Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai - MT: Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental

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Outro fator importante é a ação humana. O homem como um ser social, interfere criando novas situações ao construir e reordenar os espaços físicos na implantação de cidades, estradas, atividades agrícolas, instalação de barragens, implementação da navegação, retificação/canalização de canais fluviais, dentre outras atividades. Essas mudanças geraram a necessidade de maiores informações sobre a dinâmica da bacia de drenagem; os riscos prováveis e as alterações aceitáveis na bacia que repercutem direta ou indiretamente no rio e na planície. O estudo foi realizado no Alto Curso da Bacia Hidrográfica do Rio Paraguai, correspondendo ao corredor fluvial (calha e planície marginal). A pesquisa foi subsidiada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico – CNPq, com execução do projeto de pesquisa – Aporte de sedimentos no rio Paraguai no segmento entre a confluência dos rios Sepotuba e Jauru - Mato Grosso. A bacia hidrográfica do Alto Paraguai abrange cerca de 496.000 km2. 396.800 km2 pertencem ao Brasil, enquanto a área restante 99.200 km2 encontra-se em territórios da Bolívia e Paraguai. No Brasil, cerca de 207.249 km2 da bacia encontram-se em Mato Grosso do Sul e 189.550 km2 em Mato Grosso, sendo que 64% desta área corresponde a planalto (entorno do Pantanal) e 34% à planície (Pantanal). O rio Paraguai é o principal canal de escoamento do Pantanal, sendo um dos rios mais importantes de planície no Brasil com seus afluentes percorrendo vasta área de planície. Devido à sua forma de anfiteatro, pode ser considerado como uma imensa bacia de recepção de águas e sedimentos. Suas nascentes principais encontram-se nas bordas do Planalto dos Parecis no município de Diamantino. O rio principal e seus afluentes percorrem grandes extensões em planícies e pantanais mato-grossenses, contribuindo para a manutenção das características locais do Pantanal. O livro é composto de 16 capítulos que retratam questões gerais da bacia hidrográfica do rio Paraguai tais como: as características dos elementos ambientais (clima, geologia, geomorfologia, solos e vegetação) do corredor fluvial; o processo de uso e ocupação das margens; a evolução das margens através da erosão fluvial; alterações naturais e degradação ambiental e o aporte de sedimentos na calha e na planície de inundação do rio Paraguai.

BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PARAGUAI - MT: Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental

Os rios constituem um dos componentes mais sensíveis da paisagem, apresentando habilidade de respostas rápidas às perturbações sofridas na bacia hidrográfica e no próprio canal. Tais perturbações podem variar consideravelmente. Em geral alteram o regime do fluxo ou a carga de sedimentos transportados e depositados pelo rio, acentuando o desequilíbrio no canal.

Célia Alves de Souza

Organizadora

BACIA HIDROGRÁFICA DO

RIO PARAGUAI - MT:

Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental



Célia Alves de Souza

Organizadora

BACIA HIDROGRÁFICA DO

RIO PARAGUAI - MT:

Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental

São Carlos, 2012


© 2012 Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida, desde que citada a fonte.

Bacia hidrográfica do rio Paraguai - MT : dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental / Célia Alves de Souza [org.]. – São Carlos : Editora Cubo, 2012. 210 p. ISBN 978-85-60064-31-1 1. BACIA HIDROGRÁFICA (ASPECTOS AMBIENTAIS). 2. BACIA HIDROGRÁFICA – RIO PARAGUAI. 3. DEGRADAÇÃO AMBIENTAL. I. Souza, Célia Alves de

Capa, projeto gráfico, diagramação e normalização:


Corpo Editorial Célia Alves de Souza Cleusa Aparecida Gonçalves Pereira Zamparoni Irineu Bianchini Júnior Juberto Babilônia de Sousa Marcela Bianchini da Cunha Santino Maria Aparecida Pereira Pierangeli Patrícia Helena Mirandola

Corpo Editorial



Autores Aguinaldo Silva Doutor em Geociências e Meio Ambiente pela Universidade Estadual Paulista – UNESP, Rio Claro. Professor adjunto do Departamento de Ciências do Ambiente, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campus do Pantanal, atuando no curso de Geografia e no Mestrado em Estudos Fronteiriços. Membro do corpo editorial das revistas Geográfica Acadêmica e Geopantanal (UFMS-CPAN). aguinald_silva@yahoo.com.br

Bárbara Ferraz Buhler Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Brasil. Profissional de Nível Superior, Biólogo da Secretaria do Estado de Saúde de Mato Grosso, Brasil. azurea04@hotmail.com

Carla Bernadete Madureira Cruz Doutora em Geografia, Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Especialista em Cartografia, Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento e Bancos de Dados Geográficos. Professora Adjunto do Departamento de Geografia da UFRJ e coordenadora do Grupo de Sensoriamento Remoto ESPAÇO. Pesquisadora do Núcleo de Tecnologias para Recuperação de Ecossistemas (NUTRE/UFRJ). Pesquisadora 2 do CNPq. Jovem Cientista do Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ). carlamad@gmail.com

Carolina Mancini do Carmo Mestranda em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Estágio voluntário na Universidade do Estado de Mato Grosso, Brasil. mancini.carolina@yahoo.com.br

Célia Alves de Souza Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Professora Adjunta no Departamento de Geografia na Universidade do Estado de Mato Grosso. Professora e orientadora no Mestrado em Ciências Ambientais, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. celiaalvesgeo@globo.com

Autores


Edenio Sebastião Faria da Silva Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Técnico administrativo da Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres – MT. edeniopretinho@hotmail.com

Elaine Cardozo Cebalho Mestranda em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. ecardozocebalho@yahoo.com

Evaldo Ferreira Doutorando em Geografia pela Universidade Federal Fluminense – UFF (2010), atualmente é professor assistente do Departamento de Geografia da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. Pró-Reitor de Assuntos Estudantis da UNEMAT e suplente do Comitê de Ética em Pesquisa – CEP/Unemat. evaldoferreira@globo.com

Francisca Coelho da Silva Acadêmica em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Geomorfologia Fluvial da Universidade Estadual de Mato Grosso, Cáceres – MT. fran.celh@gmail.com

