guia prático de saúde
Alcoolismo Conheça os riscos e os efeitos da ingestão da droga lícita mais consumida no país
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Prefácio A ingestão de bebidas alcoólicas é tão antiga quanto a própria humanidade. Beber moderada e esporadicamente faz parte dos hábitos de diversas sociedades. Determinar o limite entre o beber social, o uso abusivo ou nocivo de álcool e o alcoolismo (síndrome de dependência do álcool) é, por vezes, difícil, pois esses limites são tênues, variam de pessoa para pessoa e de cultura para cultura. O consumo de bebidas alcoólicas é estimulado e romantizado na nossa sociedade, a ponto de ser comumente associado na mídia ao sucesso pessoal, à juventude, à beleza, ao bem-estar e ao sexo. Não é incomum assistir a propagandas de cerveja recheadas de erotismo, com mulheres jovens, bonitas e praticamente despidas em pleno horário nobre televisivo. O consumo de cerveja, aguardente, vinho e uísque faz parte do contexto cultural do país, sendo frequentemente incorporado a eventos, reuniões sociais e festas. Na nossa sociedade, o consumo de bebida alcoólica não só é aceito como também é estimulado. O problema está nas consequências desse costume. O álcool é uma droga que, se consumida em excesso, pode provocar problemas de saúde física e psicológica em vez de trazer o bem-estar sugerido pela publicidade, podendo destruir famílias e vidas. Aqui, falaremos sobre como o álcool é recebido pelo nosso organismo, quais os efeitos colaterais de seu uso em excesso e quando o uso social se torna uma doença, o alcoolismo. Há bastante informação para compreender os riscos da droga legalizada mais consumida no país. Boa leitura!
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Sumário CAPÍTULO 1
7 O uso social do álcool. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 Publicidade de bebidas alcoólicas. . . . . . . . . . . . . . . . . 10
Metabolização do álcool, embriaguez
ou intoxicação alcoólica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
A ação do álcool nas mulheres. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Álcool e adolescência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Álcool e violência. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
O álcool. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
CAPÍTULO 2
11 18 21 24
Abuso, dependência e tolerância . . . . . . . . . . . . . . . . .
O que é alcoolismo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Consequências do abuso de álcool . . . . . . . . . . . . . . . .
Álcool associado a outras drogas. . . . . . . . . . . . . . . . . .
Síndrome da abstinência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Recaída . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
Teste de dependência alcoólica. . . . . . . . . . . . . . . . . . .
31 32 34 42 45 50 55 56
Sobre as autoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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O consumo nocivo do álcool. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .
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CAPÍTULO
01 O ÁLCOOL
INTRODUÇÃO O grande problema do consumo de álcool é que, no início, seu efeito é agradável. O organismo cria tolerância (resistência) e exige doses cada vez maiores para repetir a sensação de bem-estar. Por ser uma droga lícita e socialmente aceita, o uso do álcool acaba se confundido com a dependência e, hoje em dia, os jovens começam cada vez mais cedo a consumir bebidas em grande quantidade. O uso de álcool na adolescência é desaconselhável porque o sistema nervoso central do jovem ainda está em desenvolvimento. O álcool pode atrapalhar seu amadurecimento normal, causar alterações no desenvolvimento da personalidade e prejudicar funções como memória e atenção. As alterações no amadurecimento normal do cérebro nessa fase da vida serão para sempre. Prejuízos de memória e atenção irão resultar em dificuldade de aprendizagem e piora no desempenho escolar. Estas dificuldades poderão levar à redução da autoestima o que, por sua vez, pode levar a um aumento do consumo de álcool realimentando o circuito. Além dos riscos na adolescência, também há os prejuízos para as gestantes que consomem o álcool na gravidez, podendo provocar alterações no peso e malformação do feto. Abordaremos também como nosso corpo metaboliza o álcool, o que é a ressaca e as consequências do consumo excessivo do álcool. Por último, apresentaremos a definição da síndrome de abstinência, que pode variar de um distúrbio moderado até uma condição grave e potencialmente fatal – dependendo muito dos órgãos que foram comprometidos pelo consumo exagerado de álcool e das complicações decorrentes do alcoolismo.
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Alcoolismo
O uso social do álcool O consumo do álcool está presente em diversas culturas e sociedades na história humana. Porém, com a modernização e as transformações econômicas e sociais, houve uma alteração na forma como os indivíduos e os grupos passaram a utilizar o álcool. O comportamento de consumo tem sido associado, principalmente, ao contexto recreativo ou à busca imediata de prazer, com padrões de uso em grandes quantidades numa única ocasião ou ao longo do tempo. Dessa forma, o consumo de álcool é um dos principais problemas de saúde pública no mundo. No Brasil, estima-se que 12,3% da população seja dependente de álcool, com prevalência crescente, ao longo dos anos, segundo estudo realizado em 2007 pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid). Há indícios de uso cada vez mais cedo entre os jovens e consumo cada vez maior entre as mulheres. Além da dependência em si, algumas informações epidemiológicas sobre o uso de álcool sugerem que esse comportamento não se limita à dependência, mas também a problemas crônicos e agudos de saúde associados, como violência, acidentes de trânsito etc.
O comportamento de consumo tem sido associado, principalmente, ao contexto recreativo ou à busca imediata de prazer, com padrões de uso em grandes quantidades numa única ocasião.
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O álcool
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O uso de risco, ou abusivo, de álcool pode ser prejudicial aos indivíduos e à população geral. Mais de 60 patologias crônicas e agudas, além de outros problemas sociais e psicológicos, estão associadas ao uso de álcool. Outro dado considerável é que, no Brasil, em média, são consumidos anualmente 6 litros de álcool per capita. Além da quantidade ingerida, o padrão de consumo pode levar a diversos problemas de saúde devido ao uso de altas doses numa mesma ocasião. O uso de cinco doses em uma única ocasião é mais pesado entre os jovens, com diferenças menores entre os gêneros. Tais dados demonstram que o consumo de álcool entre os brasileiros nos coloca em situação de risco para diversos problemas sociais e de saúde.
Riscos do uso social do álcool É muito comum, por exemplo, as pessoas usarem o termo “socialmente” quando perguntadas se consomem bebidas alcoólicas. É importante, porém, entender qual é a definição de “socialmente” para aquela pessoa.
No Brasil estima-se que 12,3% da população seja dependente do álcool.
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Um uso moderado (ou seja, que não causaria danos ao organismo) é de até 30 gramas de álcool por dia. Isso equivale aproximadamente a duas taças de vinho, mas a apenas uma dose de destilado (uísque, vodca) por dia. É importante lembrar que esse limite é considerado seguro para adultos saudáveis, fora do período de gravidez e nos quais o álcool não causa nenhuma complicação para a saúde ou para a vida social. Se a pessoa toma duas cervejas, mas isso já a deixa “alta” e ela se envolve em discussões ou, por exemplo, se atrasa para o trabalho no dia seguinte, negligencia atividades importantes ou prejudica seu casamento, então esse uso não pode mais ser considerado “social”; já estamos falando de um uso nocivo (ou abusivo). É importante, ainda, lembrar que crianças e adolescentes com menos de 18 anos não devem consumir bebidas alcoólicas. Apesar do desconhecimento por parte da maioria das pessoas, o álcool também é considerado uma droga psicotrópica, pois atua no sistema nervoso central, provocando mudanças no comportamento de quem o consome, além de potencialmente causar dependência. O álcool é uma das poucas drogas psicotrópicas cujo consumo é admitido e até incentivado pela sociedade. Por esses motivos, é encarado de forma diferenciada quando comparado com as demais drogas.
Publicidade de bebidas alcoólicas A propaganda de bebidas alcoólicas no Brasil é regulada pela Lei nº 9.294, de 1996. Para essa lei, que também regulamenta os cigarros, entre outros produtos, bebida alcoólica é somente aquela com mais de 13º GL (graduação alcoólica), ou seja, ela exclui as cervejas e os vinhos. A principal restrição que se apresenta é a redução do horário de propaganda na televisão e no rádio, que se restringe ao período entre 21h e 6h. Um recente estudo publicado na Revista Brasileira de Psiquiatria demonstrou que a publicidade de bebidas alcoólicas é um importante fator de influência dos hábitos de consumo de álcool da população, em particular entre os mais jovens. Seu papel estratégico não pode e não deve ser menosprezado. No Brasil, a publicidade de álcool, principalmente a de cerveja, é bastante apreciada por sua qualidade e criatividade, e os adolescentes e os adultos jovens parecem estar especialmente expostos a ela, e também parecem ser o alvo preferencial. O efeito sedutor da propaganda de bebidas alcoólicas é inquestionável, por isso, é importante fiscalizar sua utilização e o teor do conteúdo nas mídias.
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Fonte: Campanha da agência TBWA para a cervejaria Primus
O álcool
As propagandas de bebidas têm discurso apelativo e, geralmente, mostram situações de extrema alegria, sem mostrar os riscos da ingestão excessiva do álcool.
Fatores que levam ao primeiro uso do álcool: • Espírito de grupo: principalmente na adolescência, quando não queremos ser tratados como “diferentes”. • Curiosidade: fala-se tanto no assunto, como será que é? • Incentivo dos pais: alguns bebem e dão aos filhos para que provem.
Metabolização do álcool, embriaguez ou intoxicação alcoólica O álcool etílico ou etanol pode ser ingerido na forma de bebida alcoólica, unindo-se a diversos sabores, aromas e preferências dos mais variados consumidores. No entanto, o que acontece com esta substância quando ela entra em contato com nosso organismo, e quais efeitos ela provoca?
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Mais de 90% do álcool absorvido é eliminado pelo fígado.
Diversos aspectos podem ser abordados, como a embriaguez, a ressaca no dia seguinte, entre outros efeitos momentâneos. Uma vez ingerido, o álcool, que não possui em si enzimas digestivas, percorre o caminho do sistema digestório até chegar aos dois principais locais onde se dará sua absorção: até 5% do etanol é absorvido pela mucosa gástrica; o restante, cerca de 80 a 95% é absorvido na mucosa intestinal. Essa porcentagem pode variar de acordo com alguns fatores que alteram a absorção, como: temperatura, alimentos e presença de CO2. (Essa é uma das razões pelas quais se recomenda estar bem alimentado antes de beber. A presença de alimentos no sistema digestivo torna a absorção do álcool moderadamente mais lenta, já que este não é o único elemento a ser digerido). Após a ingestão, o álcool é absorvido inalterado pelo estômago e intestino delgado. Leite e alimentos gordurosos tornam mais lenta a absorção. O álcool é, então, distribuído por todos os tecidos e líquidos do corpo na proporção direta do nível sanguíneo. Menos de 10% do álcool absorvido é excretado de forma inalterada pela urina, pelo suor e pela respiração. A quantidade exalada tem relação direta com o nível sanguíneo e é a base para o teste da respiração (bafômetro) empregado pelas agências policiais.
