemente corpos fortes e saudáveis e desenvolver nossas mentes até o limite de nossa capacidade. Em outro trecho do mesmo livro, Pilates amplia o alcance de seu método: “A contro­logia começa com o controle da mente sobre os músculos. Respeitando milhares e milhares de células cerebrais, ativando assim novas áreas e estimulando o posicionamento da mente”. Deste modo, Joseph Pilates criou um método que implica a busca 100% corpo e 100% mente. Ele emprega uma série de exercícios físicos, que procuram o desenvolvimento integral do ser humano. Procuram melhorar a postura, equilibrando as tensões do corpo por meio do movimento, de uma forma que toda a atenção e intenção são colocadas em cada parte do movimento. Cada movimento tem um padrão de respiração associado, formas dinâmicas específicas, exigindo alterações constantes da sensação corpórea. O método visa o controle absoluto do corpo por meio do movimento e de suas sensações. A esta arte de controlar o corpo e a mente, Pilates chamou de Contrologia. Controlar o corpo pare-

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ce ser algo óbvio, mas parece que as pessoas não têm ideia de como este controle é importante, na necessidade de serem donas de seus atos, de suas ações, no dia a dia, numa vida cheia de intenção, bem definida, e com total responsabilidade. Trajetória evolutiva da contrologia É um método que está em constante mudança, pode ser hoje aplicado por professores de educação física e fisioterapeutas por ter um caráter de treinamento e de reabilitação. A única coisa que não deve ser esquecida é que ele é apenas uma filosofia que pode ser adaptada a outros exercícios e ferramentas para complementar o trabalho do profissional. E esta filosofia pode ser usada não somente para treinamento, mas para reabilitação e solução de alguns males comuns. Por seu dinamismo e princípios, é um método muito interessante para resolver problemas de saúde relacionados à postura.

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Fisiologia da Postura Desequilíbrios musculares Artrose, escoliose e hérnia de disco são alguns dos maus deste século que atingem uma grande parcela da população mundial. São situações clínicas responsáveis por quadros limitantes ou incapacitantes, os quais afetam severamente a qualidade de vida de um indivíduo. Os desequilíbrios musculares que afetam articulações e estruturas adjacentes são muitas vezes responsáveis por estes problemas. A biomecânica dos desequilíbrios musculares Sabe-se que a estabilidade corporal, responsável pelo alinhamento do corpo, é diretamente ligada ao controle do Sistema Nervoso Central (SNC), pelo feedback sensorial das estruturas osteoligamentares e pelo controle da musculatura ativa. Logo, qualquer disfunção em um desses fatores vai promover instabilidade, a qual será compensada pelo corpo de alguma forma. Uma dessas formas é causando um desequilíbrio entre músculos. De modo que os músculos que são mais utilizados, seja em tarefas do dia a dia, seja por práticas esportivas, tornam-se mais fortes e mais encurtados. Por consequência, ocorre um enfraquecimento e estiramento dos músculos antagonistas.

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O desequilíbrio muscular pode ser explicado pela diferença de força e flexibilidade entre grupos musculares que atuam sobre uma mesma articulação, isto é, ocorre quando determinado grupo muscular apresenta-se mais forte e/ou mais tensionado do que seu respectivo antagonista. Este desequilíbrio pode ser fator causador ou estar associado a diversos fatores, como: uso inadequado, repetição excessiva, má postura, postura antálgica, patologias articulares, patologias musculares, contraturas ou aderências, déficits neurológicos, desuso ou atrofia, prática indiscriminada de atividades esportivas, dentre outras. Como fator causador, os desequilíbrios ocorrem, basicamente, pela promoção de um desalinhamento postural por alterar o posicionamento das estruturas ósseas ao aproximar origem e inserção (encurtamentos); ou promover sobrecargas excessivas em determinadas articulações ou parte delas, ligamentos e outras estruturas, podendo causar lesões agudas ou crônico-degenerativas, como a osteoartrose. Como fator secundário, os desequilíbrios podem ocorrer em consequência a uma lesão inicial. Nesse caso, destacam-se as lesões traumáticas e as neurológicas que podem facilitar ou inibir as contrações musculares de determinados músculos. Alguns grupos musculares apresentam uma predisposição natural ao encurtamento. Embora não exista uma explicação para isso, acredita-se que exista correlação com a posição fetal. Dentre os músculos que sabidamente tendem ao encurtamento, destacam-se: eretores espinhais, gastrocnêmio, sóleo, peitoral maior, esternoclidomastóideos, e escalenos; enquanto seus antagonistas diretos tendem ao estiramento.

