Guia prático de saúde - HIV/Aids

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guia prático de saúde

HIV/Aids Aprenda a evitar a infecção pelo vírus e entenda seus sintomas e tratamentos

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Prefácio Desde os anos 1980, foram notificados 757 mil casos de HIV/Aids no Brasil. Segundo o Ministério da Saúde, a epidemia no país está estabilizada, com taxa de detecção em torno de 20,4 casos, a cada 100 mil habitantes. Isso representa cerca de 39 mil casos novos de Aids ao ano. Além disso, o índice de mortalidade por HIV/Aids caiu 13% nos últimos 10 anos, passando de 6,4 casos de mortes por 100 mil habitantes em 2003, para 5,7 casos em 2013. Atualmente, graças aos antirretrovirais, uma das grandes conquistas da medicina moderna, a pessoa soropositiva apresenta alta expectativa de vida com qualidade. Muito se aprendeu sobre o vírus e sobre o sistema imune humano desde 1981, quando foram caracterizados os primeiros casos da epidemia. Novos estudos, que estão em andamento, sugerem que cada vez mais o tratamento se tornará mais simples.

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Sumário CAPÍTULO 1

7 A descoberta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8 A origem e a propagação do vírus. . . . . . . . . . . . . . . . . . 9 A epidemia. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O vírus nas Américas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11 O vírus no Brasil. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12

A história da epidemia de HIV/Aids. . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO 2

Características e ações do vírus HIV . . . . . . . . . . . . . . . . .

Modos de transmissão . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Métodos de ação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Diagnóstico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

CAPÍTULO 3

O desenvolvimento da infecção. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Infecção aguda. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Fase assintomática ou de latência clínica. . . . . . . . . . . .

Fase sintomática inicial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Aids - fase de adoecimento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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CAPÍTULO 4

Onde fazer o teste. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Acompanhamento médico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Os antirretrovirais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Vacinação de soropositivos. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

Alimentação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Sobre as autoras. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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Tratamento antirretroviral. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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CAPÍTULO

01 A HISTÓRIA DA EPIDEMIA DE HIV/AIDS

INTRODUÇÃO A Síndrome da Imunodeficiência Adquirida (Aids) é um problema de Saúde Pública que alcançou proporções pandêmicas, ou seja, se espalhou por todos os continentes. Nos últimos tempos, poucas doenças geraram tanto interesse dos profissionais de saúde, pesquisas científicas, teorias e, infelizmente, preconceitos, como o HIV/Aids. Os primeiros casos da síndrome foram descritos em 1981, nos EUA. Naquele ano, jovens homossexuais de Nova York e da Califórnia foram identificados com doenças típicas de sintomas imunes muito debilitados, como um tipo raro de pneumonia e o sarcoma de Kaposi, uma forma rara de câncer que, geralmente, acomete pessoas idosas. A doença, durante um tempo, foi considerada o “câncer gay” e batizada de Grid, a sigla em inglês para “imunodeficiência relacionada aos gays”. Isso acabou determinando o conceito equivocado de “grupo de risco” e estigmatizou os homossexuais, aumentando o preconceito. Hoje, inclusive, o termo “grupo de risco” se mostrou inadequado, já que homens e mulheres de qualquer idade, orientação sexual ou etnia podem ser infectados pelo HIV. Assim, o termo mais apropriado atualmente é “comportamento de risco”. Neste capítulo, estão os principais fatos relacionados à história da epidemia de HIV/Aids no Brasil e no mundo, desde que os primeiros casos foram notificados.

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HIV / Aids

A descoberta A autoria da descoberta do HIV é cercada de controvérsias entre dois grupos de cientistas. De um lado, o de Luc Montagnier, do Instituto Pasteur, na França; do outro, o de Robert Gallo, do National Cancer Institute, nos EUA. Ao surgirem os primeiros casos de Aids, em São Francisco e Nova York, Gallo suspeitou que um retrovírus fosse o responsável pela infecção, mesma opinião de Montagnier. Os dois chegaram a trocar amostras dos experimentos. Gallo anunciou, em abril de 1984, que havia descoberto o vírus causador da Aids, que seria diferente do identificado pelos pesquisadores franceses. Depois, soube-se que Gallo trabalhava com uma amostra contaminada no laboratório de Montagnier, e só anos mais tarde as duas instituições concordaram em dividir o mérito da descoberta.

O Prêmio Nobel de Medicina de 2008 foi dado aos cientistas franceses Luc Montagnier (esquerda) e Françoise Barre-Sinoussi (centro) pela descoberta do HIV.

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A história da epidemia de HIV/Aids

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A origem e a propagação do vírus Os primeiros casos de HIV/Aids foram descritos pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), nos Estados Unidos, em 1981. Em 1982, foi identificada a primeira infecção por HIV decorrente de transfusão sanguínea no mundo e o primeiro caso foi diagnosticado no Brasil, em São Paulo. Em 1º de janeiro de 1983, foi inaugurado o primeiro ambulatório de Aids do mundo, em São Francisco, nos Estados Unidos. Neste mesmo ano, foi notificado o primeiro caso em uma criança. E também os primeiros casos em profissionais de saúde, uma possível transmissão heterossexual e, no Brasil, o primeiro caso de Aids em uma mulher.

SAÚDE EM AÇÃO Dia Mundial de Luta Contra a Aids Transformar o dia 1º de dezembro em Dia Mundial de Luta Contra a Aids foi uma decisão da Assembleia Mundial de Saúde, em outubro de 1987, com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). A data serve para reforçar a solidariedade, a tolerância, a compaixão e a compreensão com as pessoas infectadas pelo HIV/Aids. A escolha dessa data seguiu critérios próprios das Nações Unidas. No Brasil, a data passou a ser adotada, a partir de 1988, por uma portaria assinada pelo Ministério da Saúde. O laço vermelho é visto como símbolo de solidariedade e de comprometimento na luta contra a Aids. O projeto do laço foi criado, em 1991, pela Visual Aids, grupo de profissionais de arte, de New York, que queriam homenagear amigos e colegas que haviam morrido ou estavam morrendo de Aids. As atividades desenvolvidas nesse dia visam divulgar mensagens de esperança, solidariedade, prevenção e incentivar novos compromissos com essa luta. A iniciativa foi referendada pelo Sistema das Nações Unidas, por meio da Assembleia Mundial de Saúde, e tem o apoio dos governos e organizações da sociedade civil de todos os países. A cada ano, a OMS elege a população/grupo social que registra o maior crescimento da incidência de casos de HIV/Aids e define uma campanha com ações de impacto e sensibilização sobre a questão. Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

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HIV / Aids

Em 1984, em um estudo publicado no American Journal of Medicine, profissionais do CDC em Atlanta agruparam os casos mais conhecidos de Aids e apontaram o que a ciência chamou de “Paciente Zero”, ou seja, aquele que, de acordo com uma investigação realizada, estaria ligado à origem da doença nos Estados Unidos. O mapeamento havia começado em 1982. A partir de entrevistas com os primeiros a apresentarem quadros de infecções, os pesquisadores descobriram que boa parte dos doentes, na maioria homossexuais, relatava ter mantido contato sexual com um comissário de bordo franco-canadense em diversas cidades do país. Três anos depois do rastreamento feito pelo CDC, o jornalista norte-americano Randy Shilts revelou que o paciente zero se chamava Gaëtan Dugas e morrera em 1984. Dugas tinha sido diagnosticado com sarcoma de Kaposi em 1980 e, por muitos anos, foi tido como o responsável por disseminar a Aids.

Doenças que antigamente encontravam-se restritas a uma única região, tornaram-se epidemias em decorrência da facilidade e velocidade com a qual o vírus pode se espalhar, seja pelo ar ou no organismo de um portador.

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A história da epidemia de HIV/Aids

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Hoje é sabido que isso não é verdade. Em 1977 já haviam surgido os primeiros casos de Aids nos Estados Unidos, Haiti e África Central, mas não haviam sido diagnosticados como tal.

A epidemia Graças a uma análise de todos os dados genéticos disponíveis sobre o HIV, uma equipe internacional de pesquisadores confirmou que a epidemia eclodiu em 1920, em Kinshasa, a capital do que é hoje a República Democrática do Congo. Arquivos revelam que, no início do século XX, boa parte do comércio (de marfim, borracha e outros produtos) ocorreu por via fluvial entre o sudeste de Camarões e Kinshasa. Em Camarões são encontrados os chimpanzés que contaminaram os humanos. Mas, antes do contato com Kinshasa, a infecção se manteve regional. Entre 1920 e 1950, a urbanização e o desenvolvimento dos transportes, principalmente de ferrovias, fez de Kinshasa uma das cidades mais conectadas na África Central. No final da década de 1940, mais de um milhão de pessoas passavam pela cidade a cada ano para chegar ao norte ou ao sul do país, para viajar para países vizinhos. Esta mistura de fatores, combinada com a adaptabilidade genética do HIV, levou à propagação muito rápida do vírus em todo o país (que é tão grande quanto a Europa Ocidental), bem como a focos secundários no sul e no leste da África. Mais tarde, após a década de 1960, outras mudanças sociais, tais como o aumento da prostituição e o uso de agulhas não esterilizadas em iniciativas de saúde pública, contribuíram para transformar pequenos surtos de infecção em uma pandemia real.

O vírus nas Américas As comparações de material genético revelam que, nas Américas, o vírus chegou primeiro ao Haiti, em 1960, e alcançou os Estados Unidos em 1969, o que tem o seguinte respaldo histórico.

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HIV / Aids

Em 1985, O agente etiológico causador da Aids é denominado Human Immunodeficiency Virus (HIV). Surge o primeiro teste diagnóstico para a doença, baseado na detecção de anticorpos contra o vírus.

Quando o Congo se tornou independente, o país entrou numa guerra civil. O Haiti enviou tropas para as forças de paz e professores para reconstituir o ensino naquele país. Muitos retornavam para suas casas já contaminados e a enfermidade foi abrindo caminho, chegando aos Estados Unidos por meio de haitianos que procuravam ali refúgio da feroz ditadura de François “Papa Doc” Duvalier. Desde a queda do governo de Fulgêncio Batista em Cuba, a ilha deixou de ser frequentada por norte-americanos em busca de turismo sexual, e essa rota migrou para o Haiti.