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O álcool
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SAÚDE EM AÇÃO Quanto tempo deve-se esperar para dirigir depois de ingerir bebida alcoólica? O médico Ronaldo Laranjeira, professor titular de psiquiatria e dependência química da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), explica que há um conceito fixo na medicina que afirma que o organismo se livra do equivalente a uma dose de álcool em uma hora. “Uma dose pode ser uma taça de vinho ou chope, ou ainda um daqueles copos bem pequenos de destilado, que o fígado levará cerca de uma hora para metabolizar”, explica. Sendo assim, se uma pessoa de aproximadamente setenta quilos ingeriu três copos de chope, por exemplo, ela terá de esperar três horas para dirigir. Caso tenha tomado dez taças de vinho, serão necessárias dez horas para que o organismo esteja livre dos efeitos do álcool. Mas o médico esclarece que os efeitos do álcool variam de acordo com cada pessoa e com uma série de fatores: “Se o indivíduo bebe com o estômago vazio, os efeitos do álcool pelo corpo podem aparecer mais rápido, assim como o corpo feminino demora mais para metabolizar o álcool”. Por isso, a Polícia Rodoviária Federal recomenda que se espere pelo menos 12 horas antes de dirigir após a ingestão de álcool. Uma dica importante de Ronaldo Laranjeira é controlar a quantidade de álcool ingerida. Por exemplo, se alguém ficar duas horas na casa de uma pessoa jantando e, durante esse período, consumir apenas duas taças de vinho ou dois copos de chope, provavelmente estará pronto para dirigir pouco depois da refeição, pois cada copo de bebida foi consumido ao longo de uma hora, tempo necessário para o organismo metabolizar o álcool. Não existe nada que se possa fazer para acelerar o processo do metabolismo do álcool no corpo, a despeito de algumas crenças como ingerir café, aspirina, tomar banho gelado ou comer enquanto se bebe. “Nada acelera este limite de uma hora por dose. Se você der um banho gelado em uma pessoa bêbada, você terá um bêbado limpo, mas não vai acelerar a recuperação do sujeito”, explica Laranjeira. Fonte: UOL Notícias. Disponível em: ‹http://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/ redacao/2013/ 01/18/saiba-quanto-tempo-voce-deve-esperar-para-dirigir-depois-de-ingerir-bebida-alcoolica.htm›. Acesso em: 23 jun. 2015.
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O consumo excessivo de álcool exige um esforço metabólico considerável, sobrecarregando, principalmente, o fígado.
Grande parte do álcool no sangue é metabolizado no fígado através de uma via principal e duas acessórias. O etanol é primeiramente convertido em acetaldeído pela enzima álcool-desidrogenase. O aceltaldeído é subsequentemente oxidado e acetato pela aldeído-desidrogenase, uma enzima inibida pelo Dissulfiram, que possui algum uso em pacientes que desejam parar de beber. Segundo dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), em um estômago vazio, a concentração de álcool no sangue atinge seu pico uma hora após a ingestão (dependendo do montante consumido) e, depois, declina de forma mais ou menos linear nas próximas quatro horas. O álcool é removido do sangue em uma taxa de 3,3mmol/hora (15mg/100ml/hora), mas tal valor varia de pessoa para pessoa. Por exemplo, meia garrafa de uísque é equivalente à ingestão de 500g de aspirina.
Embriaguez Uma vez que o álcool desce pelo estômago e é absorvido, ele passa para a corrente sanguínea e é distribuído ao longo do corpo, começa a agir e produz o estado de embriaguez.
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Na medida em que o consumo de álcool aumenta, os efeitos da concentração alcoólica no sangue ficam mais evidentes e se traduzem em mal-estar, falta de equilíbrio e coordenação.
Enquanto o álcool está fazendo efeito, o corpo começa imediatamente a trabalhar para se livrar do mesmo. Os rins e os pulmões se encarregam de eliminar aproximadamente 10% do álcool por meio da urina e da respiração. Parte do álcool também é eliminada por meio do suor, enquanto o fígado se ocupa do resto, digerindo-o e convertendo-o em ácido acético. Na medida em que o consumo vai aumentando, o corpo sente cada vez mais os efeitos e, por último, as consequências físicas diretamente relacionadas à concentração alcoólica sanguínea se mostram mais claras. O álcool também afeta o cérebro e o sistema nervoso central, alterando o trabalho dos neurotransmissores. O excesso de álcool altera a atividade elétrica do cérebro, o que dificulta o controle do equilíbrio corporal e causa problemas para caminhar, falar e até vocalizar as palavras.
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MAIS SAÚDE Por que nos sentimos fracos e sonolentos quando bebemos? Porque os níveis de glicose no sangue diminuem durante a bebedeira, o que produz uma fraqueza generalizada, suor excessivo, vertigem e visão borrada. Por que sentimos tanta vontade de comer? Porque a digestão das moléculas de álcool faz com que o corpo sinta necessidade de recuperar carboidratos. Essa é a razão fundamental por que as pessoas têm tanta fome durante a bebedeira. Fonte: Universia Brasil. Disponível em: ‹http://noticias.universia.com.br/ciencia-tecnologia/noticia/2012/08/30/962832/acontece-quando-estamos-bebados.htm›. Acesso em: 24 jun. 2015.
Ressaca Quando o fígado está trabalhando e metabolizando o álcool, ele produz uma substância similar ao vinagre que tem certo efeito tóxico no cérebro, no estômago e no próprio fígado, provocando dores de cabeça, náuseas, acidez estomacal e vômito. Ao mesmo tempo, a concentração de vitaminas e minerais no corpo diminuem, o que provoca a fraqueza e o cansaço. A ressaca parece ser a maneira que o nosso organismo tem de nos lembrar sobre os perigos do consumo excessivo do álcool. A ressaca sempre se associa à intoxicação aguda de álcool e inicia-se cerca de 6 a 8 horas após o consumo (período em que a concentração de álcool no sangue diminui e retorna a zero, em média) e pode durar até 24 horas. A ressaca é caracterizada por efeitos físicos e mentais adversos, com uma variedade de sintomas de mal-estar: dor de cabeça, náuseas, problemas de concentração, boca seca, tontura, desconforto gastrointestinal, cansaço, tremores, falta de apetite, sudorese, sonolência, ansiedade e irritabilidade. No entanto, há uma variação muito grande desses sintomas (de pessoa para pessoa e de ocasião para ocasião), impossibilitando uma definição exata da ressaca. Existem varias hipóteses para explicar o aparecimento e a gravidade da ressaca. Além da quantidade de álcool consumida, outros fatores relacionados ao consumo propriamente dito (intervalo de tempo do consumo ou o tipo de bebida) podem influenciar o aparecimento da ressaca. Fatores psicológicos parecem estar envolvidos, assim como a vulnerabilidade à dependência de álcool (como predisposição genética).
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A ressaca é uma maneira que o organismo encontrou de nos lembrar sobre os perigos do consumo excessivo do álcool.
Segundo dados do Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), com relação à prevalência da ressaca na população em geral, presume-se que ela seja muito elevada. Alguns estudos mostram que 75% das pessoas que consumiram doses intoxicantes de álcool tiveram ressaca pelo menos uma vez na vida. Enquanto isso, 50% dos bebedores frequentes (consumo de uma ou duas doses por dia, de acordo com o estudo) apresentaram ressaca no último ano. Dos estudantes bebedores pesados (definido pelo estudo como o consumo de 5 ou mais doses em uma única ocasião) 90% haviam sofrido ressaca. Em geral, as pesquisas sugerem que a ressaca é um fenômeno muito prevalente, mas ainda há poucos estudos epidemiológicos para determinar com mais precisão e, com especificidade, a real prevalência da ressaca em populações diferentes. A fisiologia da ressaca é intrigante. Seus sintomas se apresentam somente após a (quase) completa eliminação do álcool e de seus metabólitos do organismo, geralmente no dia seguinte ao consumo excessivo de álcool. Existe a crença popular (não comprovada cientificamente) de que a desidratação é o principal sintoma da ressaca. Sugere-se que a ressaca e a desidratação sejam dois processos independentes que ocorrem concomitantemente, por meio de diferentes mecanismos. Não existe tratamento contra a ressaca. O mal-estar só passa depois que o corpo se recupera por completo.
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MAIS SAÚDE Alguns procedimentos ajudam a aliviar os sintomas Beba água: a ingestão de água compensa a desidratação. Vale também optar por sucos e isotônicos. Coma: prefira alimentos leves, como bolachas de água e sal, que elevam o nível de glicose no sangue e são facilmente digeridas. Aposte também nas frutas, que ajudam o organismo a metabolizar o álcool que sobrou no corpo. As bananas, por exemplo, são ricas em potássio e repõem o mineral perdido pela desidratação. Descanse: se puder voltar a dormir, não pense duas vezes. É provável que você acorde um pouco melhor. Exercite-se: desde que o corpo permita, claro. O exercício faz que o sangue circule mais rápido no organismo, acelerando a eliminação das toxinas. Não beba outra vez: parece óbvio, mas muita gente esquece. Dê pelo menos 48 horas de trégua para que o organismo se recupere. Evite café: uma xícara só, tudo bem. Muita cafeína desidrata o corpo – e tudo o que você não precisa nessa hora é perder mais água. Fonte: Revista Corpo a Corpo. Disponível em: ‹http://corpoacorpo.uol.com.br/blogs/pergunte-ao-especialista/como-curar-a-ressaca/3309›. Acesso em: 24 jun. 2015. (Adaptado.)
A ação do álcool nas mulheres A intensidade dos efeitos do álcool no organismo das mulheres é mais exacerbada em comparação aos homens. Isso ocorre devido à menor quantidade de água presente no organismo feminino, o que faz com que o álcool seja distribuído e metabolizado mais rapidamente, e devido também à menor presença, entre as mulheres, de enzimas hepáticas que metabolizam essa substância. Assim, o impacto causado pelas bebidas alcoólicas no organismo das mulheres é duas vezes maior do que no organismo masculino mediante a ingestão de quantidades iguais de álcool.
