Uma rosa branca
&
uma rosa vermelha
Dirceu Mingarelli
Uma rosa branca
&
uma rosa vermelha
SĂŁo Paulo 2013
Copyright © 2013 by Editora Baraúna SE Ltda Capa e Projeto Gráfico Editora Baraúna Revisão Vanise Macedo
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ M618r Mingarelli, Dirceu Uma rosa branca e uma rosa vermelha/ Dirceu Mingarelli. - São Paulo: Baraúna, 2013. ISBN 978-85-7923-703-4 1. Romance brasileiro. I. Título. 13-1892.
CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3
25.03.13 27.03.13 043727 ________________________________________________________________
Impresso no Brasil Printed in Brazil DIREITOS CEDIDOS PARA ESTA EDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br
Rua da Glória, 246 – 3º andar CEP 01510-000 – Liberdade – São Paulo - SP Tel.: 11 3167.4261 www.editorabarauna.com.br
DEDICATÓRIA Aos meus netos, Guilherme, Isabelle e Arthur; E em memória de meus pais, Ítalo e Olivia.
Sumário Prefácio - Um taxista que virou escritor . . . . . . . . . 9 Uma rosa branca & Uma rosa vermelha. . . . . . . . 13 Jorge retorna à pensão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47 A chegada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51 O retorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56 Anos depois.... . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58 O desenlace de Marcela . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60 Jorge vai morar no asilo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 68 Epílogo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
PREFÁCIO Um taxista que virou escritor Há alguns anos, tive o prazer de conhecer Dirceu Mingarelli. Logo de cara, percebi que era um sujeito alegre e bonachão, daqueles de que ficamos amigos de imediato. Na época, ainda trabalhava como taxista, apesar de que esse exercício profissional já não o alegrava mais. Com o tempo, cada encontro que havia entre nós era o exercício de uma amizade crescendo pelo aprendizado que eu tinha com suas tiradas bem-humoradas e plenas de sentido poético. Mas minha intuição não me conduzia à percepção de que algo maior estava por acontecer. E fomos conversando sobre a vida opressiva na cidade grande, as delícias do meu retorno ao interior, após décadas em São Paulo, as coisas engraçadas que
9
surgiam em nossas vidas... Lembro que, uma vez, comentei sobre minha esposa ter se adaptado bem à vida interiorana e perguntei se não planejava fazer também uma mudança de vida. Outra vez, não percebi que tal mudança estava ocorrendo dentro dele; e, não, na cidade onde habitava. A busca de uma paisagem mais bonita que, pra mim, descortinava-se em morar em uma chácara, para ele, acontecia simultaneamente em interromper as paisagens mais feias da cidade de São Paulo. Por fim, certa tarde, lá veio o Dirceu com a novidade: iria escrever um livro. Pensei: ‘Um taxista quer virar escritor?’. Bom, como já dizia o título daquele filme, tivemos o engenheiro que virou suco... E Chico Buarque não foi o estudante de Arquitetura que virou nosso maior compositor? E Caetano Veloso não fez Filosofia? Gilberto Gil foi administrador de empresas da Gessy Lever... Guimarães Rosa era médico; Vinicius de Moraes fez uma carreira de diplomata muito bem-sucedida; Sócrates e Tostão também foram médicos... E eu, um médico que também sou jornalista ousei escrever um livro. Portanto, Dirceu não tinha motivo de se intimidar. Mas, dentro de mim, algo me fez temer que eu pudesse estar incentivando um produtor de alguma bobagem, como tantas que nos passam pelas mãos! Há alguns dias, chegou seu romance. Fiz questão de lê-lo com calma, sem a ansiedade que brotava dentro de mim.