O vírus no Brasil Ao final de 1986, 25 das 29 mil pessoas diagnosticadas com Aids nos Estados Unidos morreram. O Brasil registrava quase 3 mil casos e o então ministro da Saúde, Roberto Santos, criou o Programa Nacional de DST e Aids, um ano antes da aprovação do AZT.

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A história da epidemia de HIV/Aids

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No começo, esse remédio precisava ser tomado doze vezes ao dia e em altas dosagens, que se provaram tóxicas, com efeitos colaterais que incluíam anemia, miocardiopatia e neutropenia. Mesmo que seu preço fosse extremamente alto, como era o único medicamento disponível, continuou a ser usado, mas em doses menores, que salvaram muitas vidas. Em 9 de outubro de 1991, foi aprovada a segunda droga para tratar o HIV: o DDI, ou Didanosina. Os efeitos adversos mais comuns, que atingiam quase um quarto dos pacientes, eram diarreia, dor abdominal, dor de cabeça, erupção cutânea, febre, náuseas e vômitos. Em 1992, surgiu o DDC, ou Zalcitabina, uma nova droga para tratar o HIV que era sugerida como alternativa ao AZT. Os efeitos colaterais mais comuns eram dores de cabeça e náuseas, mas um terço dos pacientes doentes de Aids (em estágio avançado) sofriam também com esofagite, neuropatia periférica e úlceras na boca.

Em 1991, a fita vermelha torna-se o símbolo mundial de luta contra a Aids. O Ministério da Saúde dá início à distribuição gratuita de antirretrovirais e no Brasil, 11.805 casos são notificados.

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HIV / Aids

Em 1996, três pesquisadores apresentaram a ideia de uma “terapia de tratamento triplo”, o coquetel, utilizando novos antirretrovirais, Indinavir, Neviparina e Ritonavir, todos aprovados pelo FDA naquele mesmo ano. A terapia com três medicamentos foi rapidamente incorporada à prática clínica e logo mostrou benefícios impressionantes, com um declínio de 60% a 80% nas taxas de HIV/Aids, hospitalização e morte. A expectativa foi tamanha, que os cientistas começaram a falar sobre a cura, imaginando que a terapia antirretroviral, sozinha, seria capaz de eliminar o HIV do organismo, mas não foi isso o que aconteceu. Testes precisos demonstraram que o tratamento não é capaz de curar, mas sim de devolver a saúde a quem é portador do HIV, desde que seguido rigorosamente. Nessa época, o Brasil já registrava 22 mil casos de HIV/Aids. Fernando Henrique Cardoso, então presidente do país, decretara a Lei nº 9.313, que tornou explicitamente obrigatória a gratuidade do tratamento contra a doença.

Em 1996, foi lançado o primeiro Programa Nacional de DST e Aids que distribui a medicação de forma gratuita para tratamento da Aids.

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A história da epidemia de HIV/Aids

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A partir de 1999 a mortalidade dos pacientes de Aids cai 50% e a qualidade de vida dos portadores do HIV melhora significativamente.

José Serra, quando Ministro da Saúde, pressionou laboratórios estrangeiros a reduzir o preço dos medicamentos e Luiz Inácio Lula da Silva, quando presidente, aprovou o primeiro licenciamento compulsório de um antirretroviral no país. Essa atitude incomodou os Estados Unidos, que levaram uma queixa formal à Organização Mundial do Comércio (OMC) em 2001. A essa altura, o número de casos da doença contabilizados no Brasil acumulava 220 mil e, no mundo, quase 30 milhões. Por pressão da opinião pública e da própria ONU, os norte-americanos retiraram a reclamação. O acesso aos antirretrovirais foi considerado mais importante que suas patentes. Hoje, os cientistas já desenvolveram mais de 30 remédios antirretrovirais – entre eles, o Efavirenz, Tenofovir e Lamivudina, parte do 3 em 1, o novo avanço no tratamento de HIV/Aids no Brasil. Esses remédios impedem o vírus de se reproduzir nas células e, como consequência, a quantidade de vírus no sangue cai para um nível indetectável, reduzindo para próximo de zero o risco de transmissão.

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CAPÍTULO

02 CARACTERÍSTICAS E AÇÕES DO VÍRUS HIV

INTRODUÇÃO Os vírus são microrganismos, isto é, seres muito simples e pequenos, formados basicamente por uma cápsula proteica que envolve o material genético. Vírus não conseguem se multiplicar sozinhos, eles precisam invadir alguma célula e usar a sua maquinaria de reprodução para fazer cópias de seus próprios genes e, então, dar origem a novas gerações de vírus. HIV é a sigla em inglês para “Vírus da Imunodeficiência Humana”. Sua ação consiste em atacar as células do sistema imunológico, que é responsável por defender o organismo de doenças. Com a multiplicação dos vírus e a diminuição das células de defesa, o organismo fica vulnerável às infecções chamadas oportunistas, que comumente não ocorrem em quem tem uma boa imunidade. As infecções mais comuns decorrentes da ação do vírus acontecem nos pulmões, no trato intestinal, no cérebro e nos olhos.

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HIV / Aids

Modos de transmissão A transmissão do vírus HIV pode se dar através de sangue, sêmen e secreção vaginal contaminados ou do leite materno.

Transmissão sexual Muitas doenças podem ser transmitidas pelo sexo, são as famosas “Doenças Sexualmente Transmissíveis”, ou simplesmente DSTs. A Aids é, também, uma DST. Os parceiros do ato sexual trocam entre si substâncias que servem de veículos para o HIV. Essa troca se dá em regiões do corpo sujeitas à ocorrência de pequenos traumatismos produzidos durante o ato sexual, o que representa uma importante porta de entrada para o vírus. Se um dos envolvidos for soropositivo, são enormes as chances de que a contaminação aconteça. Não há como saber se um parceiro em potencial está contaminado ou não. Há portadores do vírus nos quais a doença ainda não se manifestou ou mesmo que desconhecem sua condição de soropositivos.

Ter o vírus do HIV não é a mesma coisa que ter Aids. Há muitos soropositivos que vivem anos sem apresentar sintomas e sem desenvolver a doença. No entanto, podem transmitir o vírus.

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Características e ações do vírus HIV

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Como as pessoas não se submetem a testes anti-HIV periodicamente e ainda podem se manter saudáveis por muito tempo antes dos primeiros sinais de alerta da doença, não há um método seguro de saber se o provável ou eventual parceiro é soropositivo ou não. O que há é o fato de que, quanto maior o número de parceiros em relações sexuais sem uso de preservativo, maiores as probabilidades de uma pessoa entrar em contato com o HIV. A presença de feridas nos órgãos genitais, de corrimentos vaginais, e de DSTs não tratadas, aumenta consideravelmente a chance de contágio pelo HIV. Na relação entre um homem e uma mulher, ambos podem ser infectados, mas o risco é maior para a mulher, porque a quantidade de vírus é maior no esperma do que nas secreções vaginais. Mas, se a mulher soropositiva estiver com outra DST, apresentar corrimento vaginal devido a inflamações, ou estiver menstruada, a quantidade de vírus aumenta e, com isso, também a probabilidade de ela transmitir o HIV para o homem. Nas relações anais, o pênis pode ocasionar feridas no reto ou sofrer pequenas fissuras durante a penetração, e essas lesões facilitam a transmissão do HIV.

MAIS SAÚDE Camisinha é prevenção A camisinha é o método mais eficaz para se prevenir contra muitas doenças sexualmente transmissíveis, como a Aids, alguns tipos de hepatites e a sífilis, por exemplo. Além disso, evita uma gravidez não planejada. Por isso, use camisinha sempre. Mas o preservativo não deve ser uma opção somente para quem não se infectou com o HIV. Além de evitar a transmissão de outras doenças, que podem prejudicar ainda mais o sistema imunológico, previne contra a reinfecção pelo vírus causador da Aids, o que pode agravar ainda mais a saúde da pessoa. Guardar e manusear a camisinha é muito fácil. Treine antes, assim você não erra na hora. Nas preliminares, colocar a camisinha no (a) parceiro (a) pode se tornar um momento prazeroso. Só é preciso seguir o modo correto de uso. Mas atenção: nunca use duas camisinhas ao mesmo tempo. Aí sim, ela pode se romper ou estourar. Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

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HIV / Aids

O sexo oral sempre foi tido como uma atividade de menor risco, mas nunca foi considerado sem risco algum. O risco de um homem com práticas homossexuais se infectar pelo HIV por meio do sexo oral é extremamente baixo, sendo maior quando um dos parceiros tem uma DST não tratada como gonorreia ou sífilis, cortes abertos, úlceras ou machucados na boca, garganta infeccionada, amigdalite ou alguma doença na gengiva.

Transmissão por sangue contaminado O HIV pode ser transmitido através do sangue ou produtos derivados do sangue (como plasma e plaquetas) em transfusões sanguíneas. Desde o início da década de 1990, hospitais e bancos de sangue têm feito exames de rotina no sangue dos doadores para identificação do HIV. Esses exames reduziram substancialmente o risco de alguém ser contaminado pelo HIV durante uma transfusão.

Transmissão por meio de agulhas ou seringas contaminadas Em muitos locais, a transmissão do HIV se disseminou rapidamente entre os usuários de drogas injetáveis por desconhecimento da doença no início da epidemia e pelos mecanismos de rápida transmissão através do compartilhamento de seringas, agulhas e outros objetos. O sangue se mistura com a droga dentro da seringa, de forma que, se a mesma seringa ou agulha for utilizada por outra pessoa sem prévia desinfecção, essa pequena “transfusão” é bastante eficaz na transmissão do vírus.

Transmissão por meio de perfuração acidental com agulhas ou objetos cortantes A transmissão do HIV de um paciente contaminado para um profissional de saúde decorrente da realização de algum procedimento é baixa. Especialistas acreditam que o risco de contaminação neste tipo de acidente seja menor que 1%. Seja por uma perfuração acidental por agulha durante um procedimento cirúrgico, no caso do cirurgião dentista, ou mesmo numa punção venosa, no caso da enfermagem e medicina.

