Versosdoabismo 15

Versos do

AbismO

Versos do

AbismO Davi Roballo

São Paulo – 2015

Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Felippe Scagion

Capa

Diagramação Camila C. Morais Revisão

Priscila Loiola

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTE SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________ R544v Roballo, Davi Versos do abismo / Davi Roballo. - 1. ed. - São Paulo: Baraúna, 2015.

ISBN 978-85-437-0469-2 1. Poesia brasileira. I. Título.

15-25349

CDD: 869.91 CDU: 821.134.3(81)-3

________________________________________________________________ 06/08/2015 06/08/2015

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Ă€ Itaciana, grande incentivadora e companheira de todas horas.

I A crueza da realidade

Real mesmo Só a morte O resto é sonho É encenação É hipótese de vida Um esconde-esconde Um complexo labirinto Um grito no vazio Que ninguém responde Mesmo assim Vamos andando Nos caminhos desse sonho E na luta Contra o frio do acordar Buscamos o calor do rebanho Para quem acorda Antes da morte Está reservado 7

O frio A solidão E o banimento Mas tem a companhia De si mesmo Tem o sol que aquece E uma lâmina d’água Com a qual sacia a sede E vê a própria face

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II A divindade da noite

Noite Vem Aproxima-te, Nix Linda musa Deusa dos insones Filha do caos Retire teu capuz Quero acariciar tua tez Tire teu vestido de estrelas Quero teu cenho macio Quero repousar em teu colo Deusa dos boêmios Inspiração do artista Olhe-me nos olhos Procure bem lá no fundo Ajude-me a encontrar O que perdi distante Deusa dos mistérios 9

Dos segredos noturnos Acalante-me em teu silĂŞncio Embala-me em tuas madrugadas Proteja-me da crueldade do dia Que teima em mostrar-me A crueza da realidade Depois que tu Deusa silenciosa Abandona-me No princĂ­pio da aurora

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III Palavra

A palavra Que na boca Do ódio farfalha Não é faca Mas corta Mais que navalha Não é lança Mas causa ferida Que mesmo sarada Arrasta o peso Da cicatriz Pela vida Palavra por palavra Deve ser sempre medida Pois é veneno Que carregamos E pode matar Em poucas mordidas 11

IV A verdade do poeta

Enganam-se aqueles Que imaginam o poeta Como um ser livre E integrado Consigo mesmo N達o e n達o O poeta 辿 t達o perdido E dispersado de si Quanto as estrelas Que povoam suas noites Quando extasiado Contempla a vida Noites em que sonha ser Um apanhador de estrelas

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V A vida como ela é

Bate vida Estou de joelhos Mas ainda não caí E assim vou Nesta guerra pessoal Algumas vezes em pé Consigo fugir de ti Outras, me passa uma rasteira Mas aprendi a cair de joelhos Não em prece Mas como uma forma De olhar-te de baixo para cima Para encontrar tua fraqueza E através dela pôr-me de pé E andar ciente de que Em algum beco escuro Nalgum momento outro Irás novamente 13

Dar-me uma nova paulada E assim vou Vida Cambaleando por tuas Terras cruĂŠis e sujas Algumas vezes de joelho Outras correndo Lutando contra ti E contra mim mesmo

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VI Açoites

Dizem que rugas São marcas do tempo Acredito que na verdade Sejam cicatrizes de açoites Que a vida dá E sutura ao avesso Por isso a forma de sulcos Com clara intenção Drenar as lágrimas Para que Não morramos Afogados Pois precisamos Estar vivos Para que Depois de cada açoite Possamos Já ser outro 15