Fernando André Silva Santos Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. fernandoandre_agro2007@hotmail.com

Gilmar Batista Marostega Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Istatutário do Instituto Federal Educação, Ciências e Tecnologia, Brasil. tgv@terra.com.br

Gustavo Roberto dos Santos Leandro Graduando em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Geomorfologia Fluvial da Universidade Estadual de Mato Grosso, Cáceres – MT. gustavo807@yahoo.com.br

Helena Ferraz Bühler Mestranda em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Professora da Faculdade do Pantanal, Brasil. helenaferraz24@hotmail.com

Istéria Jovem de Freitas Acadêmica em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Iniciação Científica do Laboratório de Pesquisas e Estudos em Geomorfologia Fluvial da Universidade Estadual de Mato Grosso, Cáceres – MT. isteriajovem@hotmail.com

Ivaniza de Lourdes Lazzarotto Cabral Doutora em Geografia (Geografia Física) pela Universidade de São Paulo – USP. Professora Adjunta da Universidade Federal de Mato Grosso, Cuiabá-MT.

Jean da Silva Cruz Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. jea-silcruz@hotmail.com

Autores


José Carlos de Oliveira Soares Doutorando em Geografia pela Universidade Federal de Fluminense – UFF, Rio de Janeiro. Professor Assistente no Departamento de Geografia da Universidade do Estado de Mato Grosso. zecarlos.geografia@hotmail.com

Josiane São Bernardo da Cruz Acadêmica em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Pesquisas e Estudos em Geomorfologia Fluvial na Universidade Estadual de Mato Grosso, Cáceres – MT. josiane_05@hotmail.com

Juberto Babilônia de Sousa Doutorando em Geografia, Universidade Federal Fluminense – UFF. Professor Efetivo do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico no Instituto Federal, Ciência e Tecnologia, Campus Cáceres – MT. jubertobabilonia@yahoo.com.br

Maria Aparecida Pereira Pierangeli Doutora em Agronomia (Solos e Nutrição de Plantas) pela Universidade Federal de Lavras – UFLA (2003). Professora adjunta da Universidade do Estado do Mato Grosso – UNEMAT. Professora e orientadora no Mestrado em Ciências Ambientais Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres – MT, CEP 78200-000. mappierangeli@gmail.com.

Patrícia Helena Mirandola Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil. Professora Adjunto da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Brasil.

Maria Aparecida de Souza Mestre em Geografia pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS. mariamia.souza8@gmail.com

Raoni Murilo Tosta Acadêmico do curso de Engenharia Ambienta pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campus de Campo Grande-MS. raoni_sarutobi@hotmail.com

Rosimeire Vilarinho da Silva Mestre em Ciências Ambientais pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Professora da Escola Municipal de Educação Básica Rodrigo Damasceno, Brasil. rosimeirevilarinho@hotmail.com

Mara Adriane Pires de Oliveira Acadêmica em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Iniciação Científica no Laboratório de Pesquisas e Estudos em Geomorfologia Fluvial na Universidade Estadual de Mato Grosso, Cáceres – MT. maradriane2008@hotmail.com

Leila Nalis Paiva da Silva Andrade Mestre em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Bolsista de Extensão do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq. leilanalis@hotmail.com

Marcos dos Santos Graduado em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso, Cáceres – MT. Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. marcos_santos_ms23@hotmail.com

Autores


Nádia Micheli Bindandi Mestranda em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Professora da rede municipal da cidade de Cáceres – MT. nadiamicheli@hotmail.com

Odair Antônio Barbizan Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Professor da Secretaria de Educação/MT, Brasil. obizan@gmail.com

Raquel Soares dos Reis Mariano Mestranda em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Engenheira Civil da Prefeitura Municipal de Sinop, Brasil. reismariano@yahoo.com.br

Robson Oliveira Mestrando em Ciências Ambientais, Centro de Pesquisa em Limnologia, Biodiversidade e Etnobiologia do Pantanal – CELBE, Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. robson.oliveira04@gmail.com

Ronaldo José Neves Doutor em Ciências (Geografia) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ. Atualmente é professor adjunto do Departamento de Geografia, no Programa de Pós-Graduação em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola, da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT. rjneves@terra.com.br

Sandra Baptista da Cunha Doutora na Universidade de Lisboa e Pós-Doutorado em Londres (Queen Mary and Westfield College). Professora concursada do Programa de PósGraduação desde 2002, do Departamento de Geografia, Universidade Federal Fluminense – UFF. Trabalhou como professora efetiva na Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ de 1978 a 2000. Pesquisadora do CNPq nível 1. sandracunha@openlink.com.br

Sandra Cândida Bindandi Graduada em Letras pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. Professora da rede municipal da cidade de Cáceres – MT. sandrabindandi@hotmail.com

Sandra Mara da Silva Neves Doutora em Geografia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Brasil. Professor Adjunto da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Brasil. Docente permanente no Programa de pós-graduação stricto sensu em Ambiente e Sistema de Produção Agrícola da Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, sediado no Campus de Tangará da Serra. ssneves_geo@hotmail.com

William James Vendraminin Graduado em Geografia pela Universidade do Estado de Mato Grosso – UNEMAT, Cáceres – MT. wjvmt@hotmail.com

Autores


Apresentação

Esta publicação apresenta resultados de pesquisas realizadas no corredor fluvial (calha e planície marginal) do rio Paraguai entre a foz do rio Sepotuba e a foz do rio Jauru, no município de Cáceres – MT, no Pantanal Matogrossense. O estudo foi subsidiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico – CNPq. A bacia hidrográfica do rio Paraguai, percorre extensão de 2.693 km² em território brasileiro. É constituída por um dos rios mais importantes do Brasil, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície, podendo ser considerado imensa bacia de recepção de águas e sedimentos, devido à sua forma de anfiteatro. O processo de ocupação espaço/temporal na bacia hidrográfica do Alto Paraguai intensificou no meado da década de 80, o que provocou mudanças na dinâmica fluvial do rio principal e afluentes. O uso inadequado deste recurso natural contribui para a degradação (desmatamento de matas ciliares e de nascentes, assoreamento de canais, diminuição de vazão, aumento da carga de sedimentos e contaminação da água). O livro é composto de 16 capítulos que retratam alguns elementos que compõem o segmento estudado na bacia hidrográfica do rio Paraguai, tais, como: as questões

Apresentação


ambientais (clima, geologia, geomorfologia, solos e vegetação); o uso e ocupação das margens, dinâmica fluvial (erosão marginal, sedimentação na calha e na planície de inundação) e; degradação ambiental.

