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Sempre hรก tempo para recomeรงar

Basta querer

Sempre hรก tempo para recomeรงar

Basta querer

Fรกtima Gonรงalves Dias

Sรฃo Paulo 2014

Copyright © 2014 by Editora Baraúna SE Ltda

Capa

Jacilene Moraes

Diagramação

Camila Morais

Revisão

Daniella Barucu

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ D53s Dias, Fátima Gonçalves Sempre há tempo para recomeçar: basta querer/Fátima Gonçalves Dias. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0176-9 1. Romance brasileiro. I. Título.

14-16907 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3 ________________________________________________________________ 16/10/2014 16/10/2014

Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua da Quitanda, 139 – 3º andar CEP 01012-010 – Centro – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.EditoraBarauna.com.br Todos os direitos reservados.

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Dedico este livro a minha mĂŁe, minhas filhas, meu esposo, meus netos e a todos que fizeram e fazem parte da minha vida.

A minha gratidĂŁo a minha amiga e colaboradora LĂŠia, contei com seu apoio e seu incentivo do principio ao fim do meu livro.

Começo aqui a minha história...

Existem sentimentos e emoções que, por não sabermos expressá-los, ficam arquivados em nossas mentes.

Quantas coisas importantes estão armazenadas neste arquivo mental. Pensando nisso, decidi transformar o meu arquivo em um livro; compartilhando assim com vocês.

Estou com cinquenta e seis anos; tenho filhos, netos, e um marido aposentado, mas que continua trabalhando.

Revivendo o passado, minhas primeiras lembranças são de quando eu tinha quatro anos.

Era a terceira dos quatro filhos que meus pais tiveram. Naquela época eram poucos os casais que tinham apenas quatro. Minha mãe ainda não tinha conhecimento da pílula anticoncepcional, então meu pai descobriu um método para que a família não aumentasse.

A vida não era fácil para eles, meu pai era lavrador e minha mãe, administrava a casa, esta tarefa era fácil para ela devido ao dinheiro ser pouco; era óbvio onde usá-lo. Já a responsabilidade de nos educar tomava-lhe todo o tempo, era pouca a diferença de idade de um filho para o outro. Morávamos no sítio, em uma pequena cidade no estado do Paraná.

Recordo-me que mamãe ficou doente durante uns quatro anos. Lembro-me dela tendo crises de falta de ar,

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e estava muito magra. Foram feitos todos os tratamentos alternativos; naquela época era comum usar medicamentos caseiros, crença na cura através da espiritualidade, porém, nada adiantou.

Infelizmente seu estado continuou se agravando, meus avós maternos moravam em um sítio vizinho e, penalizados com o estado de saúde de mamãe, juntaram as poucas economias que tinham e deram a papai para que a levasse a um médico.

A esperança de meu pai era que o médico, ao consultá-la, acertasse no diagnóstico. O médico lhe fez várias perguntas e, ao respondê-las, minha mãe lhe disse: — Doutor, tenho muito medo que meus filhos fiquem doentes, como este hospital fica muito longe do sítio em que moramos; podem morrer a caminho.

— Se acalme, vou lhe receitar dois tipos de remédio e a senhora ficará boa. O médico foi perfeito, traduzindo para os dias de hoje, os males que acometiam minha mãe eram depressão e pânico. Meus pais voltaram para casa com fé, pois o doutor garantiu que mamãe ficaria boa. Durante alguns meses ela fez o tratamento indicado e ficou curada.

Apesar de minha pouca idade, lembro-me de repetidas vezes ouvir minha mãe dizer: — Nunca me esquecerei do Doutor Mario! Ele salvou a minha vida!

São poucas, mas somente lembranças boas que tenho de quando moramos neste sítio: Lembro-me de uma paineira, melhor dizendo, uma frondosa árvore cuja copa, em determinados dias 8 1 Fátima Gonçalves Dias

do ano, se enchia de flores rosa. Era uma visão encantadora, para os meus olhos de criança. Eu pensava: “No paraíso deve ter várias delas”.

Lembro-me de um pequeno riacho que ficava perto de nossa casa. Enquanto mamãe lavava nossas roupas, brincávamos felizes a seu lado.

2 Em fevereiro de mil novecentos e sessenta e um, mudamos para a cidade, que era praticamente um vilarejo.

Eu estava com seis anos, dando início ao meu primeiro ano escolar. Eu sonhava com este dia!

Nos meus primeiros dias de aula, simultaneamente, aconteceram dois fatos dos quais, mesmo que eu viva duzentos anos, jamais me esquecerei: O medo e a vergonha.

Na prática, tive meu primeiro conhecimento: O medo.

