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A caça ao tesouro: a voz entre as árvores

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Palavra de honra

Palavra de honra

Em parte devido à depressão causada pela descoberta, mas também para que Silver e os doentes pudessem descansar, todo o grupo sentou-se assim que terminou de subir a encosta. Como o platô era um pouco virado para o oeste, nesse ponto em que tínhamos parado podíamos ter uma ampla visão da ilha e do mar em volta. Absoluto acima de nós despontava o Morro da Luneta, pontilhado com pinheiros solitários de um lado, negro com precipícios do outro. Nem sinal de vivalma, nenhuma vela no mar, a grande amplidão da vista aumentava a sensação de solidão.

Assim que se sentou, Silver começou a fazer medidas com a bússola. — Ali estão três “árvores altas” — disse —, bem numa linha reta a partir da Ilha do Esqueleto. A “franja da Luneta” deve ser aquela ponta mais baixa logo ali. Vai ser fácil achar o pacote. Vamos almoçar primeiro. — Não estou disposto — resmungou Morgan. — Pensar no Flint acabou com meu apetite.

Desde quando tinham encontrado o esqueleto, iam falando cada vez mais baixo, e naquele momento já estavam praticamente cochichando, de tal maneira que o som da conversa mal quebrava o silêncio da floresta.

De repente, vindo de entre as árvores em frente, uma voz alta e estridente atacou com tom e palavras tão conhecidas: Quinze homens sobre o baú... Yo-ho-ho, e uma garrafa de rum! A cor sumiu do rosto dos seis homens como por encanto. Alguns saltaram de pé, outros se agarraram entre si, apavorados. Morgan rosnou. — É Flint, com mil...! — berrou Merry. A canção parou tão repentinamente quanto tinha começado, como se, no meio de uma nota, alguém tivesse tampado a boca de quem cantava. — Vamos manter a calma — disse Silver, que também estava pálido. — Não posso identificar a voz, mas alguém está se divertindo conosco, alguém de carne e osso, posso garantir. Sua coragem voltou enquanto falava, e os demais já pareciam se recompor, quando ouvimos a voz de novo. Dessa vez, não estava cantando. Em vez disso, era um chamado fraco e distante que ecoou baixinho nos penhascos no Morro da Luneta. — Darby M’Graw — gemia a voz. — Darby M’Graw! Darby M’Graw! Busque o maldito rum, Darby! — seguido de uma praga que não ouso repetir.

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Os piratas, imobilizados pelo pavor, permaneceram grudados no chão, os olhos quase saltando das órbitas. Algum tempo depois que a voz se calou, eles ainda permaneciam em silêncio, apavorados. — É o que basta! — suspirou um deles. — Vamos embora! — Foram essas as últimas palavras de Flint — disse Morgan, aflito.

Dick havia tirado sua Bíblia do bolso e rezava com fervor. Dava para ver que, antes de sair para o mar e se juntar a companhias tão ruins, Dick tinha recebido uma boa educação.

Silver, porém, não havia sido tomado pelo medo. Podia ouvir seus dentes batendo, mas ele ainda não tinha se rendido. — Ninguém nessa ilha jamais ouviu falar sobre o Darby — murmurou. — Ninguém além de quem está aqui. Camaradas, estou aqui para pegar aquele tesouro, e nem homem nem demônio vão me impedir. Nunca tive medo de Flint quando ele era vivo e, com mil trovões, vou encarar o fantasma dele, se for preciso. Tem 700 mil libras a menos de um quarto de milha daqui. Quando foi que algum cavalheiro bem-afortunado virou a popa para tanto dinheiro, só por medo de um velho marujo bêbado e morto, ainda por cima?

Os outros piratas ficaram ainda mais apavorados diante da irreverência daquelas palavras. — Não fale assim, John! — disse Merry. — Não se provoca um espírito.