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Consumo de álcool durante a gravidez Os efeitos do álcool podem ser muito degradantes durante a gestação. Por atravessar a placenta, ele pode causar efeitos nocivos no feto, incluindo hiperatividade, déficits de atenção, aprendizado e memória. Uma vez que não há estudos científicos que definam um limite “seguro” de consumo de álcool, ou seja, que não afete o bebê, a abstinência é a melhor e única recomendação para mulheres grávidas ou que estejam tentando engravidar. Elas não devem, em hipótese alguma, beber. O álcool é uma substância com livre acesso pela placenta e, portanto, tem livre passagem para o feto. O fígado do bebê, que está em formação, metaboliza o álcool duas vezes mais lentamente que o fígado da mãe, isto é, o álcool permanece por mais tempo no organismo do bebê do que no da mãe. Os prejuízos causados no feto pelo álcool podem causar desde gestos desajeitados até problemas de comportamento, falta de crescimento, rosto desfigurado e retardo mental, dependendo da fase da gravidez e também da quantidade de álcool ingerido. Durante a gravidez, outras complicações estão relacionadas com o uso do álcool como aborto espontâneo e trabalho de parto prematuro. O risco de aborto espontâneo quase dobra quando a gestante consome álcool.
Uma vez que não há estudos científicos que definam um limite “seguro” de consumo de álcool que não afete o bebê, a abstinência é a melhor e única recomendação para mulheres grávidas.
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Síndrome Fetal do Álcool A Síndrome Fetal do Álcool (SAF) é a consequência, no feto, do consumo de álcool durante a gravidez e é irreversível. Caracteriza-se por retardo no crescimento intrauterino, retardo do desenvolvimento neuropsicomotor e intelectual, distúrbios do comportamento (irritabilidade e hiperatividade durante a infância), diminuição do tamanho do crânio (microcefalia), malformações da face – como nariz curto, lábio superior fino e mandíbula pequena – pés tortos, malformações cardíacas, maior sensibilidade à infecções e maior taxa de mortalidade neonatal. A exposição do feto ao álcool não tem como consequência necessariamente a SAF. Na maioria dos recém-nascidos prejudicados pela ação do álcool antes do nascimento não ocorrem anomalias faciais e a deficiência do crescimento que caracterizam a SAF. Mesmo assim, todos os bebês que são expostos ao uso de álcool sofrem danos cerebrais e outros comprometimentos tão significativos quanto os que ocorrem nos portadores da SAF. Por vezes, o bebê, ao nascer, não apresenta algum defeito físico, mas alguns sintomas podem não ser óbvios até que ele atinja entre 3 e 4 anos. Conforme a criança cresce, outros prejuízos começam a aparecer, entre os quais a memória fraca, falta de concentração, raciocínio lento e incapacidade de aprender com a experiência. Alteração no peso O peso de um bebê que foi exposto ao álcool é, normalmente, inferior ao de bebês de mães que não beberam durante a gravidez. Ao nascer, o peso de bebês afetados pelo álcool é de aproximadamente 2 quilos e o de bebês saudáveis é de 3,5 quilos. SAÚDE EM AÇÃO Álcool e gravidez não combinam! O álcool deve ser evitado durante a gestação e durante todo o período de amamentação, pois pode passar para o bebê através do leite materno. Como o álcool passa rapidamente para o sangue, o drinque que a mãe bebe já atua sobre o bebê após 10 minutos. A extensão do dano causado pelo álcool no feto está relacionada com a duração e quantidade da ingestão de álcool. Fonte: O arquivo. Disponível em: ‹http://www.oarquivo.com.br/index.php/img/9-battlestar-galactica/detail/2713-galactica?tmpl=component›. Acesso em: 24 jun. 2015.
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Nem todas as mães que bebem terão bebês com sequelas. Qualquer quantidade de álcool é um risco, por isso qualquer abuso exagerado do álcool é prejudicial para o feto, principalmente durante os primeiros três meses.
Álcool e adolescência Alcoolismo nunca foi problema exclusivo dos adultos. Pode também acometer os adolescentes. Hoje, no Brasil, uma das grandes preocupações é o fato dos jovens começarem a beber cada vez mais cedo. O pior é que, certamente, parte deles conviverá com a dependência do álcool no futuro. Essa reviravolta em relação ao uso de álcool entre os adolescentes ocorreu bruscamente de uma geração para outra, devido a diversos fatores de risco. O primeiro é que o consumo de bebida alcoólica é aceito e até estimulado pela sociedade. É contraditório como os pais podem entrar em pânico quando descobrem que os filhos fumaram maconha, ou tomaram um comprimido de ecstasy, mas acham normal que eles bebam porque, afinal, todos bebem.
Bem aceito por boa parte da sociedade, legalizado e promovido pela publicidade, o consumo de álcool deve ser tema de conversa entre pais e filhos.
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Sem desprezar os fatores genéticos e emocionais que influenciam no consumo da bebida – o álcool reduz o nível de ansiedade e algumas pessoas estão mais propensas a desenvolver alcoolismo –, a pressão do grupo de amigos, o sentimento de onipotência próprio da juventude, o custo baixo da bebida, a falta de controle na oferta e consumo dos produtos que contêm álcool e a ausência de limites sociais colaboram para que o primeiro contato com a bebida ocorra cada vez mais cedo. Não se pode esquecer que, em qualquer quantidade, o álcool é uma substância tóxica e que o metabolismo das pessoas mais jovens faz com que os seus efeitos sejam potencializados. Não se pode esquecer também que ele é responsável pelo aumento do número de acidentes e de atos de violência, muitos deles fatais, a que se expõem os usuários. O uso de álcool na adolescência é desaconselhável porque o sistema nervoso central do jovem ainda está se desenvolvendo. Este uso pode atrapalhar o amadurecimento normal do cérebro, causar alterações no desenvolvimento da personalidade e prejudicar funções como memória e atenção. A adolescência é um período marcado por mudanças intensas tanto no plano físico como no psicológico. A crise de identidade nessa fase da vida representa um importante fator de risco para o uso de substâncias psicoativas pelos adolescentes. O abandono da vida infantil e a aproximação do mundo adulto produzem importantes mudanças e obrigam o indivíduo a reformular seus conceitos a respeito de si mesmo, levando-o a abandonar a autoimagem infantil e projetar-se no futuro, em sua vida adulta. A intensidade dessa crise de identidade vai depender, entre outros fatores, de suas características de personalidade, do ambiente familiar, social, cultural e da forma como o jovem exterioriza seus conflitos. Nesse período de transição, a característica de experimentar o que é novo, buscando desafios e emoções, está presente de forma significativa, embora seja relevante destacar o poder da mídia sobre o comportamento social. Não raro, divulgam-se nos comerciais de TV as imagens de jovens bonitos, saudáveis e felizes consumindo bebida alcoólica, um fato que pode influenciar na decisão do adolescente em crise, predispondo-o à ingestão de álcool. Embora não seja ilícito, o álcool é uma droga e, para muitos jovens no mundo todo, é a principal substância psicoativa utilizada. Em nosso país, a situação não é diferente, uma vez que existe o acesso fácil às bebidas alcoólicas e seu consumo é aceito e estimulado socialmente.
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Fonte: PUC- SP. Disponível em: <http://www.pucsp.br/clinica/boletim-clinico/ boletim_12/boletim_12_07.html>. Acesso em: 24 jun. 2015.
Pesquisa realizada com estudantes do Ensino Fundamental e do Ensino Médio de dez capitais brasileiras revelou que:
Consumo de álcool entre os jovens 80
65% dos jovens consomem álcool.
70 60
50% usaram substância pela primeira vez entre os 10 e 12 anos de idade.
50 40 30 20
10% apresentam uma diminuição do hipocampo – região cerebral responsável pela memória e aprendizado.
10 0
Entre jovens de 12 a 17 anos de idade, já são dependentes de álcool:
5,3% dos meninos. 2,5% das meninas. 0
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Alguns fatores podem favorecer o uso de álcool na adolescência e, aliados a um componente genético, conduzir ao quadro de alcoolismo. Filhos de pais alcoólatras apresentam maior suscetibilidade em iniciar o consumo mais cedo e desenvolver dependência. Ainda no tocante ao ambiente familiar, a falta de estrutura, a comunicação deficiente, a falta de atenção dos pais e a ausência de regras e limites são fatores que predispõem os jovens ao uso de álcool. Ingerir bebidas alcoólicas também está relacionado ao desejo de ser aceito pelo grupo de amigos, para “fugir” dos problemas pessoais e familiares, e ainda, servir para diminuir a inibição e a timidez em situações sociais. O consumo abusivo de álcool entre os jovens pode trazer graves consequências. O número de acidentes automobilísticos relacionados à ingestão de álcool é significativo e, em sua maioria, neles estão envolvidos os jovens. Outra consequência agravante está relacionada ao comportamento sexual. É grande a incidência de relações sexuais sem o uso de preservativos entre pessoas alcoolizadas, oferecendo sérios riscos de contaminação de alguma DST ou de uma gravidez não planejada.
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Alguns comportamentos podem indicar se um adolescente está enfrentando problemas com álcool ou qualquer outra droga. No entanto, é importante informar que alguns desses comportamentos são comuns nessa fase. Antes de procurar ajuda profissional, os pais devem atentar se muitos deles ocorrem ao mesmo tempo e de forma repentina. São eles: • Mudanças frequentes de humor, irritabilidade sem causa aparente. • Problemas na escola, como falta de atenção, queda no rendimento e indisciplina. • Rebeldia. • Relutância em apresentar os novos amigos. • Desmotivação e baixa energia. • Falta de autocuidado, aparência desleixada. • Evidências de alguma substância em seus objetos pessoais, bolsas ou armários, ou ainda cheiro de álcool. • Dificuldades de memória, baixa concentração, olhos avermelhados, falta de coordenação motora. A consulta a um especialista é muito importante para auxiliar os pais a encontrarem as melhores maneiras de prevenção e controle dos comportamentos disfuncionais nos adolescentes. A avaliação apropriada do jovem por um psicólogo ou psiquiatra especialista em dependência química poderá aumentar as chances de sucesso com as diretrizes de tratamento apropriadas para cada situação.
