Terra, Barquinho Azul

Terra, Barquinho Azul Uma Alegoria Ecol贸gica

José Eustáquio Guimarães de Queiroz

Terra, Barquinho Azul Uma Alegoria Ecológica

São Paulo 2010

Copyright © 2010 by Editora Baraúna SE Ltda Capa AF Capas Projeto Gráfico Alline Benitez Revisão Priscila Loiola Co-revisor Junqueira Ayres

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ

________________________________________ Q42t Queiroz, José Eustáquio Guimarães de Terra, barquinho azul : uma alegoria ecológica / José Eustáquio Guimarães de Queiroz. - São Paulo : Baraúna, 2010.

ISBN 978-85-7923-113-1 1. Romance brasileiro. I. Título.

10-0635.

CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3

09.02.10 18.02.10

017595

________________________________________ Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br Rua João Cachoeira, 632, cj.11 CEP 04535-002 Itaim Bibi São Paulo SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br

Feito, Carinhosamente, Para os Jovens; Recomendado, Urgentemente, Para os Adultos.

Para todos, com especial gratidão à minha família, aos amigos e ao poeta André Leone.

Sumário O sumiço de Pedro . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

O manguezal e o reaparecimento do garoto . . . . . . . .

Chegada a Marilucis e a poluição sonora . . . . . . . . . .

Extinção dos meros e a pesca de arrasto . . . . . . . . . . .

Perigos da pesca com bomba . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Riscos do aquecimento global . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Doenças dos corais e pesca ilegal . . . . . . . . . . . . . . . .

Destruição da camada de ozônio . . . . . . . . . . . . . . . .

Caça predatória às baleias . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Substâncias letais lançadas no mar . . . . . . . . . . . . . . .

O grande lixão do mar. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Um lamentável acontecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . .

Superando as adversidades. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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O sumiço de Pedro Estava um lindo dia. A Terra girava como habitual.

Dali a umas duas horas, o maravilhoso Sol do penúltimo dia de minhas férias de verão iria se deitar. Como faz há bilhões de anos, levaria sua energia para irradiar outros cantos do mundo.

Sentado na rede, à sombra de uma mangueira, eu observava um barquinho com sua vela azul a deslizar suavemente sobre o mar, impulsionado pelo vento que, naquela tarde, não passava dos cinco nós — nove quilômetros por hora. Melancólico, imaginava deixar aquele paraíso, já que, como veranista, tinha de voltar para a capital e retomar às minhas atividades normais. Na verdade, a ilha, incrustada numa linda baía, podia ser chamada de paraíso. Por ciúme, e até egoísmo, não darei mais pistas sobre meu refúgio.

Por algum tempo, estive concentrado em meus pensamentos: engarrafamento, fila, poluição, cartão de crédito, celular, e-mails, barulho e outras características de cidade grande. De repente, ao olhar novamente para o mar, observei que a vela do pequeno barco balançava frouxa, agitada pelo vento; batendo pano, como se diz. Apurando um pouco mais a vista, não percebi alguém a bordo. À minha frente, na praia, um grupo de pescadores já havia observado o fato e colocou rapidamente uma canoa na água.

Assim que ela flutuou sobre o espelho d’água, três homens saltaram para seu interior, empunhando os

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remos. Os seis fortes braços, acostumados com a lida diária, remaram rapidamente e, em poucos minutos, alcançaram o veleirinho. Ao chegarem, conforme me contaram depois, viram que a embarcação estava vazia, e isso os deixou intrigados. Um deles, tornando visível sua decepção, comentou: — Pensei que Pedro tivesse tido um troço e desmaiado! Achei que a gente o encontraria deitado dentro do barco. Onde será que aquele garoto se meteu? O que a gente faz agora?

— Vamos procurar! — disse Zeca, o pescador mais velho do grupo — Bogoió, você que é moço mergulhe e dê uma olhada por baixo do barco. Pode ser que ele tenha entrado na água para consertar o leme ou a quilha e tenha ficado preso lá embaixo.