Os demais estavam aterrorizados demais para falar qualquer coisa. — Espírito? Bem, pode ser... — disse. — Só tem uma coisa que não entendo. Houve um eco. Vejam bem, nunca se viu um espírito com uma sombra. Então, me respondam, o que esse aí estava fazendo com um eco? Não seria natural, seria? Esse argumento me pareceu muito fraco. Mas, para meu assombro, George Merry ficou bem aliviado. — Está certo — disse. — Você tem mesmo uma cabeça em cima desse pescoço, John. Ânimo, camaradas! Essa tripulação está no rumo errado. Vamos pensar um pouco, parecia a voz de Flint, concordo, mas não era assim tão igualzinha à voz dele. Era mais parecida com a voz de outra pessoa... Era mais parecida... — Com mil trovões, Ben Gunn! — rugiu Silver. — Sim, isso mesmo! — gritou Morgan, ficando de pé. — Era a voz de Ben Gunn! — Isso não muda muito a situação, ou muda? — perguntou Dick. — Ben Gunn não está mais entre nós, tanto quanto Flint. — Grande coisa, quem se importaria com Ben Gunn? — gritou Merry, com desprezo — Morto ou vivo, ninguém se preocupa com ele.

Não se ouviu mais nada. Ficaram mais tranquilos e puseram-se em movimento. Merry ia na frente com a bússola de Silver para manter o rumo certo em relação à Ilha do Esqueleto.

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Era verdade o que tinha dito, morto ou vivo, ninguém se importava com Ben Gunn.

Depois de passarmos pelo topo do platô, nosso caminho nos levava colina abaixo e a caminhada se tornou tranquila. Os pinheiros, grandes ou pequenos, cresciam bem afastados uns dos outros. Aqui e ali havia pequenos bosques de moscadeiras e moitas de azaleia, mas o sol esturricava as grandes áreas abertas. Caminhávamos através da ilha, quase na direção noroeste, e nos aproximávamos, de um lado, do Morro da Luneta, e, do outro, podíamos avistar a enseada onde eu tinha entrado e chacoalhado no coracle. Chegamos à primeira das três árvores altas e, de acordo com a bússola, não era a certa. Mesma coisa com a segunda. A terceira erguia-se a quase 200 pés. Era um gigante vegetal, com um tronco tão largo quanto uma cabana. Ficava bem longe do mar, tanto a leste como a oeste, e mesmo assim foi usada como um marco de navegação no mapa.

Mas o tamanho não impressionava tanto os piratas quanto a noção de que 700 mil libras de ouro repousavam em algum lugar da sua ampla sombra. Pensar no dinheiro afastou o terror anterior. Seus olhos brilhavam, os pés aceleravam e não pesavam mais. Uma vida inteira de extravagância e prazer esperava por cada um deles.

Silver, apoiado em sua muleta, mancava e resmungava, respirando com dificuldade. Furioso, puxava a corda que me

prendia e, de tempos em tempos, virava-se para mim com um olhar mortífero. Com certeza, não estava mais se dando ao trabalho de esconder suas intenções, e era fácil decifrá-las.

Na proximidade do tesouro, todo o restante foi esquecido, tanto sua promessa como o alerta do doutor pertenciam ao passado. Sem dúvida pretendia apoderar-se do tesouro, encontrar a Hispaniola e, na calada da noite, cortar a garganta de cada uma das pessoas honestas na ilha, para depois ir embora carregado de crimes e riquezas, navegando como planejara desde o início.

Foi difícil acompanhar o passo acelerado dos caçadores de tesouro. De vez em quando tropeçava, e nessas horas Silver dava os puxões mais violentos e me lançava os olhares mais sanguinários.

Chegamos à margem da mata, e os mais adiantados começaram a correr.

E, de repente, antes de percorrerem 10 jardas, vimos que pararam. Ouvimos um grito contido. Silver acelerou o passo, cavando o caminho com a ponta da sua muleta como se estive possuído. No momento seguinte, nós dois também paramos estarrecidos.

À nossa frente havia uma grande escavação, com as laterais desmoronadas e grama nascendo no fundo do buraco. Viam-se os restos de uma picareta quebrada e, espalhadas em volta, várias tábuas arrancadas de caixotes. Em uma dessas

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tábuas, eu vi, marcado com ferro quente, o nome Walrus, o nome do navio de Flint.

Tudo estava bem claro. O esconderijo tinha sido encontrado e saqueado. As 700 mil libras haviam sumido!

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