Até então não sabia que existia este sentimento tão ruim. Eu já havia completado sete anos. Naquela época os mortos eram velados em suas próprias residências. Um vizinho faleceu e, por falta de opções de passeio, pedimos a minha mãe se poderíamos ver o falecido: — Suas irmãs podem, mas você não Márcia.

— Eu também quero ir; se elas podem, por que eu não?

— Você não vai!

Tamanha foi minha insistência que mamãe cedeu.

— Então vá...

Maldita hora em que tomei aquela decisão. Quando olhei para o rosto esquálido, sem nenhum resquício de sangue daquele cadáver, minhas pernas começaram a tre-

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mer, não sei como consegui sair do local, apenas sei que não fui ao enterro.

A noite foi chegando... Fui sentindo uma sensação estranha; totalmente desconhecida para mim. Não tínhamos luz elétrica, a pouca luz que havia dentro do quarto, vinha de um lampião. Enrolei o quanto pude para ir para a cama, até ouvir minha mãe dizer.

— Márcia, vá dormir que já passou da hora, suas irmãs já foram! Obedeci. Sabendo que não conseguiria dormir, acordei minha irmã mais velha e lhe disse: — Estou sentindo um negócio esquisito, estou todinha arrepiada, mas..., não estou com frio. Posso dormir com você?

Minha irmã era tão enérgica quanto minha mãe.

— Você está é com medo. Fique quieta e durma!

Apesar do calor infernal que fazia, o jeito foi ficar na minha cama, com a cabeça coberta e os olhos fechados de tanto medo. Foi uma das primeiras noites mais longas da minha vida.

Este início de medo gerou outros que, no decorrer dos anos, foram passando, porém persistiu o medo de ficar em lugares fechados, sem janela; tais como elevadores, carros com o vidro fechado, túneis..., enfim, o medo da dependência de terceiros se precisar de socorro.

O segundo acontecimento, descobri na prática: Foi quando me senti envergonhada diante de uma classe inteira.

Estávamos todos na sala de aula, e para minha infelicidade, fiquei com vontade de ir ao banheiro, o qual ficava afastado da sala.

Perguntei à professora: 10 1 Fátima Gonçalves Dias

— Posso ir ao banheiro?

— Não! Ela retrucou.

Rezei para que aquela necessidade passasse; não tive sorte, então pedi novamente: — Professora, eu posso tomar água?

Ela mais uma vez disse: — Não!

Pensei: — O que fazer? Ou melhor, como não fazer as minhas necessidades ali mesmo.

Não teve jeito, a parte fisiológica foi mais forte. Pensei: — Tomara que ninguém perceba. “Como fui ingênua”. Com certeza o odor me denunciaria.

Para minha infelicidade, um de meus amiguinhos falou bem alto: — Professora, estou sentindo um cheiro estranho!

Acho que é de cocô... O danado do menino foi andando pela classe, parou na minha frente, apontando para mim. A “diaba” da professora constatou o fato como verdadeiro e falou: — Márcia você está dispensada. Pode ir para casa!

A escola ficava mais ou menos, a uns trezentos metros da minha casa. Era uma rua longa para eu caminhar e, naquele dia em especial, ela parecia não ter fim. Quando cheguei em casa, minha mãe apenas me ajudou a tomar banho, e me deu uma roupa limpa para eu vestir.

Senti que alguma coisa ficou faltando...

Relembrando este acontecimento do passado, como gostaria de passar àquela professora alguns conceitos pedagógicos fundamentais, e o que é a verdadeira Pedagogia Humana;

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“Amor e respeito acima de tudo”.

Sinto! Mas ainda hoje persistem em alguns pedagogos tais erros.

Com o conhecimento adquirido ao longo do tempo, aliado ao bom senso que sempre procurei ter, se pudesse, voltaria no meu passado, para poder anular este acontecimento. Como eu, muitos alunos não se esquecem de palavras ditas, ou atos praticados por seus professores; sejam eles bons ou ruins.

2 Assim como me recordo de acontecimentos ruins da minha infância, lembro-me daqueles que foram bons.

Tenho certeza que da mesma forma que eu, você, leitor, também tem em suas memórias, lembranças maravilhosas.

Vou contar a vocês minhas lembranças felizes.

Havia no quintal da minha casa uma árvore imensa e, em um de seus galhos, papai fez um balanço de corda com o assento de madeira.

De todas as coisas boas de minha infância, a minha preferida era este balanço. Quando estou estressada e desejo relaxar, fecho os olhos, os meus pensamentos vão voltando para aquela árvore e..., estou naquele doce balanço.