Apresentação


Sumário

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Capítulo 1 Sistema hidrográfico do rio Paraguai – MT

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Capítulo 2 Ambiente do corredor fluvial do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã – MT

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Capítulo 3 Água, as estratégias políticas e econômicas de um recurso natural

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Capítulo 4 Evolução das margens do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã – MT

65

Capítulo 5 Rio Paraguai: ocupação e degradação no perímetro urbano de Cáceres – MT

81

Capítulo 6 Feições morfológicas do rio Paraguai e sua dinâmica entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã – MT


95

Capítulo 7 Aporte de sedimentos do rio Paraguai no trecho entre o Furado do Touro e Passagem Velha – Cáceres – MT

107 Capítulo 8

Sedimentação no rio Paraguai no perímetro urbano de Cáceres – MT

119 Capítulo 9

Feições deposicionais e composição granulométrica dos sedimentos em alguns trechos do rio Paraguai: Passagem Velha, Barranco do Touro, Baía do Quati e Foz do Córrego Padre Inácio no município de Cáceres – MT

131 Capítulo 10

Território, territorialidade: uso/ocupação, impactos e conflitos nas margens do rio Paraguai – MT

149 Capítulo 11

Atributos químicos e físicos de solos de barrancos do rio Paraguai em Cáceres – MT

159 Capítulo 12

Processos deposicionais na foz da baía Salobra confluência com o rio Paraguai em Cáceres – MT

173 Capítulo 13

Processo de assoreamento na baía do Sadao no rio Paraguai – Cáceres – MT

183 Capítulo 14

Aporte de sedimentos em feição morfológica no corredor fluvial do rio Paraguai, Cáceres – MT

191 Capítulo 15

Caracterização ambiental do rio Paraguai entre a praia da Ximbuva e a cidade de Cáceres – MT

203 Capítulo 16

Pesca de rodada no rio Paraguai – Pantanal de Cáceres – MT, Brasil: geração de subsídio à atividade turística com suporte nas geotecnologias


Capítulo 1

Sistema hidrográfico do rio Paraguai - MT Célia Alves de Souza Juberto Babilônia de Sousa Evaldo Ferreira Leila Nalis Paiva da Silva Andrade

Bacia hidrográfica do rio Paraguai A bacia hidrográfica do Alto Paraguai abrange cerca de 496.000 km2, sendo que 396.800 km2 pertencem ao Brasil, enquanto a área restante 99.200 km2 ­encontra-se em territórios da Bolívia e Paraguai (­BRASIL, 1982). No Brasil, aproximadamente 207.249 km2 da bacia encontram-se em Mato Grosso do Sul e 189.55 km2 em Mato Grosso, sendo que 64% desta área corresponde a planalto (entorno do Pantanal) e 34% à planície (Pantanal). O rio Paraguai é o principal canal de escoamento do Pantanal, sendo um dos rios mais importantes de planície no Brasil, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície. Devido à sua forma de anfiteatro, pode ser considerado como uma imensa bacia de recepção de águas e sedimentos. Suas nascentes principais encontram-se nas bordas do ­Planalto dos Parecis, na cota altimétrica de 480 m, município de Diamantino. Percorre a depressão do rio Paraguai com altitudes, que variam de 98 a 280 m, onde recebe os fluxos de alguns afluentes. O rio principal e seus afluentes percorrem grandes extensões em planícies e pantanais matogrossenses, contribuindo para a manutenção das características locais do Pantanal (BRASIL, 1997).

Sistema hidrográfico do rio Paraguai - MT

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O rio Paraguai é um dos principais formador da Bacia do Alto Paraguai (BAP). Suas nascentes estão localizadas nas encostas da serra dos Parecis na região norte do estado de Mato Grosso, fluindo direção geral sul até a confluência com o rio Paraná na altura da cidade de Corrientes, Argentina (CARVALHO, 1986). Seus principais afluentes na margem direita são os rios Cabaçal, Jauru e Sepotuba, e na margem esquerda, os rios Cuiabá, São Lourenço, Piquiri, ­Taquari, Negro, Miranda e Apa (CARVALHO, 1994). Fisiograficamente, a Bacia Hidrográfica do Alto ­Paraguai - BAP está dividida em três regiões: planalto (altitudes de 250 a 750 m); depressão (altitudes de 150 a 180 m) e pantanal (altitudes de 80 a 150 m). As bacias contribuintes do rio Paraguai, que possuem nascentes no planalto, apresentam elevados índices de precipitação, sendo que parte dessa precipitação alcança o canal, principalmente, pelo escoamento superficial, contribuindo com grande quantidade de água e sedimentos para a planície pantaneira (­CARVALHO, 1986). A bacia do Paraguai no alto curso possui importante divisor ao norte suas nascentes principais encontram-se nas bordas do Planalto dos Parecis, na cota altimétrica de 480 m, no município de D ­ iamantino. No nordeste possui suas nascentes na Província Serrana, onde seu fluxo percorre vales anticlinais e sinclinais. No leste a Chapada dos Guimarães, ou seja, as bordas da Bacia Sedimentar do Rio Paraná. A oeste tem como divisor de água a serra Santa Bárbara, onde encontra-se várias nascentes (SOUZA, 2010). Nas áreas de nascentes no planalto, apresentam os elevados valores de precipitação, parte dessa precipitação alcança o canal principalmente pelo escoamento superficial, sendo transformada em vazão, contribuindo com grande quantidade de água e carga de sedimentos para calha do rio e planície de inundação. A baixa declividade do canal, que dificulta o escoamento faz com que a água do rio transborde para planície, abastecendo as baías e lagoas, acumulando-se na planície. Durante o período das cheias, em alguns pontos da planície, o nível da água atinge 2 m de altura. Com a diminuição do volume de água na calha do rio, no período de estiagem, parte da água transbordada retorna ao leito. A vazão varia no canal, nos períodos de cheia e estiagem, provocando oscilação no nível do rio Paraguai. Ao entrar em contato com as margens, esse fluxo contribui para remoção de sedimentos, além de provocar encharcamento. (SOUZA, 2004). O rio Paraguai constitui um dos rios mais importantes de planície, no Brasil, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície, podendo ser considerado pela sua forma de anfiteatro como imensa bacia de recepção de águas e sedimentos. O rio principal e seus afluentes percorrem grandes extensões em planícies e pantanais matogrossenses, contribuindo para manutenção das características locais do pantanal. O canal apresenta com vários padrões (anastomosado, meandrante e retilíneo) ao longo do seu percurso, enquanto na planície são encontradas várias feições fluviais dentre