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Características e ações do vírus HIV

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Durante o pré-natal, toda gestante tem o direito e deve realizar o teste de HIV.

Transmissão da mãe para o filho A transmissão vertical do HIV ocorre quando a criança é infectada pelo vírus da Aids durante a gestação, o parto ou por meio da amamentação. No entanto, a criança, filha de mãe infectada pelo HIV, tem a oportunidade de não se infectar. Atualmente, existem medidas eficazes para evitar o risco de transmissão, tais como o diagnóstico precoce da gestante infectada, o uso de drogas antirretrovirais, o parto cesariano programado, a suspensão do aleitamento materno, substituindo-o por leite artificial (fórmula infantil) e outros alimentos, de acordo com a idade da criança. Quanto mais precoce o diagnóstico da infecção pelo HIV na gestante, maiores são as chances de evitar a transmissão para o bebê. O tratamento é gratuito e está disponível no SUS.

Outros modos de transmissão Em raros casos, o HIV pode ser transmitido através de um órgão transplantado, em uma inseminação artificial ou por equipamentos cirúrgicos e odontológicos não esterilizados.

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Métodos de ação Os linfócitos T ou células T pertencem a um grupo de glóbulos brancos do sangue e são os principais atores da imunidade. Contêm o receptor de células T que lhes permite uma grande variedade de reconhecimento a antígenos. Há vários subgrupos, entre eles os CD4+, que coordenam a defesa imunológica contra microrganismos, avisando ao corpo que ele está sendo invadido. Quando o HIV entra no organismo, ele ataca as células CD4+, pois precisa delas para sobreviver e se multiplicar. O vírus, ao entrar na célula, a transforma numa fábrica de vírus, fazendo com que ela reproduza seu material genético. Os genes copiados formam uma cápsula para se protegerem e abandonam a célula CD4+, rompendo sua membrana e destruindo-a. Com o tempo, as células CD4+ vão desaparecendo, dando lugar à deficiência imunológica. A deficiência chega num ponto tal que qualquer germe é capaz de invadir o organismo e causar doenças graves.

Os vírus HIV-1 E HIV-2 A maioria dos casos da epidemia global de Aids é causada pelo retrovírus humano tipo 1 (HIV-1). No entanto, o HIV-2, outro retrovírus associado à Aids, é epidêmico e endêmico em alguns países da África Ocidental, como Guiné Bissau, Gâmbia, Costa do Marfim e Senegal. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) identificaram a presença do vírus no Brasil, em situações de coinfecção com o HIV-1. O HIV-2 foi identificado pela primeira vez em 1985, em pacientes do Senegal, e, logo após, casos foram detectados também em Cabo Verde. As pesquisas demonstram que HIV-1 e HIV-2 constituem vírus distintos, com diferenças significativas entre seus genomas e biologia. Em relação ao HIV-1, a infecção pelo tipo 2 se diferencia por ter uma evolução mais lenta para os quadros clínicos relacionados. Ainda nisso, há evidências de que a transmissão vertical (mãe-filho) e sexual não seja tão eficiente quando comparada ao HIV-1.

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Características e ações do vírus HIV

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O vírus do HIV se reproduz por meio das células saudáveis do nosso corpo, deixando-as deficientes. Dessa forma, o corpo fica debilitado e perde a sua defesa natural contra agentes externos.

Enquanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou, em 2008, que a epidemia por HIV-1 atingia 34 milhões de pessoas no mundo, calcula-se que o HIV-2 seria responsável pela infecção de 2 milhões de pessoas. O HIV-2 ocorre, sobretudo, em países da África Ocidental de língua portuguesa e francesa. Nesta região, foi o tipo preponderante durante o início da pandemia de Aids, mas veio perdendo espaço para o HIV-1. Na Europa, casos de HIV-2 são descritos em países como Portugal, França e Espanha.

Diagnóstico O diagnóstico da infecção pelo HIV é feito em laboratórios, a partir da realização de testes sorológicos e moleculares, ou durante o período de visita do indivíduo (consulta médica, atendimento em Centro de Testagem e Aconselhamento, atendimento em domicílio, atendimento em Unidade de Testagem Móvel, organização não governamental, etc.), por meio de testes rápidos.

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SAÚDE EM AÇÃO No Brasil, o diagnóstico da infecção pelo HIV é regulamentado por meio da Portaria 29 de 17 de dezembro de 2013, que aprova o Manual Técnico para o Diagnóstico da Infecção pelo HIV em Adultos e Crianças. Uma vez diagnosticado como portador da infecção pelo HIV, o indivíduo deve ser encaminhado prontamente para atendimento em uma Unidade Básica de Saúde do Sistema Único de Saúde ou para um Serviço de Assistência Especializada. Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

Existem dois tipos de exames para detectar o HIV: sorologia tradicional e teste rápido.

Sorologia para HIV A sorologia tradicional existe desde 1985 e é conhecida como ELISA (sigla proveniente do inglês para Enzyme-Linked Immunosorbent Assa). O ELISA é uma técnica que permite a detecção de anticorpos específicos no sangue e pode ser usado para várias doenças. Nesse teste, não se pesquisa diretamente a presença do vírus, mas sim a existência de anticorpos contra o mesmo. O método se baseia no fato de que o nosso sistema imune só consegue produzir anticorpos contra uma determinada doença se ele tiver sido, previamente, exposto ao vírus ou bactéria responsável por ela. Dessa maneira, só haverá anticorpos contra HIV no sangue se o indivíduo tiver sido contaminado pelo vírus. Quando o vírus entra no organismo, ele é imediatamente capturado pelas células de defesa e a sua estrutura é analisada. A partir desta análise, o sistema imune torna-se capaz de produzir anticorpos diretamente voltados para combater o invasor. Sempre que entramos em contato com algum germe pela primeira vez, o corpo demora algum tempo para analisar sua estrutura e produzir anticorpos específicos. Porém, uma vez reconhecido, o paciente terá anticorpos para o resto da vida. Um anticorpo contra o HIV só ataca o vírus do HIV, ele é inócuo para outras infecções, como por exemplo, gripe ou catapora. O tempo que decorre entre o momento da contaminação por um vírus e a produção de anticorpos suficientes para serem detectados na sorologia é chamado de “janela imunológica”.

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Características e ações do vírus HIV

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As sorologias atuais conseguem detectar a infecção com menos de quatro semanas. E procuram pela presença de anticorpos tanto contra o HIV-1 como para o HIV-2.

Portanto, quando falamos que um teste tem uma janela imunológica de 3 meses, isto significa que o exame só dará positivo 3 meses depois de o paciente ter entrado em contato com o determinado vírus ou bactéria. Nas últimas décadas, a sorologia para HIV evoluiu muito. A primeira geração, usada na década de 1980 demorava até 6 meses para conseguir detectar anticorpos Hoje já estamos na 4ª geração do ELISA, que é superior às gerações antigas pelo fato de não só identificar anticorpos contra o HIV mais precocemente, como também pesquisar o antígeno P24, uma proteína existente no vírus HIV. O ELISA 4ª geração é, portanto, um teste duplo que procura por anticorpos e pelo próprio vírus. Deste modo, a janela imunológica é bem mais curta e o teste consegue detectar infecções com menos de 4 semanas (em alguns casos, em até 2 semanas).

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MAIS SAÚDE Importância do diagnóstico Saber do contágio pelo HIV precocemente aumenta a expectativa de vida do soropositivo. Quem busca tratamento especializado no tempo certo e segue as recomendações do médico ganha em qualidade de vida. Além disso, as mães soropositivas têm 99% de chance de terem filhos sem o HIV se seguirem o tratamento recomendado durante o pré-natal, parto e pós-parto. Por isso, se você passou por uma situação de risco, como ter feito sexo sem camisinha ou compartilhado seringas, faça o exame! Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

Teste rápido para HIV O teste rápido pode ser feito com uma pequena amostra de sangue colhida por meio de um furo no dedo ou por uma amostra da saliva, e o resultado é liberado em apenas 30 minutos. Os testes rápidos para HIV têm uma sensibilidade um pouco menor do que os testes sorológicos tradicionais, porém, ainda assim, a sua taxa de falso negativo é bastante baixa. Portanto, um resultado negativo no teste rápido tem o mesmo valor do resultado negativo na sorologia tradicional. Um resultado positivo deve ser confirmado pela sorologia tradicional. Em geral, indica-se o teste rápido para profissionais que se acidentam com agulhas (neste caso o teste é feito no profissional e no paciente) ou em grávidas que chegam em trabalho de parto sem terem realizado exames pré-natais. Os indivíduos com exposição ao HIV ou com comportamento de risco recente devem dar preferência ao teste tradicional.

Liberação do resultado Atualmente, a taxa de falso negativo, ou seja, resultados negativos em pacientes positivos, para o ELISA, é de 0,001%, se o teste for feito respeitando a janela imunológica de um mês. Isto significa que um teste para HIV negativo feito por um ELISA de 4ª geração é um resultado muito confiável.

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Características e ações do vírus HIV

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ELISA negativo para HIV Sempre que um indivíduo faz uma sorologia para HIV e o ELISA é negativo, este resultado é liberado para o indivíduo sem necessidade de outros testes. O protocolo indicado é fornecer o resultado com a seguinte frase: “Amostra Não Reagente para HIV”. ELISA positivo para HIV Quando o ELISA fornece um resultado positivo para o HIV, ele precisa ser confirmado por outro exame, que pode ser um dos três métodos: • Western blot. • Imunoblot. • Imunofluorescência indireta para o HIV-1. O resultado positivo somente é liberado se o exame confirmatório também for positivo.

O ELISA é tipo de teste mais usado, por sua facilidade de automação, custo relativamente baixo e elevada sensibilidade e especificidade.

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ELISA indeterminado Algumas vezes, o ELISA apresenta um resultado duvidoso, sendo incapaz de afirmar se há ou não a presença de anticorpos no sangue. Em casos com resultado indeterminado, o laboratório costuma entrar em contato com o indivíduo para solicitar uma nova amostra de sangue para que o teste possa ser refeito. O laudo do laboratório costuma referir: “Amostra Indeterminada para HIV”. Este fato significa que houve um problema técnico com a amostra que a tornou incapaz de fornecer um resultado confiável. Quando o ELISA é positivo, mas o teste confirmatório com Western blot é negativo, o resultado também é liberado como “Amostra Indeterminada para HIV”. Nestes casos, o indivíduo deve retornar ao laboratório em 30 dias para colher nova amostra de sangue. Alguns fatores aumentam o risco de um resultado indeterminado, entre eles gravidez, presença de doenças autoimunes e vacinação recente contra gripe.