10
É com muita alegria e feliz por ser seu amigo que escrevo esta apresentação; trata-se não só de um taxista que virou escritor. Trata-se, sim, e isto é muito importante, de um taxista que virou um “bom” escritor. O que chamo de bom escritor é aquele que sabe colocar emoções cobrindo as palavras e as frases, tocando-nos pelo que deseja contar, provocando em nós, leitores, as sensações que nos conduzem, página por página, ao desejo de querer ler mais, até o fim do livro. Dirceu, vá em frente! Conduza seus textos como se fosse seu táxi. Indo aos rincões mais desconhecidos que suas percepções lhe pedirem, fazendo “bandeira 2” para todos que embarcarem nessa jornada com você. E, cada vez mais, nos leve junto. DR PAULO MORAES Médico psiquiatra, psicoterapeuta, jornalista, escritor e diretor de teatro.
11
12
Uma rosa branca & Uma rosa vermelha Quando o ônibus parou naquela estação rodoviária, o condutor disse que chegavam ao destino. Um frio correu pela espinha, e um medo imenso tomou conta de todo o seu corpo. Era a primeira vez que Jorge saía numa viagem que durava uma noite inteira, apesar de estar com 19 anos. O amigo Ricardo olhou-o e disse: — Vamos voltar? — estava muito amedrontado. — Não. — respondeu, tentando demonstrar uma enorme coragem; na realidade, Jorge estava tanto, ou mais, amedrontado que o amigo. Os dois haviam planejado aquela viagem que mais parecia uma aventura. O pai de Jorge bem que tentara dissuadir da ideia. Ir para capital? “É muito perigoso! O filho do Zé Nunes já vortô; ficô só seis meis. Disse que passou até fome!”. Falava em pala-
13
vreado caipira. O filho fez de conta que não ouviu o conselho. Estava decidido; até vendera a bicicleta por 85, porque a passagem custava 22. Os rapazes estudavam no período noturno, pois o dia era reservado ao trabalho árduo da lavoura cafeeira. Alguns colegas de colégio disseram que os dois estariam de volta em menos de uma semana. — O Tiago da primeira série disse que vocês vão quebrar a cara. As coisas lá não é moleza. — alguém disse. — E quem disse que levantar de madrugada para colher café é moleza? — respondeu Jorge. — Ah, esses caras nunca trabalhou na vida e acha que a gente é igual eles. completou Ricardo. — O Tiago é filhinho de papai; nunca trabalhou e fica falando besteira. — emendou Jorge. E um zum-zum-zum espalhou-se, por toda a escola. Então, a diretora chamou os dois para uma conversa na secretaria. Ela conduzia aquela escola com mão de ferro, diziam ali. — Quer dizer que os dois estão com muita pressa? Querem ir embora? Posso saber qual o motivo dessa decisão e dessa pressa toda? — perguntou a diretora da escola. Os rapazes entreolharam-se e baixaram a cabeça. A professora de História entrou bem na hora. “Que azar!”, pensou Jorge. Ele havia se declarado a ela e sentia-se muito envergonhado. A moça olhou-o de cima a baixo, com um sorriso debochado; ele ficou
14
vermelho de vergonha. Era alta, cabelos longos, muito bonita; 10 anos a mais que ele. E, por certo bem mais experiente. Ricardo começou a explicar o que não tinha explicação. Mais gaguejava do que falava. Jorge não abriu a boca; com a professora de História ali, nem se aventurou a dizer alguma coisa. Mas a diretora foi taxativa: — Quero os dois amanhã aqui, certo? Eles balançaram a cabeça, consentindo. Tocou o sinal; era o fim do intervalo. — Agora voltem às suas salas. — e disse, novamente — Quero os dois aqui amanhã. É claro que não voltaram; afinal, estava tudo acertado para embarcarem, no dia seguinte, no primeiro ônibus. Talvez, e muito por causa disso, Jorge não tenha aceitado o chamado do amigo para voltar. Era um jovem cheio de sonhos e muito orgulhoso; acabara de passar por uma decepção amorosa, coisa de jovem. Havia se declarado à professora, e ela dissera que era muito jovem ainda; o relacionamento nunca daria certo. Jorge era de família muito humilde, para não dizer bem pobre. Há pouco mais de 17 anos, a família chegara ali para trabalhar nas lavouras cafeeiras. Santa Lúcia era o nome da cidadezinha, pouco maior que um vilarejo. Tratava-se de um lugar esquecido, desprovido de tudo que, após alguns anos, passara a muni-
15