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as quais as baías, lagoas, vazantes, braços, furados e diques (SOUZA; SOUSA; LANI, 2009). O rio Paraguai é navegável em todo seu curso. Os seus principais afluentes são: da margem direita os rios Jauru, Sepotuba, e Cabaçal. E da margem esquerda os rios Cuiabá (com os seus afluentes São Lourenço e Piquiri), Taquari, Miranda (com seu afluente Aquidauana) e Apa, sendo este constituinte do limite sul do Pantanal brasileiro e fronteira territorial do Brasil com o Paraguai (CEBRAC, 2000). Ao destacarmos o ambiente que é o rio Paraguai, é necessário levar em conta os aspectos ambientais, históricos, culturais, sociais e econômicos, aspectos que estão em constante interação. O modo de uso desse importante recurso hídrico é regido pela dinâmica das águas do rio. Essa dinâmica gera ambientes riquíssimos, possibilitando o ciclo de vida de espécies animais e vegetais (LIMA, 2010). Possui uma grande importância no contexto estratégico da administração dos recursos hídricos do Brasil, da Bolívia e do Paraguai, que a compartilham. A Bacia inclui o Pantanal, uma das maiores extensões de áreas alaga­das do planeta, e é a ligação entre o Cerrado do Brasil e o Chaco da Bolívia e do Paraguai (ANA, 2004). E a partir de 1970 vem registrando expressivo desenvolvimento socioeconômico, especialmente no ­Planalto, por causa do intenso uso e ocupação do solo, com suas consequências ambientais. A vegetação nativa tem sido transformada, principalmente o cerrado, em pastagens para o gado e para o cultivo de grãos. Esse desmatamento tem avançado também nas áreas de matas ciliares, o que tem ocasionado perda de habitats e espécies nativas (ANA, 2004). A ocupação antrópica na bacia hidrográfica do Alto Paraguai, especialmente a verificada ao longo do rio ­Paraguai, tem causado desequilíbrios na dinâmica fluvial, com a degradação de ambientes muito sensíveis, como a cobertura vegetal de margens côncavas, que são mais suscetíveis a processos erosivos (CEBRAC, 2000).

Os afluentes do rio Paraguai no trecho estudado Os principais tributários do rio Paraguai no trecho estudado são os rios Cabaçal, Jauru e Sepotuba, desaguando na sua margem direita. Porém, existem outros afluentes de menor porte (córrego Piraputanga, córrego Facão, córrego Padre Inácio e córrego Sangradouro).

Rio Cabaçal O rio Cabaçal possui área de 6.040 km2, com vales íngremes. No baixo curso, a mata ciliar atinge de 1,05 km de largura e em sua planície de inundação existem vários meandros abandonados. O rio b ­ ifurca-se em dois canais pelo acúmulo de sedimentos na calha. O canal secundário encontra-se quase que totalmente

Bacia hidrográfica do rio Paraguai - MT: Dinâmica das águas, uso e ocupação e degradação ambiental


obstruído por sedimentos, o que dificulta o escoamento da água no período de estiagem (­JUSTINIANO, 2010).

Rio Jauru A bacia hidrográfica do rio Jauru com aproximadamente 15.844,40 km2 está localizada a sudoeste do estado de Mato Grosso entre as coordenadas geográficas de 14° 29’ a 16° 30’ de latitude sul e de 57° 45’ a 59° 15’ de longitude oeste (Figura 2). Esta bacia é formada pelo rio Jauru e seus afluentes, que nascem na ­Chapada dos Parecis (Norte) e Serra Santa Bárbara (oeste) e percorrem áreas de diferentes compartimentos litológicos e topográficos. As altitudes do relevo variam entre 116 e 700 m, sendo que o rio principal deságua na margem direita do rio Paraguai no ­Pantanal matogrossense (SOUZA, 2004). O rio Jauru apresenta vários padrões de canais. A variação no padrão do canal e as mudanças na direção são, provavelmente, causadas pela geomorfologia e litoestrutura regional. No alto curso da bacia, o rio Jauru apresenta padrão retilíneo e irregular e, ao receber seu primeiro afluente, inicia-se uma pequena sinuosidade. O leito é encaixado, com presença de banco de sedimentos e a erosão acumulada das margens varia entre 1 a 2 cm/ano. No médio curso, o padrão meândrico predomina na maioria de seu percurso, mas alguns trechos possuem padrão irregular. Na sua margem direita, o rio Jauru recebe água e sedimentos dos rios Brigadeiro, Bagres e Aguapeí e, na margem esquerda, dos rios Pitas e Caeté. A erosão acumulada das margens varia de 1 a 10 cm/ano. No baixo curso, o meandramento é bastante expressivo, em torno de 2.1, surgindo também uma vasta planície de inundação, ou seja, o Pantanal Corixo Grande-Jauru-Paraguai. O rio atinge os terrenos inundáveis do Pantanal, formando uma espécie de leque, sendo que alguns pequenos cursos de água drenam as áreas sujeitas à inundação, desaguando em baías e lagoas ou espraiando-se na planície. Possui planície deprimida com baías, lagoas e meandros abandonados, a qual é drenada, principalmente no período de cheias, por corixós, vazantes e braços, que são separados por terraços e diques marginais com vários níveis de acumulação antigos e recentes. Em seu baixo curso, próximo à confluência com rio Paraguai, o rio Jauru apresenta uma bifurcação, dando origem a duas desembocaduras. O rio Jauru possui vazão média anual de 59.2 m3/s, no alto curso próximo da usina Jauru; no médio curso, na cidade de Porto Esperidião, a vazão estimada é de 86 m3/s, enquanto no baixo curso próximo à confluência com rio Paraguai, a vazão estimada é de 100 m3/s (SOUZA, 2004).