Durante mais de meia hora, os homens nadaram e mergulharam por ali, gritaram e nada! Nenhum sinal do velejador. Segundo relataram, já cansados e receosos, pois a noite preparava-se para chegar, decidiram rebocar o veleiro e reiniciarem as buscas no dia seguinte. Mas, para surpresa de todos, por mais esforço que fizessem, a pequena embarcação não se movia; parecia que uma força estranha segurava-a no local.

Assustados, os três homens remaram em disparada de volta à praia, fazendo a canoa voar sobre a água.

Exaustos e encafifados, nem bem a proa da embarcação começou a roçar a areia da praia, os pescadores saltaram abruptamente para a terra firme e, ainda ofegantes, passaram a relatar o que viram. Foi quando eu soube do que ocorrera com o menino e seu barquinho. Curio-

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so, havia deixado a rede e dirigi-me à beira da praia, juntando-me aos demais.

— Só pode ser coisa do outro mundo! Por Deus! Pela felicidade dos meus filhos! Além de o menino Pedro desaparecer sem deixar sinais, o barco estava completamente imóvel, parecia uma rocha presa ao fundo do mar! — contou um deles.

Os pais do garoto, que àquela altura haviam sido alertados, imploravam incessantemente para que os pescadores voltassem ao mar. Os apelos do pai e o choro incontido da mãe foram inúteis, contudo. Por nada neste mundo um deles arriscar-se-ia em tal empreitada. Tudo era misteriosamente incompreensível e, para aumentar ainda mais o medo, a noite havia engolido a silhueta do pequeno veleiro.

Em pouco tempo, a praia ficou cheia de gente. Cada um que chegava entrava na roda, discutia e apresentava sua tese. Todos diziam ter a explicação para o desaparecimento do adolescente. Dona Mara, uma senhora alta, negra e de olhos caprichosamente verdes, em seus lúcidos 100 anos, disse categoricamente: — Ele foi levado pelo Vovô d’Água! Nunca mais voltará. Foi escolhido para habitar as profundezas das águas.

A história do Vovô d’Água deixava a criançada de cabelos em pé! E não era para menos. Segundo os mais antigos, a criatura tinha a aparência de um velhinho miúdo, com o corpo recoberto por uma espessa camada de limo. Dizia a lenda que alguns desses entes haviam sido encontrados presos em redes de pesca. Curiosamente, sempre traziam os braços cruzados sobre o rosto e, por

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mais esforço que fosse feito para afastá-los, suas faces nunca eram reveladas.

— Deus me livre! Nunca mais tomo banho na maré!

— declarou, nervoso, um dos meninos.

— Eu também! — falaram em coro os outros.

Entre tantas observações, o discurso de Júlio, um jovem etilista — chegado a uma destilada —, arrancou boas gargalhadas e gerou alguns protestos.

— Nada dissssso! Esta velha tá caducando! Vovô d’Água uma ooooova! Só se for o finado dela! Eu, Júlio de Pina, o maior ufólogo da Bahia, vi quando um disco voador levou o desinfeliz.

Resmungando pelos risos e pela desaprovação do grupo, ele levantou-se, inclinou o corpo para frente, desprezando a lei da gravidade, deu dois passos desconexos e caiu de cara na areia. Possivelmente ficaria a noite toda naquele local, se dois pescadores, prevendo que, na preamar, ele poderia ser levado pela correnteza para o meio do mar, não o tivessem arrastado para um lugar seguro.

Eu frequentava aquela ilha há alguns anos, mas não me lembrava de ter visto ou ouvido falar de Pedro, um rapazinho de 14 anos. Conhecia, precariamente, apenas seus pais, Seu Antônio e Dona Lourdes. A família era da terra, mas morava em Salvador e, sempre que tinha uma folga, lá estava.

A notícia do sumiço de Pedro e a história do barco preso na água mexeram profundamente com a rotina dos ilhéus. Naquele início de noite, e por um bom tempo, foram os assuntos mais comentados na região.

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Quando a noite instalou-se por completo, os curiosos tomaram o rumo de suas casas; inclusive eu. Os pais de Pedro e dois amigos da família, protegidos pela fumaça de uma fogueira, logo acesa para afastar os mosquitos, foram os únicos que decidiram ficar mais um pouco por ali, na esperança de o rapazinho reaparecer.

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