Um resultado indeterminado pode significar um falso positivo devido a razões biológicas ou um verdadeiro positivo de infecção recente que ainda não desenvolveu anticorpos.

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Características e ações do vírus HIV

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MAIS SAÚDE Exame de HIV O exame não reagente para HIV é geralmente um resultado definitivo. Como já referido, se respeitada a janela imunológica de um mês, o risco de falso negativo é muito baixo. Porém, se o paciente acha que foi contaminado ou foi exposto a uma situação com elevado risco de contaminação, como sexo desprotegido ou acidentes com agulhas, sugere-se a repetição do teste após 30 dias. Se esta situação de risco aconteceu com alguém sabidamente HIV, ou seja, se o paciente tem certeza que foi exposto ao vírus HIV, sugere-se que o teste não reagente seja repetido duas vezes, uma aos três meses e outra aos seis meses, para se descartar os raros casos de conversão tardia. É importante salientar que, mesmo nos pacientes expostos ao HIV, um teste inicial negativo torna o risco de contaminação muito baixo. A repetição é indicada apenas porque há casos raros de seroconversão tardia e casos ainda mais raros de falso negativo (não existe exame laboratorial 100% perfeito). Nos pacientes que fazem o teste para HIV apenas por rotina ou sem que tenha havido uma situação de risco relevante, um único resultado negativo é suficiente, não sendo necessária a repetição do exame. Fonte: Ministério da Saúde. Disponível em: ‹http://www.mdsaude.com/2009/01/exame-teste-sorologia-hiv-aids-sida.html›. Acesso em: 23 jun. 2015.

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CAPÍTULO

03 O DESENVOLVIMENTO DA INFECÇÃO

INTRODUÇÃO Podendo ficar “invisível” no corpo humano, o vírus HIV chega a ficar incubado por até dez anos, sem que o infectado manifeste os sintomas da Aids. O período entre a infecção pelo HIV e a manifestação dos sintomas da doença depende, principalmente, do estado de saúde da pessoa, que pode retardar, ou não, o aparecimento dos primeiros sintomas. Existem, inclusive, algumas pessoas que são infectadas pelo vírus, mas que não desenvolvem a doença. Estes casos, raros, são estudados pela medicina na tentativa de desenvolvimento de uma vacina eficiente contra a doença. O longo processo infeccioso causado pelo HIV pode ser dividido em quatro fases: infecção aguda, fase assintomática ou de latência clínica, fase sintomática inicial e Aids.

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Infecção aguda A infecção aguda é um quadro semelhante à gripe e surge de 2 a 4 semanas após a pessoa ter sido infectada. Nem todas as pessoas recém-infectadas pelo HIV apresentam uma fase aguda, e muitas das que apresentam o fazem de forma não específica, com sintomas semelhantes aos de qualquer uma das várias viroses respiratórias comuns ao ser humano. A infecção aguda é um quadro totalmente diferente da Aids como manifestação da doença, ela é causada pela rápida multiplicação do vírus no organismo da pessoa infectada. Os cientistas e a área médica acreditam que a maioria das pessoas contaminadas pelo HIV apresentará algum tipo de infecção aguda nas primeiras semanas, porém, devido ao fato de muitas terem quadros respiratórios aparentemente comuns, semelhantes a uma gripe, essa fase pode passar mais ou menos despercebida. Uma pessoa contaminada por HIV torna-se suscetível a infecções porque a maioria de suas células CD4+ foi destruída ou está inutilizada, servindo apenas como uma fábrica de vírus.

Ao ser infectado, o quadro de infecção aguda demora de 7 a 14 dias para desaparecer.

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Quando o HIV entra em contato com organismo pela primeira vez, ele encontra um meio rico em células CD4+ e pobre em anticorpos específicos contra ele mesmo. Como resultado, nas primeiras semanas de contaminação, o HIV multiplica-se de forma acelerada, causando grande destruição das células CD4+. No período de fase aguda, o paciente tem elevada carga de vírus na corrente sanguínea e uma baixa contagem de CD4+. Com o passar dos dias, porém, o sistema imune consegue contra-atacar com anticorpos específicos contra o HIV e outras células imunológicas. Como resultado, a carga viral despenca e o número de células CD4+ volta a subir. Nesse momento, a pessoa deixa de sentir os sintomas da infecção aguda pelo HIV. As pessoas que apresentam maior dificuldade em controlar essa multiplicação viral inicial, apresentando sintomas por mais de 14 dias, são aqueles que irão desenvolver Aids mais precocemente, geralmente dentro dos 3 primeiros anos após a contaminação.

Sinais e sintomas Estudos mostram que cerca de 90% dos pacientes recém-contaminados com o HIV irão apresentar algum tipo de sintomas de infecção viral.

O rash da fase aguda do HIV costuma acometer, principalmente, a face e a parte superior do tronco. Na maioria dos casos, os sintomas duram de 7 a 10 dias e desaparecem espontaneamente.

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Como os sintomas são muito inespecíficos, em alguns casos, é difícil saber se o que o paciente teve foi realmente uma infecção aguda pelo HIV ou apenas uma virose qualquer. Geralmente, os sintomas surgem entre 2ª e a 4ª semanas após a contaminação, mas podem demorar até alguns meses para aparecer. Os sinais e sintomas mais comuns da fase aguda são: • Febre (entre 38ºC e 40ºC). • Cansaço. • Dor muscular. • Manchas avermelhadas na pele (rash). • Aumento de linfonodos. • Dor de garganta. • Diarreia. Após a fase aguda, a pessoa entra na fase latente da doença, um período sem sintomas que pode durar vários anos. Pessoas que apresentam sintomas da fase aguda por mais de 14 dias, ou um quadro muito agressivo, com vários dos sintomas descritos acima, costumam ter pior prognóstico, com maior risco de terem uma fase latente curta e evoluírem precocemente para Aids.

Fase assintomática ou de latência clínica Embora geralmente não apareçam sintomas no início, muitas pessoas sofrem com febre, perda de peso, problemas gastrointestinais e dores musculares. Entre 50 e 70% das pessoas também desenvolvem linfadenopatia generalizada, caracterizada por um inchaço inexplicável e indolor de mais de um grupo de gânglios linfáticos (exceto na virilha) por um período de 3 a 6 meses. Durante a fase assintomática de uma pessoa infectada, ocorre, em média, a diminuição anual de 30 a 90 dessas células. Sem tratamento, essa segunda fase pode durar de 3 a mais de 20 anos (em média, dura cerca de 8 anos). Quando a contagem fica abaixo de 300 ou 350, o sistema imunológico começa a dar os primeiros sinais de debilidade.

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Nas pessoas saudáveis, o número de células CD4+ varia de 800 a 1200 por mililitro de sangue.

Fase sintomática inicial Nesta fase, o portador da infecção pelo HIV pode apresentar sinais e sintomas inespecíficos e de intensidade variável, além de processos oportunistas de menor gravidade, principalmente em pele e mucosas.

Sinais e sintomas Sudorese noturna É queixa bastante comum e tipicamente inespecífica entre os pacientes com infecção sintomática inicial pelo HIV. Pode ser recorrente e pode ou não vir acompanhada de febre. Nessa situação, deve ser considerada a possibilidade de infecção oportunista, devendo-se lançar mão de investigação clínica e laboratorial específicas. Fadiga Também é frequente manifestação da infecção sintomática inicial pelo HIV e pode ser referida como mais intensa no final de tarde e após atividade física excessiva.

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Fadiga progressiva e debilitante deve alertar para a presença de infecção oportunista, devendo ser sempre pesquisada. Emagrecimento É um dos mais comuns entre os sintomas gerais associados com infecção pelo HIV, sendo referido em 95-100% dos pacientes com doença em progressão. Geralmente, encontra-se associado a outras condições como anorexia. A associação com diarreia aquosa o faz mais intenso.

Processos oportunistas mais comuns na fase sintomática inicial Leucoplasia pilosa oral É um espessamento epitelial benigno, causado provavelmente pelo vírus Epstein-Barr, que clinicamente se apresenta como lesões brancas que variam em tamanho e aparência, podendo ser planas ou em forma de pregas, vilosidades ou projeções. Ocorre mais frequentemente em margens laterais da língua, mas podem ocupar localizações da mucosa oral: mucosa bucal, palato mole e duro. Gengivite A gengivite e outras doenças periodontais podem se manifestar de forma leve ou agressiva em pacientes com infecção pelo HIV, sendo a evolução rapidamente progressiva, observada em estágios mais avançados da doença, levando a um processo necrotizante acompanhado de dor, perda de tecidos moles periodontais, exposição e sequestro ósseo. Úlceras aftosas Em indivíduos infectados pelo HIV é comum a presença de úlceras consideravelmente extensas, resultantes da coalescência de pequenas úlceras em cavidade oral e faringe, de caráter recorrente e etiologia não definida. Resultam em grande incômodo, produzindo odinofagia, anorexia e debilitação do estado geral, com sintomas constitucionais acompanhando o quadro.

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O herpes pode ser transmitido nos períodos de remissão da infecção, ou seja, mesmo quando não existem úlceras ou bolhas visíveis.

Herpes simples recorrente A maioria dos indivíduos infectados pelo HIV é coinfectada com um ou ambos os tipos de vírus do herpes simples (1 e 2), sendo mais comum a evidência de recorrência do que de infecção primária. Embora o HSV-1 seja responsável por lesões orolabiais e o HSV-2 por lesões genitais, os dois tipos podem causar infecção em qualquer lugar do corpo. Geralmente, a apresentação clínica dos quadros de recorrência é atípica ao comparar-se aos quadros em indivíduos imunocompetentes. No entanto, a sintomatologia clássica pode manifestar-se independentemente do estágio da infecção pelo HIV. Herpes-zóster De modo similar ao que ocorre com o HSV em pacientes com doença pelo HIV, a maioria dos adultos foi previamente infectada pelo vírus Varicela-zóster, desenvolvendo episódios de herpes-zóster frequentes. O quadro inicia com dor radicular, rash localizado ou segmentar comprometendo um a três dermátomos, seguindo o surgimento de maculopápulas dolorosas que evoluem para vesículas com conteúdo infectante. Pode também apresentar-se com disseminação cutânea extensa.