Bacia hidrográfica do rio Sepotuba A bacia hidrográfica do rio Sepotuba drena 11.460 km2, com vales estreitos e cobertos por vegetação densa.

Figura 1. Corredor fluvial do rio Paraguai entre a foz do rio Sepotuba a Estação Ecológica da Ilha Taiamã.

Figura 2. O corredor fluvial do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã, sua localização no Brasil e no município de Cáceres. I, II e III representam os compartimentos estudados.

Sistema hidrográfico do rio Paraguai - MT

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A planície de inundação é limitada, mesmo no baixo vale. Próximo à foz, a área de inundação é extensa com vários meandros abandonados (­CARVALHO, 1986). Na confluência do rio Sepotuba com o rio Paraguai existe uma bifurcação do canal, formando dois canais. Também encontram-se na foz, algumas ilhas fluviais, vários bancos de sedimentos e barras submersas. A mata ciliar apresenta-se densa e conservada, com ampla planície de inundação.

Corredor fluvial do rio Paraguai entre a foz do rio Sepotuba e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã No trecho estudado o rio Paraguai apresenta padrão meândrico em quase toda a sua extensão, exceto em alguns segmentos, em que o rio possui o padrão retilíneo, devido ao controle estrutural. No padrão meandrante, o curso é formado por margens côncavas e convexas. Nas margens côncavas, o canal é mais profundo, com erosão mais intensa, enquanto, nas margens convexas, os sedimentos são depositados, tornando o leito raso e formando bancos de areias, alternando processos naturais de erosão, transporte e deposição em virtude da variação periódica no nível d’água (Figura 1). O rio Paraguai nesse segmento possui uma dinâmica própria, em termos de escoamento do fluxo, que reflete pelo seu gradiente suave, uma planície de inundação que armazena e os braços dos rios que desviam parte do volume de água em período de cheias anuais, além de abastecer baías e lagoas, sendo que os braços dos rios também desviam parte do volume de água. Souza, Sousa e Cunha (2000), cita que as irregularidades da calha, ao longo do perfil longitudinal do rio Paraguai, na área de estudo, são influenciadas pelo volume de água, tamanho e peso dos sedimentos transportados, declividade do rio, geologia e constituição da calha, regime das chuvas e atividades humanas. O rio Paraguai é o principal canal de escoamento da bacia do Alto Pantanal, apresenta um curso meândrico formado por margens côncavas e convexas. Nas margens côncavas o canal é mais profundo, com erosão mais intensa e, nas margens convexas, os sedimentos são depositados, tornando o leito raso e formando bancos de areias, alternando processos naturais de erosão, transporte e deposição, devido à variação periódica do nível d’água. É considerado como um sistema de desenvolvimento precoce, apresentando uma estabilidade temporária (SOUZA; SOUSA; CUNHA, 2000). Esse tipo de canal meandrante possui vários braços (baías) com ligação direta ao canal principal no período das cheias, proporcionando uma dinâmica específica. As baías constituem áreas deprimidas, contendo água, delineando formas circulares, semicirculares ou irregulares. As vazantes são áreas de depressão. Na época de enchente, essas depressões servem de escorredouro entre as baías e têm caráter de curso fluvial intermitente. Os braços correspondem a pequenos cursos, geralmente perenes, conectados ao rio principal. O furado consiste de pequenos canais encontrados,

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geralmente, em rios de planícies, surgem devido ao rompimento do colo do meandro, podendo evoluir para canal principal. Os meandros abandonados (colmatados) não possuem ligação direta com curso de água atual. Os diques correspondem aos bancos de sedimentos, que se desenvolvem no lado interno da curva do meandro, dando origem aos meandros abandonados. O colo de meandro é o pedúnculo, que separa dois braços de um meandro com tendência a ser cortados. A faixa de meandro é a porção da planície aluvial ocupada por meandros. A carga de sedimentos, depositada no canal fluvial, pode estar associada a alguns fatores, tais como: baixa declividade ao longo do perfil longitudinal; morfologia da calha; volume de descarga; alternância do regime de precipitação; capacidade de transporte; velocidade do fluxo; tipo de canal e outros. A deposição nos canais fluviais ocorre, quando há diminuição na competência (tamanho máximo do material a ser transportado) e redução na capacidade do rio (volume de carga que pode ser transportado). Os processos de sedimentação nos canais fluviais, no Pantanal, acontecem no canal ou na planície de inundação. Os depósitos de sedimentos pertencem a diferentes categorias, como os que se desenvolvem no eixo central, ou seja, os bancos ou barras centrais (mid channel bar), as barras laterais (channel side bar e point bars), barras submersas e ilhas fluviais (SOUZA, 2009). A baixa declividade dos canais fluviais dificulta o escoamento, faz com que a água do rio transborde para a planície, abastecendo as baías e lagoas e acumulando-se na planície. A corrente fluvial, ao transpor as margens, favorece o aparecimento de dique marginal. A planície de inundação é, normalmente, tratada como plana; na realidade, entretanto, apresenta formas suaves originadas de processos deposicionais. No corredor fluvial, o rio Paraguai percorre uma área plana e sujeita à inundação periódica, onde destacam-se algumas feições peculiares como baías, lagoas, vazantes, corixos e furados. Possui vários afluentes de pequeno porte à margem esquerda. Seu principal afluente é rio Jauru, contribuinte de água e sedimentos. A área apresenta os maiores índices de precipitação em dezembro-janeiro e dois períodos bem definidos em termos de precipitação: época de chuvas intensas (outubro a março) e período de estiagem (abril a setembro). As precipitações diárias estão sujeitas as flutuações, no decorrer de um mês; por exemplo, nos meses de janeiro e dezembro, as máximas diárias de precipitação, em alguns dias, ultrapassaram 50 mm, situação esta típica de região que possui regimes de precipitações tropicais. Na maioria das vezes, os afluentes não alcançam o canal principal, enquanto alguns pequenos cursos d’água drenam nas áreas sujeitas à inundação, desaguando em baías e lagoas, ou espraiando-se na planície, contribuindo para a formação da área de Pantanal. A baixa declividade na foz dos tributários do rio

