Relatos de uma jornada 15

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RELATOS DE UMA JORNADA



RELATOS DE UMA JORNADA

Biografia escrita pelo espírito Célio e psicografada por Gueta Cardoso

São Paulo 2017


Copyright © 2017 by Editora Baraúna SE Ltda

Projeto Gráfico Editora Baraúna Revisão

Adriane Gozzo

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ ________________________________________________________________

Impresso no Brasil Printed in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

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PREFÁCIO Com imensa alegria fui convidado pela escritora Gueta para fazer o prefácio do livro do espírito Célio. Quando a notícia me foi dada, fiquei duplamente feliz: primeiro, porque tive a honra de poder acompanhar meu grande amigo Célio no início dessa sua caminhada. Sei como ele chegou aqui, o sofrimento que trazia por conta da trama na qual se viu envolvido. Depois de muito pensar, tive a ideia deste livro. Pensei: “Meu Deus, um homem culto, um pai amoroso com seus filhos se vê assim nessa situação”. Pude acompanhá-lo antes do desencarne e vi nessa minha amiga que ora psicografa este livro a chance de redenção dele de todos esses problemas que viveu com sua família. Ora, por que não unir esses dois espíritos que possuem entre eles uma afinidade tão pura e descompromissada de qualquer interesse que não essa amizade? 5


Sabia que minha amiga também passaria por “apuros” com a morte repentina da mãe. Senti um carinho tão puro e sincero também entre as duas e lamentei que tudo isso pudesse ficar “suspenso” com a diferença de planos que logo se daria entre as duas. Por que não? Deus não quer o nosso sofrimento. Ele é amor, logo quer a nossa felicidade. Ela tinha seu “dom” espiritual desenvolvido o suficiente para fazermos este trabalho nela. Seu coração nos recebeu com alegria e como uma grande ponte de salvação entre ela e a mãe. A justiça de Deus se fez e hoje me sinto muito honrado com a lembrança dela em me convidar para prefacear o livro desse meu querido amigo e pedir a Deus que a finalidade deste livro seja alcançada e que o tempo traga luz e maturidade para que os seus principais destinatários possam perceber que esse meu querido amigo só quis fazer uma grande declaração de amor aos seus entes queridos. OBRIGADO! Espírito Rui

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Dedico este livro aos meus filhos e a todos os que de forma direta ou indireta colaboraram para a sua realização.

O autor.

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CAPÍTULO UM Foi como se eu estivesse saindo de um imenso abismo e visse a luz pela primeira vez. Assim me senti ao abrir os olhos pela primeira vez. Todas as dores naquele momento desapareceram, e eu, recostado na cama em que me encontrava, fiquei olhando sério para o amigo que me aguardava. Eu sabia que algo diferente e muito estranho tinha acontecido comigo. “Meu Deus, eu morri”, pensei. O jovem senhor que me olhava calado se aproximou e disse: — Seja bem-vindo, Célio. Você errou e acertou em sua assertiva. Foi então que tive a certeza de que não fazia mais parte do mundo dos encarnados. — O que devo fazer agora? — perguntei. E ele me respondeu: — Viva, meu amigo, viva. Foi então que entendi que o melhor que tinha a 9


fazer era calar-me e procurar amadurecer toda aquela situação em que me encontrava. Minha cabeça se transformou em um grande emaranhado de situações e lembranças dos últimos momentos que antecederam a minha morte. Fiquei assim algum tempo, sem saber o que fazer e o que dizer. Já sentia meu coração cheio de saudade, e as imagens dos meus filhos se misturavam em minha cabeça. — O que será da minha filha sem mim? E o meu filho? Tão jovem e já sem pai. Mas ao mesmo tempo meu coração se renovava em esperança, pois já me sentia livre dos problemas de saúde que me torturavam e tanto me fizeram sofrer. Precisei de algum tempo para me reorganizar e digerir essa nova situação. Eu que, enquanto encarnado, duvidei tantas vezes da presença de Deus e de tudo aquilo que meus olhos não podiam ver, agora, calado, pedia auxílio aos céus, a todos os deuses que existissem. E assim fiquei alguns dias me restabelecendo, observando as pessoas que me cercavam e o local em que me encontrava. Gostaria de poder relatar isso de uma forma mais harmoniosa, mas meu coração estava em retalhos e me é difícil neste momento, mesmo já tendo se passado algum tempo, relembrar esses fatos. Só sei que passei muitos dias sem saber ao certo o que seria de mim. A cada dia me restabelecia mais das dores e dos problemas de saúde que tivera, e à medida que o tempo passava a situação na qual me encontrava foi clareando em minha mente. 10