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Sinusopatias Sinusites e outras sinusopatias ocorrem com relativa frequência entre os pacientes com infecção pelo HIV. A forma aguda é a mais comum no estágio inicial da doença pelo HIV, incluindo os mesmos agentes considerados em pacientes imunocompetentes: Streptococus pneumoniae, Moraxella catarrhalis e H. influenzae. Outros agentes, como S. aureus, P. aeruginosa e fungos têm sido achados em sinusite aguda, porém seu comprometimento em sinusites crônicas é maior. Febre, cefaleia, sintomas locais, drenagem mucopurulenta nasal fazem parte do quadro. Candidíase oral e vaginal A candidíase oral é a mais comum infecção fúngica em pacientes portadores do HIV e apresenta-se com aparência macroscópica e sintomas característicos. A forma pseudomembranosa consiste em placas esbranquiçadas removíveis em língua e mucosas que podem ser pequenas ou amplas e disseminadas. Já a forma eritematosa é vista como placas avermelhadas na mucosa, palato mole e duro ou na superfície dorsal da língua. A queilite angular, também frequente, produz eritema e fissuras nos ângulos da boca. Mulheres HIV positivo podem apresentar formas extensas ou recorrentes de candidíase vulvo-vaginal, com ou sem acometimento oral, como manifestação precoce de imunodeficiência pelo HIV, bem como nas fases mais avançadas da doença. As espécies patogênicas incluem Candida albicans, C. tropicalis, C. parapsilosis e outras menos comumente isoladas. Trombocitopenia Na maioria das vezes é uma anormalidade do sangue em que o paciente apresenta um número normal ou aumentado de megacariócitos na medula óssea e níveis elevados de imunoglobulinas associadas a plaquetas. É a síndrome clínica chamada púrpura trombocitopênica imune. Clinicamente, os pacientes podem apresentar somente sangramentos mínimos como manchas vermelhas (petéquias), equimoses e, ocasionalmente, sangramentos nasais (epistaxe). Laboratorialmente, considera-se o número de plaquetas menor que 100.000 células/mm3.

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Aids - fase de adoecimento É a fase do espectro da infecção pelo HIV em que se instalam as doenças oportunistas, que são as doenças que se desenvolvem em decorrência de uma alteração imunitária do hospedeiro. Estas são, geralmente, de origem infecciosa, porém várias neoplasias também podem ser consideradas oportunistas. As infecções oportunistas podem ser causadas por microrganismos não considerados usualmente patogênicos, isto é, que não são necessariamente capazes de gerar doença em pessoas com sistema imune normal. Entretanto, microrganismos normalmente patogênicos também podem, por vezes, ser causadores de infecções oportunistas. Na situação de adoecimento de Aids, as infecções necessariamente assumem um caráter de maior gravidade ou agressividade para serem consideradas oportunistas. As doenças oportunistas associadas à Aids são várias, podendo ser causadas por bactérias, vírus, fungos, protozoários e certas neoplasias (tumores).

Quando a Aids se manifesta, a contagem de células CD4+ costuma estar abaixo de 200.

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Infecções bacterianas Pneumonia A pneumonia bacteriana é uma infecção grave dos pulmões que gera sintomas como tosse com catarro, febre e dificuldade em respirar, e que surge após uma gripe que não passa ou que piora ao longo do tempo. Nesses casos, a pneumonia bacteriana é causada pela bactéria Streptococcos pneumoniae ou ainda pela bactéria Haemophilus influenzae. Tuberculose A tuberculose e a HIV/Aids atingem o sistema imunológico dos seres humanos, isto é, podem gerar coinfecções (uma infecção pode favorecer o aparecimento da outra). A tuberculose é considerada a doença oportunista mais frequente em pessoas infectadas pelo HIV e é a responsável por um número considerável de mortes, pois acelera o adoecimento por Aids tendo em vista que o bacilo da tuberculose (chamado bacilo de Koch) se reproduz, atacando as células de defesa do corpo. Dessa forma, a pessoa fica com a imunidade baixa, propensa a ter outras doenças. A tuberculose pode ser contraída através do contato com portadores da tuberculose pulmonar que eliminam bacilos pela tosse, espirro ou fala ou pela reativação de um foco de bacilos. O contato com o bacilo, normalmente, é adquirido em idade escolar, não chegando a causar a tuberculose, aparecendo apenas quando o sistema imunológico fica debilitado, propiciando a reativação desse foco. Salmonelose A salmonelose é uma doença infecciosa causada por diversos e diferentes tipos de bactérias, todas da família Enterobacteriaceae. A salmonelose é o tipo mais comum de intoxicação alimentar em todo o mundo e as bactérias contaminam o organismo da ingestão de alimentos crus ou mal cozidos. Carnes em geral, aves, ovos, leite não pasteurizado e seus derivados, além da água, são os alimentos mais propícios a estarem contaminados com as fezes da bactéria causadora da salmonelose. Os principais sintomas são febre, dor de cabeça, náuseas, enjoo, vômitos, falta de apetite, cólica e diarreia. Em portadores de HIV, a doença é mais grave do que em pessoas saudáveis.

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Os ovos são uma das principais formas de contágio da salmonelose, portanto, adquira o hábito de comê-los apenas cozidos ou com a gema endurecida.

Angiomatose bacilar A angiomatose bacilar, conhecida popularmente como “doença do arranhadura do gato”, é uma doença que está inclusa no grupo das bartoneloses humanas. É uma infecção causada pela bactéria Bartonella henselae e ocorre quando um indivíduo é arranhado ou mordido por um gato hospedeiro dessa bactéria. A bactéria tende a se proliferar infectando a parede dos vasos sanguíneos, deixando o local lesionado com uma bolha vermelha característica da doença. Os principais sintomas da angiomatose bacilar são bolha vermelha em torno da lesão, gânglios linfáticos inflamados, dor e rigidez no local lesionado, falta de apetite, febre, dor de cabeça, problemas de visão e tumefação cerebral.

Infecções virais Citomegalovírus (CMV) O citomegalovírus, conhecido também pela sigla CMV, é um vírus da família do herpes, extremamente comum, capaz de provocar uma infecção chamada citomegalovirose.

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É transmitido por saliva, sangue, urina, secreções sexuais e leite materno. Apesar de ser um vírus altamente contagioso e com altíssimas taxas de infecção entre a população, a maioria das pessoas nem sequer desconfia que já foi contaminada por ele. A citomegalovirose é uma infecção muito branda, praticamente assintomática, na maioria das pessoas que possuem um sistema imunológico saudável. No entanto, em portadores de Aids, o citomegalovírus pode agredir a mucosa dos intestinos – causando diarreias persistentes; os pulmões – causando pneumonia; e os olhos – causando infecções graves e perda de visão.

Hepatites virais As hepatites virais são doenças infecciosas sistêmicas que afetam o fígado. Cinco diferentes vírus são reconhecidos como agentes etiológicos da hepatite viral humana, mas os mais comuns são o vírus da hepatite A (HAV), o vírus da hepatite B (HBV) e o vírus da hepatite C (HCV).

As infecções frequentes em soropositivos no Brasil são: hepatites B e C e a tuberculose. Juntas, representam uma das principais causas de óbito entre as pessoas infectadas pelo HIV.

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Hepatite A A transmissão ocorre por água, alimentos contaminados ou contato pessoal com pessoas infectadas. O vírus da hepatite A tem distribuição mundial e apresenta maior disseminação em áreas onde as condições sanitárias e de higiene da população são precárias. Nessas áreas, a hepatite A apresenta-se como uma doença típica da infância. Com a melhoria das condições socioeconômicas, os adultos jovens constituem o grupo mais susceptível à infecção. Hepatite B A via primária de transmissão é a parenteral, por contato com sangue e hemoderivados. É também transmitida por contato sexual e de mãe infectada para o recém-nascido (durante o parto ou no período perinatal). Grupos de alto risco incluem os usuários de drogas injetáveis, homossexuais/heterossexuais com múltipos parceiros. Hepatite C A forma mais comum de transmissão é a parenteral, por exposição percutânea direta ao sangue, hemoderivados ou instrumental cirúrgico contaminado. Receptores de sangue e derivados, usuários de drogas injetáveis, pacientes de hemodiálise e profissionais de saúde (vítimas de acidentes perfurocortantes) apresentam alto risco de infecção pelo HCV. Em grande parte dos casos, as hepatites virais são doenças silenciosas. Quando os sintomas aparecem, a doença já está em estágio mais avançado. Os sintomas mais comuns são: • Febre. • Fraqueza. • Mal-estar. • Dor abdominal. • Enjoos/Náuseas. • Vômitos. • Perda de apetite. • Urina escura (cor de café). • Icterícia (pele e olhos amarelados). • Fezes esbranquiçadas.

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SAÚDE EM AÇÃO Para saber se há a necessidade de realizar exames que detectem as hepatites observe se você já se expôs a algumas dessas situações: • Contágio fecal-oral: condições precárias de saneamento básico e água, de higiene pessoal e dos alimentos (vírus A e E). • Transmissão sanguínea: prática de sexo sem camisinha; compartilhamento de seringas, agulhas, lâminas de barbear, alicates de unha e outros objetos que furam ou cortam (vírus B, C e D). • Transmissão sanguínea: da mãe para o filho durante a gravidez, durante o parto e a amamentação (vírus B, C e D). No caso das hepatites B e C é preciso um intervalo de 60 dias para que os anticorpos sejam detectados no exame de sangue. Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

Papilomavírus (HPV) O HPV é um vírus que vive na pele e nas mucosas dos seres humanos, tais como vulva, vagina, colo de útero e pênis. É uma infecção transmitida sexualmente (DST), sendo a ausência de camisinha no ato sexual a principal causa da transmissão. A transmissão também pode ocorrer de mãe para filho no momento do parto, devido ao trato genital materno estar infectado. Entretanto, somente um pequeno número de crianças desenvolve a papilomatose respiratória juvenil.