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Paraguai dificulta o escoamento, ampliando a planície de inundação. As características da planície contribuem para a ocorrência de inundação de forma diferenciada no corredor fluvial, devido à altura do nível da água e o tempo (meses) em que a planície permanece alagada, possibilitando, assim, o desenvolvimento de vários tipos de formação vegetal: Contato Floresta Estacional/ Savana, Savana-Parque Associada a Áreas Pantanais, Formações Justafluviais, Savana Florestada, Floresta Aluvial e Savana Arborizada com Floresta Galeria (BRASIL, 1982). A alternância no nível da água, no período de cheia e estiagem altera a configuração do canal. O nível da água eleva-se no canal principal, durante o período das cheias, provocando a remoção e remobilização de sedimentos, sendo que partes da água e dos sedimentos transportados vão para os canais secundários, baías e lagoas, ou transborda para as planícies marginais. O nível da água diminui, progressivamente, no período estiagem reduzindo-se também a capacidade de transporte, ocorrendo deposição de sedimentos em leito, em canais secundários, baías, lagoas e planície. Na planície de inundação, a baixa declividade do terreno, o regime de precipitação (alternância entre um período chuvoso e outro de estiagem) e a impermeabilidade do solo (favorece maior retenção e acúmulo de água por um período maior na planície) possibilitaram a formação de feições peculiares (lagoas, baías, braços, corixos e vazantes) ocorrendo adaptações e distribuições ao longo do perfil longitudinal do rio Paraguai. A vazão média mensal do rio Paraguai, estimada para 27 anos (1968 a 1995), variou de 249 a 1019 m3/s na estação fluviométrica de Cáceres, enquanto na estação fluviométrica da fazenda Descalvado a variação foi de 339 a 921 m3/s. A maior vazão média mensal, registrada nas duas estações, ocorre nos meses de janeiro, fevereiro, março, abril e dezembro (SOUZA, 2004). As variações do padrão do canal e das características morfológicas da planície possibilitaram a divisão do segmento em três compartimentos (Figura 2). O primeiro compartimento (52,5 km de extensão) estende-se da foz do Sepotuba à foz do rio Jauru. O padrão do rio é meandrante, apresentando um processo intenso de erosão na margem côncava e deposição na margem convexa e na planície de inundação. O canal fluvial possui uma dinâmica intensa, caracterizada por erosão acelerada, provocando a ligação direta de algumas baías e braços com o canal principal, chegando a transferir o fluxo do canal principal para o canal secundário. Sua planície é deprimida com baías e lagoas drenadas, principalmente no período de cheias, por vazantes e braços, que são separados por terraços e diques marginais com vários níveis de acumulação antigos e recentes (Figura 3). O segundo compartimento (36,5 km de extensão) inicia na foz do rio Jauru e termina na fazenda Santo Antonio das Lendas. O canal diminui a sinuosidade, tornando-se retilíneo, com forte controle estrutural

na margem esquerda, enquanto, na margem direita, encontra-se a planície de inundação com presença de baías e lagoas. No início do segundo compartimento, na margem direita, o rio Paraguai recebe água e sedimentos do rio Jauru e, na margem esquerda, do córrego Espinha Comprida. A influência do substrato rochoso da Província Serrana (arenito da Formação Raizama e calcário da Formação Araras), em sua margem esquerda, resulta uma dinâmica mais estável neste trecho (Figura 4). O terceiro compartimento (31 km de extensão) inicia na fazenda Santo Antonio das Lendas e termina na ilha de Taiamã. O canal perde todo o controle estrutural, alterando sua direção norte-sul para oeste-sudeste, tornando-se, novamente, meandrante e aumentando a planície de inundação. Neste compartimento, o rio Paraguai atinge os terrenos inundáveis do Pantanal, ocorrendo bifurcação no canal principal, ficando do lado leste um braço de rio, que circunda a ilha de Taiamã. Os córregos, na maioria das vezes, não alcançam o canal principal, enquanto alguns pequenos cursos d’água drenam nas áreas sujeitas à inundação, desaguando em baías e lagoas, ou espraiando-se na planície, contribuindo para formar a área de Pantanal (Figura 5).

Processo de ocupação do corredor fluvial Os índios Bororos, Paiaguás e os Guaicurus foram os primeiros habitantes do corredor fluvial, o que dificultou a ocupação da área pelos brancos. No final do século XVIII, ocorreu a efetiva ocupação da área, o que levou à diminuição e extinção dos índios. A ilha de Taiamã foi o último reduto da tribo Bororo na região. Dessa forma, a ocupação do corredor fluvial, iniciada no século XVIII, começou com a abertura de fazendas e o surgimento do núcleo urbano da cidade de Cáceres à margem esquerda do rio Paraguai. Em meados do século XIX até início do século XX ocorreu, nas margens do rio Paraguai, o desenvolvimento da pecuária extensiva com as grandes fazendas de charqueadas (Descalvado e Barranco Vermelho), para exportação de carne e couro para a Europa (­MENDES, 1992). A fundação da Vila Maria do Paraguai, mais tarde denominada Cáceres, ocorreu em 1772. Sua fundação ocorreu durante a administração do 4º governador da Capitania de Mato Grosso, com o propósito de impedir a evasão de imposto (SOUZA et al., 2001a), considerada um ponto estratégico para escoamento do ouro através do rio Paraguai, cuja jazida encontrava-se na capital do Estado, Vila Bela da Santíssima Trindade. A cidade de Cáceres iniciou-se próxima ao rio, sendo que as primeiras residências e casas comerciais foram construídas às margens do rio Paraguai e em sua planície de inundação, devido à necessidade de abastecimento de água, bem como pelo fato de todo o comércio estar localizado em torno do porto de Cáceres. Na margem direita do rio Paraguai, localiza-se a fazenda Descalvado que até a segunda metade do século XIX possuía cerca de 600 mil cabeças de gado

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Figura 3. Ilustração em bloco diagrama apresentando o padrão meândrante em trecho do rio Paraguai.