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O processo de instalação de um desequilíbrio muscular, normalmente, não é perceptível ao indivíduo até que suas consequências comecem a se manifestar, normalmente em forma de quadros álgicos e/ou deformidades. E, levando-se em consideração o complexo de cadeias musculares que compõem o corpo humano, o processo será seguido de uma série de compensações locais e a distância, transformando o problema inicial em complexo processo de reabilitação postural. De forma simplificada, pode-se dizer que o tratamento dos desequilíbrios consiste em promover um reequilíbrio das cadeias musculares alongando o que está encurtado e fortalecendo o que está fraco. Vale ressaltar, porém, que o equilíbrio fisiológico de forças não é necessariamente o mesmo valor entre os grupos musculares. Por exemplo, é considerado um sistema em equilíbrio quando os isquiotibiais apresentam cerca de 70% da força do quadríceps. Para que os objetivos a serem alcançados como correções posturais ou tratamento de quadro álgicos de origem osteomioligamentares sejam efetivamente conquistados deve-se submeter o cliente a uma avaliação física criteriosa, a qual deve ser composta por análise postural completa, testes de flexibilidade, testes de força muscular e acompanhamento dos exames por imagem. Através destes dados, é possível identificar os grupos musculares comprometidos, assim como as causas e consequências desse comprometimento.

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A postura e sua avaliação Tudo começa por uma boa avaliação. Para avaliar bem é preciso conhecer os músculos responsáveis pelas principais alterações. Deste modo o tratamento será eficiente. Kendall e colaboradores, em 1995, descreveram a postura ideal como: 1) sem desvios e mostrando simetria em vista anterior ou posterior, a partir de um fio de prumo que passa sagitalmente dividindo o corpo ao meio; 2) na vista lateral, o fio de prumo deve passar: levemente anterior ao maléolo lateral, levemente anterior ao eixo da articulação do joelho, levemente posterior ao eixo da articulação do quadril, corpos das vértebras lombares, articulação do ombro, corpos da maioria das vértebras cervicais, meato auditivo externo e levemente posterior ao ápice da sutura coronal.

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Na figura acima é possível entender vários tipos de má postura com a ajuda do fio de prumo. A da direita é a mais próxima de uma boa postura, segundo Kendall. É importante avaliarmos bem estas características para prescrevermos corretamente os exercícios de pilates. Músculos que causam alterações posturais relacionadas à respiração: — diafragma — tórax inspiratório; elevação das últimas costelas com abertura do ângulo de Charpy; lordose diafragmática, ou seja, lordose alta, na altura de L2; — intercostais externos — auxiliam o tórax inspiratório; — peitoral menor— ombro protruso; descolamento do ângulo inferior da escápula; — escalenos — elevação da primeira costela, auxiliando assim o tórax inspiratório; protrusão da cabeça; — esternocleidomastóideo — protrusão da cabeça; retificação da cervical; 14

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— abdominal superior — hipercifose. Cabeça Protusa Ombro Protuso Tórax inspiratório Cifose que pode ser causada pelo abdominal superior

A lordose alta ou diafragmática, na altura L2, causada pelo diafragma, frequentemente mostra o sinal do bigode

A elevação das últimas costelas e abertura do ângulo de Charpy também são causadas pelo diafragma

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