MAIS SAÚDE Usar camisinha em todas as relações sexuais é importantíssimo para prevenir a transmissão do HPV e outras doenças. No caso do HPV, existe ainda a possibilidade de contaminação por meio do contato de pele com a pele, e pele com a mucosa. Isso significa que qualquer contato sexual – incluindo sexo oral e masturbação – pode transmitir o vírus. O contágio também pode ocorrer por meio de roupas e objetos, o que torna a vacina um elemento relevante da prevenção, bem como a prevenção e tratamento em conjunto do casal. Fonte: Gineco. Disponível em: ‹http://www.gineco.com.br/saude-feminina/doencas-femininas/hpv/›. Acesso em: 23 jun. 2015.

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O HPV pode ser controlado, mas ainda não há cura contra o vírus. Quando não é tratado, torna-se a principal causa do desenvolvimento do câncer de colo do útero e do câncer de garganta. O principal sinal da doença é o aparecimento de verrugas genitais na vagina, pênis e ânus que se espalham rapidamente, podendo se estender ao clitóris, ao monte de Vênus e aos canais perineal, perianal e anal. Essas lesões também podem aparecer na boca e na garganta do homem e da mulher, com sintomas de prurido, queimação, dor e sangramento. Nos homens, a maioria das lesões se encontra no prepúcio, na glande e no escroto. As verrugas apresentam um aspecto de uma couve-flor. Vacinas contra os subtipos mais agressivos de HPV podem prevenir doenças causadas pelo vírus. Uma dessas vacinas é quadrivalente, ou seja, previne contra quatro tipos de HPV: 16 e 18, presentes em 70% dos casos de câncer de colo do útero, e 6 e 11, presentes em 90% dos casos de verrugas genitais. A outra é bivalente, específica para os subtipos de HPV 16 e 18. A vacina funciona estimulando a produção de anticorpos específicos para cada tipo de HPV. A proteção contra a infecção vai depender da quantidade de anticorpos produzidos pelo indivíduo vacinado, a presença destes anticorpos no local da infecção e a sua persistência durante um longo período de tempo.

Existem diversas variedades do HPV, algumas causam verrugas genitais e outras não causam nenhum sintoma. Certos tipos de HPV aumentam bastante o risco de câncer de colo de útero.

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Leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP) A leucoencefalopatia multifocal progressiva (LMP) é uma doença causada pela perda da bainha de mielina (desmielinizante) do sistema nervoso central decorrente da infecção pelo vírus JC (JCV). O sintoma mais comum é o déficit visual, observado em 35% a 45% dos casos, embora as manifestações mais características incluam os transtornos cognitivo-afetivos, caracterizados por instabilidade emocional, déficit de memória e demência progressiva, eventualmente com alterações comportamentais, que atingem um terço dos indivíduos. As manifestações motoras são mais tardias na evolução da doença. De modo geral, a progressão lenta é a regra, com evolução para óbito depois de quatro a seis meses.

Infecções por fungos Candidíase Causada principalmente pelo fungo Candida albicans, a candidíase, especialmente a candidíase vaginal, é uma das causas mais frequentes de infecção genital. Seus sintomas são: prurido (coceira), ardor, dispareunia (dor na relação sexual) e eliminação de um corrimento vaginal semelhante à nata do leite.

A infecção costuma acontecer quando o sistema imunológico está enfraquecido. A complicação médica mais importante na cavidade oral de um paciente HIV-positivo é representada pela candidíase oral.

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Na mulher, é comum que a vulva e a vagina fiquem inchadas e avermelhadas. As lesões podem estender-se pelo períneo, região perianal e inguinal (virilha). No homem, a glande fica avermelhada (hiperemia) e o prepúcio (balanopostite), inchado e com pequenas lesões em forma de pontos, avermelhadas e pruriginosas. Na maioria das vezes, não é uma doença de transmissão sexual. Em geral, está relacionada com a diminuição da resistência do organismo da pessoa acometida. O tratamento é realizado com medicamentos locais e agentes antifúngicos administrados por via oral. Pneumonia por Pneumocystis carinii Pneumocystis carinii é um patógeno entre seres humanos e muitos animais, sendo um microrganismo oportunista, seu hábitat natural é o pulmão, constitui importante causa de pneumonia no hospedeiro imunocomprometido, destacando-se portadores de Aids. Quando acometidos desse tipo de pneumonia, os pacientes apresentam os seguintes sintomas: febre alta, dispneia e tosse seca, podendo haver insuficiência respiratória e óbito, caso não seja feito o tratamento. Meningite criptocócica A criptococose é uma das infecções fúngicas sistêmicas mais comuns no paciente imunodeprimido pelo HIV. É causada pelo Cryptococcus neoformans, que é encontrado principalmente em fezes ressecadas de pombo, no solo e em frutas estragadas. Ao inalar um desses fatores causadores, o paciente HIV/Aids apresenta a meningite criptocócica que se caracteriza pela abundância de parasitas e com rápida multiplicação, pois encontram muito pouca resistência. As manifestações clínicas são as de uma meningoencefalite crônica, com cefaleia, irritabilidade, confusão mental, febre e rigidez de nuca até coma, náuseas, vômitos, paresias de nervos cranianos e edema de papila. A doença é grave e seu tratamento é com antifúngico endovenoso. Coccidioidomicose A coccidioidomicose, também conhecida como “febre de São Joaquim” ou “febre do vale”, é uma infecção causada pelo fungo Coccidioides immitis, comum em zonas secas.

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A infecção atinge os pulmões, podendo afetar todo o corpo, incluindo o sistema nervoso central, levando à morte. Esta infecção ocorre principalmente nos indivíduos portadores de HIV, pois possuem o sistema imunológico comprometido, sendo os principais sintomas da doença: tosse, expectoração, dificuldade em respirar e conjuntivite. Para o diagnóstico da doença, é preciso analisar microscopicamente as secreções do indivíduo e fazer um exame de sangue para detectar a presença de anticorpos que estejam lutando contra a doença. O tratamento é feito com o uso de medicamentos antifúngicos pelo período de 6 a 12 meses. Histoplasmose Histoplasmose é uma infecção causada pela inalação de esporos de um fungo que é encontrado frequentemente em fezes de pássaros e de morcegos. É mais comumente transmitida quando esses esporos se espalham pelo ar, muitas vezes durante a limpeza ou demolição de edifícios. Solo contaminado por fezes de pássaros ou morcegos também pode transmitir a histoplasmose, por isso, agricultores, paisagistas e outros profissionais que trabalham com a terra correm maior risco de contaminação.

O risco de infecção grave é maior para soropositivos por causa do sistema imunológico comprometido. Pessoas que trabalham com a terra devem ter cuidado redobrado.

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A maioria das pessoas com histoplasmose nunca desenvolve sintomas e não sabe que está infectada. Contudo, para quem tem o sistema imunológico comprometido, histoplasmose pode ser grave. Pulmões, sistema gastrointestinal e sistema nervoso central podem ser afetados. O tratamento é realizado com antifúngicos administrados por via oral ou intravenosa e dura de 2 a 3 meses.

Infecções por protozoários Toxoplasmose A toxoplasmose é uma doença infecciosa causada por um protozoário chamado Toxoplasma gondii, facilmente encontrado na natureza e que pode causar infecção em grande número de mamíferos e pássaros. A infecção nos humanos é assintomática em 80 a 90% dos casos, e pode passar despercebida naqueles pacientes cuja imunidade é normal. As defesas imunológicas da pessoa saudável podem deixar este parasita inerte no corpo, sem causar dano algum, por tempo indeterminado. Quando a pessoa encontra-se imunodeprimida, como no caso da Aids, a doença pode se manifestar. A toxoplasmose pode ser adquirida das seguintes formas: • Ingestão e cistos presentes em dejetos de animais contaminados, particularmente gatos, que podem estar presentes em qualquer solo onde o animal transita. • Ingestão de carne de animais infectados (carne crua ou mal cozida). • Transmissão de gestante contaminada para o feto (transmissão vertical). Nos pacientes com infecção pelo HIV/Aids e outras formas de imunossupressão (principalmente transplantes), a toxoplasmose ocorre como reativação da doença no sistema nervoso (apresentação mais frequente) e no pulmão, causando quadros de encefalite e pneumonite, respectivamente. Na forma cerebral, podem ocorrer rebaixamento do nível de consciência, convulsões e sinais neurológicos focais diversos, caracterizados pela área de comprometimento do sistema nervoso. A neurotoxoplasmose entra no diagnóstico diferencial de diversas doenças oportunistas neurológicas no paciente com Aids e contagem de células CD4+ menor que 100. O tratamento é feito com medicamentos administrados via oral por um período de 3 a 6 semanas.

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Nos pacientes com Aids e imunodeficiência avançada, é a causa parasitária mais comum de diarreia prolongada, associada à perda de peso acentuada, podendo evoluir para grave desidratação e distúrbio eletrolítico.

Criptosporidiose A criptosporidiose é uma infecção causada pelo protozoário do gênero Cryptosporidium spp, que infecta as células epiteliais do trato gastrointestinal dos seres humanos e dos animais. As manifestações clínicas dependem do estado imune do paciente. Nos imunocompetentes, provoca episódios de diarreia autolimitada. O tratamento é feito com antibióticos administrados por via oral.

Neoplasias Sarcoma de Kaposi O sarcoma de Kaposi é um câncer que se desenvolve nas paredes dos vasos linfáticos e pode aparecer simultaneamente em diferentes regiões do corpo. Esse sarcoma pode estar presente na pele, mas outros órgãos internos, como nódulos linfáticos, pulmões e sistema digestivo também podem ser acometidos. O sarcoma de Kaposi é causado pela infecção do herpes vírus denominado sarcoma de Kaposi (KSHV), também conhecido como herpes vírus humano tipo 8 (HHV8). O KSHV é similar ao vírus Epstein-Barr, que causa a mononucleose infecciosa e está ligado a vários tipos de cânceres.