Álcool e violência A relação entre o consumo de álcool e o crime é reconhecida como um sério problema social em todo o mundo. O álcool pode ser a causa direta de um crime, uma vez que acarreta desinibição ou prejuízo cognitivo, e ambos podem compartilhar um terceiro fator complicador, como personalidade e desvantagens sociais. As atividades criminosas podem facilitar o consumo de bebidas alcoólicas, mas essa associação também pode ser espúria. O sistema penal brasileiro isenta de pena o agente que, no momento do crime, não possuía a completa capacidade de entender a ilicitude do fato ou de se determinar de acordo com esse entendimento. Já a embriaguez, voluntária ou culposa, não exclui a responsabilidade, exceto nos casos fortuitos ou de força maior.
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Um estudo do Ministério da Saúde revelou que 49% das agressões estão associados à ingestão de álcool.
O consumo inadequado de bebidas alcoólicas tem produzido efeitos deletérios em diversos setores da vida dos bebedores. Além das complicações físicas e psiquiátricas, muitos problemas sociais e legais relacionados a esse consumo têm sido amplamente registrados. A interface entre o consumo de bebidas alcoólicas e o comportamento violento ou agressivo tem sido matéria de intensas pesquisas em todo o mundo. Embora a associação direta seja difícil, é possível sugerir que o consumo inadequado de bebidas alcoólicas esteja relacionado a crimes violentos. O consumo nocivo de bebidas alcoólicas, especialmente durante os episódios de intoxicação, representa um saliente risco para a perpetração de atos violentos, incluindo homicídios, crimes sexuais e violência familiar. Estes dados foram retirados do site da Fiocruz, para mais informações acesse: <http://www6.ensp.fiocruz.br/radis/revista-radis/132/reportagens/combustivel-da-violencia>.
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Agressões O estudo Vigilância de Violências e Acidentes (Viva), realizado em 2011 pelo Ministério da Saúde, revelou que 49% das agressões estão associados à ingestão de álcool. A proporção do consumo de bebidas alcoólicas entre os homens foi bem superior à das mulheres. Outra pesquisa, Consumo de álcool e os acidentes de trânsito, capitaneada pelo Instituto de Medicina Integral Professor Fernando Figueira (Imip), concluiu que a ingestão de bebidas alcoólicas aumenta em cinco vezes a gravidade do acidente de trânsito ou as chances de morte em decorrência dele. Álcool e violência doméstica O Ministério da Saúde considera o álcool o maior problema de saúde pública no Brasil e a principal porta de entrada para o uso de outras drogas. Todos os estudos locais, nacionais e internacionais demonstram que existe uma relação inquestionável entre o álcool e a violência.
O consumo de bebidas alcoólicas está presente em metade das ocorrências de violência doméstica.
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O abuso do álcool é um dos fatores que prejudicam a manutenção dos laços familiares.
O Levantamento Nacional de Álcool e Drogas (Lenad) de 2012 mostrou, por exemplo, que o consumo de bebidas alcoólicas está presente em metade das ocorrências de violência doméstica. Em 20% das ocorrências de violência física na infância, os abusadores haviam bebido. E quando as situações de violência doméstica envolvem dependência de álcool, elas ganham uma perspectiva de longo prazo, prejudicando durante muitos anos as relações familiares. Esse contexto compromete consideravelmente várias esferas da vida, especialmente o desenvolvimento infantil. A agressividade não é causada diretamente pela bebida. O álcool atua no sistema nervoso central, aumentando a impulsividade e diminuindo a crítica. Esse efeito favorece a manifestação de alguns comportamentos, como a agressividade, em algumas pessoas. Existem fatores individuais para o consumo abusivo de álcool, ligados à personalidade e ao comportamento do indivíduo, como a espiritualidade e o autocontrole. Já algumas situações sociais levam à alta vulnerabilidade para o consumo de álcool, como o desemprego. O indivíduo que se comporta de maneira violenta pode trazer componentes de problemas mentais, e usar o álcool para controlar ou extravasar a agressividade.
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Álcool e violência no trânsito O uso de álcool e de outras drogas está associado ao aumento de acidentes de trânsito e, consequentemente, ao aumento de infrações penais. No Código Nacional de Trânsito Brasileiro (1988), observou-se que o legislador teve a intenção de coibir o uso de bebidas alcoólicas de forma severa, tanto na criminalização do ato de dirigir sob o efeito de álcool e/ ou outras drogas de efeitos análogos, como na aplicação do Código Penal nos casos de crimes cometidos na direção de veículos automotores. A perigosa combinação entre bebidas alcoólicas e direção é a causa de acidentes não só aqui no Brasil, como no mundo todo. Políticas e normas regulamentadoras têm sido criadas com o objetivo de reduzir o número de mortos e feridos nas estradas, além de conscientizar e educar a população quanto a seu papel para o trânsito seguro.
De acordo com o Ministério da Saúde, 21% dos acidentes estão relacionados ao consumo de álcool.
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A tolerância com quem dirige após ingerir bebida alcoólica realmente está cada dia menor. E este é um problema que tem sido discutido de forma internacional. Se, no Brasil, contamos com a Lei Seca, em outros países há leis e punições bem semelhantes. Nos Estados Unidos, por exemplo, há diferenças nas leis entre os estados, mas, em todos eles o motorista é punido ao ser pego dirigindo alcoolizado. O condutor pode ser multado e até ir para a cadeia. Lei Seca A Lei nº 11.705, de 2008, conhecida como Lei Seca, provocou mudanças nos hábitos da população brasileira. Antes, era permitida a ingestão de até 6 decigramas de álcool por litro de sangue (o equivalente a dois copos de cerveja), agora é preciso ser muito cauteloso na ingestão de bebidas alcoólicas antes de dirigir. Com esta nova legislação, o motorista que for flagrado com nível de álcool acima do permitido (0,1mg/l de sangue) paga uma multa, tem o carro apreendido e ainda perde a habilitação. A pior consequência é para quem estiver embriagado (níveis acima de 0,3mg/l): o motorista corre o risco de ser preso e a detenção é de 6 meses a 1 ano. E por que a nova lei coloca o Brasil entre os países mais rígidos do mundo? • A Polícia Rodoviária Federal está bem equipada, possui um bafômetro para cada 122km de rodovia. • A dose fatal é correspondente a 0,1mg de álcool por litro de baforada. Para atingir esta concentração, basta uma taça de vinho ou uma tulipa de chope. • O bafômetro é um simples aparelhinho portátil que permite medir toda e qualquer concentração de álcool no sangue do motorista, ou seja, é mais fácil ficar só no refrigerante do que enganar a tecnologia. Veja agora quanto tempo, em média, o álcool leva para desaparecer de seu corpo: • Um copo de cerveja (350 ml) – 1 hora. • Uma dose de vinho (150 ml) – 1 hora e 25 minutos. • Uma dose de uísque, tequila ou pinga (50 ml) – 1 hora e 15 minutos.
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CAPÍTULO
02 O CONSUMO NOCIVO DO ÁLCOOL
INTRODUÇÃO O consumo de bebidas alcoólicas é um comportamento adaptado à maioria das culturas. Seu uso é associado a celebrações, situações sociais, de negócio, cerimônias religiosas e eventos culturais. Por outro lado, o consumo nocivo de álcool é responsável por cerca de 3% de todas as mortes que ocorrem no planeta, incluindo desde cirrose e câncer do fígado até acidentes, quedas, intoxicações e homicídios. Nos países em desenvolvimento, entre eles o Brasil, as bebidas alcoólicas são um dos principais fatores de doença e mortalidade, com seu impacto deletério sendo considerado entre 8% e 14,9% do total de problemas de saúde dessas nações. Segundo a OMS, são muito poucos os países que recorrem a políticas eficazes para prevenir a morte, a doença e as lesões resultantes do consumo do alcool. Desde 1999, ano em que a OMS começou a informar sobre as políticas desse assunto, pelo menos 34 países adotaram ações oficiais destinadas a reduzir o consumo nocivo de álcool. As restrições sobre a comercialização do álcool e sobre o consumo de álcool e direção são cada vez mais numerosas, mas não é possível deduzir uma tendência clara da maioria das medidas preventivas. Muitos países introduziram programas de prevenção e políticas de alcance limitado. A OMS lembra que a estratégia mundial para reduzir o consumo nocivo de álcool preconiza uma série de medidas de eficácia comprovada: elevar os limites de idade legal para comprar álcool e aplicar medidas eficazes para evitar a associação entre álcool e direção. O Brasil está acima da média mundial em consumo de bebidas alcoólicas. Segundo dados da OMS, o país consumiu 8,7 litros de álcool por ano, entre 2008 e 2010. A média mundial foi de 6,2 litros.
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O Brasil está acima da média mundial em consumo de bebidas alcoólicas. O consumo aumenta o risco de mais de 200 doenças, incluindo cirrose hepática e alguns tipos de câncer.
Abuso, dependência e tolerância O conceito, a percepção humana e o julgamento moral sobre o consumo de drogas evoluíram constantemente e muito se basearam na relação humana com o álcool, por ser a droga de uso mais difundido e antigo. Os aspectos relacionados à saúde só foram mais estudados e discutidos nos últimos dois séculos, predominando, antes disso, visões preconceituosas dos usuários, vistos muitas vezes como “possuídos por forças do mal”, portadores de graves falhas de caráter ou totalmente desprovidos de “força de vontade” para não sucumbirem ao “vício”. O abuso de álcool é diferente do alcoolismo porque não inclui uma vontade incontrolável de beber, perda do controle ou dependência física. E ainda, o abuso de álcool tem menos chances de incluir tolerância do que o alcoolismo (a necessidade de aumentar as quantias de álcool para ficar “alto”). O abuso de álcool está definido como sendo o padrão de beber acompanhado por uma ou mais destas situações, dentro de um período de 12 meses:
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• Beber em situações fisicamente perigosas, como ao dirigir ou operar máquinas. • Ter problemas legais devido ao álcool, como ser preso por dirigir alcoolizado ou por ter causado lesões em alguém enquanto alcoolizado. • Fracasso nas responsabilidades no trabalho, na escola ou em casa. • Continuar a beber apesar de ter problemas físicos ou de relacionamento causados ou piorados pelos efeitos do álcool. Tolerância e dependência A tolerância ao álcool e a dependência ao álcool são dois eventos distintos e indissociáveis. As informações trazidas a seguir foram retiradas do site: <http://www.psicosite.com.br/tra/drg/alcoolismo.htm>. Consulte-o para mais informações.
O alcoolismo, como outros diagnósticos psiquiátricos, é estigmatizante. Ao reconhecer o próprio estado de dependência alcoólica o indivíduo tem uma quebra da autoimagem e, consequentemente, da autoestima.