Eu que sempre procurei utilizar mais a razão que o coração tentava racionalizar a situação e me libertar de todas as angústias e sofrimentos que antecederam minha morte. O que seria da minha bela e jovem esposa? Decerto deveria estar sofrendo minha ausência e sendo consolada por familiares. E os meus fiéis amigos dessa minha jornada? Decerto também estariam sofrendo muito. E me lamentando assim passei algum tempo, até que, numa bela tarde, esse jovem senhor, que desde o meu início aqui me acompanhava, me disse em tom irônico: — Meu amigo, muitas vezes a nossa vaidade nos leva a lugares e situações que não correspondem a nossa realidade. Muitas vezes supomos estarmos diante de uma situação e na realidade nos encontramos em outra. Nesse momento, o que você mais precisa é se restabelecer. Depois vamos conversar muito sobre tudo isso que você viveu e está vivendo. Segue em frente, não desista nunca, que a sua vida vai tomar outro rumo. E assim fiquei durante algum tempo. Já não me importava se era noite ou dia, queria muito rever a todos e ver com meus próprios olhos como todos estavam vivendo sem a minha presença. Procurei fazer caminhadas tentando me distrair e quem sabe encontrar alguém conhecido que pudesse me dar uma luz. E foi nessas saídas que comecei a observar mais a colônia espiritual em que me encontrava. Nosso corpo, sem a matéria, fica mais leve, e pude observar a leveza do meu caminhar, quase deslizando pelas ruas extremamente limpas, arborizadas e 11


com tantos jardins bonitos, bem tratados. “Decerto o prefeito não é o mesmo da minha cidade”, ri da minha própria ironia. O trânsito fluía tranquilo. Imensos ônibus deslizavam da terra e subiam aos céus, como os aviões que eu conhecia e tanto temia. “Meu Deus”, pensei, “como deve ser estranho andar num negócio desses. Já pensou se tem uma falha mecânica?”, ri de novo da minha ironia. E alguns dias passei assim, conversando com as pessoas que ali se encontravam, em um local que era um misto de hotel e de hospital — parecia uma casa de repouso. Sofrimento eu não vi, mas vi em muitos os semblantes a imagem da tristeza e da saudade. Muitos ainda se encontravam como eu, sem saber ao certo onde estavam e aonde tudo aquilo iria chegar.

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CAPÍTULO DOIS Foi assim que pude observar que minha vida tinha mudado completamente. Já não falava a mesma língua; agora eu falava a língua universal, o idioma dos espíritos. Agora eu era um espírito e como tal tinha que seguir. Procurei observar minhas roupas, no início muito parecidas com os pijamas que eu costumava usar em casa. Mas os habitantes da colônia espiritual eram mais recatados, e eu por certo não me sentiria bem em sair com as bermudas que costumava usar quando não estava trabalhando. Por outro lado, eu não via razão para andar de terno, já que não estava mais no meu gabinete de juiz de direito, por isso acabei ficando com o meio-termo e passei a usar uma camisa social com uma calça que, se eu estivesse encarnado, diria que seria de tergal. O tempo passava e meu coração não se separava da minha família. Continuava tendo notícias dela pelos meus amigos da colônia encarregados de cuidar 13


de mim. Falavam-me que meu filho estava bem, mas muito ressentido da minha figura, que ainda não conseguia enxergar o imenso amor que eu nutria por ele, mas que a mãe estava dando todo o amparo possível. Minha filha me causava mais preocupação, mas eu sabia que ela não seria desamparada. Mas o que teria acontecido com a minha bela e jovem esposa? Meus amigos sempre desconversavam do assunto, e eu achava que eles implicavam com ela, e no início achei melhor deixar para lá. A vida seguia seu curso, e já era tempo de eu sair daquela “casa de repouso”. Parece que tudo que ocupamos na nossa vida é provisório, e foi assim que, em uma bela manhã, meu jovem senhor e amigo Rui me disse: — Célio, companheiro dessa nova jornada, está na hora de você se abrir para outros desafios. Na hora fiquei sem ação; afinal, eu acabara de me recuperar da “morte” e já estavam querendo me lançar em novos desafios? Fiquei assim alguns minutos, olhando perplexo para Rui, que diante do meu susto logo esclareceu: — Meu amigo, como você pode ver, a vida continua e devemos utilizar o nosso tempo de forma útil, para nós e para com todos com quem convivemos, por isso vou te encaminhar para uma linda casa, que vai ser o seu abrigo provisório, que você vai ficar até saber exatamente o que vai querer fazer. Você está livre para escolher o seu caminho. Só peço para não se aventurar a fazer o que não conhece. Sei que é um homem muito culto e que o tempo em que esteve encarnado 14


sempre utilizou seu trabalho para fazer o bem e, dentro do razoável, fazer justiça. Agora você vai observar aquilo que nós podemos te oferecer nessa colônia em termos de ocupação laboral e depois você vem me procurar. Boa sorte! Foi aí que, mais uma vez, me vi sem saber que rumo tomar. Tudo aquilo era novo para mim, eu não sabia naquele momento o rumo que ia seguir e qual a ocupação que me traria satisfação. Ingressamos, eu e Rui, naquela que seria minha nova casa. Duas senhoras vieram em minha direção e gentilmente me deram boas-vindas, me mostraram os aposentos nos quais eu ficaria, bem como os demais cômodos da casa. Meu quarto era todo decorado com um material que lembrava a nossa madeira, discreto, limpo, com a janela aberta, dando para um pequeno jardim muito bem cuidado. Eu imaginava meus filhos pequenos e que festa fariam naquela casa com espaço para muitas brincadeiras. Mas, afinal, o que iria fazer da minha vida? Essas senhoras, por mais que fossem simpáticas, me eram pessoas estranhas. Será que eu me acostumaria a elas? Será que minha vida seria pular de galho em galho? Me lembro de que, quando jovem, tinha uma grande preocupação em comprar um imóvel para morar no que é meu e não pagar aluguel. Agora, por ironia do destino, eu, um juiz respeitável, emérito desembargador, morando de novo de aluguel em algo que não me pertencia. Confesso que isso no início me incomodou muito. Queria me sentir em casa, na minha casa, sentia falta de 15


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