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Sendo uma infecção mais comum em pessoas infectadas com o HIV do que na população em geral, geralmente, o sarcoma de Kaposi se manifesta inicialmente na pele, formando placas ou nódulos roxos, vermelhos ou marrons, que são chamados de lesões. As lesões também podem se desenvolver nas membranas mucosas, como da boca. Essas lesões geralmente não são dolorosas nem causam coceira. Algumas lesões nas pernas ou na região da virilha podem bloquear a linfa, causando um inchaço doloroso nas pernas e pés. As lesões do sarcoma de Kaposi também podem aparecer em outras partes do corpo, como pulmões (podendo bloquear parte de uma das vias aéreas e causar falta de ar), intestinos, podendo causar dor abdominal, diarreia ou sangramento pelo reto. O sarcoma de Kaposi é tratado com quimioterapia e drogas que inibem a formação de novos vasos sanguíneos. O tratamento antirretroviral diminui bastante o risco do sarcoma além de promover regressão das lesões existentes.

O diagnóstico é feito com uma biópsia. A suspeita é baseada no aspecto característico das lesões corporais e a sua distribuição. As lesões, na maioria das vezes, aparecem nas pernas ou no rosto e geralmente não causam dores.

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CAPÍTULO

04 TRATAMENTO ANTIRRETROVIRAL

INTRODUÇÃO O controle da infecção pelo HIV é realizado com medicamentos chamados antirretrovirais, que impedem a multiplicação do vírus no organismo atuando em várias etapas de seu ciclo reprodutivo. O tratamento não elimina o HIV, mas é fundamental para que o paciente viva mais e melhor. O tratamento antirretroviral é bastante complexo, podendo ocasionar efeitos colaterais, e deve ser assistido por uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde, que oferece atendimento integral ao paciente: médicos, enfermeiros, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos, assistentes sociais, entre outros. Além disso, os exames que acompanham o estado de saúde do paciente devem ser feitos periodicamente. No Brasil, desde 1996, o acesso gratuito aos antirretrovirais por todas as pessoas vivendo com HIV é garantido por lei. Os medicamentos são distribuídos em diversas unidades de saúde, sempre sob acompanhamento médico profissional.

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Onde fazer o teste O teste de Aids pode ser feito em um Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) ou nas diversas unidades das redes públicas de saúde. Ele pode ser feito de forma anônima e é gratuito. Ligue para o Disque Saúde (136) ou consulte a lista de unidades das redes públicas de saúde e veja o melhor local para você fazer o teste.

Atendimento inicial Após receber o diagnóstico da infecção por HIV, o paciente deve marcar uma consulta com um especialista em Aids, no Serviço de Assistência Especializada (SAE). No acolhimento e primeira consulta, o paciente informará a história clínica inicial, tempo de diagnóstico, se já apresentou alguma doença grave e quais são as condições e os hábitos de vida. Na primeira consulta o médico pode pedir exames, como: hemograma completo, urina, fezes, glicose, colesterol e triglicérides, hepatite B e C, tuberculose, raio X de tórax e contagem de células CD4+ e de carga viral (quantidade de vírus circulante no sangue).

Para o tratamento da Aids, os pacientes têm direito à atendimento com psicólogos, assistentes sociais, nutricionistas, enfermeiros e farmacêuticos.

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Dependendo do resultado dos exames clínicos e laboratoriais, pode ser necessário que o soropositivo comece a terapia antirretroviral, imediatamente. O médico fará o acompanhamento do paciente, que deve voltar regularmente ao consultório no tempo determinado pelos profissionais. A consulta com o profissional de saúde é o momento certo para esclarecer todas as dúvidas, como saber tudo sobre os remédios, quais os horários que melhor se encaixam na rotina ou como adequar os hábitos diários para tomar a medicação regularmente. O médico esclarecerá os sintomas que podem ser causados pelos medicamentos e o que deve ser feito se algum desses efeitos colaterais surgir – a maioria dos sintomas desaparece em poucos dias. A equipe envolvida no atendimento de soropositivos tem todas as condições de responder sobre qualquer assunto relacionado ao tratamento e à prevenção da doença.

Acompanhamento médico O acompanhamento médico da infecção pelo HIV é essencial, tanto para quem não apresenta sintomas e não toma remédios (fase assintomática), quanto para quem já exibe algum sinal da doença e segue o tratamento com os medicamentos antirretrovirais, fase que os médicos classificam como Aids. Nas consultas regulares, a equipe de saúde precisa avaliar a evolução clínica do paciente. Para tanto, é de suma importância que os exames sejam realizados para acompanhamento do tratamento. A adesão, ou seja, o uso regular da medicação é essencial para o tratamento, pois se ela não acontece corretamente o processo de resistência do vírus aos medicamentos pode ser acelerado. Por isso, toda e qualquer decisão sobre interrupção ou troca de medicamentos deve ser tomada com o consentimento do médico que faz o acompanhamento do soropositivo. A equipe de saúde está apta a tomar essas decisões e deve ser vista como aliada, pois juntos devem tentar chegar à melhor solução para cada caso. Normalmente, a coleta de sangue para realizar todos os exames pedidos pelo médico é feita no próprio serviço em que a pessoa é acompanhada, o SAE, e enviada para os Laboratórios Centrais (LACEN), unidades públicas de súde que realizam os exames especializados gratuitamente.

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A frequência dos exames e das consultas é determinada pelo médico e é essencial para controlar o avanço do HIV no organismo e determinar o tratamento mais adequado em cada caso.

Adesão Aderir ao tratamento para HIV/Aids, significa: • Tomar os remédios prescritos pelo médico nos horários corretos. • Manter uma boa alimentação. • Praticar exercícios físicos. • Comparecer ao serviço de saúde nos dias previstos, entre outros cuidados. Quando o paciente não segue todas as recomendações médicas, o HIV pode ficar resistente aos medicamentos. E isso diminui as alternativas de tratamento. Seguir as recomendações médicas parece simples, mas é uma das grandes dificuldades encontradas pelos pacientes, pois interfere diretamente na sua rotina. Para facilitar a adesão aos medicamentos, recomenda-se adequar os horários dos remédios à rotina diária, já que os esquecimentos ocorrem nos finais de semana, férias ou outros períodos fora da rotina. Para isso, vale utilizar tabelas, calendários ou alarmes, como o do telefone celular, para lembrar os horários corretos de tomar os remédios.

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SAÚDE EM AÇÃO Apoio social Atualmente, existem organizações governamentais e não governamentais que podem ajudar o soropositivo a enfrentar suas dificuldades em lidar com situações de estresse por conta da doença. São duas ações de apoio oferecidas: afetivo-emocional e operacional. O afetivo-emocional inclui atividades voltadas para a atenção, companhia e escuta. Já o operacional ajuda em tarefas domésticas ou em aspectos práticos do próprio tratamento, como acompanhar a pessoa em uma consulta, buscar os medicamentos na unidade de saúde, tomar conta dos filhos nos dias de consulta, entre outras. Ambos fazem com que a pessoa se sinta cuidada, pertencendo a uma rede social. A troca de experiências entre pessoas que já passaram pelas mesmas vivências e dificuldades no tratamento, também conhecida como “ação entre pares”, ajuda a promover a adesão, pois possibilita o compartilhamento de dúvidas e soluções e a emergência de dicas e informações importantes para todos. O suporte social pode ser dado por familiares, amigos, pessoas de grupos religiosos ou integrantes de instituições, profissionais de serviços de saúde e pessoas de organizações da sociedade civil (OSC). Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

Os antirretrovirais Os medicamentos antirretrovirais surgiram na década de 1980 para impedir a multiplicação do vírus no organismo. Eles não matam o HIV, mas ajudam a evitar o enfraquecimento do sistema imunológico. Por isso, seu uso é fundamental para aumentar o tempo e a qualidade de vida de quem tem Aids. Desde 1996, o Brasil distribui gratuitamente o coquetel para todos que necessitam do tratamento. Atualmente, os medicamentos estão divididos em cinco tipos. Para combater o HIV é necessário utilizar pelo menos três antirretrovirais combinados, sendo dois medicamentos de classes diferentes, que poderão ser combinados em um só comprimido. O tratamento é complexo, necessita de acompanhamento médico

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Os remédios aumentam o tempo e a qualidade de vida de quem segue o tratamento corretamente. Mas podem causar alguns efeitos colaterais desagradáveis.

para avaliar as adaptações do organismo, efeitos colaterais e possíveis dificuldades em seguir corretamente as recomendações médicas, ou seja, aderir ao tratamento. Por isso, é fundamental manter o diálogo com os profissionais de saúde, compreender todo o esquema de tratamento e nunca ficar com dúvidas. Apesar dos benefícios já comprovados dos medicamentos antirretrovirais, o tratamento não é indicado a todas as pessoas que vivem com HIV. O tratamento é recomendado para quem tem contagem baixa de células de defesa (CD4+) no organismo. Quanto mais próximo de 200 células/mm³ estiverem os linfócitos, maior é o risco da doença progredir para Aids. Cada caso é único e deve ser discutido com o médico. Além de analisar o sistema imunológico, é preciso avaliar a carga viral (o nível de infecção pelo HIV), a presença de outras doenças, a motivação do paciente e a sua capacidade de adesão ao tratamento.

Início da terapia antirretroviral O início do tratamento com medicamentos antirretrovirais é um dos momentos mais difíceis para o soropositivo, pois uma nova rotina deve ser incorporada em sua vida. E os remédios podem lembrá-lo a cada momento da doença. Por isso, na conversa com o médico, o soropositivo deve listar as dificul-

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dades que possam surgir. Seguir todas as recomendações médicas relacionadas aos remédios, alimentação, prática de exercícios físicos são fundamentais para aumentar a qualidade de vida do paciente. O uso de qualquer outro medicamento, álcool e drogas deve ser avisado ao médico para a troca de informações sobre interação e possíveis reações do organismo. As consultas são feitas em intervalos de duas a três semanas. Até 30 dias após o início do tratamento, recomenda-se a realização de exames de sangue para avaliar o estado de saúde do paciente e a reação do organismo aos remédios indicados. Com o tempo, os controles podem ser feitos a cada três ou quatro meses.