Figura 4. Bloco diagrama ilustrativo padrão retilíneo com controle estrutural em segmento do rio Paraguai.

Figura 5. Bloco diagrama ilustrativo do segmento da Estação Ecológica da Ilha de Taiamã.

e uma área em torno de 350 mil léguas quadradas (SOUZA, 1986), tendo cada légua a extensão de cinco quilômetros. A localização privilegiada da fazenda facilitava a compra de rebanho bovino de outras propriedades rurais, cujo transporte dos produtos era feito por via fluvial, assim como sua exportação para a Europa e comercialização com outros estados brasileiros. No auge da produção, o abate atingia 30 mil cabeças de boi ao ano. Suas atividades compreendiam a produção de charque, extrato e caldo de carne, além de vários subprodutos, como o sabão (IBGE, 1958). A fazenda Descalvado era regionalmente muito importante, devido à sua arrecadação de impostos, sendo considerada, na época, a maior fonte de concentração da receita no estado de Mato Grosso (IBGE, 1958),

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principalmente, em função da exportação de seus produtos para o mercado europeu. Devido à localização distante de cidades ou vilas, ela constituía uma unidade produtiva, fornecendo desde alimentos até tecidos confeccionados em teares manuais. O aumento da produção de carne em alguns estados brasileiros e o desenvolvimento das indústrias frigoríficas em São Paulo e países platinos, na forma de monopólios, assim como a construção da estrada de ferro Noroeste do Brasil, facilitou o transporte de gado do estado de Mato Grosso para São Paulo, provocando o declínio da charqueada produzida na fazenda Descalvado. Outra fazenda de destaque produtivo, localizada no corredor fluvial, denominava-se Barranco Vermelho, situada na margem esquerda do rio Paraguai, a 45 km de Cáceres. Na fazenda, em meados do século XIX e início do século XX, desenvolviam-se as atividades da indústria de charqueada e a usina de açúcar e aguardente, ambas de importância regional. Na fazenda Barranco Vermelho, o matadouro mantinha uma produção destinada ao abastecimento interno (BRASIL, 1997). A usina de açúcar e aguardente iniciou sua atividade no final do século XIX e início do século XX. Em 1941, devido sua baixa produtividade, não foi enquadrada no estatuto da lavoura canavieira brasileira, o que resultou em sua decadência. Com a criação de destaque de gado de corte, consolidou-se a Sociedade Pastoril Barranco Vermelho, que perdurou até inicio dos anos cinquenta. Na década de 70, o Governo Federal redefiniu o desenvolvimento da região Centro-Oeste a fim de modernizar e incentivar a economia regional. A região foi definida, pelo governo, como área de “Integração Regional” promovendo várias mudanças no município de Cáceres, decorrentes da implementação de alguns projetos, tais como a construção da ponte Marechal Rondon sobre o rio Paraguai e pavimentação da BR 364 e BR 070, cuja consequência foi à diminuição da navegação (SOUZA et al., 2001b). Na década de 70, o índice populacional de Cáceres aumentou para 85.472 habitantes, como resultado do fluxo migratório atraído pela expansão das atividades econômicas básicas (agricultura, pecuária e extrativismo). Em meados da década de 80, a população do município de Cáceres diminuiu para 76.844 habitantes, em razão do desmembramento de sua área para criação de novos municípios (EMPAER, 1996). Na década de 90, políticas voltadas para o desenvolvimento regional de Cáceres foram implantadas, visando à integração latino-americana. Essa fase vincula-se ao “vetor tecno-industrial, herdeiro da economia de fronteira” (BECKER, 1997), com vários projetos voltados para o desenvolvimento regional, tais como o projeto da hidrovia Paraguai-Paraná, para implementação do sistema fluvial, abrangendo cinco países da Bacia do Prata (porto em Cáceres) para escoamento da soja; implantação da Zona de Livre Comércio (zona de processamento para exportação),

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visando à integração latino americana e ligação com o Oceano Pacífico por via terrestre.

Processo de navegação Documentos etnográficos sobre a região mostram que a navegação do rio Paraguai iniciou-se com o uso de pequenas canoas feitas de troncos de árvores e movidas a remo, utilizadas pelos índios para se locomoverem para outros locais. O desenvolvimento da navegação ocorreu a partir do século XVI, no momento em que os europeus iniciaram a colonização na América, época em que expedições espanholas navegaram com embarcações maiores pelo rio Paraguai. No século XVIII, o rio Paraguai era usado para o transporte de produtos necessários ao abastecimento das fazendas e do núcleo urbano (Cáceres), bem como para o escoamento da produção das fazendas ribeirinhas (carne bovina) e do ouro proveniente da capital do Estado, Vila Bela da Santíssima Trindade. Em meados do século XIX, até início do século XX, a navegação fluvial foi intensificada, em decorrência da necessidade de escoamento de carne e derivados provenientes das fazendas de charqueadas Descalvado e Barranco Vermelho, bem como de produtos extrativistas como a poaia (Cephaelis Ipecacuanha) e pele de animais, garantindo, assim, a exportação destes produtos. Em 1950, o transporte de carga e de pessoas para Corumbá era realizado via fluvial, ao passo que as mercadorias oriundas de várias partes do País e de países estrangeiros eram, geralmente, transportadas vias aéreas até Corumbá e, depois, via fluvial até os entrepostos de Descalvado, Barranco Vermelho e o porto de Cáceres. Nos últimos anos, um crescimento significante da navegação ocorreu no rio Paraguai, aumentando consequentemente, o número de barcos de pequeno e médio porte, bem como a navegação de grandes embarcações e comboios de chatas, durante todo o ano, transportando soja dos ancoradouros de Cáceres até Corumbá. A implantação da hidrovia Paraguai-Paraná possibilitou a navegação de embarcações de grande porte durante todo o ano Ponce (1995). A construção da hidrovia proporcionou o desenvolvimento de um complexo sistema de navegação ao longo dos rios Paraguai e Paraná, desde Cáceres, Mato Grosso, no Brasil, até o porto de Nueva Palmira, no Uruguai, permitindo a circulação de chatas ao longo do rio, durante todo o ano e diminuindo os gastos no transporte da produção regional. Por outro lado, a implementação da hidrovia ocasionou muitos impactos ambientais sobre o rio Paraguai e ambientes aquáticos associados, incluindo o Pantanal. Para Bucher et al. (1994), a implantação da hidrovia desencadeou vários problemas ambientais a montante, a jusante de Cáceres no próprio rio Paraguai, decorrentes da alteração no regime hídrico, deterioração da qualidade da água, perda de áreas úmidas, perda