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A tolerância é a necessidade de doses maiores de álcool para a manutenção do efeito de embriaguez obtido nas primeiras doses. Se, no começo, uma dose de uísque era suficiente para uma leve sensação de tranquilidade, depois de duas semanas (por exemplo) são necessárias duas doses para o mesmo efeito. Nessa situação, se diz que o indivíduo está desenvolvendo tolerância ao álcool. Normalmente, à medida que se eleva a dose da bebida alcoólica para se contornar a tolerância, ela volta em doses cada vez mais altas. Aos poucos, cinco doses de uísque podem se tornar inócuas para o indivíduo que antes se embriagava com uma dose. Na prática, não se observa uma tolerância total, mas parcial. O alcoólatra não pode dizer que não está tolerante ao álcool por apresentar sistematicamente certo grau de embriaguez. O critério não é a ausência ou presença de embriaguez, mas a perda relativa do efeito da bebida. A tolerância ocorre antes da dependência. Os primeiros indícios de tolerância não significam, necessariamente, dependência, mas são um sinal claro de que a dependência não está longe. Já a dependência é simultânea à tolerância. A dependência será mais intensa quanto maior for o grau de tolerância ao álcool. Dizemos que a pessoa tornou-se dependente do álcool quando ela não tem mais forças próprias de interromper ou diminuir o consumo. O alcoólatra tem a impressão de que pode parar quando quiser e afirma: “quando eu quiser, eu paro”. Essa frase encobre, geralmente, o alcoolismo incipiente e resistente. Resistente porque o paciente nega qualquer problema relacionado ao álcool. A negação do próprio alcoolismo, quando ele não é evidente ou está começando, é uma forma de defesa da autoimagem (aquilo que a pessoa pensa de si mesma). Com a autoestima enfraquecida a pessoa já não tem a mesma disposição para viver e, portanto, para lutar contra a própria doença.
O que é alcoolismo O alcoolismo não difere psicologicamente da dependência de outras drogas. Assim, tanto as fases como o desenvolvimento emocional do dependente e a recuperação são idênticas, não importando qual a droga de escolha (álcool, cocaína, crack, maconha ou qualquer outra droga alteradora de humor).
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O alcoolismo é o desejo incontrolável de consumir bebidas alcoólicas numa quantidade prejudicial à saúde de quem o ingere.
Com toda essa carga negativa sobre a dependência química, como um dependente químico (de álcool ou outras drogas), em sã consciência, poderia admitir sua dependência? Dessa forma, conforme a dependência química vai evoluindo, tanto o dependente quanto os familiares vão desenvolvendo uma barreira psicológica que impede que o indivíduo entre em contato com a realidade da dependência. Por isso, devemos lembrar que é uma doença, não uma falta de caráter. A identificação precoce do alcoolismo geralmente é prejudicada pela negação dos pacientes quanto à sua condição de alcoólatras. Além disso, nos estágios iniciais, é mais difícil fazer o diagnóstico, pois os limites entre o uso “social” e a dependência nem sempre são claros. Quando o diagnóstico é evidente e o paciente concorda em se tratar é porque já se passou muito tempo e diversos prejuízos foram sofridos, o que torna mais difícil reverter o processo.
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Como a maioria dos diagnósticos mentais, o alcoolismo possui um forte estigma social, e os usuários tendem a evitar esse estigma. Essa defesa natural para a preservação da autoestima acaba trazendo atrasos na intervenção terapêutica. Para se iniciar um tratamento para o alcoolismo é necessário que o paciente preserve em níveis elevados sua autoestima sem, contudo, negar sua condição de alcoólatra, fato muito difícil de conseguir na prática. O profissional deve estar atento a qualquer modificação do comportamento dos pacientes no seguinte sentido: falta de diálogo com o cônjuge, frequentes explosões temperamentais com manifestação de raiva, atitudes hostis, perda do interesse na relação conjugal. O álcool pode ser procurado tanto para ficar sexualmente desinibido como para evitar a vida sexual. No trabalho, os colegas podem notar um comportamento mais irritável do que o habitual, atrasos e mesmo faltas. Acidentes de carro passam a acontecer. Pequenos acidentes que provocam contusões e outros tipos de ferimentos se tornam mais frequentes, bem como esquecimentos mais intensos do que os lapsos que ocorrem naturalmente com qualquer um, envolvendo obrigações e deveres sociais e trabalhistas.
As relações profissionais também são prejudicadas pelo alcoolismo. O alcoólatra tende a apresentar irritabilidade e falta de compromisso com horários e tarefas.
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O consumo de bebida alcoólica tem relação direta com o número de acidentes de trânsito registrados pelas autoridades.
Quando essas situações acontecem, é sinal de que o indivíduo já perdeu o controle da bebida e pode estar travando uma luta solitária para diminuir o consumo do álcool, mas geralmente as iniciativas pessoais resultam em fracassos. As manifestações corporais costumam começar por vômitos pela manhã, dores abdominais, diarreia, gastrites, aumento do tamanho do fígado. A suscetibilidade às infecções aumenta e, dependendo da predisposição de cada um, podem surgir crises convulsivas. Nos casos de dúvidas quanto ao diagnóstico, deve-se sempre avaliar incidências familiares de alcoolismo porque se sabe que existe uma predisposição genética para a doença. É muito mais comum do que se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos prévios. Os transtornos de ansiedade, depressão e insônia podem levar ao alcoolismo. Tratando-se a base do problema, muitas vezes se resolve o alcoolismo. Já os transtornos de personalidade tornam o tratamento mais difícil e prejudicam a obtenção de sucesso.
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Problemas clínicos Diversos problemas são causados no corpo pelo consumo de bebida alcoólica de forma prolongada: • Sistema nervoso: amnésias nos períodos de embriaguez acontecem em 30 a 40% das pessoas no fim da adolescência e início da terceira década de vida: provavelmente o álcool inibe algum dos sistemas de memória, impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos durante o período de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é natural, tendo sua estrutura registrada no eletroencefalograma alterado. Entre 5 e 15% dos alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema consiste num permanente estado de hipersensibilidade, dormência, formigamento nas mãos, pés ou ambos. Nas síndromes alcoólicas podem-se encontrar quase todas as patologias psiquiátricas: estados de euforia patológica, depressões, estados de ansiedade na abstinência, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento desajustado.
O álcool afeta a memória porque inibe o funcionamento correto do sistema nervoso.
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Sangramentos, enjoo e vômitos após a ingestão de álcool ou ligados ao abuso de bebidas alcoólicas indicam que o sistema gastrointestinal foi afetado.
• Sistema gastrointestinal: grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode levar a inflamações no esôfago e no estômago, que podem terminar em sangramentos, enjoo, vômitos e perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis, mas as varizes decorrentes de cirrose hepática, além de irreversíveis, são potencialmente fatais devido ao sangramento de grande volume que pode acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas mais comuns dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a vida, levando o alcoólatra lentamente à morte. • Câncer: os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a população em geral. • Sistema cardiovascular: doses elevadas por muito tempo provocam lesões no coração, arritmias e outros problemas como trombose e derrames. É relativamente comum a ocorrência de um acidente vascular cerebral após a ingestão de grande quantidade de bebida.
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• Hormônios sexuais: o metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios reprodutivos no homem e na mulher. No homem, o álcool contribui para lesões testiculares, o que prejudica a produção de testosterona e a síntese de esperma. Já com cinco dias de uso contínuo de 220 gramas de álcool, os efeitos acima mencionados começam a se manifestar e continuam a se aprofundar com a permanência do álcool. Essa deficiência contribui para a feminilização dos homens, com o surgimento, por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem). • Hormônios tireoidianos: não há evidências de que o alcoolismo afete diretamente os níveis dos hormônios tireoidianos. Há pacientes alcoólatras que apresentam alterações tanto para mais como para menos nos níveis desses hormônios; presume-se que, quando isso ocorre, seja de forma indireta por afetar outros sistemas do corpo. • Hormônio do crescimento: alterações são observadas em indivíduos que abusam de álcool, mas essas alterações não provocam problemas detectáveis como inibição do crescimento ou baixa estatura, pelo menos até o momento. • Hormônio antidiurético: esse hormônio inibe a perda de água pelos rins, o álcool inibe esse hormônio: como resultado a pessoa perde mais água que o habitual, urina mais, o que pode levar à desidratação. MAIS SAÚDE O alcoolismo é genético? A influência familiar do alcoolismo é um fato já conhecido e aceito. O que se pergunta é se o alcoolismo ocorre por influência do convívio ou por influência genética. Para responder a essa pergunta, a melhor maneira é a verificação prática da influência, o que pode ser feito estudando os filhos dos alcoólatras. Estudos como esses podem investigar os gêmeos monozigóticos (idênticos) e os dizigóticos. Constatou-se que, quando um dos gêmeos idênticos se torna alcoólatra, o irmão se torna mais frequentemente alcoólatra do que os irmãos gêmeos não idênticos. Essa constatação mostra a influência genética real, mas não explica por que, mesmo tendo os “genes do alcoolismo,” uma pessoa não se torna alcoólatra. Os estudos familiares mostraram que a participação genética é inegável, mas apenas parcial, os demais fatores que levam ao desenvolvimento do alcoolismo não estão suficientemente claros. Fonte: Drauzio Varella. Disponível em: ‹http://drauziovarella.com.br/dependencia-quimica/alcoolismo/alcoolismo/›. Acesso em: 26 jun. 2015.
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Mecanismos de defesa Na realidade, os mecanismos de defesa são mentiras que o alcoólatra ou dependente químico usa para tentar encobrir o aspecto doentio da própria vida, tais como: • Negação: “Não sou alcoólatra, sou compulsivo. Nunca fiquei bêbado. Não tenho problemas em decorrência da bebida. Bebo muito pouco”. (O mais comum). • Justificativa: “Bebo porque gosto, paro na hora que quiser. Bebo para relaxar. Bebo para comemorar. Bebo para esquecer. Bebo para ouvir música. Bebo devido a problemas emocionais. Bebo para me divertir”. • Projeção: todos os sentimentos e a própria vida são vistos apenas no outro. “O outro é quem bebe muito. O vizinho que é alcoólatra, coitado”. • Autopiedade: “O mundo não me entende. Nada dá certo pra mim”. (Faz com que as pessoas sintam pena.) • Minimização: “Só bebo vinho. Só bebo no final de semana. Só bebo à noite; todo mundo bebe. Não bebo pinga”. (Tenta minimizar os prejuízos.)
Alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer que a população em geral.
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• Intelectualização: encontram-se justificativas científicas: “Beber faz bem ao coração”. • Racionalização: “Se eu beber só vinho vai ficar tudo bem. Se eu parar por um tempo vai ficar tudo bem”. (Raciocina-se errado.) • Fuga geográfica: muda-se de cidade, de emprego, de ambiente social etc. Mecanismos de defesa fazem parte da personalidade de todos os seres humanos, porém são mais pronunciados no alcoólatra. O alcoólatra pode encontrar mais justificativas para beber, numa semana, do que o não alcoólatra encontraria durante a vida inteira.
Consequências do abuso de álcool O alcoolismo atinge a família A família também apresenta mecanismos de defesa. Há poucas expectativas em relação à recuperação, pois todos da família devem se tratar, não só o alcoólatra. Um alcoólatra dificilmente para de beber. De cada 100 alcoólatras, apenas um consegue entrar num programa de recuperação. Os outros 99 morrerão sem querer parar de beber. Um dos fatores que levam o alcoólatra a continuar bebendo é a interferência de familiares que procuram apagar “o ontem à noite”, minimizando as perdas que a bebida traz. A recuperação é difícil e depende da disposição do indivíduo em aceitar a ajuda necessária (ele só vai entrar num programa de recuperação se assim o quiser). Há vários programas de recuperação: religiosos, de mútua ajuda, ajuda psicológica, programas místicos, etc. O importante é que o indivíduo se sinta bem com aquele que escolher. O maior inimigo da recuperação são as recaídas, que podem inclusive levar à morte. A recuperação é um trabalho para anos e consiste em transformar uma vida até então marcada por brigas, egocentrismo, perdas, pensamentos obsessivos, em uma vida produtiva. O processo de recuperação consiste, dentre muitas outras coisas, na identificação desses mecanismos de defesa e no reconhecimento da verdadeira intenção por trás destes.
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Os programas de recuperação e os grupos de apoio são importantes para ajudar no tratamento. Mas as estatísticas apontam que, em cada 100 alcoólatras, apenas um consegue entrar num programa de recuperação.
O dependente tem uma dificuldade incomum de identificar os próprios sentimentos, os quais são “projetados” no mundo exterior. Isso é dito para que se tenha uma melhor compreensão de como é impossível para um dependente químico lidar com todas essas mentiras que a sociedade nos ensina sobre a dependência, porque ele só consegue ver a própria realidade e os próprios sentimentos em outras pessoas. Ele realmente acredita que usa drogas ou bebe compulsivamente devido a algum motivo, um fator externo. Consequências físicas O uso excessivo de bebidas alcoólicas pode afetar praticamente todos os órgãos e sistemas do organismo. O aparelho gastrintestinal é particularmente atingido. Podem ocorrer gastrites, úlceras, inflamação do esôfago, pancreatite e as lesões no fígado podem levar à cirrose. Outros aparelhos atingidos são o cardiocirculatório (podendo ocorrer pressão alta e infarto do miocárdio), o sistema nervoso (epilepsia, lesões em nervos periféricos) e o geniturinário (impotência). Podem ocorrer, também, doenças devido a deficiências de vitaminas e alterações no sangue. O uso de álcool por mulheres grávidas pode levar a malformações no feto com retardo mental, malformações no coração, membros, crânio e face (Síndrome Fetal do Álcool).
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Em casos graves de síndrome de dependência, a pessoa pode ter esquecimentos e alucinações.
Consequências psíquicas A embriaguez ou intoxicação aguda pelo álcool é bem conhecida. A pessoa pode ficar agitada, falante, eufórica, com falta de coordenação motora, rubor facial. Por vezes, o quadro de embriaguez é acompanhado de um esquecimento dos fatos ocorridos durante a embriaguez (blackout). Algumas pessoas ficam embriagadas com doses muito pequenas de bebidas alcoólicas – este quadro é denominado intoxicação patológica ou idiossincrática. Na síndrome de dependência ocorre o uso exagerado, contínuo de álcool por muito tempo. Há um desejo intenso de beber e necessidade de beber quantidades cada vez maiores para obter o mesmo efeito (tolerância). Outra característica da síndrome de dependência é a síndrome de abstinência. Quando a síndrome se torna mais grave, surgem ainda as alucinações, em geral na forma de “visões” de animais ou fios na parede ou no ar ou da sensação de formigamento ou de bichos andando pelo corpo da pessoa. Este quadro é chamado de delirium tremens e é ainda acompanhado de febre, convulsões e confusão mental (a pessoa não consegue conversar direito, confunde objetos e pessoas, não sabe informar sobre datas ou local onde se encontra). Trata-se de um quadro grave que necessita de tratamento hospitalar.
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Com frequência, após um episódio de delirium tremens, a pessoa desenvolve um quadro caracterizado por esquecimento de fatos que ocorreram recentemente. É a denominada amnésia induzida pelo álcool ou síndrome de Korsakoff.
Álcool associado a outras drogas É importante ter em mente que uma intoxicação alcoólica pode se complicar pelo uso simultâneo, intencional ou inadvertido, de outras drogas, que muitas vezes atuam sinergicamente com o álcool nos seus efeitos depressores do sistema nervoso central. Entre elas, destacam-se os sedativos, os hipnóticos, as drogas anticonvulsivantes, os antidepressivos, os analgésicos e os opiáceos. O uso simultâneo de um hipoglicemiante oral pode determinar flutuações imprevisíveis na glicemia, tanto pelo efeito hipoglicemiante do álcool como pela redução da meia-vida da tolbutamida. As informações sobre o consumo de álcool aliado a outras drogas foram retiradas do portal do Hospital Albert Einstein.
A associação entre álcool e algumas drogas pode provocar reações como a sonolência, que se torna especialmente perigosa em situações de trabalho ou na condução de veículos, causando acidentes graves.
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Deve-se ter sempre em mente que uma intoxicação alcoólica pode se complicar pelo uso simultâneo, intencional ou inadvertido, de outras drogas.
• Benzodiazepínicos: o álcool aumenta a taxa de absorção dos medicamentos benzodiazepínicos o que pode levar a um aumento do efeito depressor que este tipo de medicamento tem sobre o cérebro. Os efeitos mais importantes desta iteração são: sedação, diminuição dos reflexos, falta de coordenação, e prejuízo da memória. Os riscos desta associação são os relacionados às tarefas que envolvem coordenação de motora e concentração como dirigir um veículo ou operar uma máquina. • Analgésicos: analgésicos como paracetamol e aspirina são utilizados para o alívio de dores moderadas, se utilizados juntamente ao álcool podem levar a um prejuízo da mucosa gástrica e aumentar o tempo de sangramento. Os analgésicos também podem conter codeína e anti-histamínicos que ao interagir com o álcool levam à sonolência.
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• Barbitúricos: quando o álcool é ingerido juntamente a barbitúricos pode ocorrer uma intensa depressão do SNC, com prejuízo de coordenação e da psicomotricidade. O risco de overdose é muito alto, esta combinação pode levar a uma redução no nível de consciência e parada respiratória. • Outras drogas depressoras: a maconha não é necessariamente um agente depressor do SNC, pois também possui características alucinógenas. No entanto, quando usado em combinação com o álcool, pode prejudicar as funções motoras e intelectuais do indivíduo. Pouco se sabe a respeito da interação do álcool com substâncias voláteis, porém um efeito aditivo é provável. • Álcool e drogas estimulantes: drogas estimulantes como anfetamina e cocaína, quando usadas juntamente ao álcool fazem com que o indivíduo necessite de doses muito maiores de álcool para que este se sinta intoxicado. Algumas pessoas acreditam que o uso do álcool juntamente com a cocaína ajuda minimizar os seus efeitos desagradáveis. • Álcool e drogas alucinógenas: há poucas informações sobre a interação de alucinógenos com álcool. Porém, sabe-se que a mistura do álcool com alucinógenos é imprevisível e os efeitos de ambas as drogas pode ser intensificado. • Álcool e medicamentos prescritos: Há alguns antibióticos, por exemplo, metronidazol e tinidazol que reagem com o álcool. O uso combinado pode levar a cefaleia e náuseas. O álcool também pode diminuir a eficácia de antibióticos e de drogas antivirais. A interação de álcool e anti-histamínicos parece prejudicar desempenho psicomotor. Algumas drogas anti-inflamatórias como Ibuprofeno e Indometacina quando combinadas ao álcool podem levar a um aumento significativo do tempo de sangramento. O álcool quando ingerido juntamente à aspirina pode levar a um prolongamento do tempo de sangramento e irritação da mucosa gástrica. Por fim, deve-se tomar muito cuidado com a utilização do álcool na vigência do uso de anticoagulantes, pois pode haver uma potencialização da ação dos agentes anticoagulantes cumarínicos por uma inibição competitiva da metabolização de enzimas hepáticas.
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O tratamento do alcoolismo deve envolver uma equipe multidisciplinar, capaz de avaliar adequadamente os danos físicos e mentais provocados pela dependência.
Tratamento O tratamento do alcoolismo é bastante complexo e depende do tipo de quadro que o paciente apresenta. Em termos genéricos, o primeiro passo é, evidentemente, a conscientização do problema e a interrupção total do uso de bebidas alcoólicas (abstinência). A chamada “desintoxicação” pode ser feita em casa ou, em casos mais graves, no hospital, mas sempre sob o cuidado de um médico. Nesse período, é feita também a avaliação e o tratamento dos danos físicos e mentais decorrentes do álcool. O tratamento do alcoolismo não deve ser confundido com o tratamento da abstinência alcoólica. Como o organismo incorpora literalmente o álcool ao seu metabolismo, a interrupção da ingestão de álcool faz com que o corpo se ressinta: a isto chamamos abstinência que, dependendo, do tempo e da quantidade de álcool consumidos pode causar sérios problemas e até a morte nos casos não tratados. A abstinência já tem suas alternativas de tratamento bem estabelecidas e relativamente satisfatórias. O uso de qualquer medicamento para o tratamento do alcoolismo só pode ser realizado com acompanhamento médico. Portanto, não indique nem utilize os medicamentos listados sem uma consulta prévia.