Continuo soltando minha imaginação, vou dando impulso com os pés, e vou subindo e descendo. Como era gostosa aquela sensação! Consigo até sentir o friozinho na espinha. Hoje eu sei o nome do que eu sentia.

Acredito que é a mesma sensação que os pássaros sentem quando estão voando. LIBERDADE. 12 1 Fátima Gonçalves Dias

“Isso era muito bom”.

Aos domingos, logo após o almoço, tínhamos o costume de nos reunirmos com as outras crianças vizinhas; sentávamos à sombra da minha árvore. Meu avô se transformava em nosso contador de história e, no final de cada uma ele dizia: — Esta história aconteceu de verdade!

Eu ficava encantada com a narrativa de vovô, a minha mente chegava a interagir com os personagens das histórias.

“Isso era muito bom”.

Aos sábados, mamãe fazia pão e os assava em um forno de barro construído por papai, o qual ficava embaixo de uma cobertura do lado de fora da casa, encostado na cozinha. O cheirinho do pão assando era inconfundível!

Revezávamo-nos com a mesma pergunta.

— Mamãe o pão vai demorar para ficar pronto?

— Esperem só mais um pouquinho.

A espera parecia durar uma eternidade, então contávamos os minutos até que o pão esfriasse para comermos... Isso era muito bom!

Outra lembrança marcante.

Eu e minhas irmãs, e nossas amiguinhas, brincávamos de casinha, na sombra de alguma árvore. Fazíamos um fogão com dois tijolos, colocávamos gravetos, acendíamos o fogo, éramos as cozinheiras. Para nós era um banquete, simplesmente pelo prazer da aventura praticada.

Isso também era muito bom!

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Existem lembranças que o tempo jamais irá apagar.

Até o momento de escrever esse livro, não tinha me questionado porque escolhi o curso de Pedagogia. É provável que inconscientemente a vergonha que passei em sala de aula possa ter me influenciado.

2 Minha filha Emily também escolheu ser pedagoga, contou-me um caso semelhante ao que aconteceu comigo, e qual foi a forma que encontrou para resolver.

Emily estava em sua mesa, corrigindo as lições de casa de seus alunos, quando um deles veio ao seu encontro e lhe falou baixinho em seu ouvido: — Tia não deu tempo; fiz xixi na calça!

— Fique calmo! Vá para o banheiro que eu já estou indo.

Os alunos, percebendo algo errado, questionaram: — Tia por que o Serginho saiu...?

— Ele apenas derrubou suco de abacaxi na roupa.

Ela respondeu já desviando o assunto. Pediu para a coordenadora para ficar com a classe e providenciou uma calça de uniforme para a troca.

Foi até o banheiro, tranquilizou o garoto, resolveu o probleminha sem traumas para o menino.

Mandou um bilhete para a mãe da criança, a qual lhe agradeceu e confidenciou que ele às vezes deixava escapar o xixi na cama, apesar de já ter oito anos. Podemos perceber que foi um procedimento correto por parte da professora. É preciso ter dom para ser professor. Muitas vezes não podemos ter um raciocínio lógico, como a matemá14 1 Fátima Gonçalves Dias

tica. Porém, crianças necessitam de amor e carinho. De forma alguma devem ser humilhadas. Temos que respeitá-las para que também nos respeitem.

Apesar de não atuar em sala de aula, sou apaixonada pela Pedagogia. Eu e minha filha Emily, sempre que nos encontramos, um de nossos assuntos preferidos é referente a seus alunos. Estes diálogos são esclarecedores, tanto para mim, quanto para ela. Quando tem algo que a preocupa, juntas buscamos uma solução. Ao dividirmos o assunto, sinto que invisivelmente estou com ela dando aulas. Certo dia, conversamos sobre um assunto que a estava preocupando.

— Ah! Mamãe! Estou com uma aluna, a qual me preocupa, porque a maioria dos alunos a rejeitam devido a seu temperamento, e ao fato de ela tentar impor suas vontades. É obvio que eles não aceitam! Ela me trás reclamações o tempo todo.

Emily me disse que já deu várias sugestões para a aluna se ambientar, porém sem sucesso.

Decidiu fazer mais uma tentativa. Emily conversou com a classe; apelando para o lado emocional das crianças, dizendo: — Crianças eu preciso da ajuda de vocês!

Todos se fixaram nela.

Me ouçam!

Da mesma forma que uma mãe ama seus filhos, eu amo todos vocês. Peço a vocês que tenham paciência e que sejam educados com a Sara. Caso tenham alguma sugestão para me dar, será bem vinda.

— Mamãe, este pedido foi dirigido mais para as meninas, pois os meninos são mais práticos.

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