Efeitos colaterais O tratamento com os medicamentos antirretrovirais traz muitos benefícios aos pacientes: aumenta a sobrevida e melhora a qualidade de vida de quem segue corretamente as recomendações médicas. Mas, como os medicamentos precisam ser muito fortes para impedir a multiplicação do vírus no organismo, podem causar alguns efeitos colaterais desagradáveis. Entre os mais frequentes, encontram-se: diarreia, vômitos, náuseas, manchas avermelhadas pelo corpo (chamadas pelos médicos de rash cutâneo), agitação, insônia e sonhos vívidos. Há pessoas que não sentem mal-estar, o que pode estar relacionado com características pessoais, estilo e hábitos de vida, mas não significa que o tratamento não está dando certo. Alguns desses sintomas ocorrem no início do tratamento e tendem a desaparecer em poucos dias ou semanas. É importante saber que existem diversas alternativas para melhorá-los. Dessa forma, recomenda-se que o soropositivo procure o serviço de saúde em que faz o acompanhamento, para que possa receber o atendimento adequado. Nesses casos, não é recomendável a automedicação (pode piorar o mal-estar) nem o abandono do tratamento (causando a resistência do vírus ao remédio). Além desses efeitos colaterais temporários, os pacientes podem sofrer com alterações que ocorrem em longo prazo, resultantes da ação do HIV, adicionadas aos efeitos tóxicos provocados pelos medicamentos. Os coquetéis antiaids podem causar danos aos rins, fígado, ossos, estômago e intestino, podendo alterar o metabolismo, provocando lipodistrofia (mudança na distribuição de gordura pelo corpo) diabetes, entre outras doenças.

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Vacinação de soropositivos De acordo com o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Para Manejo Da Infecção Pelo HIV em Adultos (2013), os pacientes podem receber todas as vacinas do calendário nacional, desde que não apresentem deficiência imunológica importante, já que a maior imunodepressão está associada ao maior risco relacionado a vacinas de agentes vivos. O soropositivo deverá ser avaliado por um médico antes de tomar qualquer vacina. É recomendado adiar a vacinação em pacientes sintomáticos ou com imunodeficiência avançada (CD4+ < 200 cel/mm³). Orientações gerais para adultos: • Pneumococo: uma dose para pacientes com CD4+ > 200cel/ mm³. Apenas um reforço após cinco anos. • Hepatite B: em todos os pacientes suscetíveis (Anti-HBsAg negativo, anti-HBc negativo). • Hepatite A: pacientes suscetíveis (anti-HVA negativo) e portadores de hepatopatias crônicas. • Febre amarela: conforme recomendação do calendário vacinal do Ministério da Saúde de acordo com a região. • Difteria e tétano (dT): reforço a cada dez anos. • Influenza: anual. OBS: qualquer outra vacina deverá ser avaliada individualmente durante o acompanhamento médico.

Alimentação Uma alimentação saudável aumenta a resistência à Aids, fornecendo energia para as atividades diárias e, também, vitaminas e minerais que o organismo precisa. Além de tornar a pessoa mais disposta, uma alimentação equilibrada fortalece o sistema de defesa, ajuda no controle das gorduras e açúcares do sangue, na absorção intestinal e promove a melhora dos resultados do tratamento. A alimentação saudável é aquela que tem todos os alimentos necessários, de forma variada e equilibrada. Para se ter uma alimentação saudável, o ser humano precisa consumir alimentos de todos os três grupos:

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• Carboidratos: fornecem a energia necessária para as atividades do dia a dia, como andar, falar, respirar. Encontrados em: arroz, açúcar, massas, batata, mandioca, cereais, farinhas e pães. • Proteínas: todos os tecidos do corpo são formados por elas. São as principais componentes dos anticorpos e dos músculos. Constroem, “consertam” e mantêm o corpo, além de aumentarem a resistência do organismo às infecções. Encontradas em: carnes (bovina, suína, peixe e de frango), miúdos, ovos, leite, iogurtes, queijos, feijão, castanhas, amendoim, amêndoas soja e derivados. • Gorduras: fornecem energia. O organismo precisa delas em pequenas quantidades. Algumas vitaminas usam-nas para serem transportadas pelo organismo, assim como alguns medicamentos antirretrovirais também. Encontrados em: manteiga, óleos, azeite de oliva, margarina, gordura animal (presente nas carnes). A alimentação deve ser balanceada, variada, dando preferência aos alimentos não industrializados, sempre respeitando as características e hábitos de cada um.

Para uma alimentação saudável, o ideal é fazer três refeições principais por dia, com dois ou três lanches nos intervalos. Priorizando o consumo diário de frutas, verduras, legumes, alimentos integrais e carnes magras. Frituras, gorduras e açúcares devem ser diminuídos ou evitados.

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SAÚDE EM AÇÃO Cuidado com os alimentos Um grande problema para os soropositivos são as doenças provocadas por alimentos contaminados, que podem causar vômitos, diarreias ou mesmo infecção intestinal. Alguns cuidados e dicas com os alimentos: • Antes de cozinhar, lavar bem as mãos e os utensílios que serão usados. • Copos ou pratos rachados não devem ser usados, pois os germes se acumulam nas rachaduras. • O lixo deve estar bem tampado e longe dos alimentos. • Manter os alimentos fora do alcance dos insetos, roedores e outros animais. Cobrir ou guardar em vasilhas bem fechadas. • Não consumir alimentos com alterações de cor ou cheiro. • Descongelar as carnes na geladeira e não em temperatura ambiente. Evitar comer carne crua. • O leite pasteurizado deve ser mantido na geladeira depois de aberto e a atenção na validade deve ser constante. Se não for pasteurizado, recomenda-se ferver antes de beber. • Evitar comer ovos crus. Cozinhar até ficarem duros (6 a 8 minutos de fervura) ou fritar até a gema ficar dura. • Cortar a carne e os vegetais em tábuas de plástico ou vidro e depois lavar. Evitar a tábua de madeira, pois acumula muitos germes e bactérias. Fonte: Aids. Disponível em: ‹http://www.aids.gov.br›. Acesso em: 23 jun. 2015.

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Referências BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas Para Manejo Da Infecção Pelo HIV em Adultos. Brasília, 2013. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE – Coordenação Nacional DST/ Aids – Vigilância Epidemiológica. Boletim Epidemiológico de AIDS. Ano III – nº1. Brasília; janeiro a junho de 2006. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. Programa Nacional de DST/ AIDS; 2008. Disponível em: <http://www.aids.gov.br/data/Pages/LUMIS- 13F4BF21PTBRIE.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015. BRASIL, MINISTÉRIO DA SAÚDE. AIDS Vinte Anos – Esboço histórico para entender o Programa Brasileiro. Disponível em: <http:// www.aids.gov.br/data/Pages/LUMISBD1B398DPTBRIE.htm>. Acesso em: 20 jun. 2015. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recomendações para tratamento das principais doenças oportunistas em pacientes adolescentes e adultos infectados pelo HIV ou com AIDS. Disponível em: <http://www.aids.gov.br>. Acesso em: 18 jun. 2015. DOURADO I. Tendências da epidemia de Aids no Brasil após a terapia antirretroviral. Revista de Saúde Pública, 2006; 40: 09-17. BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Recomendações para atendimento e acompanhamento de exposição ocupacional a material biológico: HIV e Hepatites B e C. Brasília: PNDST/AIDS; 2004. World Health Organization. UNAIDS (United Nations Joint Programme on Aids). AIDS epidemic update: March 2008. Latin America: AIDS epidemic update: regional summary. Geneva, 2008. Outras referências importantes Aids – <http://www.aids.gov.br>. BBC – <http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2014/10/141003 _aids_inicio_hb>. Brasil Post – <http://www.brasilpost.com.br/jovem-soropositivo/ tratamento-hiv-aids_b_6573254.html>. Guia do Estudante – <http://guiadoestudante.abril.com.br/aventuras-historia/falso-paciente-zero-equivocos-busca-pela-origem-aids-774451.shtml>. Ministério da Saúde – <http://www.mdsaude.com>. Oncoguia – <http://www.oncoguia.org.br>.

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Sobre as autoras Maria Isabel Silva Mestre em Biologia Funcional e Molecular pela UNICAMP, Especialização em Gestão Pública em Saúde pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), Especialista em Medicina Tradicional Chinesa, Especialista em Fisiologia do Exercício, Graduada em Fisioterapia pelo Centro Universitário do Triângulo. Como pesquisadora, atuou como Colaboradora de Projetos na UNICAMP e FACISABH (Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Belo Horizonte), onde desenvolveu pesquisas nas áreas de Formação de Professores, Segurança do Trabalho e Ergonomia, Pedagogia Empresarial, Gestão Ambiental e Políticas Públicas. Tem experiência na área de Educação, ministrando disciplinas para cursos técnicos da área de Saúde e Segurança do Trabalho. No Ensino Superior, dedica-se à Graduação e à Especialização nas áreas de Saúde, Educação e Administração. Como fisioterapeuta destaca-se pela atuação em Fisioterapia do Trabalho, atuando como consultora e auditora empresarial na área de Saúde Ocupacional, Ergonomia (análise/laudos, perícia, biomecânica e fotogrametria) e desenvolvimento de projetos de gestão qualidade de vida, promoção à saúde, gestão de pessoas e gestão empresarial. Na área clínica, tem experiência em Ambulatorial em Terapias Manuais, Fisioterapia geral (ênfase em Reumatologia e Geriatria) e Fisioterapia Preventiva (coletiva e do trabalhador).

Paloma Mansini Basso Mestre em Engenharia Civil pela UNESP e Bacharel em Geografia. Atua como consultora na área ambiental, segurança e saúde do trabalhador, e revisora técnica de projetos na área ambiental e de responsabilidade social de empresas nacionais e multinacionais. É gestora de pessoas, atuando na captação de equipe, otimização de projetos e elaboração de quesitos na área ambiental e educacional.

Adriana Brunstein Pesquisadora da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), Pós-doutorado no Instituto Ludwig de Pesquisa sobre o câncer, Doutorado em Física pela Universidade de São Paulo (USP). Atua na área editorial como coordenadora, produtora e revisora de texto e conteúdo para guias de saúde, material educativo, entre outros. Integrou a equipe de autores da coleção Cidadania em Ação (Meca Editora/ Eureka Editora) assinando os volumes sobre Preconceito, Religião e Bullying.

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