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Vejamos informações sobre novas medicações de tratamento do alcoolismo: • Dissulfiram: é uma substância que força o paciente a não beber sob a pena de intenso mal-estar: se isso for feito, não suprime o desejo e deixa o paciente num conflito psicológico amargo. Muitos alcoólatras morreram por não conseguirem conter o desejo pelo álcool enquanto estavam sob o efeito do Dissulfiram. Com o remédio, o paciente tem que fazer um esforço semelhante ao de um motorista que tenta segurar um veículo ladeira abaixo, pondo-se à frente deste, tentando impedir que o automóvel deslanche, atropelando o próprio motorista. Com as novas medicações o motorista está dentro do carro, apertando o pedal do freio até que o carro chegue ao fim da ladeira. Em ambos os casos, é possível chegar ao fim da ladeira (controle do alcoolismo). Mas, no primeiro deles, o esforço é enorme, causando grande porcentagem de fracassos; no outro, o esforço é pequeno, permitindo grande adesão ao tratamento. • Naltrexona: seu uso restringia-se ao bloqueio da atividade dos opioides. É uma espécie de antídoto para a intoxicação de heroína, morfina e similares. Recentemente verificou-se que a Naltrexona possui um efeito bloqueador do prazer proporcionado pelo álcool, cortando o ciclo de reforço positivo que leva e mantém o alcoolismo. A Naltrexona foi a primeira substância a atingir a essência do alcoolismo: o desejo pelo consumo de álcool. Os principais efeitos colaterais da Naltrexona, enjoo e vômito, não são intensos o suficiente para impedir o seu uso. Os estudos mostram que a recaída do alcoolismo é menor entre as pessoas que fazem uso de Naltrexona em relação ao placebo; o baixo índice de efeitos colaterais da droga permite aos pacientes aderirem ao tratamento prolongado. • Acamprosato: essa substância é nova e foi criada especificamente para o tratamento do alcoolismo. O mecanismo do Acamprosato é distinto da Naltrexona embora também diminua o desejo pelo álcool. O Acamprosato atua mais na abstinência, reduzindo o reforço negativo deixado pela supressão do álcool naqueles que se tornaram dependentes. Além de inibir os efeitos agudos da abstinência, como os benzodiazepínicos fazem, o Acamprosato inibe o desejo pelo álcool, diminuindo as taxas de recaída para os pacientes que interromperam o consumo de álcool.
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• Ondansetrona: esta medicação vem sendo usada e aprovada como inibidor de vômitos, principalmente nos pacientes que fazem uso de medicações que provocam fortes enjoos como alguns quimioterápicos. Está em estudo a utilização na bulimia nervosa para conter os vômitos induzidos por esses pacientes. Mais recentemente vem sendo estudado seu efeito no tratamento do álcool. Por enquanto há poucos estudos da eficácia da Ondansetrona no alcoolismo, o que se obteve, por enquanto, é uma maior eficácia no tratamento do alcoolismo nas fases iniciais. Alcoolistas de longa data e doses altas não apresentaram resultado muito superior ao placebo. Se aprovada hoje, sua utilização recairia sobre os pacientes alcoólatras de pouco tempo. A psicoterapia desempenha papel fundamental na recuperação. Procurar buscar com o paciente os motivos que o levam a beber e a auxiliar na resolução dos conflitos permitem a construção de uma personalidade mais madura, capaz de lidar com as adversidades sem precisar se refugiar na bebida. Os grupos de autoajuda (Alcoólicos Anônimos e outros) também são muito importantes na recuperação.
Síndrome da abstinência A síndrome da abstinência alcoólica é o conjunto de sintomas que surgem quando uma pessoa que tem o costume de ingerir grandes quantidades de álcool todos os dias para, de repente, de fazê-lo. Em 2012, de acordo com a Organização Mundial da Saúde, 3,3 milhões de pessoas morreram em todo o mundo em decorrência do consumo exacerbado de bebidas alcoólicas. Esse número corresponde a 5,7% do total de mortes ocorridas naquele ano. Além disso, diversos estudos mostram que o álcool contribui para o desenvolvimento de mais de 200 doenças. O álcool é tido, também, como o quinto maior fator de risco para levar uma pessoa à morte precoce ou à invalidez permanente. Entre pessoas de 15 a 49 anos, o álcool é o primeiro da lista. Separamos algumas informações importantes divulgadas pelo Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia (INPAD), que promove políticas públicas sobre o álcool e outras drogas.
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A síndrome da abstinência é comum em pessoas com alcoolismo – a dependência física e psíquica do álcool – quando começam o processo de reabilitação.
Causas Uma pessoa que decide tratar sua dependência física e psíquica do álcool é submetida a um intenso processo de reabilitação, que inclui o corte definitivo de bebidas alcoólicas de sua vida. Essa interrupção súbita no consumo de álcool pode causar uma série de sintomas, que constituem a síndrome da abstinência alcoólica. Esta síndrome é mediada por diferentes mecanismos. O equilíbrio neuroquímico cerebral é mantido pelos neurotransmissores excitatórios e inibitórios.
Fatores de risco A síndrome da abstinência alcoólica é bem mais comum em pessoas adultas, mas pode surgir em adolescentes e até mesmo em crianças. Além disso, pacientes com outras condições de saúde e que também sofrem com essa síndrome podem apresentar sintomas mais graves e difíceis de tratar.
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A síndrome da abstinência alcoólica provoca desde sintomas moderados, como dilatação das pupilas, até graves alucinações e, em alguns casos, pode levar à morte.
Os sinais e sintomas manifestados por pessoas com a síndrome da abstinência alcoólica podem variar de intensidade a depender do paciente, da quantidade de álcool ingerida ao longo da vida e de outros fatores como idade e predisposição genética. Os sintomas podem ser desde moderados até muito graves, com grande risco de levar o paciente ao óbito, e costumam começar logo quando a pessoa desperta, de manhã. Isso ocorre porque a concentração de álcool no sangue diminui durante o sono. Confira os principais sinais e sintomas desenvolvidos por uma pessoa com síndrome de abstinência alcoólica: • Ansiedade e depressão. • Falta de clareza de raciocínio. • Irritabilidade e nervosismo. • Fadiga. • Oscilações de humor. • Confusão mental, pesadelos, alucinações e ataques de pânico. • Anorexia e outros distúrbios alimentares. • Pele viscosa. • Dor de cabeça. • Agitação e insônia. • Pupilas dos olhos dilatadas.
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Náuseas, vômito e diarreia. Taquicardia, sudorese, tremores. Febre. Convulsão. Hipertensão.
A primeira grande conquista de uma pessoa que está lutando contra um vício é decidir buscar ajuda profissional. O processo de reabilitação é muito difícil e podem haver recaídas, principalmente porque a abstinência do álcool pode causar sintomas e perturbações muito difíceis de lidar. Por isso, ao menor sinal dos sintomas de abstinência alcoólica, procure imediatamente a ajuda médica. O histórico médico e um exame físico são capazes de estabelecer o diagnóstico e a gravidade da abstinência alcoólica. Além de identificar os sintomas de abstinência, o exame físico também avaliará possíveis condições médicas que possam complicar o quadro do paciente, incluindo arritmias, insuficiência cardíaca congestiva, doença arterial coronariana, sangramento gastrointestinal, infecções, doenças do fígado, comprometimento do sistema nervoso e pancreatite. Exames laboratoriais básicos incluem um hemograma completo, testes de função hepática, exame de urina e determinação dos níveis de álcool e eletrólitos no sangue.
É essencial que o paciente adote um estilo de vida que o mantenha sóbrio e longe de bebidas alcoólicas. Frequentar grupos de apoio é uma excelente estratégia para superar a síndrome de abstinência alcoólica.
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O hemograma é um exame simples que pode ajudar o médico a diagnosticar a extensão dos danos causados pelo abuso de álcool.
É essencial que o paciente adote um estilo de vida que o mantenha sóbrio e longe de bebidas alcoólicas. Frequentar grupos de apoio e continuar com o tratamento até que o médico suspenda o uso dos medicamentos é uma excelente estratégia e costuma dar certo. Além disso, é preciso reeducar-se até no que diz respeito à alimentação. Inclua alimentos nutritivos e ricos em vitaminas e minerais em sua dieta. Se precisar, com a permissão de um nutricionista, faça uso de suplementos vitamínicos. O consumo exacerbado de álcool leva à deficiência de diversos nutrientes importantes para a saúde do ser humano. A abstinência alcoólica pode variar de um distúrbio moderado até uma condição grave e potencialmente fatal – depende muito dos órgãos que foram comprometidos pelo consumo exagerado de álcool e das complicações decorrentes do alcoolismo. Alguns sintomas, como alterações no sono, mudanças rápidas de humor e fadiga, podem permanecer por meses. Também pode haver recaídas durante o processo de reabilitação. Muitos pacientes com síndrome de abstinência alcoólica conseguem se recuperar totalmente com a ajuda do tratamento e dos familiares e amigos. A única forma de prevenir a síndrome da abstinência alcoólica é evitando o consumo exacerbado de bebidas alcoólicas, ou seja, evitando o próprio alcoolismo.
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Síndrome de abstinência pelo álcool Gravidade
Sinais e sintomas
Tempo médio de abstinência
Leve
Tremores, irritabilidade, ansiedade, insônia, náuseas e/ou vômitos.
6 a 8 horas
Moderada
Intensificação dos sintomas, hiperatividade autonômica, alterações sensoperceptivas, convulsão.
12 a 24 horas
Grave (delirium tremens)
Delirium, agravamento dos sintomas (tremores grosseiros, hiperatividade autonômica marcante, distorções perceptivas intensas e níveis flutuantes de atividade psicomotora).
72 horas
Fonte: Ministério da Saúde, 2000.
Recaída A taxa de recaída, que se caracteriza por voltar a beber depois de ter se tornado dependente e parado com o uso de álcool, é muito alta: aproximadamente 90% dos alcoólatras voltam a beber nos 4 anos seguintes à interrupção, quando nenhum tratamento é feito. A semelhança com outras dependências – como a de nicotina, tranquilizantes, estimulantes – leva a crer que há um mecanismo psicológico (cognitivo) em comum. O dependente que conseguir se manter longe do primeiro gole terá mais chances de contornar a recaída. O aspecto central da recaída é o chamado craving, palavra sem tradução para o português que significa uma intensa vontade de voltar a consumir uma droga pelo prazer que ela causa. O craving é a dependência psicológica propriamente dita. Essas definições foram retiradas da Revista eletrônica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Disponível em: <http://www. ufrgs.br/ensinodareportagem/cidades/alcool.html>.