do efeito regulador com aumento da inundação, perda da biodiversidade local e regional, declínio da produtividade biológica e da complexidade a nível paisagístico. Estes efeitos ambientais podem ser gerados pelas obras necessárias à sua navegabilidade como a dragagem, remoção de obstáculos, retificação do rio, alargamento e aprofundamento do canal (CEBRAC; WWF, 1994). Atualmente, no rio Paraguai, a navegação é bastante intensa. Vários tipos de embarcações são encontrados em seu leito, tais como canoas a remo, barcos a motor, lanchas, barcos de passeio e comboios de chatas. De acordo com o levantamento realizado nos ancoradouros, além de entrevistas com barqueiros, a cidade de Cáceres possui 60 canoas, 371 barcos a motor; 52 lanchas, 23 barcos de passeio com capacidade para 10 a 36 pessoas e 45 comboios/ano, sendo que cada comboio possui 6 chatas e 1 rebocador, destinados ao transporte de soja em grãos (Tabela 1). O elevado número de embarcações, principalmente os barcos a motor, as lanchas e barcos de passeio, geram ondas que promovem a remoção de sedimentos das margens. O processo de navegação é desordenado, principalmente no período de estiagem, com a utilização de chatas, o que tem provocado a retirada de sedimentos das margens, além de acelerar sua erosão, causando perdas de solo, retificação do canal, deposição de sedimentos, entulhamento e assoreamento do leito fluvial. No período de estiagem os comboios navegam na margem côncava do rio onde, a calha apresenta-se mais profunda e com volume maior de água. Em vários locais, houve avanço sobre o barranco, cortando e removendo sedimentos, chegando a deslocar a margem côncava até 3 m para o interior (SOUZA; SOUSA; CUNHA, 2000). O atrito das embarcações sobre as margens contribui para a formação de fendas, desmoronamento dos blocos e solapamento basal. Estas instabilidades continuam durante algum tempo, provocando desmoronamento de blocos de barranco ao longo do perfil longitudinal do rio (SOUZA; SOUSA; CUNHA, 2000). Os sedimentos retirados das margens são transportados, imediatamente ou entulhados. Entretanto, no próximo período chuvoso, provavelmente esses mesmos sedimentos serão transportados para a calha do rio, formando bancos de areias e causando o assoreamento do leito. Nas margens côncavas do canal, há formação de poços, onde são encontradas várias espécies de peixes, muitas das quais ali desovam como é o caso da piraputanga (Bryconhilariu sp.). O aumento da deposição de sedimentos na margem côncava causa diminuição na profundidade dos poços, o que pode influenciar a distribuição espacial de várias espécies de peixes. O avanço das embarcações sobre as margens corta as raízes da vegetação, prejudicando a estabilidade das espécies arbóreas e ocasionando sua queda, enquanto a retirada da vegetação marginal provoca aumento no volume de sedimentos carreados e destrói os abrigos de várias espécies, que constroem suas ocas nas margens como, por exemplo, o caranguejo.

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Tabela 1. Tipo e quantidade de embarcações que navegam pelo rio Paraguai.

Descrição

Quantidade

Uso

Canoa (remo) Barco (motor) Lancha Barco de passeio Comboio

60 371 52 23 45

Pesca Pesca/recreação Pesca/recreação Pesca/recreação Carga (soja em grãos)

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Capítulo 2

Ambiente do corredor fluvial do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã - MT Célia Alves de Souza Juberto Babilônia de Souza Ivanilza de Lourdes Lazzarotto Cabral Maria Aparecida Pereira Pierangeli Patrícia Helena Mirandola

Introdução O rio Paraguai constitui um dos rios mais importantes do Brasil, com seus afluentes percorrendo vasta área de planície, podendo ser considerado uma imensa bacia de recepção de águas e sedimentos, devido à sua forma de anfiteatro. O rio principal e seus afluentes percorrem grandes extensões em planícies e pantanais matogrossenses, contribuindo para a manutenção das características locais do pantanal. Devido ao seu posicionamento geomorfológico e às características hidrológicas fazem, o Pantanal exerce uma função reguladora do regime hídrico, provocando o retardamento e o escoamento da água. O sistema fluvial e a planície de inundação possibilitam a manutenção da complexidade paisagística e a biodiversidade. O corredor fluvial, delimitado para estudo, abrange a calha do rio, a planície de inundação que sofre influência do regime de cheias do rio Paraguai, com algumas feições peculiares representadas pelas feições deprimidas, tais como, baías, braços, lagoas, furados, vazantes, além das feições de acumulação, destacando-se os cordões marginais, os diques marginais e as praias. Parte da área está inserida nos Pantanais, conhecidos como: Corixo Grande-Jauru-Paraguai e Cuiabá-Bento Gomes-Paraguaizinho.

Ambiente do corredor fluvial do rio Paraguai entre a cidade de Cáceres e a Estação Ecológica da Ilha de Taiamã - MT

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