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Testes de dependência alcoólica Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário tenha problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e preencha pelo menos 3 dos seguintes critérios: • Apresentar tolerância ao álcool – marcante aumento da quantidade ingerida para produção do mesmo efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas de embriaguez, apesar da contínua ingestão de álcool. • Sinais de abstinência – após a interrupção do consumo de álcool, a pessoa passa a apresentar os seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100), tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade, convulsões, alucinações táteis. • O dependente de álcool geralmente bebe mais do que planejava beber. • Persiste o desejo de voltar a beber ou a incapacidade de interromper o uso.
A pessoa começa a ficar dependente do álcool quando persiste no consumo apesar dos problemas e prejuízos gerados pelo uso excessivo da bebida.
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• Emprego de muito tempo para obtenção de bebida ou para recuperação de seu efeito. • Persistência na bebida apesar dos problemas e prejuízos gerados, como perda do emprego e das relações familiares. Alguns questionários práticos foram desenvolvidos para ajudar a levantar a suspeita de problemas com o álcool. Primeiro teste O mais simples deles é conhecido como CAGE (sigla em inglês que se refere a palavras das perguntas que são formuladas) e foi desenvolvido por Mayfield e colaboradores (Mayfield et. al, 1974). Consiste em quatro perguntas: 1. Você já tentou diminuir ou cortar (Cut down) a bebida? 2. Você já ficou incomodado ou irritado (Annoyed) com outros porque criticaram seu jeito de beber? 3. Você já se sentiu culpado (Guilty) por causa do seu jeito de beber? 4. Você já teve que beber para aliviar os nervos ou reduzir os efeitos de uma ressaca (Eye-opener)? Se pelo menos uma resposta a essas perguntas for afirmativa (“sim”) há suspeita de problemas com o álcool. Duas ou mais respostas afirmativas indicam que há problemas com o álcool. Segundo teste Outro questionário, conhecido como Brief-MAST (Teste de Detecção de Alcoolismo de Michigan, versão breve), foi desenvolvido por Pokorny e colaboradores (Pokorny et al, 1972). Consiste em 10 perguntas, com respostas “sim” ou “não”, que recebem uma determinada pontuação: 1. Você se considera uma pessoa que bebe de modo normal? 2. Seus amigos ou parentes acham que você bebe de modo normal? 3. Você já foi a algum encontro dos Alcoólicos Anônimos (AA)? 4. Você já perdeu amigos/amigas ou namorado/namorada por causa da bebida? 5. Você já teve problemas no trabalho/emprego por causa da bebida? 6. Você já abandonou suas obrigações, sua família ou seu trabalho por 2 ou mais dias em seguida por causa da bebida? 7. Você já teve delirium tremens, tremores, ouviu vozes, viu coisas que não estavam lá depois de beber muito? 8. Você já procurou algum tipo de ajuda por causa da bebida?
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9. Você já foi hospitalizado por causa da bebida? 10. Você já esteve preso ou foi multado por dirigir embriagado? Se a soma dos pontos for menor ou igual a 3 não há problema com bebidas alcoólicas, se for 4 é sugestiva de alcoolismo e se for igual ou maior que 5 indica alcoolismo. Pontuação das respostas 1. Sim= 0, Não= 2 2. Sim= 0, Não= 2 3. Sim= 5, Não= 0 4. Sim= 2, Não= 0 5. Sim= 2, Não= 0 6. Sim= 2, Não= 0 7. Sim= 2, Não= 0 8. Sim= 5, Não= 0 9. Sim= 5, Não= 0 10. Sim= 2, Não= 0
A frequência com que uma pessoa se sente incapaz de parar de beber, depois de começar, é uma informação que ajuda a avaliar sua dependência em relação ao álcool.
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Terceiro teste Se você acha que pode estar consumindo bebidas alcoólicas em excesso, responda ao questionário abaixo e some seus pontos para saber o risco de desenvolver alcoolismo e outros problemas relacionados ao álcool. 1. Com que frequência você consome bebidas alcoólicas? a) Nunca b) 1x por mês ou menos c) 2 a 4x por mês d) 2 a 3x por semana e) 4x ou mais por semana 2. Quando você bebe, quantos drinques costuma ingerir? a) 1 ou 2 b) 3 ou 4 c) 5 ou 6 d) 7 a 9 e) 10 ou mais 3. Com que frequência você costuma beber 5 ou mais drinques em um único dia? a) Nunca b) Menos de 1x por mês c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana 4. No último ano, quantas vezes você sentiu que não conseguia parar de beber após ter tomado o primeiro copo? a) Nunca b) Menos de 1x por mês c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana 5. No último ano, quantas vezes você deixou de cumprir tarefas por causa do álcool? a) Nunca b) Menos de 1x por mês
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c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana 6. No último ano, quantas vezes você sentiu precisar tomar um copo de alcool de manhã para iniciar o dia? a) Nunca b) Menos de 1x por mês c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana 7. No último ano, quantas vezes você sentiu-se mal ou teve remorsos por ter bebido? a) Nunca b) Menos de 1x por mês c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana
Se a pessoa tem o costume de beber e dirigir, isso indica que seu julgamento foi afetado e que ela nega problemas com o álcool. Nesses casos, é essencial buscar ajuda profissional.
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8. No último ano, quantas vezes você se esqueceu do que aconteceu na noite anterior por ter bebido? a) Nunca b) Menos de 1x por mês c) 1x por mês d) 1x por semana e) Mais de 1x por semana 9. Você já se feriu ou feriu alguém por conta do consumo de álcool? a) Não b) Sim, mas há mais de um ano c) Sim, há menos de um ano 10. Algum familiar ou amigo já demonstrou preocupação com o seu consumo de álcool? a) Não b) Sim, mas há mais de um ano c) Sim, há menos de um ano Pontuação das respostas Questões de 1 a 8 a) 0 b) 1 c) 2 d) 3 e) 4
Questões 9 e 10 a) 0 b) 2 c) 4
Resultado • 0-7 pontos: baixo risco de haver problemas relacionados ao álcool. • 8-15 pontos: risco moderado de haver problemas relacionados ao álcool, possibilidade de já haver dependência. • 16-19 pontos: risco elevado de haver problemas relacionados ao álcool e dependência. • 20 pontos ou mais: com certeza há problemas relacionados ao álcool e há elevado risco de haver dependência também. Fonte: MD SAÚDE. Disponível em: <http://www.mdsaude.com/2012/10/alcoolismo.html>. Acesso em: 25 jun. 2015.
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Referências BRASIL. SECRETARIA NACIONAL ANTIDROGAS E GABINETE DE SEGURANÇA INSTITUCIONAL. Levantamento nacional sobre os padrões de consumo de álcool na população brasileira. Brasília, 2007. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. SECRETARIA-EXECUTIVA. SUBSECRETARIA DE ASSUNTOS ADMINISTRATIVOS. Alcoolismo: o que é preciso saber sobre o alcoolismo e seu tratamento. Brasília, 1996. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Normas e procedimentos na abordagem do alcoolismo. Brasília, 1994. BRASIL. MINISTÉRIO DA PREVIDÊNCIA E ASSISTÊNCIA SOCIAL ORGANIZAÇÃO PAN-AMERICANA DA SAÚDE. Alcoolismo: rumos da recuperação. Brasília, 1990. BRASIL. SECRETARIA NACIONAL ANTIDROGAS (Senad). Álcool: o que você precisa saber. Brasília, 2000. MAYFIELD, D.; MCLEOD, G.; and HALL, P. The CAGE questionnaire: Validation of a new alcoholism instrument. American Journal of Psychiatry, 1974. POKORNY AD; MILLER BA; KAPLAN HB. The Brief MAST: A shortened version of the Michigan Alcoholism Screening Test. American Journal of Psychiatry, 1972. Artigo da Constituição sobre a “Lei Seca”. Disponível em: <http:// www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11705. htm>. Acesso em: 25 jun. 2015. Artigo da Constituição sobre a restrição de propaganda de bebidas alcoólicas. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ leis/l9294.htm>. Acesso em: 25 jun. 2015.
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Sites consultados Drauzio - www.drauziovarella.com.br Universia - www.universia.com.br Saúde - www.saude.gov.br Alcoolismo - www.alcoolismo.com.br Einstein - www.einstein.br Cisa - www.cisa.org.br Alcoólicos Anônimos - www.alcoolicosanonimos.org.br Info escola - www.infoescola.com Revista Viva Saúde - www.revistavivasaude.uol.com.br
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Sobre as autoras Maria Isabel Silva Mestre em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP, Especialização em Gestão Pública em Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Especialista em Medicina Tradicional Chinesa, Especialista em Fisiologia do Exercício, Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário do Triângulo. Como pesquisadora, atuou como Colaboradora de Projetos na UNICAMP e FACISABH (Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Belo Horizonte), onde desenvolveu pesquisas nas áreas de Formação de Professores, Segurança do Trabalho e Ergonomia, Pedagogia Empresarial, Gestão Ambiental e Políticas Públicas. Tem experiência na área de Educação, ministrando disciplinas para cursos técnicos da área de Saúde e Segurança do Trabalho. No Ensino Superior, dedica-se à Graduação e à Especialização nas áreas de Saúde, Educação e Administração. Como fisioterapeuta destaca-se pela atuação em Fisioterapia do Trabalho, atuando como consultora e auditora empresarial na área de Saúde Ocupacional, Ergonomia (análise/laudos, perícia, biomecânica e fotogrametria) e desenvolvimento de projetos de gestão qualidade de vida, promoção à saúde, gestão de pessoas e gestão empresarial. Na área clínica, tem experiência em Ambulatorial em Terapias Manuais, Fisioterapia geral (ênfase em Reumatologia e Geriatria) e Fisioterapia Preventiva (coletiva e do trabalhador).
Paloma Mansini Basso Mestre em Engenharia Civil pela UNESP e Bacharel em Geografia. Atua como consultora na área ambiental, segurança e saúde do trabalhador, e revisora técnica de projetos na área ambiental e de responsabilidade social de empresas nacionais e multinacionais. É gestora de pessoas, atuando na captação de equipe, otimização de projetos e elaboração de quesitos na área ambiental e educacional.
Tatiana Catelli Bacharel em Comunicação Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atua como jornalista e na produção de texto e conteúdo para Guias de Saúde, Materiais Educativos, entre outros. Integrou a equipe de autores da coleção Cidadania em Ação (Meca Editora/Eureka Editora) assinando os volumes sobre Sustentabilidade, Orientação Sexual e Dengue.
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